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domingo, 30 de outubro de 2022

A Camareira

 

A minha opinião:

Somos todos iguais de maneiras diferentes. Uma boa história para uma grande lição. Uma lição que já tinha aprendido com A Educação de Eleanor de Gail Honeyman. E que neste romance compreendi melhor. Uma mulher admirável que era invisível. Uma mulher que era manipulada e finalmente quando descobre um hóspede morto é arrastada para a investigação.

Genial romance de mistério e intriga, com grandes personagens e muitas reviravoltas, narrada pela perspectiva menos provável mas muito intuitiva e inteligente, sem que deixe pontas soltas. Engenhoso e bem concebido é um romance que enreda o leitor de tal modo que se abstrai de tudo o resto até o terminar.

Autor: Nita Prose
Páginas: 328
Editora: Editorial Presença
ISBN: 9789722369893
Edição: Outubro/2022

Sinopse: 
Sejam bem-vindos. Sou a vossa camareira. Entro nos vossos quartos e conheço os vossos segredos.
Molly, a camareira, está completamente sozinha no mundo. Sim, está habituada a ser invisível, e é isso mesmo que também é no Regency Grand Hotel, onde, todos os dias, dobra roupa, faz as camas dos quartos de lavado, põe miniaturas de champô e pequeninos sabonetes nas casas de banho, limpa o pó e os segredos que os hóspedes deixam para trás quando fazem check-out. Ela é apenas uma camareira - porque haveria alguém de reparar nela?

Mas isso está prestes a mudar radicalmente. Todos os holofotes se viram para Molly quando é ela quem descobre o famigerado Mr. Black morto e bem morto na cama da sua suíte. Este não é o tipo de confusão que Molly pode limpar rapidamente. Porém, à medida que a teia de mentiras, sussurros, pistas e enganos se vai espalhando pelos corredores do Regency Grand Hotel, ela descobre que tem, dentro de si, um dom para a investigação. Sim, é apenas uma camareira - mas o que conseguirá Molly ver que todos os outros ignoram?

Mistério, suspense e muitas reviravoltas no romance que está a apaixonar leitores em mais de vinte países. Como pode uma pessoa ser, ao mesmo tempo, tão normal e extraordinária?

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

A Casa Ocupada

 

A minha opinião:

A capa e a sinopse deixaram-me "em pulgas", que é como quem diz ansiosa por o ler e não resisti. E desde logo se percebe que a escrita é maravilhosa, assim como a estrutura narrativa é de alguém que sabe o que faz e depois de pesquisar um pouco apurei que é um primeiro romance porque a incursão na escrita tem sido por outros géneros literários. 

As personagens bem definidas têm alma e cativam, bem como nos transportam para o tempo e espaço referidos. Retratos de época. O enredo, esse como o título indica gira em torno de uma casa centenária transformada e dos seus ocupantes, mas vai alargando ao circulo próximo da narradora com muita graça e humor. Um romance endiabrado que nos leva para ambientes privilegiados e descontraídos com vislumbres da nossa História.

Gostei tanto que li sem parar (também é um romance pequeno). Sei que pareço maçadora ou deslumbrada mas eu leio o que me apetece e faço breve quanto mais gosto. Graça Videira Lopes que romance bom.

Autor: Graça Videira Lopes
Páginas: 200
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722075732
Edição: Setembro/2022

Sinopse: 
Um brasileiro torna-viagem mandou construir um palacete à Junqueira, em Lisboa, em 1889, para nele instalar a numerosa prole que não cessou também de aumentar fora de casa. O edifício - abandonado pelos anos 1950 e ocupado na sequência da revolução de abril de 1974 - está hoje transformado num condomínio de luxo onde moram Pedro e Júlia, um jovem casal de economistas.

É pela voz de Júlia - curiosa sobre o passado da casa -, mas também da sua cunhada Sofia, do namorado desta e de outros narradores, que vamos conhecendo não só as histórias das próprias personagens, mas também as que elas vão gradualmente descobrindo: a do republicano José Anastácio, o primeiro proprietário do palacete; e a do pai de Pedro e de Sofia, maoista em tempos da Revolução de 1974 e empresário de sucesso muitos anos depois.

