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domingo, 23 de agosto de 2020

A Filha do Comunista

A minha opinião:
Katia Ziegler é a protagonista desta história em família na Alemanha de Leste, antes mesmo de ter sido construído o muro. A família emigrou de Espanha para fugir à guerra.
 
Frases breves em capítulos curtos, assinalados com o local e o ano, num crescendo para contar episódios que refletem as circunstâncias duras, sem comiseração ou juízos de valor. A política está subjacente, no modo desapaixonado como se comportavam e aceitavam. E no temor. Ao longo da narrativa as interjeições vão aumentando e a política ganha espaço, visibilidade e peso. Assim como Katia se torna mais intensa.
 
Escrita irrepreensível. Nada fora do tom ou excessivo nesta narrativa precisa e cuidada. Sem apelo nem agravo é um romance belo e de rara sensibilidade. As divisões ideológicas para existências fragmentadas. Inesquecível Katia.

Autor: Aroa Moreno Durán
Páginas: 132
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03362-8
Edição: 2020/ Agosto

Sinopse: 
Um romance íntimo e político que narra a vida de uma família de emigrantes espanhóis na Alemanha de Leste, traçando em simultâneo um retrato da Berlim Oriental, uma cidade constantemente alerta, através do olhar de uma rapariga que vai crescendo sob a égide da República Democrática Alemã.
A vida de Katia, as suas opções e a irreversibilidades dos seus atos poderiam ter sido contados de inúmeras maneiras, mas a prosa de Aroa Moreno Durán, brilhante e incisiva, devolve beleza ao peso da História e valeu-lhe o Prémio Ojo Critico de Narrativa 2017.
 

Epítome de pecados e tentações





A minha opinião:
A curiosidade levou a melhor quando apostei em ler este livro de contos. O tema interessa-me. E se, até então nada tinha lido, porque não começar justamente com este pequeno livro?! 

Contos de altissímo nível. Um gozo. Vozes masculinas e femininas em maturada reflexão debitam vivências de boa ou má memória, sem pudor e até humor. Breves tentações. Pecados isolados. Um interegno no quotidiano. 

Galhardia numa prosa requintada e desabrida que agrada. Mas… gostei mais da forma do que do conteúdo. Sem eco em mim. Só por isso não tem a nota máxima mas não resisto ao próximo livro do autor para validar esta sentença.
Autor: Mário de Carvalho
Páginas: 136
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03291-1
Edição: 2020/ Agosto

Sinopse: 
Fascínios, inquietações e sobressaltos nas relações entre homens e mulheres. Como elas os vêem. Como eles tantas vezes, as mais das vezes, se enganam. Os amores juvenis e os amores tardios. As tentações a pedirem transgressão e os pecados, veniais, sempre à espreita, entre olhares que se advinham e jogos que se desvendam.
Numa prosa depurada, Mário de Carvalho, uma das vozes mais importantes da nossa literatura contemporânea, regressa à novela e ao conto, num livro que pede total absolvição.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

O Anjo de Munique

A minha opinião:
Um thriller histórico que se devora, com uma sinopse que indicia isso mesmo é irresistível. Não foi preciso mais para me apressar a comprar mas não contei com uma letra miudinha que me aborrece porque já estou pitosga.

A trama que se desenrola a bom ritmo e com reviravoltas inesperadas prende mas os comissários que investigam a morte da sobrinha de Hitler tornam a leitura viciante e imparável. A dinâmica dos dois é credível e o carisma e presença de espírito em oposição a personagens de má memória torna-os dignos de registo. A descrição breve e visual dos vários locais onde a ação se dá embeleza a narrativa nesta trama bem pensada e melhor contada que, pasme-se no essencial é uma história verdadeira. O anjo de Munique tem por base o desaparecimento de Geli que não foi uma personagem de romance, bem como muitos dos dados rebuscados que parecem ficção mas para o qual existem provas documentais.

É uma pena que no contexto atual não se leia mais. Alguns factos são relevantes à luz dos dias de hoje. E é uma extraordinária maneira de nos preencher e ocupar o tempo. 
Um dos melhores thrillers policiais e históricos que li nos ultimos tempos. 

