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sexta-feira, 30 de abril de 2021

10 Minutos e 38 Segundos Neste Mundo Estranho

A minha opinião:

Leila Tequila está morta. A consciência começou a abrandar mas apesar da privação de oxigênio as suas células ainda não se tinham desligado. O tempo tornou-se fluído, o passado e o presente inseparáveis e sabores e cheiros converteram-se em recordações e momentos de cada um dos dez minutos e trinta e oito segundos finais da vida desta mulher. E deste modo, ficamos a conhecê-la bem através das memórias das fases mais marcantes da sua vida. E aos seus cinco amigos. Os párias sociais. A sua familia da água. E o seu grande amor, D/ Ali.E neste entretanto, não perdemos a noção de onde se passa a ação, maioritáriamente em Istambul. E há quase que uma declaração de amor a esta cidade feita de contrastes.

A morte, que delegámos para a periferia da vida, quando está no centro e é tratada com desconforto é um dos temas mas não é o único. Aliás, de uma maneira ligeira mas séria aborda muitos outros temas difíceis quando dá protagonismo às mulheres da vida. E como são julgadas. Aos olhos da lei eram discriminadas e continuam a ser marginalizadas, até na morte. Um romance que me emocionou e divertiu e que não vou esquecer. E esses são os meus romances top. Muito bom.

Autor: Elif Shafak
Páginas: 328
Editora: Presença
ISBN: 9789722365734
Edição: 2020/ julho

Sinopse: 
No primeiro minuto que se seguiu à sua morte, a consciência de Leila Tequila começou a abrandar, lenta e firmemente, como uma maré a recuar para a costa. As suas células cerebrais, tendo ficado sem sangue, estavam agora completamente privadas de oxigénio. Mas ainda não se tinham desligado. Não de imediato. Uma última reserva de energia ativara inúmeros neurónios, ligando-os como se fosse a primeira vez. Embora o coração tivesse parado de bater, o cérebro estava a resistir, um combatente até ao fim...

Para Leila, cada minuto após a sua morte traz consigo uma recordação sensual: o sabor do guisado da cabra sacrificada pelo pai, para celebrar o nascimento de um filho há muito esperado; a visão de panelões borbulhantes com uma mistura de limão e açúcar, que as mulheres usam para depilarem as pernas, enquanto os homens se encontram na mesquita; o aroma a café de cardamomo que Leila partilha com o estudante atraente, no bordel onde trabalha. Cada recordação também traz consigo os amigos que fez em cada momento importante da sua vida - amigos que agora estão desesperados para a tentar encontrar...

Antes que o Café Arrefeça

A minha opinião:

Não é o primeiro romance que leio de um escritor japonês. E surpreendem-me. Mas também me atraem. Um despreendimento aparente ou contido nas relações e uma integridade e dignidade nas atitudes que contrasta com outros expansivos e efusivos. Uma diferente forma de vida. Compassiva.

Com este romance passou-se o mesmo. A premissa da estória atraiu e surpreendeu. Um mito urbano que não o é para quatro mulheres que precisam de voltar atrás no tempo e... sem alterar o presente recuperar um momento crucial das suas vidas. E antes que o café arrefeça. Breves momentos que não mudam os acontecimentos mas são transformadores. Começa por parecer bizarro e acaba por ser comovente e mágico. E num café muito peculiar com três incriveis personagens. Um romance que se estranha de início mas que se entranha. E não se esquece.
Beba o café antes que arrefeça.

Autor: Toshikazu Kawaguchi
Páginas: 184
Editora: Presença
ISBN: 9789722367097
Edição: 2021/ abril

Sinopse: 
O que faria se pudesse voltar atrás no tempo?
Um romance tocante e inspirador.

Um rumor circula por Tóquio. Escondido num pequeno beco da cidade, dentro de uma cave, há um café com mais de cem anos. Com uma chávena bem quente, se nos sentarmos no lugar certo, oferecem-nos algo mais: a hipótese de voltar ao passado. Em Antes Que o Café Arrefeça, acompanhamos as viagens de quatro mulheres que procuram regressar a momentos determinantes das suas vidas para os mudar: falar com o namorado que partiu, ler a carta do marido com Alzheimer, ver a irmã pela última vez e conhecer a filha que nunca viu. Mas as viagens no tempo têm condições e riscos… e nada do que façam vai alterar o presente.

