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domingo, 31 de outubro de 2021

O Livro do Conforto

 

A minha opinião: 

O livro do conforto é isso mesmo. Não poderia ser mais adequado. Como a nossa perspectiva pode mudar o nosso mundo. E esta perspectiva não depende apenas de condições externas, mas do prórprio leitor. O leitor que precisa de esperança e animo para ultrapassar as falácias que a depressão alimenta. Dicas e reflexões muito úteis de quem sabe. Um livro para ter à mão.

Matt Haig entrou no meu rol de leituras quando tive noção de que tinha um familiar próximo que sofria de depressão. E precisava de entender este flagelo e como ajudar. E o tempo e o bom senso, com o tanto que li, vão fazendo a diferença. Eventualmente, o livro do conforto pode ser o que alguém precisa e não é demais recomendar.

Autor: Matt Haig
Páginas: 272
Editora: Albatroz
ISBN: 978-989-739-137-8
Edição: 2021/ setembro 

Sinopse: 
O Livro do Conforto é uma coleção de singelas lições aprendidas em tempos difíceis e sugestões para melhorar os dias menos bons. Baseando-se em máximas, memórias e em vidas inspiradoras, estes pequenos textos celebram a maravilha da vida em constante mudança e são uma nova perspetiva sobre todos os seus altos e baixos. Porque a felicidade acontece quando nos esquecemos de quem devemos ser, Matt Haig lembra-nos de desacelerar e apreciar a beleza e imprevisibilidade da vida. Este é o livro que deve ter à mão quando precisar da sabedoria de um amigo, do conforto de um abraço ou de um lembrete para manter a esperança nos momentos mais difíceis.

O Segredo da Boticária

A minha opinião: 

Gostos não se discutem mas o meu adora esta capa. E quando li a sinopse soube que provavelmente seria umn daqueles romances que muito gosto me daria ler. E não errei. Uma narrativa estupenda de suspense e intriga a dois tempos com grandes protagonistas femininas. Daquelas que não se esquecem e não contamos encontrar. 

As minúcias da vida nos segredos não contados exerce uma grande atração numa curiosa como eu. Ahhhh, e adoro mulheres que vingam. A morte por envenenamento, é, pela sua natureza, um assunto muito intimo e entre a vitima e o vilão costuma existir um elemento de confiança. É impossível determinar a quantidade de individuos que faleceram na cidade de Londres georgiana quando a toxicologia forense ainda não existia.

Um romance que esperava leve e entretenimento e se revelou intrigante, bem estruturado e de leitura compulsiva. Uma boa trama que corre a bom ritmo. Um mistério com duzentos anos que adorei desvendar e um pouco de magia para um final aprazível.

Autor: Sarah Penner
Páginas: 448
Editora: HARPER COLLINS
ISBN: 9788491396734
Edição: 2021/ novembro 

Sinopse: 
Escondida nas entranhas de Londres do século XVIII, uma botica secreta serve uma clientela pouco usual. Entre as mulheres londrinas, fala-se sobre uma mulher misteriosa chamada Nella que vende venenos bem disfarçados de remédios àquelas que precisem deles para os usar contra os homens que as maltratam. Contudo, o destino desta boticária fica comprometido quando a sua nova protegida, uma rapariga precoce de 12 anos, comete um erro fatal que terá consequências cujo eco se manterá durante séculos.

Na atualidade, uma aspirante a historiadora chamada Caroline Parcewell passa o seu décimo aniversário de casamento sozinha, enfrentando os seus próprios demónios. Então, encontrará uma pista para resolver os assassinatos misteriosos que fizeram Londres tremer há mais de duzentos anos. A sua vida misturar-se-á com a da boticária numa reviravolta surpreendente do destino. E nem todos sobreviverão.

O Segredo da Boticária é uma estreia subversiva e viciante, cheia de suspense, com personagens inesquecíveis e uma profundidade aguda. Cheia de segredos, vingança e de formas singulares como as duas mulheres podem salvar-se uma à outra, apesar da barreira do tempo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Balada para Sophie

 

A minha opinião: 

Há muito que perdi o interesse por BD. Deixei-me disso. Muito do que li é do amplo conhecimento geral e acho que foi das melhores leituras da minha juventude. Contudo, este livro, apesar do quanto ouvi falar dele não me tinha prendido a atenção até que uma amiga mo emprestou. Generosa amiga porque este livro é uma beleza do qual deve ser difícíl se separar. E depois de o abrir, a magia voltou a acontecer. É realmente isso. Um encantamento. E uma redenção como a que procurava este velho pianista que lutava contra o seu fantasma passado.