Autor: Fabiano Massimi
Páginas: 432
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9789897840500
Edição: 2020/ Julho

Sinopse: 
Munique, Setembro de 1931. Faltam poucas semanas para que umas eleições históricas outorguem o poder aos nazis. O comissário Sigfried Saue é chamado com urgência a um elegante apartamento, onde Angela Raubal, 22 anos, conhecida como Geli, é encontrada no seu quarto sem vida. Ao lado do corpo um revólver, tudo sugere que se trata de um suicídio. Geli, no entanto, não é uma mulher comum e o apartamento onde vivia e morreu, bem como o revólver que disparou o tiro fatal, não pertencem a um homem qualquer, são do seu «tio Alf», que o resto da Alemanha como Adolf Hitler, o político mais notório do momento. Em parte também por causa dessa estranha relação com a sua sobrinha, fonte de indignação e escândalo entre as fileiras dos seus inimigos e entre os seus colaboradores mais próximos. Sempre juntos, sempre felizes e sorridentes numa intimidade adolescente. O inspector Sauer se encontra dividido na sua investigação entre aqueles que o mandam encerrar a investigação passadas escassas horas e aqueles que o instruíram a ir ao fundo do caso e descobrir a verdade, qualquer que seja.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Recordações do Futuro

A minha opinião:
Peculiar. Introspectivo. Em suma, Siri Hustvedt. Exigente também. Neste romance saltita e muda de discurso quando narra acontecimentos, reflete ou retira excertos do projeto de escrita falhado mas continua a ser uma brilhante análise de vida. 

A não ficção confunde-se com a ficção. Noção que passa em que algo se passa de autobiográfico, o que acontece com tantos e bons romances. Um tanto da autora prevalece na narrativa ficcionada. 

Uma jovem que procura ser escritora regista num diário o ano que viveu em NY. Este registo serve para recuperar a pessoa que era, que convive amíude em interjeições consigo própria, mais velha e com uma diferente perspectiva. Uma vizinha perturbada é uma obcessão para a jovem até ser salva. Um mistério que desvenda. 

A memória, a passagem do tempo, o paternalismo, a violência e a discriminação sobre as mulheres, o presidente Trump, etc... são muitos os temas que aborda. Infelizmente achei denso e não me agarrou como gostaria. 

Autor: Siri Hustvedt
Páginas: 400
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722069663
Edição: 2020/ Junho

Sinopse: 
Com 23 anos e o objectivo de escrever um livro, S. H. troca o interior rural dos Estados Unidos por um esquálido apartamento na exuberante Nova Iorque do final dos anos 70. Todos os dias, para combater a solidão e a fome, a rapariga parte à descoberta da cidade, que na época é suja e perigosa e repleta de aventuras. Tem como única companhia os heróis literários da sua adolescência - Dom Quixote e Tristram Shandy - e a voz de uma vizinha, Lucy Brite, que todas as noites lhe chega através da parede da sala, entoando um triste cântico e longos monólogos bizarros, que S. H. aponta num diário. A misteriosa Lucy rapidamente se torna uma obsessão.

Quarenta anos depois, a reputada escritora S. H. encontra o seu velho diário e o rascunho de um romance inacabado. Justapondo os diversos textos, ela cria um diálogo entre os seus diferentes eus ao longo das décadas, num jogo que transforma a narradora - e o leitor - numa espécie de Sherlock Holmes (S.H.) em busca da verdade possível entre a memória e a imaginação.

Neste retrato da artista enquanto jovem, misto de thriller psicológico e bildungsroman, Siri Hustvedt questiona a nossa relação com a realidade, a capacidade da arte de mudar a nossa percepção do mundo, os limites da ficção e os mistérios da personalidade e da memória. Um romance profundamente feminista, que analisa o papel da mulher na sociedade patriarcal e as diferentes formas de violência a que está sujeita, e recupera uma figura fascinante da História, a excêntrica baronesa Elsa von Freytag-Loringhoven, a artista dadaísta de cuja obra Marcel Duchamp se apropriou. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

A Vila Esquecida

A minha opinião:
Para contrabalançar um romance mais maçudo peguei neste livro e não mais o larguei.