Uma mesa, um café e uma decisão.
Uma história sobre o amor, o tempo perdido e as oportunidades que o futuro nos reserva.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Tempo de fuga

 

A minha opinião:

Surpreendente fluidez nesta narrativa que mistura história política, música, cultura, na voz de jorge Mathias que teve o seu tempo de fuga. Domínio da lingua e segurança ao conduzir o protagonista/ narrador numa teia de intriga em que se revela mestre num género em que eu raramente enredo e me sinto inapta para avaliar. Remonta a um Estado perdido no tempo da Alemanha de Leste e bem que poderia ser uma novela em banda desenhada em que falta ação mas sobra mistério e intriga. É credível a vida deste homem culto e desenraízado mas... não me cativou tanto como eu gostaria. 

Autor: Amadeu Lopes Sabino
Páginas: 188
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03363-5
Edição: 2021/ abril

Sinopse: 

Para Jorge Mathias, a espionagem é um divertimento. Melómano por vocação e alto funcionário do ministério da Economia do salazarismo por indiferença, vende aos serviços secretos do exército espanhol pequenos segredos que faz passar por grandes. Através do Partido Comunista, em que milita com pouca convicção, muda de vida e parte para a República Democrática Alemã, redator na Radio Berlin International. Curioso e hedonista, acabará por se envolver numa conspiração contra o regime da Alemanha de Leste, implicando opositores e homens do aparelho, agentes secretos da Alemanha Ocidental e sabe-se lá de onde mais. Tempo de fuga, a confissão de Jorge Mathias, é um relato de eventos extraordinários, ora irónicos, ora hilariantes, ora audazes, sempre impensáveis.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

O Vício dos Livros

A minha opinião:

Belissímo. Uma preciosidade. Afonso Cruz quando gravou estas histórias, gravou a sua alma. E como tal, este livro vai ter um lugar de destaque na minha biblioteca. E vai passar de mão em mão entre leitores. Do tanto que sabia, muito mais quero saber. Afinal...

A morte, perante os livros, fica sem porder

É que a morte também é leitora, por isso, aconselho a que andem sempre com um livro na mão, porque, quando a morte chega e vê o livro, espreita para ver o que estamos a ler, tal como eu faço no autocarro, e distrái-se. 

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Os livros são seres pacientes- Imóveis nas suas prateleiras, com uma espantosa resignação, podem esperar décadas ou séculos por um leitor.

Ao contrário de tantos outros vícios, o dos livros é, na verdade, uma virtude. De facto, ter livros não é o mesmo que, por exemplo, ter dinheiro. Ter livros é como ter amigos, ter dinheiro é como ter com que pagar a amigos.

Autor: Afonso Cruz
Páginas: 128
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897841972
Edição: 2021/ abril

Sinopse: 
Na biblioteca do faraó Ramsés II estava escrito por cima da porta de entrada: «Casa para terapia da alma». É o mais antigo mote bibliotecário. De facto, os livros completam-nos e oferecem-nos múltiplas vidas. São seres pacientes e generosos. Imóveis nas suas prateleiras, com uma espantosa resignação, podem esperar décadas ou séculos por um leitor.

Somos histórias, e os livros são uma das nossas vozes possíveis (um leitor é, mal abre um livro, um autor: ler é uma maneira de nos escrevermos).

Nesta deliciosa colheita de relatos históricos e curiosidades literárias, de reflexões e memórias pessoais, Afonso Cruz dialoga com várias obras, outros tantos escritores e todos os leitores.

Este é, evidentemente, um livro para quem tem o vício dos livros.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Almoço de Domingo

A minha opinião:
Prosa inspirada que desconhecia. Palavras que projetam imagens e buscam lembranças e afetos nos três dias que antecedem o acontecimento referido em título. O  primeiro romance que leio de José Luis Peixoto. Um romance muito especial, sobre uma vida, cheia de muitas outras vidas. A do Senhor Rui, Senhor Comendador. Confesso que até recentemente os seus livros não me tentavam mas esta foi uma estreia em grnade. E essas é que valem a pena.

