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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

O Gato que Salvava Livros

A minha opinião: 

Normalmente quando leio vou rabiscando alguns dados sobre o livro. Impressões ou precisões sobre este que me permitem publicar brevemente uma opinião que, regra geral não é muito negativa. Afinal, sou eu que escolho os livros. Quando não me agarram paro e não divulgo. Se o termino, não é menos que mediano. Com O gato que salvava livros não foi possível e tive que concluir para opinar. O gato lembrava o célebre Cheshire de Alice no País das Maravilhas. Um gato falante, grande, tigrado, com pelagem alaranjada e olhos de um verde-jade que leva um jovem livreiro enlutado, acanhado e apagado por aventuras fantásticas para salvar livros. Uma deliciosa fantasia aconchegante e reconfortante sobre o poder dos livros.

Quando os amantes de livros falam de livros, os seus semblantes iluminam-se. Outros há que ler confere estatuto. A maioria procura algo fácil, barato e empolgante. E são quatro os labirintos para salvar os livros. E não só porque os livros e certas personagens também nos slavam. Um livro que parece um sonho.

Autor: Sosuke Natsukawa
Páginas: 160
Editora: Editorial Presença
ISBN: 9789722368995
Edição: 2022/ abril

Sinopse: 
Envolto numa aura de aconchego,
ternura e felicidade,
este é um romance que celebra os livros,
os gatos e as pessoas que os adoram.

Na periferia da cidade, há uma livraria alfarrabista. Lá dentro, as pilhas de livros são como arranha-céus a tocar o teto. Estamos na Livros Natsuki, fundada pelo avô de Rintaro, que ali cresceu, numa espécie de refúgio extraordinário em que a leitura comandava os dias e os mundos amparados pelas lombadas não tinham fim.

Depois da morte do avô, Rintaro está inconsolável e sozinho, e a vida da Livros Natsuki parece ter acabado. Mas é então que surge Tigre, um gato malhado… falante. Tigre pede ajuda a Rintaro: precisa que um verdadeiro amante de livros se junte a ele numa missão muito importante. Não há tempo a perder: é preciso salvar vários livros das mãos das pessoas que os trataram mal, os prenderam e os traíram. Juntos, partem em três viagens mágicas, e no final… Rintaro tem de enfrentar o derradeiro desafio sozinho.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Duas Noites em Lisboa

 

A minha opinião: 

Uma breve visita a Lisboa e o marido desaparece. A mulher, não é levada a sério quando começa a busca e se desloca à polícia e à embaixada americana. Ariel é a protagonista e narradora que perscruta a cidade. Não é uma mulher comum. A linha de pensamento é diferente mas o mais curioso é conhecer o que percepciona do que a rodeia. Com o desenrolar dos acontecimentos o rasto do dinheiro leva-nos à violência numa guerra eterna.

Sei que muitos julgam o thriller um gênero literário menor. Eu não o dispenso quando o enredo me convence. Intrigante de início, depois trepidante e vertiginoso. Alguma espionagem, acompanhada de considerações lógicas e bem inseridas na narrativa sobre os grandes problemas civilazionais atuais num romance muito bem balanceado. Inesperado. Gostei muito.

Autor: Chris Pavone
Páginas: 496
Editora: Lua de Papel
ISBN: 9789892354781
Edição: 2022/ julho

Sinopse: 
Ariel Pryce acorda num quarto de hotel em Lisboa e percebe que o marido saiu sem avisar. Não deixou nenhum bilhete, não atende as suas insistentes chamadas. Por isso, vai à polícia, à embaixada americana em Sete Rios, telefona para os hospitais. Mas ninguém a leva a sério. Afinal casou há pouco tempo e John é muito mais novo do que ela…

Num dia de calor sufocante, e enquanto percorre as ruas de Lisboa, Ariel dá-se conta de que está a ser seguida - e de que não é a única pessoa a tentar encontrar o marido. Aos poucos crescem as dúvidas: quem é John realmente? O que veio fazer a Portugal? Hora a hora, a um ritmo alucinante, a intriga complica-se.

A notícia do desaparecimento acaba por chegar à CIA e o caso ameaça tornar-se numa questão de segurança nacional. Num mundo onde a verdade escasseia, onde aparentemente ninguém é quem diz ser, Ariel vai ter de fazer o telefonema mais difícil da sua vida. E pôr assim em marcha uma série de acontecimentos que vão abalar a Casa Branca.

