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quinta-feira, 30 de abril de 2020

Paisagem com mulher e mar ao fundo

A minha opinião:
Não sabia que tinha sido publicado originalmente em 1982. Não li a sinopse. Sabia apenas que gostava da escrita apurada, quase poética de Teolinda Gersão. Sabia que não seria uma leitura fácil mas exigente, que recua a num período histórico de má memória.

Na perspetiva feminina, a  dor da perda de um homem. Uma mãe que perdeu um filho caído em combate e uma mulher que perdeu o companheiro e pai do seu filho ainda por nascer. A linguagem rica dos sentidos e das emoções. O mar como cenário de fundo. Um universo bloqueado, uma busca por um ponto de fuga ao espaço de O.S.. A revolta.

Um romance que faz todo o sentido ler em voz alta.

Autor: Teolinda Gersão
Páginas: 200
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03240-9
Edição: 2019/ outubro

Sinopse:
Portugal. O ultramar. Um retrato de Salazar e do país durante a ditadura. Uma mulher, mãe, que perde um filho na guerra colonial, a mais injusta e absurda de todas as guerras. A sua voz é a de todos os que, durante mais de quatro décadas, foram silenciados pelo poder do opressor.
Publicado originalmente em 1982, este é um romance que importa revisitar para lembrar ao leitor que houve um tempo em que o mar era paisagem árida e Portugal um país que calava e obedecia. 

terça-feira, 28 de abril de 2020

Mar de Memórias

A minha opinião:
Um romance cheio de luz do sol, de beleza, juventude e liberdade. Inebriante. A inocência do primeiro amor. Um amor aberto a todas as possibilidades e cheio de esperança. E um amor duradouro.
 
Ella aos noventa e quatro anos sente que tinha que contar a sua vida, deixar um testemunho, antes que as memórias se desvanecessem e escolhe a neta Kendra para o fazer. Alternando entre o passado - 1938 e o presente - 2014, a história vai evoluindo com um fulgor e um encanto raro que vicia na leitura.
 
Tive dúvidas antes de comprar este livro por ser mais um que se passava na segunda guerra mundial. Receava ler novamente os horrores que foram perpetuados mas a história não segue esse rumo. O realce é a coragem e capacidade de superação.
 
Bem escrito e com um enredo maravilhoso é um romance apaixonante. Um livro que tem o dom de encontrar beleza naquilo que é comum. Oportuna leitura para a fase que vivemos. Depois de ler um romance que me desiludiu, Mar de Memórias foi uma extraordinária surpresa. Para não se perder o foco do que é importante.

Autor: Fiona Valpy
Páginas: 320
Editora: TopSeller
ISBN: 9789896687793
Edição: 2020/ fevereiro

Sinopse:
Quando Kendra vai visitar a avó à casa de repouso, Ella começa a contar-lhe a história da sua vida e pede-lhe que a escreva, para que nunca se perca no tempo. Tudo começa em 1938, quando a jovem Ella viaja da Escócia para França para ir passar o verão à Île de Ré, onde a esperam Caroline e Christophe, os filhos de uma amiga da sua mãe desejosos de partilhar as férias com alguém da sua idade. A empatia entre os três é imediata, mas Ella desenvolve um sentimento especial por Christophe, com quem partilha momentos maravilhosos e inesquecíveis.

Contudo, o eclodir da Segunda Guerra Mundial dita o fim desta proximidade. Com a França debaixo de fogo, Ella vê-se obrigada a regressar à segurança da sua casa em Edimburgo. E enquanto Christophe arrisca a vida na frente de combate, Ella decide contribuir também para o esforço de guerra, oferecendo-se como voluntária para dar apoio à Força Aérea.

Confrontada com uma realidade completamente nova, Ella sente-se cada vez mais afastada da felicidade que em tempos tinha vivido na Île de Ré.
Mas estará ela assim tão diferente?
Conseguirá voltar a encontrar-se?
E quererá fazê-lo?

Uma fascinante viagem a um passado marcado pelo poder do amor e das segundas oportunidades.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

A Mestra de Marionetas

A minha opinião:
Carmen Posadas é uma estreia.
A capa é apelativa mas o que me convenceu a comprar foi a premissa de que seria a história de uma mulher que se reinventou e inteligentemente usou a beleza para singrar na vida com o benefício da imprensa cor de rosa. Vagamente inspirado em Isabel Presley.
 