Dorset. Deve ser uma região maravilhosa para se conhecer e explorar. Um pequeno passeio em torno de uma atração turistica transformou-se numa demanda para Melissa. Por causa de Veronica. A situação dela levara-a a fazer comparações desconfortáveis com a sua mãe mas também consigo. Veronica era casada com um individuo muito mau. Violento e maquiavélico. E Melissa percebeu isso ao olhar para uma fotografia na casa grande da Vila Esquecida. 

Esta história é contada a dois tempos e não sei qual achei mais fascinante, se 2018 ou 1943. As ações destas duas protagonistas interessam nesta trama empolgante e emocionante. O final é o que esperava mas não diminuiu em nada a expectativa de o confirmar. A escrita é ótima e a narrativa escorreita e clara. Baseado em factos reais é um roamnce histórico que adorei ler. 

Autor: Lorna Cook
Páginas: 352
Editora: TopSeller
ISBN: 9789896689674
Edição: 2020/ Junho

Sinopse: 
Duas mulheres. Uma fotografia misteriosa.
Um segredo guardado durante décadas.

1943: O mundo está em guerra e os habitantes de Tyneham vão ter de fazer mais um sacrifício: abandonar as suas casas quando a vila é requisitada pelo Exército Britânico. Veronica e Albert Standish preparam-se para a mudança, mas, na véspera da partida, um acontecimento terrível mudará para sempre as suas vidas.

2018: Melissa tinha a esperança de que uns dias de descanso com Liam na costa de Dorset pudessem reacender a chama da sua paixão. Contudo, apesar do cenário idílico, as férias levam ao limite a sua relação já estagnada.

Ao encontrar a enigmática fotografia de uma mulher que em tempos viveu na esquecida vila de Tyneham, Melissa sente-se impelida a descobrir mais sobre a sua história. Porém, Tyneham esconde um segredo inesperado, e a demanda de Melissa pela verdade acabará por mudar a sua vida de um modo que ela nunca imaginou possível.

domingo, 9 de agosto de 2020

A Educação dos Gafanhotos

A minha opinião:
Dado que começa com uma viagem dos gafanhotos na costa leste dos EUA fiquei fisgada. Reminiscências do passado. Importa explicar quem são os gafanhotos. Não é literal e chama a atenção.
 
Os gafanhotos são dois jovens que podiam viajar livres de constrangimentos, à deriva, numa liberdade absoluta, num salto imprevisível. As peripécias que os educam são muito credíveis. Confiantes e descarados mudam com a aprendizagem e espalham a sua filosofia vã. As narrativas literárias que inventam divertem e incomodam e nem sempre convencem nesta livro de viagem. A ficção não se confunde com a realidade quando esta se impõe como aconteceu no dia 11 de setembro. O mundo mudou e estes dois também.

Não foi um romance apaixonante como esperava mas foi uma lição sobre a arrogância da juventude e o efeito do medo, bem como um relembrar como à data Portugal e Lisboa não eram do domínio dos Americanos.
 
Autor: David Machado
Páginas: 216
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722069328
Edição: 2020/ Fevereiro

Sinopse: 
No Verão de 2001, David e Marco celebram o fim do curso com uma viagem pelos Estados Unidos, para fugirem das rotinas, das convenções, das famílias e para, à sua maneira, gozarem a independência.

A Educação dos Gafanhotos é a história dessa marcante aventura: das dificuldades que os dois jovens amigos têm de ultrapassar, das conversas insólitas que travam com quem vão conhecendo, das longas noites passadas em bares da América profunda, das personagens que, a todo o instante, encarnam. É também o relato do abalo provocado neles pelo ataque terrorista do 11 de Setembro.

Na senda da viagem fascinante de Índice Médio de Felicidade, com a maturidade de Debaixo da Pele, o presente romance é um retrato de uma juventude em plena efervescência, para quem a literatura é um passaporte para a liberdade e a quem a realidade por vezes troca as voltas.
 