Frases curtas e sentidas muma história que embala e encanta com a serenidade de um senhor que aos oitenta e nove anos sentia uma alegria quase vaidade e aos nove queria ser o menino que amparava a mãe. JPL conjuga o passado e o presente com a facilidade e segurança de quem sabe como se faz e neste entretêm despojado de coisas simples reflete sobre o tempo, a idade, as memórias afetivas e a morte. É realmente um romance muito belo no seu desvelo. 

Contemplativo. Introspectivo. Um romance que se deve saborear como um bom café. O conforto morno de um bom café que se faz sentir no aroma e no paladar. 

Não sei se é um romance para todos mas eu não o poderia apreciar mais.

Autor: José Luís Peixoto
Páginas: 264
Editora: Quetzal Editores
ISBN: 9789897224607
Edição: 2021/ março

Sinopse: 
Um romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.

Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Caminhos de Paixão - A Vingança de La Diana - Parte II - Volume I

A minha opinião:

Sensualidade e ação. É a nova fórmula de sucesso desta excelente contadora de histórias que há uns anos me cativou. As personagens são especiais nas suas capacidades e treino para lidar com o crime organizado e o mais violento. Nos três romances em que La Diana é a protagonista o combate é contra o tráfico humano desde a guerra dos Balcãs. E não se pense que é alheia e apenas uma força da natureza porque ela e a irmã foram vitimas e daí a afefobia de que sofria.

La Diana pertence a uma força de elite e para melhor compreender esta trama e as suas muitas personagens, os livros devem ser lidos por ordem. Não que em breves e pequenos excertos não seja dada uma súmula do que se passou mas intercalando com a sexualidade e sensualidade das personagens em que há muita ação. Os dragões que combatem são mesmo um terror. Apesar da capa bonita é um romance com personagens glamorosas e heróicas mas tem um lado perverso e cruel. E esta dictomia intensa deixa o leitor em suspense e preso a esta narrativa. De realçar, que muitas descrições podem chocar porque este roamnce tem muito de erótico. 

Sem dúvida que a Guerra dos Balcãs é um tema caro para a autora que o estudou a fundo, e deste modo pretende desacreditar os que negam as atrocidades cometidas, mas para além disso explora o poder de quem controla as plantas transgéncias.

Intriga mais do que ação. Informação e entretenimento. E o fim, deixa um novo início em aberto que promete muita adrenalina.

 Autor: Florencia Bonelli
Páginas: 436
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03104-4
Edição: 2021/ março

Sinopse: 
Ao viajar para a Bósnia no âmbito de uma investigação secreta, Mariyana Huseinovic, mais conhecida como La Diana, encontra o verdadeiro amor junto de Lazar Kovac e aos poucos todas as barreiras que julgava intransponíveis vão caindo por terra.
Depois de Lazar sair gravemente ferido da arriscada missão para salvar as vítimas do tráfico de seres humanos protegidas pela ONG Duga Saraievo, La Diana é chamada a ajustar contas com o passado e a trilhar caminhos muito perigosos a fim de recuperar o que deixou para trás quando foi salva do cativeiro a que Vuk a sujeitou durante a Guerra dos Balcãs.
Será o amor de Lazar suficiente para conseguir suportar a terrível prova que a espera? Conseguirá La Diana recuperar a parte de si que ficou com Vuk? E será capaz de, ao mesmo tempo, desfazer a enorme teia de corrupção, tráfico e negócios ilegais em que se viu envolvida?
Em Caminhos de Paixão – A Vingança de La Diana, o leitor segue os passos da protagonista na derradeira aventura que a leva a enfrentar corajosamente o homem que lhe destruiu os sonhos, procurando vingar-se, mas também alcançar a felicidade e a tão desejada redenção.

sábado, 17 de abril de 2021

O Tempo Entre Costuras

A minha opinião:

Não sou grande adepta de leituras conjuntas e so recentemente aderi. E inserida num grupo em que sequer nos conhecemos pessoalmente foi mesmo uma estreia. Nada contra mas eu gosto de ler um livro de cada vez e ao meu ritmo  (no caso li outro em simultâneo) mas esta foi muito gratificante e oportuna porque tinha este romance por ler há muito e desta autora, que muito gosto, era o único que me faltava e segundo muitos o melhor. Obrigada Manta de Histórias.