A escrita corrente e fluída facilita a leitura de um enredo que alterna entre a mãe Ina e a protagonista Beatriz, que para além do suave sarcasmo, não tem muito que se lhe diga. É um corridinho de dados sobre casamentos consolidados com o nascimento das filhas e algumas futilidades. O enquadramento sociopolítico é pontual e falta algo mais à narrativa. Intriga, suspense, glamour, talvez.
 
Arturo Guerra é a minha personagem favorita nesta paródia de costumes. Idiossincrasia de Espanha com alguns rasgos interessantes. Por fim, a Mestra das Marionetas é uma revelação que poderia considerar um bom romance se não fosse tão extenso.


Autor: Carmen Posadas
Páginas: 560
Editora: Casa das Letras
ISBN: 9789896607692
Edição: 2020/ março

Sinopse: 
Se existiu uma mulher que estava destinada a brilhar, foi Beatriz Calanda, cuja vida exagerada e excessiva atravessa os últimos sessenta anos da História de Espanha.

Repasto das revistas de sociedade, com uma vida cinzelada a toques de glamour, escândalos e exclusivos, grande senhora do jet set madrileno, toda a gente sabe perfeitamente quem é Beatriz Calanda e quem foram os seus quatro maridos - um ator em voga, um grande intelectual de esquerda, um aristocrata e um banqueiro.

Sim, toda a gente a conhece, mas ninguém, nem sequer os maridos, e muito menos as filhas, sabe quem ela é na realidade, quais as suas origens e o que teve de fazer para se tornar um ícone capaz de arrastar uma corte de paparazzi.

Para descobrir o que se esconde por trás desta fachada deslumbrante será necessário viajar até ao passado, até à sua adolescência na Madrid da Transição. E também até à juventude da sua mãe durante os anos obscuros do pós-guerra.  

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Crime, Disse o Livro

A minha opinião:
Escolhi este livro por ser mais leve e deste modo contrabalançar ao último que li.
 
Não me lembro dos livors da Agatha Christie que li. Já lá vai muito tempo. Recordo o mistério ou crimes em mansões num ambiente rural, a docilidade dos inquéritos e o complexo puzzle que era montado para revelar o criminoso. A mística neste policial correspondente às minhas memórias e tem o mesmo magnetismo para o leitor. Um teste à minha inteligência em que chumbo quase sempre.
 
O último de uma saga de livros do detective Pund falta-lhe os capítulos decisivos quando o autor morre, E temos duas histórias muito bem contadas, a par, em que muitas situações se confundem entre o livro, cuja ação se passa em 1955 e na atualidade, nomeadamente no meio literário. O mistério continua a ser um desafio.

Um policial engenhoso que devorei. Perfeito entretenimento.


Autor: Anthony Horowitz
Páginas: 448
Editora: Clube do Autor
ISBN: 9789897244339
Edição: 2019/ setembro

Sinopse:
ABSORVENTE e VICIANTE; e com um final verdadeiramente prodigioso!

Existem vários mistérios por resolver dentro das páginas deste livro. Tudo começa quando Susan Ryeland se senta para ler o manuscrito do autor mais vendido da editora onde trabalha. Porém, a narrativa termina abruptamente no ponto em que o detetive da história está prestes a revelar o assassino, levando por isso Susan a procurar os capítulos perdidos. Mas este é apenas o ponto de partida de um dos mistérios…

Extraordinariamente bem concebido e bem escrito, em Crime, disse o livro encontramos duas histórias que correm em paralelo, personagens interessantes e autênticas, tramas sólidas, inteligentes e bem estruturadas, várias reviravoltas e, por fim, um desenlace absolutamente surpreendente.

E se um mistério dentro de outro mistério significa o dobro da adrenalina, para os fãs do género este livro traz também prazer a dobrar. Prepare-se: vai ser difícil pousar o livro!

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Terra Americana

A minha opinião:
México urbano. Assassínio casual. Hierarquia do perigo. Narcotraficantes.
Parece distante. Nem em pesadelos cogitava semelhante cenário.
 
SEGRURAMENTE O MELHOR LIVRO QUE IREI LER ESTE ANO! E já li uma mão cheia de livros fantásticos.
 
Lydia e o filho Luca de oito anos, tem de fugir depois do massacre de toda a sua família. Dezasseis pessoas foram assassinadas e apenas eles escaparam aos narcotraficantes.
 
Narrativa avassaladora esta, de leitura compulsiva, em que o desespero e a ansiedade transparece e o leitor não lhe fica indiferente. Uma amizade profunda e genuína desvanece-se quando a verdade se revela. Uma mulher de fibra e uma mãe coragem. Uma história extraordinária sobre uma viagem exaustiva e imprevisível em que se encontram ligados aos outros por laços de trauma. Impactante, sem ser angustiante. Obrigatório ler para compreender. E refletir. Sem conotações políticas mas provocador pela sua pertinência.

