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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo





* Fundamental! Em qualquer idade. Mesmo para quem não é grande coisa a ler e para isso precisa de imagens.



FELIZ ANO NOVO!

Doces


*Um livro especial.
Quase uma centena de receitas acessíveis e desejáveis para todas as ocasiões doces da vida.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Sempre Estrangeira

 

A minha opinião:
"... a linguagem gestual é teatral e visível, expõe-nos continuamente. Torna-nos de repente defícientes. Na ausência de gestos, pode-se parecer apenas uma rapariga um pouco tímida e distraída. Ao ler os lábios dos outros para decifrar o que estavam a dizer até consumir os olhos e os nervos, ao falar com a voz alta e carregada e com os acentos irregulares, parecia simplesmente uma imigrante cheia de erros gramaticais, uma estrangeira." (pag.18)

No verão, comprei este romance e estava empolgada por o ler. Da sinopse sabia que os pais da protagonista eram surdos e imaginei erradamente que fosse um romance que apelava à compaixão. Devia o ter lido mais cedo porque logo nas primeiras páginas fiquei cativa de personagens reais que num discurso direto se apresentam. Uma romance incrível.

A crueza da narrativa lembrou-me as histórias de Lucia Berlin, se não vejamos;

"... qualquer coisa que os meus pais toquem ajusta-se à sua decadência, são um rei e uma rainha taumaturgos que, em vez de curarem os doentes ou de fazerem milagres, convencem qualquer criatura na sua presença a desarticular-se e a deixar-se levar para a possibilidade da própria loucura."  (pag. 55)
O núcleo familiar disfuncional e a marginalidade sentida numa viagem da memória.


Autor: Claudia Durastanti
Páginas: 272
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722069878
Edição: 2020/ julho

Sinopse: 
Quando tudo cai, permanece, indomável, o amor.

A primeira pergunta que lhe fazem sempre é como aprendeu a falar e, logo a seguir, em que língua sonha. Filha de pai e mãe surdos que se separaram pouco depois de terem os filhos, a protagonista deste livro viveu uma infância verdadeiramente febril, sempre a andar de um lado para o outro - de Brooklyn, em Nova Iorque, para Basilicata, uma aldeiazinha em Itália - e da mãe para o pai; mas, tal como uma planta obstinada, foi capaz de criar raízes em todo o lado e, já adulta, acabou por replicar este comportamento migratório, fosse por causa dos estudos, da emancipação, do inescapável amor.

Sempre Estrangeira é a história de uma educação sentimental contemporânea, desorientada pelo passado e pela consciência das diferenças físicas, das distinções sociais, da pertença a um lugar. Parte memória, parte narrativa culta e romanesca, é uma viagem fascinante em busca da auto-afirmação, na qual a geografia, a arte e a linguagem são simultaneamente armas de revolta e de redenção.

A Balada do Medo

 

A minha opinião:
Muito bom este romance de Norberto Morais. A escrita e a trama surpreendem pela ousadia e originalidade num estilo peculiar que lembra outras latitudes.

Cornélio Santos Dias de Pentecostes é uma personagem clichê. Caixeiro-viajante casado, mulherengo, com múltiplas identidades, que um dia é confrontado por um assassino contratado que o vai matar. A balado do medo de Cornélio começa quando procura sair desta situação desesperada, numa narrativa simultaneamente divertida e dramática.

A fluência da escrita e o domínio do rico léxico que maneja com segurança todos os sentimentos e emoções desta personagem que acarinho, é um talento que faz deste autor um prodígio. Nem consigo compreender como não é mais conhecido. Norberto Morais escreve como ninguém. Os cenários que cria são mágicos e encantam, numa história que tem muito de cinematográfica. Uma história de enganos, medo e superstição. Uma história tão antiga como a Humanidade. 

Autor: Norberto Morais
Páginas: 368
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789896419431
Edição: 2019/ julho

Sinopse: 

No dia em que regressa a casa, cinco meses e meio depois de ter partido pela última vez, Cornélio Santos Dias de Pentecostes é confrontado com o anúncio da sua morte. Dez dias é quanto lhe resta de uma vida até aí bem-aventurada e feliz, que não tornará a sê-lo.