Inteligente, divertido e cheio de surpresas, este romance - finalista do Prémio LeYa em 2021 - toma as décadas anteriores à implantação da República, os anos da Revolução de Abril e os tempos atuais como contexto e cenário, para nos oferecer um retrato breve e irónico de algumas elites portuguesas, desde finais do século XIX até aos nossos dias.

Todos os Lugares Desfeitos

 

A minha opinião:

Não sei explicar muito bem o apelo para ler certos livros. Ainda hesitei porque supus que seria mais um livro sobre a Segunda Guerra Mundial (ainda que O rapaz do Pijama às Riscas não o seja) ou mais concretamente sobre o que se seguiu (que me interessa por ler menos em ficção).

Mas quando uma personagem me conquista nas primeiras páginas e quero conhecer a sua vida marcada pela culpa e pela vergonha, acertei na escolha. Gretel, na plenitude dos seus 91 anos é uma personagem com muito para contar desde que fugiu de Berlim com a mãe. O passado vai sendo desvendado gradualmente e não sem surpresas que, prendem a uma narrativa de uma mulher invulgar, que não esqueceu o irmão de nove anos. Uma mulher que provoca um misto de emoções no leitor quando interage com Henry e a principal razão porque li compulsivamente.

Autor: John Boyne
Páginas: 368
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03601-8
Edição: Setembro/2022

Sinopse: 
A aguardada sequela do bestseller mundial O Rapaz do Pijama às Riscas
Gretel Fernsby tem 91 anos e vive em Londres há décadas, sempre no mesmo quarteirão de luxo. Leva uma vida confortável e tranquila, apesar do seu passado sombrio. Nunca fala da sua fuga da Alemanha, mais de setenta anos antes. Nunca fala dos anos do pós-guerra, passados em França com a mãe. Sobretudo, nunca fala do pai, o comandante de um dos mais infames campos de concentração nazis.
É então que uma jovem família se muda para o apartamento por baixo do seu, e Gretel acaba por fazer amizade com Henry, o filho do casal, apesar de o seu rosto lhe trazer memórias que ela prefere esquecer. Quando Gretel é confrontada com a escolha entre a sua própria segurança e a de Henry, sabe que está perante a oportunidade de expiar a sua culpa, mesmo que isso a obrigue a revelar os segredos que passou a vida a proteger.
Todos os lugares desfeitos é uma história devastadora e imensamente bela sobre uma mulher marcada por um terrível passado e por um presente onde nunca é tarde para a coragem e para a redenção.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Cada Verão Passado

A minha opinião:

De quando em quando gosto de um romance simples, despretensioso, que apenas use a linguagem dos sentidos e dos afectos. Cada Verão Passado é exatamente aquilo que parece ser e é maravilhoso por isso. Um romance que apela ao melhor das memórias do que se vive em liberdade, paixão e alegria de viver, enquanto nos transporta para as nossas próprias ternas recordações. 

Percy e Sam afastaram-se e alternando entre o agora e dezasseis anos vamos recuperando a ligação que nunca se perdeu. E quão divertido é, sem ser idiota. 

Um romance com belíssimas personagens que nos acompanham mesmo quando fechamos o livro (ou o ebook). Perfeito para dias de chuva.

Autor: Carley Fortune
Páginas: 322
Editora: TopSeller
ISBN: 9789896236472
Edição: Setembro/2022

Sinopse: 
A juventude de Percy Fraser ficou marcada por um enorme erro que a fez fechar o seu coração e deixar para trás as recordações de todos os verões passados junto ao lago diante da sua casa de férias perto de Ontário, no Canadá. No elegante apartamento em que agora vive, já nada a liga à pequena comunidade de Barry’s Bay nem a Sam Florek, o homem que em tempos ela julgara que haveria de fazer parte da sua vida para sempre.