Um livro que marca e não se esquece, exemplarmente escrito. 

Autor: Jeanine Cummins
Páginas: 448
Editora: Edições ASA
ISBN: 9789892348025
Edição: 2020/ março

Sinopse:
Ontem Lydia era dona de uma livraria.
Estava casada com o homem que amava.
Vivia rodeada de família e amigos.
Hoje Lydia perdeu tudo.
Tudo, menos o filho, Luca, de oito anos.
Por ele, vai amarrar uma faca de mato à perna.
Vai saltar para um comboio de alta velocidade em andamento.
Vai até ao fim do mundo.

Únicos sobreviventes do massacre da sua família às mãos de narcotraficantes, Lydia e Luca sabem que têm de fugir do México imediatamente. Cada minuto conta. Cada troca de olhares está impregnada de perigo. Em cada momento de fraqueza pulsam a vida e a morte.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

A Cozinheira de Castamar

A minha opinião:
A cozinheira de Castamar  como o nome indicia é um hino à deliciosa gastronomia espanhola. A sedução vem do palato neste belíssimo romance.
 
Retrato de época que transporta o leitor para guerras, conquistas e lutas de poder, bem como para o ambiente doméstico dos ricos e privilegiados em que outras lutas em surdina também aconteciam. A história passa-se no sec. XVIII com uma cozinheira culta e inteligente, oriunda de uma família sem título que, com a morte do progenitor se viu na penúria e recorreu à sua arte para subsistir. Clara, assim se chama a protagonista tinha um problemazinho - não suportava espaços abertos quando foi contratada para a casa nobiliárquica Castamar, onde começou por ser hostilizada pelo aprumo da cozinha e uma ameaça à autoridade da governanta.
 
O início, logo nas primeiras páginas deixou-me rendida a uma narrativa vibrante, ainda que pautada com algumas descrições que evidenciam um bom trabalho de pesquisa para enquadrar a trama no tempo e no espaço. Uma história contada com o requinte e a elegância de um grande romance cinematográfico.
 
Ciúme e inveja levou a uma bem engendrada conspiração para destruir a família Castamar e foram precisas mais de seiscentas páginas para não deixar nada por contar e justificar que o amor vence o preconceito social. Maria Dueñas certamente encontrou um outro talento à sua altura. Fan-tás-ti-co!
 
Autor: Fernando J. Múñez
Páginas: 616
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03172-3
Edição: 2020/ março

Sinopse:
OS SABORES DO AMOR NÃO CONHECEM BARREIRAS.
Espanha, 1720

Clara Belmonte é uma jovem de uma família abastada que, após a morte do patriarca, um dos mais prestigiados médicos de Madrid, se vê cair na mais completa pobreza.
Apesar da educação primorosa que recebeu, Clara precisa de uma forma de sustento e acaba por se candidatar a um trabalho nas cozinhas do palácio ducal de Castamar, que conquista graças ao talento para a culinária que herdou da mãe.
Clara não é bem recebida nos primeiros tempos. A sua eloquência, bem como o rigor na limpeza das cozinhas e a ousadia no requinte dos pratos, depressa a elevam na atenção dos habitantes da casa e no ciúme dos colegas de trabalho.
Mas é Dom Diego, o duque de Castamar, quem Clara mais impressiona. Arrancando-o à apatia absurda em que vive desde o estranho falecimento da mulher, a jovem cozinheira fá-lo derrubar todas as barreiras, despertando-lhe o palato, o intelecto e, por fim, o coração.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

O Informador

A minha opinião:
Anton Brekke, o detective da Kripos (polícia judiciária norueguesa) comportava-se deliberadamente mal. Parecia não pensar antes de dizer e fazer o que dizia e fazia. Principalmente quando tinha de investigar um homicídio. Destrambelhado, arrogante e brilhante. Na sua vida pessoal gostava de jogar.
Um assassino mafioso e uma vitima milionária com preocupações ambientais. Parece clichê este trio de personagens se conjugarem num bom thriller policial mas funcionou. É bestial. Uma estreia de sucesso que apresenta uma narrativa estruturada e bem balanceada que li compulsivamente. Um verdadeiro page-turner. Uma história convincente em que não consegui descobrir o mandante do crime e o porquê.
 P.S. A capa é espetacular.
  