Durante uma semana e meia, o caixeiro-viajante de Santa Cruz dos Mártires mergulhará numa espiral de desespero, percorrendo os caminhos mais sinuosos de si e do seu passado à procura de motivos e salvação.

Ambientado numa América Latina imaginária, e carregado do simbolismo a que o autor nos habituou, A Balada do Medo é uma viagem aos lugares mais remotos das emoções humanas e uma alegoria aos dias ansiosos do presente, nos quais a verdade varia consoante os interesses de quem a vê, e ninguém é já um, mas uma miríade de personagens representando de acordo com as circunstâncias.

Num jogo de humor e sombras, Norberto Morais retoma a criação de um mundo que nos convoca para aquilo que de melhor se produziu na literatura latino-americana.

O Bisavô

 

A minha opinião:

Fui surpreendida, o que adoro, quando é pela positiva. Romance histórico, para quem estudou um pouco é sinónimo de detalhes e minúcias que tiveram relevãncia no tempo e no lugar. Ora, dependendo de como a recriação é feita pode ser fascinante ou maçante. 

A endiabrada narrativa carregada de termos irreverentes e muito nossos, com personagens vibrantes, prova que Maria João Lopo de Carvalho para além de uma investigadora é uma sagaz contadora de histórias. E pensar que esta viagem começou com um envelope vazio endereçado à Bisneta. O resto é Manuel Caroça que faz. Visionário e destemido consegue assegurar o futuro e garantir uma história de vida fascinante que a bisneta soube contar.

As notas de rodapé fundamentam com factos históricos os dados da narrativa. Uma mais valia para este romance fluído.

Muito bom. 

Autor: Maria João Lopo de Carvalho
Páginas: 800
Editora: Ofícina do Livro
ISBN: 9789896609276
Edição: 2020/ outubro

Sinopse: 
Talvez por culpa da mãe, Cândida Patrício, o jovem Manoel Caroça fez-se um sonhador. A pesada e granítica cidade da Guarda já não lhe bastava, nem o vale rochoso onde o pai imperava. Ambicionava mais do que aquela terra e os seus frutos, queria conhecer mundo. E o mundo era Lisboa, era Paris, eram as Colónias onde enriqueciam os portugueses…

O Bisavô é a história de Manoel Caroça, bisavô da autora. É ele o elo que une três gerações de uma família poderosa, que a partir da Guarda conquistou Portugal. O percurso do milionário confunde-se com o de um país em convulsão, abalado pela queda da monarquia, a eclosão da Grande Guerra, a tuberculose e a pneumónica, a grande depressão. E, numa época quem que se fizeram e desfizeram grandes impérios financeiros, vemos como os antepassados da autora marcaram os rumos do país.

Da sobrevivência ao esplendor, da espionagem à intriga nos palácios da família, dos amores improváveis aos casamentos contrariados, do riso às lágrimas, esta é a saga inédita de um espírito rebelde - rigorosamente reconstruída graças às memórias, ainda vívidas de uma descendência vasta, bem como às cartas e documentos desenterrados dos baús de família.

Ironicamente, ao escrever a sua obra mais íntima e pessoal até à data, a autora de Marquesa de Alorna oferece-nos o seu mais conseguido fresco do nosso país - esta família é o retrato de Portugal.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

As mensageiras da esperança

 

A minha opinião:
Possivelmente o melhor romance de Jojo Moyes. 

As expectativas eram baixas. Confesso que o título e a capa não me convenceram mas como era o último romance desta autora não o poderia perder. E muito grata estou à Porto Editora por me ter cedido este exemplar que devorei, renitente ao início e depois absorta e inquieta. O meu coração vibrava em uníssono com estas extraordinárias personagens. E o que não me convenceu de início, fez todo o sentido depois de o ler.

De realçar que é baseado no projeto da Biblioteca a Cavalo WPA que decorreu entre 1935 e 1943 numa das regiões mais pobres do EUA, a leste do Kentucky, quando estóicas mulheres enfrentaram adversidades para levar instrução, lazer e conforto a quem mais precisava e ainda venceram preconceitos. Neste romance, o pequeno núcleo de cavaleiras superou a maldade hiócrita de um poderoso da região. O que me frustou foi que ele não tivesse o fim que eu acho que merecia. Em compensação, o desenrolar dos acontecimentos não poderia ser mais satisfatório, com o mérito e a felicidade a quem a devia alcançar.