É realmente um grande romance histórico, bem contextualizado, sem ser exaustivo, com uma magnifica protagonista que, fácilmente se torna credível no seu crescimento e no papel que vai desempenhando no desenrolar dos acontecimentos. Um romance muito cinematográfico, o que me lembra que tenho que ir ver a série que é muito boa, segundo me contaram.

As personagens secundárias que ampararam e orientaram a ingénua Sira, como o Comissário Cláudio, Candelária e Félix, deliciaram-me e foi das partes mais prazerosas e emociontantes da narrativa.
Rosalinda é outra das personagens que acarinhei. Enigmática e independente, era uma mulher fora do seu tempo mas uma boa amiga.

Para o fim, não foi surpresa, o que levou Sira a Portugal. Ler essa parte em que tão bem caracteriza os espaços que percorreu foi empolgante.

De resto, é um romance memorável. Intemporal. Equilibrado. Vale a pena ler e aprender. E mais tarde, reler.

Autor: María Dueñas
Páginas: 624
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-04558-4
Edição: 2019/ setembro

Sinopse: 
«O Tempo entre Costuras» é a história de Sira Quiroga, uma jovem modista empurrada pelo destino para um arriscado compromisso; sem aviso, os pespontos e alinhavos do seu ofício convertem-se na fachada para missões obscuras que a enleiam num mundo de glamour e paixões, riqueza e miséria mas também de vitórias e derrotas, de conspirações históricas e políticas, de espias.

Um romance de ritmo imparável, costurado de encontros e desencontros, que nos transporta, em descrições fiéis, pelos cenários de uma Madrid pró-Alemanha, dos enclaves de Tânger e Tetuán e de uma Lisboa cosmopolita repleta de oportunistas e refugiados sem rumo.

A Cadela

A minha opinião:
Um livro que de tão pequeno pode ser considerado um conto com apenas 122 páginas. E não são precisas mais. Não recomendo que seja lido por quem tem muito amor aos animais. Pode ser perturbador.

Numa falésia, na costa da Colômbia, uma mulher desafortunada vive num casebr, junto com Rogelio, numa relação sem filhos, em pobreza extrema e narra o seu dia a dia desde que ficou com uma cadelita orfã de seis dias. E se começa bem, vai descambando quando se compreende as muitas fragilidades afectivas, piores do que as materiais que vive sem lamentar ou baixar os braços, numa luta desigual contra os elementos da natureza que já a tinham atraiçoado.

Uma escrita apurada, numa estória acutilante e passional. Poderosa. Onde não deixa lugar à esperança. E isso foi o que mais me custou ler. E talvez, por isso, não o vá esquecer.

Autor: Pilar Quintana
Páginas: 128
Editora: D. Quixote
ISBN: 9789722071314
Edição: 2021/ março

Sinopse: 

Na costa da Colômbia virada ao Pacífico - num lugar onde a paisagem luxuriante contrasta com uma pobreza extrema e o homem é uma migalha diante da força dos elementos - vive Damaris, uma negra com cerca de 40 anos que toda a vida quis ser mãe. A sua relação com o marido tornou-se, aliás, fria e turbulenta à medida que o casal foi sacrificando tudo o que tinha à obsessão de Damaris e, apesar disso, ela nunca conseguiu engravidar.

Mas a vida desta mulher frustrada parece encontrar uma réstia de esperança no dia em que adopta a última cadelinha de uma ninhada. Só que, tal como os filhos nem sempre correspondem às ambições que os pais têm para eles, Chirli também não será a cadela com que Damaris sonhou.

Esta é uma novela brilhante sobre a maternidade, a traição, a lealdade, a culpa, e também sobre a relação enigmática e por vezes excessiva entre os donos e os seus animais. Uma história narrada pela voz confiante e madura de uma escritora que viu o seu livro ser traduzido em mais de uma dezena de línguas e chegar à final do National Book Award nos EUA.

terça-feira, 6 de abril de 2021

A Nova Índia

A minha opinião:

Li a Terceira Índia e desde então que tenho alguma curiosidade em saber o desfecho deste triangulo amoroso. Claro que já tinha opinião formada sobre com quem a Sofia devia ficar mas a curiosidade em conhecer os novos desenvolvimentos na vida desta protagonista tão enérgica e despachada não me deixaram sossegada. Basta observar a capa para relembrar que o desejo de Sofia, a terceira índia, se tinha realizado mas não como desejado.