Duas Noites em Lisboa, do premiado autor norte-americano Chris Pavone, traz a Lisboa uma intriga internacional assustadoramente atual. Pelas ruas de Alfama, nas margens do Tejo, na Baixa Pombalina desenrola-se uma terrível caçada. Mas só no final saberemos quem caça e quem é caçado.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Mendigos e Altivos

 

A minha opinião: 

Alerta; este romance exerce um estranho fascínio sobre o leitor. A escrita sublime e a narrativa bem humorada determinam este estado enquanto procuramos compreender uma estranha forma de vida. E uma inteligente crítica social.

Gohar, um brilhante académico que entrou em decadência com a sua dependência da droga, acaba por cometer um crime numa casa de passe. Nur El Dine é o polícia arrastado para a investigação que vê com maus olhos. El Kordi, o defensor de causas que se perde. Ieguene é mais uma personagem inigualável neste romance irreverente ou delirante. A fealdade e os seus poemas tornaram-no popular. Quatro personagens fora de série.

Um romance original sobre uma realidade que procuramos ignorar. Quem nada tem, nada tem a perder por isso é livre. E pode ser uma escolha. O exemplo foi transmitido pelo autor que viveu em conformidade com as suas ideias anarquistas. Albert Cossery, era egípcio e escreveu sobre o seu povo com o que viu e viveu.

Autor: Albert Cossery
Páginas: 272
Editora: Antígona
ISBN: 9789726083726
Edição: 2020/ 

Sinopse: 
Mendigos e Altivos, romance de 1955, é considerado a obra-prima de Albert Cossery, e foi objecto de três adaptações: duas ao cinema e uma em banda desenhada.

Mendigo por decisão própria, Gohar, ex-professor universitário de Literatura e Filosofia, conduz-nos, através das ruas do Cairo e das ciladas da moral, a um conhecimento bruto e desprendido das peias com que a sociedade moderna abafa, logo à nascença, as possibilidades vitais dos seres humanos.

Uma visão do mundo civilizado enquanto inutilidade orgânica, num explosivo cocktail de escárnio e reflexão.

sábado, 20 de agosto de 2022

O Caso Alaska Sanders

 

A minha opinião: 

Gosto de ler Joël Dicker mas não é um autor que me entusiasme por aí além. As tramas são bem urdidas e as narrativas acessíveis mas não chega para ser um autor imperdível. Ainda assim não podia deixar de ler esta sequela que iniciei com O livro dos Baltimore e continuei com A verdade sobre o caso Harry Quebert. Intrigas e mortes que o escritor Marcus Goldman investiga e escreve, avançando e recuando de modo a encaixar todas as peças de um puzzle que promete surpreendentes e credíveis reviravoltas, o que o torna a par com a escrita sucinta num livro de 700 páginas num autêntico page turner. O carisma e o sarcasmo do sargento da polícia Perry Gahalowood ajudam a consolidar esta narrativa como bem sucedida, ainda que não seja vertiginosa como eu gosto. 

Um crime perfeito, que não o é quando Marcus Goldman investiga como modo de exorcizar os seus próprios fantasmas, Minucioso, não deixa pontas soltas. 

Autor: Joël Dicker
Páginas: 712
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789897846526
Edição: 2022/  junho

Sinopse: 
«Sei o que fizeste.» Esta mensagem é a chave da apaixonante investigação que volta a reunir Marcus Goldman e Perry Gahalowood, onze anos depois de terem colocado atrás das grades os presumíveis culpados de um homicídio.

Abril de 1999, Mount Pleasant, uma pacata povoação de New Hampshire: o corpo de Alaska Sanders, que chegara à localidade havia pouco tempo, é encontrado na margem de um lago. A investigação é rapidamente encerrada e arquivada. Mas um novo episódio trágico vem ensombrar as conclusões em torno da morte da jovem mulher. No começo de 2010, o caso vem novamente à tona. Gahalowood, sargento da polícia de New Hampshire, recebe uma carta anónima que o deixa perturbado. Estava convencido de que tinha, à época, resolvido o crime - terá, afinal, seguido uma pista falsa?

A única pessoa que o pode ajudar a descobrir a verdade é Marcus Goldman, escritor seu amigo que acaba de alcançar um sucesso tremendo. À medida que ambos descobrem quem era, realmente, Alaska Sanders, regressam todos os fantasmas do passado. E entre eles está o de Harry Quebert.

Uma intriga viciante, com reviravoltas surpreendentes a suceder-se a um ritmo imparável, como é apanágio de Joël Dicker, um dos grandes mestres do mistério literário.