Épico e uma brilhante homenagem. Empolgante e emocionante. Um romance da Jojo Moyes que não irei esquecer.


Autor: Jojo Moyes
Páginas: 428
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03345-1
Edição: 2020/ novembro

Sinopse:
Alice Wright casa-se com o belo americano Bennett Van Cleve na esperança de escapar a uma vida sufocante, em Inglaterra. Mas a pequena cidade de Kentucky rapidamente se revela igualmente claustrofóbica, sobretudo vivendo Alice com o sogro autoritário. É então que é feito um apelo para a participação das mulheres da cidade numa equipa para entregar livros; um projeto da nova biblioteca itinerante de Eleanor Roosevelt. Alice adere com entusiasmo.
Alice conhece assim Margery, a líder desta equipa, uma mulher autossuficiente e de discurso inteligente que nunca pediu permissão a um homem para nada. A elas juntar-se-ão três outras mulheres singulares que ficarão conhecidas como as Packhorse Librarians of Kentucky.
A aventura destas mulheres - e dos homens que amam - torna-se um drama inesquecível de lealdade, justiça, humanidade e paixão. Estas mulheres, autênticas heroínas, recusam-se a ser intimidadas pelos homens ou pelas convenções. E embora enfrentem todos os tipos de perigos, não desistem da missão que abraçaram: levar a sabedoria, a leitura e o mundo fantástico dos livros até aos mais pobres e desfavorecidos.
Mas quando a comunidade de Baileyville se voltar contra elas, será que a determinação - e o poder da palavra escrita - será suficiente para as salvar?

A Vida Secreta das Viúvas Panjábi

 

A minha opinião:
Ups, enganei-me. Não era bem isto que eu esperava. Devia ter reparado no título do livro em inglês -"Erotic stories for Punjabi widows". Assim teria percebido que a vida secreta destas viuvas (que não tinham contacto com homens) era bem diferente do que eu imaginava. Sequer a sinopse o sugeria. Contudo, este romance é um prazer de ler.

Um pequeno e restrito grupo de mulheres reuniam-se numa sala do templo para um curso de escrita criativa. Ups, enganaram-se. A jovem Nikki que foi dar estas aulas não sabia o que a esperava e estas mulheres também não. O laço que criaram, esse foi o esperado. Comparações geracionais, desabafos e delirios que quebravam a solidão e a monotonia dos dias numa comunidade panjábi em Londres. As tradições e os casamentos arranjados num enredo que combina na perfeição humor e drama para uma leitura imparável.

Os segredos que aquelas mulheres gradualmente vão desvendando, com sensibilidade e bom senso, manteve-me em suspense e empolgada com o movimento iniciado que ansiava por um bom desfecho. E não falhou, adorei.

Autor: Balli Kaur Jaswal
Páginas: 352
Editora: TopSeller
ISBN: 9789895640171
Edição: 2020/ novembro

Sinopse:
Há histórias que têm o poder de mudar vidas…

Nikki desiludiu a sua família conservadora várias vezes: desistiu da faculdade, saiu de casa e trabalha num pub, passando grande parte do tempo a tentar afastar-se das tradições indianas.

Quando aceita dar aulas de escrita criativa no centro comunitário local, fica entusiasmada com a possibilidade de ajudar algumas viúvas da comunidade panjábi em Londres, mas o que encontra é um pequeno grupo de mulheres iletradas que, embora pouco interessadas nos ideais de Nikki, estão cheias de histórias para contar. Para sua surpresa, a aparente modéstia das viúvas esconde uma secreta vida interior rica em memórias e fantasias, o que transforma as aulas em momentos de partilha de contos apaixonantes e sensuais.

Ao mesmo tempo que compartilham as suas fantasias mais secretas, as viúvas revelam alguns dos segredos mais sombrios da comunidade. Com as aulas a gerarem interesse em cada vez mais mulheres, Nikki e as alunas começam a correr alguns riscos. Conseguirá esta comunidade repressiva e controladora aceitar as aulas de escrita erótica e as cruéis verdades que aí são reveladas?