Neste novo romance, gostei da maturidade da protagonista, que parece mais resoluta e firme. Continua aguerrida, o que a vai salvar de boa. O passado ainda não estava encerrado mas não se alongou nos encontros românticos e com isto, a estória ganhou um novo impeto, num ritmo rápido, que muito me agradou. Os diálogos continuam a ser o ponto forte numa narrativa divertida e algo emotiva que se lê sem parar.

O desfecho, que não vou revelar, foi plenamente conseguido, dadas as peripécias que não antevi. Afinal, tudo está bem quando acaba bem, neste romance que superou as minhas expectativas e nos enche de esperança.

Autor: Iris Bravo
Páginas: 288
Editora: Cultura Editora
ISBN: 9789899039391
Edição: 2021/ março

Sinopse: 

Sofia assinou um acordo de divórcio e partiu para Moçambique.
Disposta a viver aventuras e sem saber que continuava casada, envolveu-se com Alex, que lhe revelou os seus segredos e por que não queria ter filhos. Foi por isso que quando ela descobriu que estava grávida, regressou a Portugal sem lhe contar.
Assim que aterra em Lisboa, o seu marido Ricardo espera-a, arrependido de a ter magoado e decidido a tudo para a reconquistar.
Quando os seus olhos a fitaram, o seu coração parou. «E agora?»

Dividida entre quem acreditava ser o homem da sua vida e um grande amor, a Terceira Índia terá de criar o seu futuro e enfrentar novas ameaças, que irão testar a sua coragem e levá-la aos seus limites.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Rapariga, Mulher, Outra

 

A minha opinião:

É difícil não ler este romance sem um sorriso no rosto. E não é porque seja leve ou tolo mas porque a vivacidade, eloquência e ironia nas várias vozes é arrebatador. Cada uma das personagens tem a sua personalidade bem vincada e resultam de um conjunto circunstâncias que não renegam e exibem com orgulho, como marcas de guerra numa viagem em que o leitor revisita lugares antes nossos conhecidos, o que dá algum gozo. Um coro de vozes femininas que defende a sua identidade, a sua raça, as suas convições, numa Grã-Bretanha em transição. Sonoridades que se complementam até porque há uma qualquer ligação afetiva ou parental e tanto que nos dá que pensar.

Impressionante. Depois deste livro, não se olha da mesma maneira para o universo feminino. Um romance extraordinário. Impar o registo de Bernardine Evaristo. 
Um dos melhores livros que li.

Autor: Bernardine Evaristo
Páginas: 480
Editora: Elsinore
ISBN: 9789896232894
Edição: 2020/ novembro

Sinopse: 
As doze personagens centrais deste romance a várias vozes levam vidas muito diferentes: desde Amma, uma dramaturga cujo trabalho artístico frequentemente explora a sua identidade lésbica negra, à sua amiga de infância, Shirley, professora, exausta de décadas de trabalho nas escolas subfinanciadas de Londres; a Carole, uma das ex-alunas de Shirley, agora uma bem-sucedida gestora de fundos de investimento, ou a mãe desta, Bummi, uma empregada doméstica que se preocupa com o renegar das raízes africanas por parte da filha.

Quase todas elas mulheres, negras e, de uma maneira ou de outra, resultado do legado do império colonial britânico. As suas histórias, a das suas famílias, amigos e amantes, compõem um retrato multifacetado e realista dos nossos dias, de uma sociedade multicultural que se confronta com a herança do seu passado e luta contra as contradições do presente.

Um romance atual, brilhantemente escrito, que repensa as questões de identidade, género e classe com o pano de fundo do colonialismo, da emigração e da diáspora.

Força narrativa e escrita cativante num empolgante mosaico de histórias de vida que farão o leitor repensar a sua maneira de ver o mundo.