A escala de cores em consonância com os estados de alma é um dos muitos detalhes que não nos escapa nesta preciosidade. Extrordinária novela gráfica. Uma enriquecedora prenda de natal.

Autor: Filipe Melo e Juan Cavia
Páginas: 320
Editora: Tinta da China
ISBN: 9789896715588
Edição: 2020/ novembro 

Sinopse: 
Cressy-la-Valoise, 1933

Dois jovens pianistas, nascidos numa pequena vila francesa, cruzam-se num concurso local. Julien Dubois, o herdeiro privilegiado de uma família rica, e François Samson, o invisível filho do responsável pela limpeza do teatro. Nessa noite, um deles venceu.
Cressy-la-Valoise, 1997

Uma enorme mansão é abalada pela inesperada visita de uma jornalista. Numa nuvem de cigarros e memórias, algures entre a realidade e a fantasia, Julien vai compondo, como numa partitura, uma história sobre o preço do sucesso, rivalidade, redenção e pianos voadores. Afinal, algum deles alguma vez terá vencido? E haverá ainda alguma música por tocar?

Sira

 

A minha opinião: 

Assim que o recebi, não mais o larguei.

A continuação de O tempo entre costuras (que li recentemente) com uma protagonista inesquecível, cujo nome merece todo o destaque como título deste vertiginoso romance sobre a sua vida. Sira começou por ser uma menina humilde na castiça Madrid , jovem costureira em África e fraudulenta modista de um bairro distinto e recomeça casada com Marcus, quando acabam por ir parar á Palestina, um emaranhado de complexidades e conflitos, sem esperança de resolução.

Os laivos do que se segue, como que em jeito de desabafo, são bem vindo e motivadores. A estadia foi breve e novamente Sira foi arrastada para uma sigilosa intriga política e de espionagem. E não viajou só quando partiu para Londres ou regressou a Espanha.

Indubitávelmente, a descrição sumária de ambientes e locais que nos fazem sonhar num tempo de glamour, fascínio e risco são um bom complemento numa narrativa bem escrita que vicia. Não é coisa pouca porque são 600 páginas de um romance leve, bem enquadrado históricamente, envolvente e de muita ação. Dueñas escreve volumosos livros mas tão fáceis de ler e apaixonantes que se fica fã. Doze anos depois voltei a ficar rendida. Ainda bem que nos reencontrámos.

Autor: María Dueñas
Páginas: 608
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03485-4
Edição: 2021/ outubro 

Sinopse: 
A Segunda Grande Guerra está a chegar ao fim, e o mundo avança para uma reconstrução tortuosa. Depois de cumprir as suas obrigações como colaboradora dos serviços secretos britânicos, Sira encara o futuro ambicionando alguma serenidade. Mas essa paz tarda em chegar. O destino reserva-lhe um infortúnio trágico que a obrigará a reinventar-se e a, mais uma vez, tomar as rédeas da sua vida sozinha e lutar com todas as forças para se adaptar ao futuro.
Entre factos históricos que marcarão uma época, Jerusalém, Londres, Madrid e Tânger serão os cenários para as novas aventuras de Sira, onde enfrentará desgostos e novos riscos, reencontros inesperados e a experiência da maternidade.
Sira Bonnard – antes de Arish Agoriuq, antes de Sira Quiroga – não é a inocente costureira que nos deslumbrou com figurinos e mensagens clandestinas, mas o seu encanto permanece intacto.
Sira está de volta, carismática e inesquecível.
O regresso da protagonista de O tempo entre costuras.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Deus Pátria Família

 

A minha opinião: 

Uau! Que romance tão bom. Superou em muito as minhas expectativas. Adoro quando sou surpreendida e um autor que mal conheço me impressiona desta maneira (li apenas um dos seus primeiros romances). A distopia começou por me atrofiar mas depois tornou-se parte do gozo de acompanhar os Paixões Leal num Portugal cinzento e conspiratório de 1940.

Intriga e mistério quando surgem os crimes de mulheres jovens em que os corpos ficam próximos de lugares de culto e as vitimas ficam com a iconografia das santas católicas, ou seja, preparadas ritualmente com manto branco, terço, hóstias e de mãos entrelaçadas. E que correlação existe com um atentado político em que antisemitismo toma dimensões assustadoras num país neutral?