Num tom ligeiro e cheio de humor, são aqui abordados temas muito atuais: a integração dos imigrantes nas comunidades onde vivem e trabalham, e como as mulheres desafiam uma estrutura extremamente machista na comunidade indiana panjabi.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O tempo nos teus olhos

 A minha opinião:

Já o disse e repito que, tem sido uma agradável surpresa descobrir bons autores portugueses que me emocionam ou comovem com histórias simples de vida em que apelam aos sentidos e às memórias. Não desilidiu este romance. Muito pelo contrário. A empatia pela maioria das personagens e a aversão por umas poucas, levou me a ler este romance com entusiasmo e sofreguidão.

E depois... Os temas são me caros. A solidão e o desamparo dos mais velhos que se sentem inuteis e desnecessários quando perdem o companheiro(a) de uma vida. A estupidez dos filhos que acham que para tomar posse do que julgam que lhes é devido, esquecem a generosidade e o amor que lhes foi dedicado. E a simplicidade da vida que segue sempre o seu curso, proporcionando encontros e momentos felizes que valem por uma eternidade. 

José Rodrigues usa a linguagem dos afetos e conta histórias ternas com  suavidade e um ou outro sobressalto. Narrativas sobre familias e o quotidiano. As imagens que pautam cada capítulo são um deleite para a vista e um apelo aos sentidos, complementado com os detalhes escritos que fazem parte das nossas memórias colectivas. Um bálsamo para a alma.

O gato Nicolau. Não me podia esquecer desta silenciosa personagem secundária, testemunha do sentir do dono(a) a quem não recusa atenção e companhia sem perder a sua liberdade. Os gatos escolhem e bem a quem dedicar a sua afeição.

Autor: José Rodrigues
Páginas: 344
Editora: Coolbooks
ISBN: 978-989-766-185-3
Edição: 2020/ junho

Sinopse: 
O coração é maior que a perda, porque a vida é maior que a dor, e a saudade e a felicidade não têm limites, nem tabelas, nem distâncias...

Uns dias antes de comemorar as bodas de ouro, a tragédia bate à porta de Manuel, com a morte da mulher da sua vida. As filhas, Helena e Luísa, há muito longe de casa, insistem que o futuro do pai passe pelo lar de idosos da vila mais próxima.
Na casa de Manuel, sucedem-se as reuniões familiares e as desavenças que o martirizam. Entre elas, valem as visitas carinhosas do filho mais novo e da neta, cúmplices da sua autonomia e capacidade de decisão, bem como a presença constante de Nicolau, o gato, companheiro fiel e atento ouvinte dos longos desabafos do septuagenário.
A solidão crescente e o agravamento de alguns problemas de saúde fazem com que Manuel ceda, mas apenas temporariamente, às pretensões das filhas.
Surpreendentemente, aquilo que seria o fim transforma-se no início de uma grande etapa na sua vida, entre novos sentimentos, novas pessoas e novos lugares. Na sua jornada de redescoberta da felicidade, Manuel muda completamente a vida de todos os que o rodeiam...

domingo, 29 de novembro de 2020

A aniversariante

 

A minha opinião:

UAU! Arrepiante e trepidante. Um horrendo crime de uma família em que apenas restou uma menina de cinco anos (a aniversariante) a saltitar no meio de um terível fedor.

A memória funciona de um modo estranho. E Ewert Greens regressa dezassete anos depois a esta investigação que não solucionou quando está à beira da reforma. E a trama que parecia seguir num  determinado sentido muda completamente com uma nova personagem enredada numa ameaçadora chantagem em que o passado turbulento voltou para o assombrar. Duas estórias paralelas. Ou talvez não, porque os dois protagonistas interagem e desta vez vão passar por algo que nunca tinham vivido antes, numa trama intrincada com o submundo do crime e a corrupção nas forças policiais para salvar uma familia numa corrida contra o tempo e revelar o que aconteceu aquela menina. Três dias de muito suspense e ação num thriller emocionalmente inteligente que não deixa pontas soltas. 