Nunca é Tarde para Começar a Viver

A minha opinião:
A capa e o título sugerem um romance de fácil leitura, de entretenimento, o que é um tanto enganador porque apesar do sarcasmo inteligente do olhar de Andrew, o protagonista anti social que inventou uma história familiar tem uma vida difícil.
 
A solidão em que muitos morrem é um tema amargo e cruel. Partir deste tema e criar um bom romance com personagens empáticas que não é pesado mas lúcido e até diverte é bestial. Para mais, num primeiro romance.
 
Andrew é um sujeito simpático e bondoso por quem o leitor sente compreensão e compaixão. A estória é surpreendentemente empolgante e a expectativa domina para um final feliz que não se prevê mas se deseja. Apesar disso é tão ridiculamente possível que o leitor é enredado no quotidiano no escritório com um sorriso ou uma gargalhada à toa. 
A vida pode ser maravilhosamente simples se seguirmos em frente.
 
 
Autor: Richard Roper
Páginas: 320
Editora: TopSeller
ISBN: 9789896689384
Edição: 2020/ Junho

Sinopse:
Por vezes, é preciso arriscar tudo para encontrar uma razão de viver.

Andrew tem um trabalho pouco comum: encontrar os familiares das pessoas que morrem sozinhas. Os seus dias são passados a vasculhar casas vazias, a contactar parentes distantes e maldispostos e a assistir a funerais onde não aparece ninguém. A sua sorte é que tem uma família feliz à espera quando regressa a casa. Ou assim pensam os seus colegas de trabalho.

Tudo começou com um mal-entendido durante a entrevista de emprego, mas acabou por tornar-se uma teia de enganos tão complexa que Andrew se vê agora obrigado a manter um registo de todos os pormenores sobre a sua família imaginária.

Inesperadamente, é na mulher e nos dois filhos que nunca teve que Andrew encontra conforto, refugiando-se nessa fantasia. Até que conhece Peggy, uma nova colega que traz uma lufada de ar fresco à sua vida e que rapidamente se transforma numa amiga, fazendo com que Andrew queira deixar de viver uma mentira. Pela primeira vez em muitos anos, sente vontade de começar a viver.

Mas a escolha que tem pela frente é muito difícil.
Será capaz de contar a verdade e arriscar-se a perder a amizade de Peggy?
Ou preferirá manter a mentira com que já se sente confortável?
  

33 Cartas de Montmartre


A minha opinião:
Uma comédia romântica. Exatamente o que me apetecia ler. Para mais, deste autor que sabe escrever com coração e engenho.
 
O que me fascina é que apela aos sentidos e visualizo o que descreve enquanto evoco os cheiros e os sabores. Um romance que começa num cemitério antigo e onde tem início, não uma mas duas histórias de amor. Um romance que nos faz desejar visitar Paris e calcorrear todas aquelas pequenas ruelas e praças. Um romance do qual intuímos e torcemos por aquele final e lemos sofregamente para o confirmar, arrebatados pelas personagens. Um romance tocante e mágico porque nos comove e diverte. Um romance que toca o coração.
 
Há muito tempo que não me lembro de ler um romance assim. Lindo.

Autor: Nicolas Barreau
Páginas: 244
Editora: Minotauro
ISBN: 9789898866998
Edição: 2020/ julho

Sinopse:
Ao perder a mulher, prematuramente, Julien Azoulay, escritor aclamado, deixa de acreditar no amor, perde a fé no lado mais feliz da vida - e com ela sua capacidade de escrever. Antes de morrer, Hélène faz o marido prometer-lhe que lhe escreverá 33 cartas, uma por cada ano da sua curta vida. Para seu espanto, Julien dá-se conta de que esta «correspondência», que deixa numa gaveta secreta na campa da mulher, no cemitério de Montmartre, acaba por ser o seu único conforto na perda.

Até que um dia descobre que as cartas desapareceram e, no lugar destas, encontra alguma pistas... O que Julien não sabe é que alguém o observa. Alguém que lê as cartas e que o quer ajudar. Alguém que se apaixonou por ele.