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terça-feira, 30 de novembro de 2021

Ecologia

A minha opinião: 

Perplexa li Ecologia e nem sei o que pensar mas gostei. Estranha-se mas entranha-se. As palavras têm um custo e neste romance não é o custo mas o impacto quando me atingem com a força da realidade de uma distopia. Confuso, é o alternar de personagens, maioritáriamente femininas que partilham o seu sentir. O resto é eco de tudo o que sabemos errado numa escrita exemplar. Muito perturbador e acutilante e neste registo toca a escala próxima do individuo, do casal, da familia.

Mordaz, sarcástico, irónico, amargo e até divertido e sem dúvida muito inteligente. Obriga a algumas paragens para processar se se encaixar noutros contextos e avaliarmos por outros angulos. Nada parecido com algo que tenha lido. E sem dúvida, para reler e será uma outra leitura este inquistionável hino à linguagem humana. Algo que dificilmente refletimos e tanta relevância têm. 

Autor: Joana Bértholo
Páginas: 504
Editora: Editorial Caminho
ISBN: 9789722129374
Edição: 2020/ setembro 

Sinopse:
Numa sociedade que se fundiu com o mercado - tudo se compra, tudo se vende - começamos a pagar pelas palavras.

A estranheza inicial dá lugar ao entusiasmo.
Afinal, como é que falar podia permanecer gratuito? Há seis mil idiomas no mundo.
Seis mil formas diferentes de dizer ecologia, e tão pouca ecologia.
Seis mil formas diferentes de dizer paz, e tão pouca
paz. Seis mil formas diferentes de dizer juntos, e cada um por si.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Marilyn - Uma Biografia

A minha opinião: 

Nesta incursão nada vulgar em mim li mais uma novela gráfica e desta feita uma biografia de uma mulher que transformaram num ícone sexual eterno. O mito Mrilyn Monroe não desaparece ou desvanece e a mulher Norma Jean Baker, uma pobre coitada, também parece ser demasiado conhecida e popular. Será que esta mulher brilhante que poucos conheciam intimamente foi justamente imortalizada?

Não sabia que tinha uma importante e interessante biblioteca pesssoal e que, ler e escrever sempre a ajudou nas alturas mais difíceis da sua vida. Contudo, não a salvou e quando li "Os sete maridos de Evelyn Hugo" achei que havia muitas semelhanças com o que já sabia sobre a sua vida e que tinha servido como uma das fontes de inspiração da autora e continuo convencida disso.

Uma mulher à frente do seu tempo que queria ser livre e vingar na sua arte. Bonita homenagem.

Autor: María Hesse
Páginas: 184
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9789897843457
Edição: 2021/ setembro 

Sinopse:
Quem era a verdadeira Norma Jeane Baker?
A actriz mais conhecida da História do cinema, o símbolo sexual de uma era inteira, o protótipo, por excelência, de loira burra e, sobretudo, alguém que, até hoje, permanece uma grande incógnita.

Depois de fazer os corações de Frida Kahlo e Bowie florescer, descobrindo o seu lado mais humano, María Hesse revela a alma de Marilyn Monroe, uma mulher que, como tantas outras das suas contemporâneas, explodiu todos os cânones e merece ser lembrada, hoje mais do que nunca, pelo seu talento, a sua sensibilidade, a sua inteligência e as barreiras que quebrou.

Verdades Ocultas

A minha opinião: 

Não há como evitar. Os romances policiais desta dupla de escritores nesta saga, são tremendamente viciantes. Pensar no Sebastian Bergman e ver o livro pousado não era viável e bastou ler as primeiras páginas para não parar. 
Vanja é a chefe da equipa e Sebastian é avô. Mas há mais... Billy, Billy... E Júlia!??? E a lista de alvos. E que desfecho foi aquele???

Em cada livro fica alguma sítuação crítica com alguns dos investigadores por resolver desta brilhante equipa que vive no limite. Como os assassinos. 

O enredo não é original. Verdades ocultas que urge vingar e um gatilho numa festa muito típica de reencontro escolar dez anos depois. Verdades ocultas que não se pode negar quando um "esqueleto aparece". O jogo psicológico que leva a equipa de Unidade de Homicídios a decifrar o mote para os crimes e o suspense e a lógica por trás de todas as ações é o factor que a torna tão envolvente e viciante para o leitor. E a psicopatia que um especialista em perfil criminal como Sebastian Bergman reconhece e a narrativa atinge um  novo pico de adrenalina. 