Fiquei fã deste autor que não conhecia.

Autor: Anders Roslund
Páginas: 456
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03383-3
Edição: 2020/ setembro

Sinopse: 
Atrás de uma porta fechada, há um bolo de aniversário com cinco velas. E uma criança num vestido vermelho que canta sem parar: Parabénsavocê, antecipando uma celebração... que nunca chegará a acontecer.

Passaram-se entretanto dezassete anos. O superintendente Ewert Grens, agora à beira da reforma, é chamado novamente ao local de um crime atroz que ainda lhe assombra os sonhos. No decurso desta nova investigação, Grens percebe que deixou escapar algo da primeira vez e suspeita de que alguém regressou com o objetivo de silenciar a única testemunha sobrevivente.
Enquanto isso, há quem tente por todos os meios recrutar os serviços pouco convencionais de Piet Hoffmann, ex-informador da polícia. No entanto, a recusa de Hoffmann em vestir de novo a pele de vilão coloca toda a sua família em grande perigo.

Tentando perceber quem está por detrás de um plano maquiavélico para literalmente fazer implodir o submundo do crime na Suécia, Hoffmann alia-se a Grens. Ao longo de três vertiginosos dias, os dois terão de salvar mais do que um inocente, numa corrida trepidante contra o tempo.

Bela

A minha opinião:
Belas palavras para um profundo sentir na vida ficcionada de Florbela Espanca. O desfecho trágico por ela escolhido é o início deste romance que, para uma leiga como eu, poderia ter sido escrito por ela em verso, tal o encantamento das palavras.

A comoção e a força pulsa das palavras que neste estranho retiro li. Uma mulher singular, ícone da literatura portuguesa. Uma história que sempre me atraiu e muito bem escrita por Ana Cristina Silva que parece ter captado o espírito da poetisa. Uma alma atormentada que procurava desesperadamente ser amada. Impossível ficar indiferente. 

"Fiz versos porque tinha a boca cheia com os gritos de uma criança que ninguém amou.
...
Esqueci em parte essas memórias de infância e ao mesmo tempo nunca saí delas." (pag.73)


Autor: Ana Cristina Silva
Páginas: 184
Editora: Bertrand
ISBN: 9789722540766
Edição: 2020/ outubro

Sinopse: 
A 8 de dezembro de 1930, Florbela Espanca tirou a própria vida. Era o dia do seu aniversário. Fazia 36 anos.
A vida de Florbela é um retrato de um espírito criativo, insatisfeito, complexo, com laivos de luz e sombra no Portugal na viragem do século XX.
Nesta biografia ficcionada, Ana Cristina Silva faz mais do que contar-nos a história de Florbela, abre-nos a porta para os seus sentimentos, pensamentos e paixões.

Florbela foi uma mulher não convencional, que ousou viver plenamente, ainda que muitas vezes tenha sido infeliz. Encontrou na poesia, desde tenra idade, a natural expressão das suas paixões, das suas mágoas, de um erotismo sublime e sempre, sempre da procura do Grande Amor. Recusou viver pela moral dos outros e teve a coragem de abrir o seu próprio caminho.

Um romance psicológico envolvente, arrebatado e original que narra as paixões, os desencontros, os reveses e a força criativa de uma poeta cuja vida terminou cedo demais mas cuja obra perdura.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Mulheres da minha alma

A minha opinião:
"Não exagero quando digo que sou feminista desde o jardim de infância, antes de o conceito se ter disseminado no Chile."

Assim começa este romance intimo e pessoal de Isabel Allende. Capítulos curtos numa história de vida guiada por um impulso incontrolável. Nunca aceitou o limitado papel feminino atribuído pela família, pela sociedade, pela cultura e pela religião. Mas… Não existe feminismo sem independência económica. 

Isabel Allende escreve muito bem ("pelo prazer de contar uma história palavra por palavra) e até uma lista de supermercado seria empolgante, mas neste tema que lhe é tão caro, supera-se.
A narrativa não é limitativa porque muito são os trechos de pequenos episódios, de pessoas que admira, informação relevante ou especulativa, a sua fundação e os seus ideais. E lança um repto. "Agora, é só uma questão de nos pormos de acordo para darmos um abanão formidável ao mundo."

