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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A Partir de Uma História Verdadeira

Autor: Delphine De Vigan
Edição: 2016/ maio
Páginas: 400
ISBN: 9789897222993
Editora: Quetzal Editores

Sinopse:
A história é contada na primeira pessoa, com Delphine, a narradora, como uma das duas personagens. Todos os nomes são de pessoas reais: o da autora/narradora, o dos filhos, do namorado… A história é aparentemente autobiográfica e, no entanto, torna-se a certa altura um jogo de espelhos, em que é difícil discernir entre realidade e ficção. Nada previsível, cheio de surpresas, com um suspense crescente (chega a ser atemorizante), mantém o leitor literalmente agarrado até ao fim(*). Delphine crê que a sua incapacidade de escrever terá coincidido com a entrada de L. na sua vida. L. é a mulher perfeita que Delphine gostaria de ser: muito bonita, impecavelmente cuidada, de uma grande sofisticação e inteligência. L. está também ligada à escrita - é escritora-fantasma. L. insinua-se lenta mas inexoravelmente na vida de Delphine: lê-lhe os pensamentos, adivinha-lhe os desejos e necessidades, termina-lhe as frases, torna-se totalmente indispensável - é a amiga ideal. Mas, aos poucos, sabemos que ela conseguiu isolar Delphine (afastando toda a gente), que lhe lê os diários, a correspondência, que se faz passar por ela! E quer demover Delphine de escrever o livro que esta está a preparar, obrigando-a a escrever a obra que ela (L.) quer: Introduz-se, assim, na vida da amiga de forma insidiosa, permanente, por fim violenta, controlando tudo. É aqui que há um volte-face na intriga - até aí muito perto do real - e uma possibilidade autobiográfica. O fim é maravilhosamente surpreendente. O seu livro anterior, Rien ne s’oppose à la nuit, em que conta a história da mãe, vendeu cerca de um milhão de exemplares em França e teve vendas na casa das dezenas de milhares em Espanha.

A minha opinião:
Este é um romance que me perseguiu desde o momento em que o vi. Mas resisti. Achei precoce. Nada sabia de si e poderia revelar-se frustrante, exigente, denso ou maçador.  Uma má aposta. Aguardei algum feedback que acabou por surgir e das mãos de uma boa amiga me foi entregue.

Inquietante e perturbador. Quão vulneráveis podemos ser perante uma mente intuitiva e empenhada que não descura os pormenores para conseguir os seus intentos sem que seja observada ou travada? Quanto podemos ser manipulados e confundidos para nos conduzirem onde se pretende? Duas questões que se colocam enquanto lemos este romance.
O nome da personagem/ narradora é o mesmo da autora e o título induz em dúvida em boa parte da narrativa. Brilhante premissa que mantém o  suspense e a dúvida. L. não tem nome próprio, é apenas uma inicial como se não pudesse ser nomeada para não se materializar. Muito é revelado de autobiográfico, como referido em:

"Julgo que as pessoas sabem que aquilo que escrevemos nunca nos é totalmente estranho. Sabem que há sempre um fio, um motivo, uma falha, que nos liga ao texto. Mas aceitam que substituamos, que condensemos, que desviemos, que alteremos. E que inventemos."  (pag. 88) 

Mas há mais. A natureza do trabalho de um escritor. Os livros que se impõem sem escolha. E as dúvidas que o assaltam. O real ou a ficção. A vida real que pode ser mais audaciosa, criativa ou a inventada como todo o colorido que se conseguir imaginar?!

Um romance de que não me apartei mesmo quando interrompia a leitura. Uma narrativa fulgurante e mais não conto.

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