A melhor saga que li nos últimos tempos. Estou fã. Supunha que era o último mas ainda não foi desta. Contudo, acho que está a perder o fulgor. Venha o próxima para ver como ficamos. 

Autor: Hjorth e Rosenfeldt
Páginas: 472
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9789897844591
Edição: 2021/ novembro 

Sinopse:
Três assassinatos em poucos dias. A tranquila cidade sueca de Karlshamn é tomada pelo terror. Vanja e os seus colegas estão sob pressão para parar o atirador antes que ele mate mais pessoas. Mas não há pistas nem testemunhas nem ligações claras entre as vítimas.

Três anos após os acontecimentos que vivenciaram em Mentiras consentidas, Vanja , Torkel , Ursula , Billy e o resto da equipa da Unidade de Homicídios de Estocolmo têm lidar com um assassino em série que deixou um rastro de cadáveres na pequena cidade costeira de Karlshamn . Mas não há pistas, testemunhas ou ligações claras entre as vítimas. Sebastian Bergman escolheu uma vida mais tranquila desde que se tornou avô, regressando ao trabalho de psicólogo e terapeuta.

No entanto, o seu mundo abala quando um australiano lhe pede ajuda para processar a experiência que viveu no tsunami de 2004, durante o qual o próprio Sebastian perdeu a esposa e a filha. Desde o assassinato em Uppsala, três anos atrás, Billy , o ex colega de Sebastian, nunca mais parou de matar, mas, ao tornar se pai, decide parar. Mas as circunstâncias não permitirão que o passado seja esquecido. A questão é: até aonde irá Billy para se certificar de que não será descoberto?

Obscuritas

 

A minha opinião: 

Gosto de policiais mas este estava longe de me agarrar e foram precisas quase cem páginas para começar a sentir empatia pela rapariga dos subúrbios, Micaela Vargas, e pelo Professor Hans Rekke. Eventualmente é propositado porque as personagens centrais são tão retorcidas como a vida. Não porque tenham defeitos óbvios mas é preciso conhecê-los melhor para o desvendar e depois admirar. A mitologia familiar de Rekke com os "black dogs" e os problemáticos irmãos de Vargas não se dão logo a conhecer e quando isso acontece ficamos enredados na trama.

Obscuro, inquietante e engenhoso. Nada é o que parece. Nem a vitima, os investigadores ou as entidades oficiais nesta intriga ao mais alto nível. Obscuritas.

Promissor. Gostei muito. Mais uma saga de uma equipa disfuncional que vamos seguir. Outra dinâmica mas muito viciante.

Autor: David Lagercrantz
Páginas: 400
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03451-9
Edição: 2021/ outubro 

Sinopse:
Estamos no verão de 2003 e os Estados Unidos acabaram de invadir o Iraque. Em Estocolmo, um árbitro de futebol de origem afegã é assassinado. Giuseppe Costa, o pai de um dos jogadores, é preso pelo crime. No entanto, Costa insiste na sua inocência e a Polícia decide consultar o Professor Hans Rekke, um especialista em técnicas de interrogatório reconhecido mundialmente.

Mas nada acontece como era esperado. Com um admirável raciocínio, Rekke descarta por completo a investigação preliminar, fazendo desmoronar todo o caso. Costa é libertado e a Polícia não sabe que caminho seguir. Contudo, Micaela Vargas, uma jovem agente entretanto afastada do processo, não baixa os braços e volta a procurar o Professor, porém ele não atende nem retribui as suas chamadas.

Uma circunstância insólita e dramática, contudo, juntará uma vez mais esta dupla singular, agora decidida a retomar o enigmático caso que acaba por conduzi-los a uma caça ao terrorista levada a cabo pela CIA e à guerra dos talibãs contra a música.

Afinal quem era aquele árbitro? Uma vítima ou um criminoso?

Obscuritas é um livro engenhoso e apaixonante onde nada é o que parece.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O Lugar do Morto

 

A minha opinião: 

José Eduardo Agualusa, já o referi, não era para mim. Nada mais errado e mais uma vez confirmado com este pequeno livro que li compulsivamente desde que o abri. Apesar de ter sido publicado há dez anos e de ser sobejamente conhecido continua atual e pertinente, e ainda muito divertido, e eu não o tinjha lido por preconceito. Estúpido, porque julgando sem ler que não tendo que não tendo qualquer ligação a África e à nossa História comum com as ex-colónias não teria empatia suficiente para o entender.