Olho da Rua

 

A minha opinião: 

O título é elucidativo. Olho da rua é uma expressão que significa despedimento, rescisão de contrato (ou despejo, expulsão de casa). Um grupo de pessoas que são identificadas como os animais com os quais partilham características estão em risco de sair de uma agência de publicidade e um modelo "japonês" é utilizado para determinar quem. A lei da selva também serve para o escrutínio nesta "fábula" moderna em que entre si escolhem os que vão para o olho da rua.

Nada nesta trama bem urdida e fantasiosa é alheio à realidade. Os sentimentos subjacentes que comportam diversos comportamentos consoante o tipo de personalidade correspondem e talvez seja interessante pensar nisto porque apesar do humor existem situações terríveis. Um pequeno núcleo que tem que coabitar em conflito até ao desfecho imprevisível.

Muito bom e viciante. A adrenalina que todas as personagens carregam passa para o leitor e apesar do sarcasmo e ironia presente em toda a narrativa é um romance forte e atual que não nos deixa indiferentes. A contrapartida surgiu depois de uma jovem se suicidar no dia de natal depois de mais uma jornada de trabalho de vinte horas. E tanto que este livro contêm sobre os riscos em balancear estabilidade, liberdade e realização.

Autor: Dulce Garcia
Páginas: 328
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897841873
Edição: 2022/  junho

Sinopse: 
No Japão, uma rapariga suicida-se na noite de Natal, atirando-se de uma janela do seu local de trabalho, a principal agência de publicidade do país. No mês anterior, tinha cumprido 105 horas extraordinárias. Em Lisboa, uma agência de publicidade decide adotar uma inovadora estratégia japonesa de despedimento: os colaboradores que estão na calha para ir para a rua são convidados a desempenhar o papel de carrasco e escolher entre si quem deverá ser despedido.

Um jogo ingrato e perigoso, que transforma a empresa num campo de batalha. Entre mortos e feridos, ninguém se salva: multiplicam-se as intrigas e os golpes baixos, formam-se alianças improváveis, desperta um romance escaldante, e até ocorre um homicídio bizarro.

Um romance que traz para o universo da ficção a realidade do quotidiano urbano do século XXI: trabalha-se para viver e vive-se para trabalhar. No escasso tempo que sobra, ficamos à mercê de quem nos paga o salário e de uma irremediável solidão. Mordaz e cru, Olho da Rua traz à tona a mesquinhez do ser humano e de uma sociedade garrotada pela competição.

Povoada por figuras com quem nos cruzamos todos os dias mas de quem desconhecemos o lado oculto, eis uma sátira irresistível do nosso mundo e uma alegoria sobre o instinto de sobrevivência e o impulso de liberdade.

O Elevador

 

A minha opinião: 

Filipa Fonseca Silva tem umas estórias frescas e atuais que me agarram. Esta é pequena e cosmopolita mas um tanto clichê porque o elevador que avaria quando todos os inquilinos estão de férias exceto o casal desavindo e a vizinha idosa não é original mas sendo passada em Lisboa, num prédio antigo, só podia me interessar.
Afinal, o que se passa é que Sara e o Alex percebem que o amor não basta. 
Uma narrativa leve e bem disposta que reflecte sobre relacionamentos. Muitos diálogos para uma objetiva análise, em que se simplifica o que é complexo.

Autor: Filipa Fonseca Silva
Páginas: 184
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9789897845260
Edição: 2022/  maio

Sinopse: 
Numa noite quente de Verão, um casal prepara-se para ir jantar fora. Sara, contrariada, perde tempo deliberadamente. Alex, paciente, tenta não começar uma discussão. Só que, de repente, o elevador fica encravado, prendendo-os a noite inteira no seu interior.

Sem forma de saírem, Sara e Alex são obrigados a confrontar-se com o estado da sua relação, empurrados para uma conversa que de outro modo não teriam. Sairá dali o seu amor mais forte? Ou erguer-se-á um muro impossível de derrubar?