Olga Murray também passou a ser a minha heroína. Que mulher extraordinária. E não foi a única. Nem um último capítulo sobre este estranho retiro que o Covid 19 nos impôs faltou. Muito bom. Fundamental ler!

Autor: Isabel Allende
Páginas: 208
Editora: Porto Editora 
ISBN: 978-972-0-03380-2
Edição: 2020/ novembro

Sinopse: 
«Cada ano vivido e cada ruga contam a minha história.»

Isabel Allende percorre os labirintos da memória e oferece-nos um emocionante testemunho sobre a sua relação com o feminismo e a sua condição de mulher.

Em Mulheres da minha alma, a autora chilena convida-nos a acompanhá-la nesta emocionante viagem, em que revisita a sua ligação ao feminismo, desde a infância até aos dias de hoje. Recorda algumas mulheres incontornáveis na sua vida: Panchita, Paula e a agente Carmen Balcells, cuja ausência chora ainda hoje; escritoras de nomeada como Margaret Atwood; jovens artistas que trazem na pele a rebeldia das novas gerações; mulheres anónimas que sofreram na pele a violência de género e, com dignidade e coragem, se levantam e avançam. Todas elas a inspiram e a acompanham ao longo da vida: as mulheres da sua alma.

Reflete, ainda, sobre as mais recentes lutas sociais, nomeadamente as revoltas no seu país de origem e, claro, sobre este novo contexto que o mundo atravessa com a pandemia. Tudo isto sem deixar de manifestar a sua inconfundível paixão pela vida e a sua crença em que, independentemente da idade, há sempre tempo para o amor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Um Tempo a Fingir

A minha opinião:
Annina é uma judiazeca de uma beleza poderosa que cresceu num casebre acanhado e para quem o universo inteiro cabia num buraco como Pitiagliano em Itália.

A história desta soberba mulher é como um rio de águas furiosas a esfolar-se nos rochedos. 
Quem o conta é a própria mas conta com algumas interjeições do irmão Ulisses.

E depois, há o Peppino, o artista que tudo sabia sobre os escândalos e as tragédias. E o ataque.

Desengane-se quem espera mais um romance sobre a Segunda Guerra Mundial. A época é a mesma mas os acontecimentos demoram a ter impacto naquele lugar distante. A vida rege-se por outros monstros e Annina leva um tempo a fingir até executar a sua vingança. Um tempo a fingir de que Annina se valeu para sobreviver.

Esta é a história de Annina. Mais um romance de João Pinto Coelho que não se esquece.

Autor: João Pinto Coelho 
Páginas: 328
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722071048
Edição: 2020/ outubro

Sinopse: 
Toscana, Itália, 1937. O burgo de Pitigliano assenta, como um ninho de águia, no cume de um rochedo; mas nem a cidade, de túneis e catacumbas, escavada nos seus alicerces consegue abafar os segredos à superfície. É no aperto das suas muralhas que Annina Bemporad, uma judia rebelde, se despede da infância quando acorda a meio da noite com o estampido de um tiro.

Se os estilhaços da tragédia acabam por atingi-la, será a partir de então que ambicionará os sonhos mais arrojados, seja na companhia de Cosimo - um rapaz disposto a dar a vida por ela -, de Alessia - a colega excêntrica que não parece encontrar um fato à sua medida, ou mesmo do enigmático Peppino, que monta espetáculos com o lixo que apanha nas ruas e a quem basta uma palavra para resgatar Annina aos seus momentos mais duros.

Mas, se a beleza da rapariga gera paixões doentias e ódios desmesurados, nada faria supor que pudessem resultar num ato tão tresloucado… Restam-lhe, pois, o desejo de vingança e a queda para o fingimento para sobreviver no mundo virado do avesso em que se transformou a Itália de Mussolini, onde as Leis Raciais, que têm por alvo os judeus, anunciam a chegada dos nazis.

Profundamente imaginativo e rigorosamente documentado, Um Tempo a Fingir é um romance magistral onde desfilam personagens memoráveis e cujo enredo tem a rara qualidade de ser ao mesmo tempo absolutamente inesperado e completamente verosímil.