Poderia ser complicado mas até é simples na escrita exemplar de Hugo Gonçalves.
Autor: Hugo Gonçalves
Páginas: 456
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897842832
Edição: 2021/ maio 

Sinopse: 
Lisboa, 1940
Uma mulher é encontrada morta no santuário do Cabo Espichel, envolta num manto branco, com um rosário entre os dedos. Os peregrinos confundem-na com uma aparição de Nossa Senhora. Os detetives encarregados do caso não vão em delírios, mas também não imaginam que aquele é apenas o primeiro homicídio.

Vivem-se tempos estranhos: os tanques alemães avançam Europa fora e a bandeira nazi é içada na torre Eiffel. A Lisboa chegam milhares de estrangeiros e refugiados judeus, que escolhem a capital portuguesa como abrigo temporário ou porta de saída para uma vida sem medo.

As vítimas vão-se sucedendo: todos os meses, aparece mais uma mulher morta, numa sucessão de crimes de matizes religiosos. A Polícia de Investigação Criminal entrega o caso a Luís Paixão Leal, ex-pugilista de memória prodigiosa, com um olho de vidro e um passado misterioso em Nova Iorque. O detetive, que vê na justiça uma missão de vida, empenha-se em descobrir o culpado.

Até que, numa manhã de domingo, tudo muda: um golpe violento afasta Salazar do poder e sacode o xadrez político do país. Portugal abandona a neutralidade na guerra e alinha-se com as forças do Eixo. Nas ruas da capital, começa o cerco aos refugiados judeus e ecoam as tenebrosas memórias das perseguições da Inquisição.

Com a reviravolta política, Paixão Leal vê-se no centro de uma conspiração ao mais alto nível. O detetive, que vive com uma judia alemã e os seus dois filhos, sente a ameaça a bater-lhe à porta. Num mundo à beira do colapso, pagará um preço caso insista em desvendar a verdade.

Dos loucos anos 1920 nos Estados Unidos à convulsa década de 1940 em Portugal, chega-nos uma versão alternativa do nosso passado, com ecos no presente, porque basta uma única reviravolta para mudar o rumo de um país e assombrar milhares de vidas. Entrelaçando um mistério policial com uma saga familiar, Deus Pátria Família é um romance magnético do autor finalista dos Prémios PEN Clube e Fernando Namora.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

As Maravilhas

A minha opinião: 

Meio livro lido e não sabia o que pensar. Entretanto, percebi. A amargura resignada, a desesperança, incomodavam-me, nesta narrativa de duas mulheres. Pobres.
Conscientes de que até para protestar há que ter dinheiro. A alternância narrativa também não ajudava. Bem escrito e muito bem estruturado não conseguia agarrar-me como eu esperava. Sequer sentia empatia por estas protagonistas que ainda que inteligentes pareciam conformadas. Desapegadas. Maria da filha e Alícia da mãe. 

Uma história de mulheres como tantas outras, invisiveis, trabalhadoras e sós. Não me cativou.

Autor: Elena Medel
Páginas: 208
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722072779
Edição: 2021/ setembro 

Sinopse: 
Qual o peso da família nas nossas vidas, e qual o peso do dinheiro?
Que acontece quando uma mãe decide não cuidar da sua filha, e quando uma filha decide não cuidar da sua mãe?
Seríamos diferentes se tivéssemos nascido noutro sítio, noutro tempo, noutro corpo?

Neste romance há duas mulheres: María, a que em finais dos anos sessenta deixa a sua vida numa cidade de província para trabalhar em Madrid; e Alicia, que faz o mesmo caminho trinta anos mais tarde, por razões distintas. E há, claro, a mulher que as une e de quem praticamente não se fala: filha de uma e mãe da outra.

As Maravilhas é um romance sobre o dinheiro, ou melhor, sobre como a falta de dinheiro pode determinar uma vida inteira de precariedade e matar todos os sonhos. Mas é também uma história sobre cuidados, responsabilidades e expetativas e sobre o passado recente desta nossa Península Ibérica, desde finais da ditadura até à explosão do feminismo, contada por duas mulheres que tão-pouco podem ir às manifestações lutar pelos seus direitos porque têm, claro, de trabalhar.