Lincoln Highway

 

A minha opinião: 

Emmett e Billy vão viver uma aventura. E vão escrevê-la a partir do meio porque vão começar de novo. Viajam para Oeste através de Lincoln Highway. Duchess que se fazia acompanhar de Woolly é que não estava nos planos. Quatro prtotagonistas incríveis ou não fosse Amor Towles a contar esta história. A mesma mestria narrativa de Um gentleman em Moscovo que nos deixa em suspense, na expectativa de que novas peripécias ou que personagens admiráveis vamos conhecer, como o Ulysses ou Townhouse. E o incrível nestes protagonistas é que apesar das vicissitudes das suas ainda curtas vidas, eles são integros. E têm tanto para nos dar. Como o Conde Aleksandr Rostov nos deu. Valores. E tudo isso com o requinte de um sorriso com a ironia do narrador. O desfecho não poderia ser mais perfeito e imprevisível.

 Autor: Amor Towles
Páginas: 608
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722075060
Edição: 2022/  julho

Sinopse: 
Emmett Watson cometeu um crime e pagou o preço. Tem 18 anos e acaba de ser libertado de um campo de trabalhos. Está a regressar à quinta onde cresceu, no Nebraska, onde vai buscar o irmão mais novo. Juntos vão fazer-se à estrada rumo à Califórnia, para fugir do passado e encontrar a mãe que os abandonou.

O pai, que morreu entretanto, desgostoso e endividado, deixou-lhes apenas um magnífico carro. Mas o destino intervém. E no dia aprazado para a partida o carro desaparece, levado por dois rapazes que tinham fugido do reformatório. Agora, Emmett e Billy têm de caminhar no sentido inverso, rumo a Nova Iorque. Aquilo que prometia ser um romance on the road torna-se outra coisa e essa é apenas a primeira surpresa que nos reserva Amor Towles.

O autor transporta-nos agora para a América dos anos 50, onde acompanharemos os quatro rapazes durante dez dias. Com uma arquitetura narrativa de enganadora simplicidade, Lincoln Highway remete para a matriz clássica do grande romance americano, herdeiro de Mark Twain e John Steinbeck, mas também para a Odisseia de Homero, a quem presta uma tocante homenagem.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Pela Graça de Deus

 

A minha opinião: 

Os crimes da Torre de Belém. Um local considerado inexpugnável transformado como cenário para um jogo macabro. Uma história violenta inserida na História da Fortaleza da Torre. O primeiro crime enigmático é de um físico famoso. Um homem do saber que desafiava os dogmas dos escolásticos. O segundo crime é um académico reconhecido, que defendia a reforma das universidades. O terceiro, um cortesão. Um jurista, que visava a sociedade burguesa. A última vitima, um astrólogo. Ou não será a última?

Um thriller histórico surpreendentemente bom para quem nada tinha lido de Luísa Beltrão. As perseguições aos judeus, ou cristãos novos, porque ninguém tolera ser considerado inferior, sobretudo os que têm poder. A Cabala. A astrologia. A corrupção e a Peste. A profecia. A arte da memória, quando os monumentos contam histórias. E tanto que abrange sem maçar. E sem aprofundar mais do que o suficiente para cativar. E sem esquecer o protagonista António Cardoso de Mello, que investiga e arrebata o leitor. Um romance histórico empolgante que nos leva ao encontro de figuras da época num tempo de convulsão social e política em que Portugal era um Reino muito vasto.

Autor: Luísa Beltrão
Páginas: 320
Editora: Casa das Letras
ISBN: 9789896614171
Edição: 2022/  maio

Sinopse: 
Em pleno século XVI - num período em que Portugal se cumpre como Império - a fortaleza da Torre de Belém torna-se palco de uma série de crimes insólitos e violentos. Acessível por mar e aparentemente inviolável, o monumento é o símbolo máximo da expansão do reino, mas, nos seus pequenos detalhes, parece anunciar também a sua queda...

António de Mello, o jovem Ouvidor da Casa do Cível encarregado de investigar as ocorrências e descobrir o autor dos homicídios, debater-se-á entre os que atribuem as mortes à sanha do demónio e os que, observando as afinidades das vítimas, creem nos planos de uma seita que deplora as mudanças que se avizinham. Porém, em vez de soluções, encontrará cada vez mais obstáculos e a ideia de que, quanto mais avançar, mais tudo ficará na mesma.

Num thriller absolutamente excecional pelo qual perpassam muitas personagens históricas - de Pedro Nunes a Garcia de Orta ou Damião de Góis -, bem como temas tão diversos como a Cabala, a Inquisição, a Astrologia ou a corrupção e os atos praticados em nome de Deus, Luísa Beltrão constrói uma teia exemplar na qual o leitor se enredará tanto como o protagonista para concluir que o passado, ao contrário do que frequentemente se pratica, tem de ser compreendido, e não julgado.