Os portugueses não gostam de asas é uma crónica que com pouco diz muito, aliás, diz tudo, e esta do Eça de Queiroz, que além túmulo o diria e me assombrou a ponto de ler e reler. E depois foi sempre a abrir e reflectir nas palavras sábias de Leopold Sé dar Senghor, Machado de Assis, sir Richard Burton, Vinicius de Moraes e Camilo Castelo Branco (os que mais gostei) dos 24 que testemunham a sua visão póstuma. Os livros, os autores, as editoras e a lingua. Amei. Acho que vou reformular o meu pensar para mudar o meu sentir sobre alguns autores de raízes africanas.

Autor: José Eduardo Agualusa
Páginas: 160
Editora: Tinta da China
ISBN: 9789896710729
Edição: 2011/ fevereiro 

Sinopse: 
Num exercício de simbiose literária absolutamente original, Agualusa dá voz a grandes escritores, levando-os a comentar o mundo e a actualidade:
Jorge Luis Borges comenta a concentração dos grandes grupos editoriais.
Fernando Pessoa conversa com a fadista Ana Moura.
Machado de Assis discursa sobre o novo Acordo Ortográfico, Portugal e o Brasil.
Sir Richard Burton, escritor poliglota, indigna-se contra fronteiras e perseguições de imigrantes.
Jorge Amado rasteira os patrulheiros do politicamente correcto.
Vinicius de Moraes louva o músico e escritor Chico Buarque.
Sophia de Mello Breyner aprecia Mia Couto e fala do amor.
Saint-Exupéry está convicto da superior taxa de sucesso dos escritores-aviadores.
Padre António Vieira defende o futuro do português e a criação de uma Academia da Língua Portuguesa.
Camilo Castelo Branco delicia-se com as leituras públicas e abomina os e-books...

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Teoria Geral do Esquecimento

A minha opinião: 

Não esperava e não foi por falta de ouvir falar bem mas resisti. Agualusa não era para mim. A Teoria Geral do Esquecimento, apesar de ser um pequeno livro também não me parecia ter grande história, e girava em torno de uma mulher que se isola no seu apartamento durante anos quando se deu a Revolução em Angola.

Uma visão simplicista para uma narrativa vibrante e cheia de peripécias, com algumas poucas personagens extraordinárias em torno desta personagem central, que ao contrário, do que eu esperava, não é nada passiva. Cativante. Pequenos capítulos de frases curtas impulsionam para uma leitura voraz. E no fim, a teoria geral do esquecimento fica completa, como a humanidade precisa que o seja com todas as suas perdas. Afinal, a maldade também precisa de descansar. E como leitora precisava de um livro assim.

Autor: José Eduardo Agualusa
Páginas: 248
Editora: Quetzal Editores
ISBN: 9789897224416
Edição: 2018/ novembro 

Sinopse: 

Durante os tumultos da véspera da indepencência de Angola, Ludovica Fernandes Mano - aterrorizada com os acontecimentos - decide proteger-se e isolar-se no seu apartamento. Ergue uma parede separando o seu apartamento do resto do edifício - do resto do mundo. Durante quase trinta anos sobrevive a custo, como uma náufraga numa ilha deserta, vendo, em redor, Luanda crescer, exultar, sofrer. Morre em Luanda na Clinica Sagrada Esperança (curiosamente, o título de um livro de poemas de Agostinho Neto), na madrugada de 5 de outubro de 2010, contando oitenta e cinco dias. Durante esses trinta anos, Ludovica ("Ludo") escreve um diário, vários poemas e um vasto conjunto de reflexões sobre esse período - além de desenhos a carvão nas paredes do apartamento.
Tudo registado em cadernos e papeis que Sabalu Estevão Capitango ofereceu ao narrador deste livro...

terça-feira, 9 de novembro de 2021

A Bastarda de Istambul

A minha opinião: 

Elif Shafak já entrou na órbita de escritores que não dispenso, com histórias coloridas e magnéticas que se passam em Istambul. E personagens femininas incriveis. A bastarda não é exceção. Uma personagem assim não poderia nascer numa familia normal mas numa em que havia demasiadas mulheres e demasiados segredos acerca de homens que tinham desaparecido demasiado cedo e de um modo demasiado peculiar; e que por mais que se esforçasse nunca iria ser bela. 