Autor: Jan-Erik Fjell
Páginas: 400
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722069366
Edição: 2020/ fevereiro

Sinopse:
Nova Iorque, década de 1960. Vincent Giordano foi admitido na máfia italiana, na infame família Locatelli, e é submetido ao seu batismo de fogo: executar um informador.

Fredrikstad, na atualidade. Wilhelm Martiniussen, dono de uma petrolífera norueguesa, é assassinado logo após ter anunciado uma mudança inesperada na política da sua empresa. Motivado por preocupações ambientais, havia decidido abandonar um projeto bastante lucrativo e investir nas energias renováveis, o que traria grandes perdas aos membros da direção. Há, por isso, razões para acreditar que o seu assassinato teve motivos financeiros.

Anton Brekke, famoso detetive do departamento de homicídios da Kripos, irá liderar a investigação. Brekke é um homem de contrastes, com uma paixão secreta pelo póquer. Sem grande jeito para lidar com pessoas, a sua personalidade provocadora e rude rendeu-lhe poucos amigos na polícia. No entanto, as suas competências são inegáveis e, por baixo da fachada, tem um coração bondoso.

Acompanhado pelo diligente cadete da polícia Magnus Torp, para resolver este caso, Brekke terá de trazer à tona uma série de eventos do passado e encontrar os pontos que unem um número desconcertante de pessoas muito diferentes, de diferentes épocas e lugares.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Corpos Celestes

A minha opinião:
Um romance que retrata um outro universo. Individualmente, cada personagem é um mundo. As mulheres no seu ambiente doméstico são rainhas. Os homens quase despidos de autoridade assumem as suas fraquezas e submetem-se as suas vontades. O papel na dinâmica familiar dos escravos, atualmente livres, integrados nas casas-fortaleza. As tradições e costumes omanenses numa narrativa pujante e mística. Bela. Um outro modo de vida que tanta curiosidade suscita.
 
Para facilitar o reconhecimento dos elos entre as personagens e perceber quem é quem há um esquema nas primeiras páginas. Neste romance, temos duas famílias abastadas ligadas pelo matrimónio numa comunidade fechada. Pode parecer pouco mas as personagens principais, como as secundárias são tão extraordinárias, que li extasiada. No fim, constato que a História e a política intervêm no enredo, o que o engrandece ainda mais.
Brilhantes Corpos Celestes.
 
 
Autor: Jokha Alharthi
Páginas: 240
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789896419851
Edição: 2020/ janeiro

Sinopse: 
Corpos Celestes narra a vida de três irmãs na aldeia de al-Awafi, em Omã. Mayya, que casa com Abdallah após um desgosto amoroso; Asma, casada por obrigação; e Khawla, que rejeita todas as propostas enquanto espera pelo seu amado, que emigrou para o Canadá.

Estas três mulheres e as suas famílias testemunham o desenvolvimento de Omã, de uma sociedade tradicional e esclavagista, passando pela era pós-colonial, até aos dias de hoje, marcados por um presente complexo.

Elegantemente estruturado e sempre tenso, Corpos Celestes é um romance que vê o seu potencial desenrolar-se na narrativa do desenvolvimento de Omã através dos amores e perdas de uma família.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Um Pingo na Água

A minha opinião:
Parece mentira, que este pequeno romance com uma protagonista por quem senti empatia na primeira página me tenha chegado às mãos.
 
Ana é uma mulher determinada e segura de si, com uma vida organizada e uma situação desafogada. Uma paixão e outra e Ana mantêm o controle. A vida tem desígnios que escapam ao que se tem garantido e Ana sente a oscilação de Um Pingo na Água.
 
Uma romântica incurável não deixa de se enternecer com este romance que se lê num sôfrego. Singelo e tocante é a história de uma mulher que assume o que sente por inteiro sem renunciar aos seus valores.
 
Gostei muito Ann e obrigada por me dar a conhecer a Ana que muito admirei. O talento para a escrita aprimorou-se e criatividade (algo que me falha) voltou a brilhar. Espero ter o prazer de ler outros romances que embelezam o tempo que dedicamos à leitura.
 
 
Autor: Ann Yeti
Páginas: 160
Editora: Sell Out
ISBN: 9789898940032
Edição: 2020/ março

Sinopse:
A obra Um Pingo na Água revela um romance sobre uma mulher independente e sedutora - Ana - e dos dois homens, muito diferentes entre si, que buscam o seu amor. É uma história sobre paixão e arrebatamento, mas também sobre encontros, desencontros, e segundas oportunidades. Qual deles - se algum - ficará com ela no final?