Herança

 

A minha opinião: 

Um bom palpite sobre este romance que se revelou certeiro. Autoficção. Uau!

Herança é a ponta do iceberg numa relação familiar conturbada que oculta mágoas e receios, principalmente da narradora/ protagonista, como segunda mais velha de quatro irmãos. E se inicialmente se divaga como justa ou não a partilha de duas casas de férias com as duas filhas mais novas e a apropriação das mesmas, também se percepciona uma enorme tensão e um grande suspense que prende a uma narrativa realista, E o pior, é que o leitor não se consegue alhear do drama com a sua natureza e história pessoal. Um romance que provoca emoções intensas, violentas e invasivas.

A revelação, que o leitor antecipa, mas não quer crer, é devastadora. O que se passa no seio daquela familia, dita normal, que quer persevar a honra e o legado reflecte-se na Herança, que não é apenas de ordem financeira.

Extraordinário romance que explora emoções e sentimentos perante um trauma. Não será certamente para todos os leitores mas eu não o esquecerei. 

Autor: Vigdis Hjorth
Páginas: 344
Editora: Livros do Brasil
ISBN: 978-989-711-141-9
Edição: 2021/ setembro 

Sinopse: 
Quatro irmãos. Duas casas de férias. Um segredo. Há vinte anos que Bergljot se mantém fora da órbita da família, mas, quando uma disputa em torno do testamento dos pais sobe de tom, ela não poderá ficar calada. Ambos vivos, os pais decidem deixar duas casas de veraneio às suas irmãs, deserdando de uma parte importante do património da família os dois filhos mais velhos. Visto de fora, este é um simples caso de favoritismo. Bergljot, que vive desde a infância com um segredo terrível, faz contudo uma leitura diferente: para ela, esta é a derradeira estocada para acabar com a verdade, o último insulto às vítimas. Herança é um romance lírico sobre trauma e memória, sobre sobrevivência e força. Controverso, caminhando entre realidade e ficção, este foi um dos maiores êxitos da literatura norueguesa dos últimos anos, granjeando a Vigdis Hjorth múltiplos prémios e traduções da sua obra para mais de vinte línguas.

O Prazer de Guiar

A minha opinião: 

Tal como eu esperava, este pequeno romance é uma delicia. O prazer de viver, é disso que se trata quando o prazer de guiar era o espelho desse sentir. Uma projeção futura quando alguns dos problemas quotidianos foram resolvidos numa cultura tecnológica moderna, uniformizada, robotizada e automatizada. Muito engraçado e bem pensado Uma nova perspectiva. Os idosos, mais solitários, silenciosos e resilientes a tais mudanças, enquanto João e Raquel decidem arriscar e quebrar as normas. E têem um reencontro numa fase tardia depois de tanta mágoa. Acreditar na mudança se procurarmos oportunidade.
Valentina, é a anti-heroína numa sociedade da perfeição que apetecia entortar à martelada.

Um romance ligeiro e divertido que ainda assim nos dá que pensar. Bem escrito é um prazer de ler. Um prazer que não adio de ler autores portugueses que me falam ao coração. Lamechas?! Nem tanto. A nossa cultura e identidade surge ali representada e é um bom confronto. Um conforto até.

Autor: João Pedro Marques
Páginas: 160
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03019-1
Edição: 2021/ setembro 

Sinopse: 
Raquel e João têm cerca de setenta anos de idade. Amaram-se na juventude e, em tempos idos, foram casados e criaram filhos em conjunto antes de a vida os ter afastado. O Prazer de Guiar é a história do seu reencontro e reaproximação. É, também, simultaneamente, um romance on the road, no qual o casal reencontrado vai viver uma aventura adolescente que lhe reabre os horizontes numa fase tardia da sua existência.
O palco da sua aventura é Portugal no ano de 2032, um tempo em que o progresso tecnológico trouxe muito bem-estar, mas em que, paradoxalmente, cerceou as liberdades individuais. Uma época cada vez mais automatizada e robotizada em que o Estado já codificou quase tudo, impôs regras e normas em várias áreas da vida colectiva, mas proibiu muitas coisas, nomeadamente a possibilidade de conduzir nas cidades e principais estradas do país.
Serão Raquel e João capazes de lutar por esse direito que lhes foi negado? Terão sucesso no desafio que lançaram às autoridades? E conseguirão contornar ou iludir a opressiva e omnipresente vigilância policial?