E depois, temos Armanoush, filha única de pais ressentidamente divorciados, provenientes de contextos culturais diferentes. Arménio-americana. E quando estas duas personagens se cruzam inalamos caos e vida nas páginas deste romance e que numa palavra se pode caracterizar como burlesco. Apesar de o que está em causa é a continuidade da memória humana com o que se passou entre duas etnias em Istambul. 

De realçar, os muitos escritores que este romance serve de ponte, como Milan Kundera, entre outros. 

Ma-ra-vi-lho-so. Revigorante, o que li de sorriso arregalado até meio mas depois assume um tom mais dramático com a saga familiar.

Autor: Elif Shafak
Páginas: 372
Editora: Jacarandá
ISBN: 9789898752376
Edição: 2015/ janeiro 

Sinopse: 
Numa tarde de chuva em Istambul, uma mulher entra num consultório médico. «Preciso de fazer um aborto», declara. Tem dezanove anos de idade e é solteira. O que acontece naquela tarde mudará para sempre a sua vida.
Vinte anos mais tarde, Asya Kazanci vive com sua família alargada em Istambul. Devido a uma misteriosa maldição que caiu sobre a família, todos os homens Kazanci morrem aos quarenta e poucos anos, e por isso é apenas uma casa de mulheres. Entre estas destaca-se a bela e rebelde mãe de Asya, Zeliha, que dirige um estúdio de tatuagens; Banu, que recentemente descobriu que é vidente; Feride, uma hipocondríaca obcecada com a iminência da tragédia.
Quando a prima de Asya, Armanoush, uma arménio-americana, vem para ficar, segredos de família há muito tempo escondidos, relacionados com o passado tumultuoso da Turquia, começam a ser revelados.

Quarteto de Havana II

A minha opinião: 

Não é um romance de leitura compulsiva. É um romance, policial. Ou seja, começa com um crime que o tenente Mário Conde e o sargento Manuel Palácios são chamados a investigar pelo Velho, o major Rangel, num abrasador dia verão de 1989 mas a trama envolve toda a vida na ilha em que a beleza e profundidade das palavras impõe uma leitura pausada e analítica que, apenas um romance de rara qualidade exige. E quem já leu Leonardo Padura saberá mas eu fui apanhada de surpresa. O ambiente e as personagens são de grande realismo quando expõe a natureza humana a nú e sem muito esforço através do viril e sedutor mas algo abatido Mario Conde. 

Conde que se desdobrou em quatro romances para a tetratologia de "As quatro estações". Neste segundo volume, o verão e o outono. No verão, a vitima é um gay e no outono, um desertor. E muitas dissertações tece este investigador até achar o criminoso e o móbil para os crimes e sem descurar os amigos. Despojado e comovedor. Um protagonista inesquecível.

Autor: Leonardo Padura
Páginas: 436
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03399-4
Edição: 2021/ agosto 

Sinopse: 
Em "Morte em Havana", encontra-se o corpo de um homem: trata-se do filho de um respeitado diplomata cubano, estrangulado com a faixa de seda vermelha que devia cingir a cintura do imponente vestido que usava quando foi assassinado. Para resolver este estranho caso, o tenente Mario Conde começa por falar com Marqués, um homossexual excêntrico, desterrado num casarão decrépito, que lhe apresentará o mundo labiríntico do travestismo, onde nada é o que parece.
Em "Paisagem de Outono", Miguel Forcade Mier é brutalmente assassinado e cabe a Mario Conde descobrir por quem e porquê. Depois da Revolução, a vítima havia sido responsável pela expropriação de bens artísticos à burguesia, o que lhe permitiu conquistar poder, influência e muitos ressentimentos. Porém, acaba por decidir mudar-se para Miami, ficando lá até pouco antes da sua morte. Mas que veio Mier fazer a Cuba? Que queria ele recuperar? Conde, perito nas teias da corrupção cubana, tudo fará para deslindar o mistério.
"Morte em Havana" e "Paisagem de Outono", protagonizados pelo já conhecido tenente Mario Conde, compõem o segundo volume do Quarteto de Havana, no qual Leonardo Padura representa magistralmente o ambiente cubano, sem deixar de lado o refinado humor que o leitor tão bem lhe conhece.