Durante seis maravilhosos verões, Percy e Sam tinham-se tornado inseparáveis, desfrutando de longos banhos no lago, de noites quentes à beira da água, de leituras dos seus livros favoritos no aconchego da companhia um do outro e até do trabalho no restaurante da família dele em algumas ocasiões. Unidos por um sentimento tão puro, nada parecia ser capaz de ditar o seu afastamento. Até ao dia em que uma má decisão deitou tudo a perder.

Quando, mais de uma década depois, Percy regressa a Barry’s Bay para assistir ao funeral da mãe de Sam, todas as memórias da ligação que sempre os uniu vêm de novo à tona. Mas Percy precisa de se confrontar com os fantasmas do seu passado antes de poder pensar sequer em seguir em frente.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Águas Passadas

A minha opinião:

Mais do uma vez ouvi o João Tordo falar neste thriller e mesmo não sendo uma das suas maiores fãs não podia deixar de o ler, quando um novo livro com as mesmas personagens está prestes a sair. Contudo, parece que isso está a mudar porque li compulsivamente este thriller.

Pilar Benamor é uma personagem incrivel. "Avariada" como convêm a um bom thriller. Esperava que a ligação com Cícero Guzmán fosse mais presente na trama mas é um dinâmica que mantêm o leitor em suspense sem discernir o culpado dos crimes. 

Mal posso esperar para ler o próximo.

Autor: João Tordo
Páginas: 526
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897841071
Edição: Junho/2021

Sinopse: 
Durante treze dias de Janeiro de 2019, a chuva cai sem misericórdia sobre Lisboa. É quando aparece a primeira vítima, na praia de Assentiz: uma jovem de quinze anos trazida pela maré. O seu corpo apresenta marcas de sofisticada malvadez. A primeira agente no local é Pilar Benamor, uma subcomissária da PSP cuja coragem e empenho em descobrir a verdade ocultam segredos dolorosos.

A jovem vítima é Charlie, filha de um empresário inglês, mas logo a vítima de um segundo crime brutal um rapaz de dezassete anos aparece na floresta de Monsanto, em condições inenarráveis. Estas duas mortes prematuras e violentas abrem caminho a uma investigação que irá descarnar a alta sociedade portuguesa e o submundo do crime.

Ao longo desse inclemente mês de Inverno, Pilar desbrava caminho na investigação, contra tudo e todos e com a ajuda de Cícero, um misterioso eremita.

Desobedecendo a ordens superiores e colocando a própria vida em risco, vai penetrar no mundo escuro e tenebroso de um psicopata, enquanto luta com os fantasmas que há muito carrega: um pai polícia que morreu em serviço, um vício que a consome e a vulnerabilidade num mundo dominado por homens.

Depois da estreia no género com A Noite em Que o Verão Acabou, João Tordo regressa com um policial de ritmo imparável e delicada sensibilidade, que vai ao âmago dos nossos piores medos.

sábado, 15 de outubro de 2022

O Acontecimento

A minha opinião:

A narrativa é uma partilha intima de um tempo fora do tempo. Uma dádiva invertida.

Há dois anos escrevi estas frases a propósito de um outro pequeno livro, Uma Paixão Simples, da atual agraciada com o Prémio Nobel da Literatura, Annie Ernaux. 
A singularidade deste e do livro referido é que são ambos assumidamente catárticos, sem mascarar ou sublimar nada. E a força das palavras expressam um sentir profundo que não deixam os leitores indiferentes.

Annie faz parte dessas mulheres que nunca conhecemos, com quem sentimos ter, apesar das diferenças, algo em comum, como uma cadeia invisível. Durante anos girou à volta deste acontecimento da sua vida até que decidiu escrever sobre o que considera inesquecível. Uma narrativa num registo confessional que merece ser lida em voz alta. Dolorosamente sentido, sem apelo ou agravo.

Autor: Annie Ernaux
Páginas: 96
Editora: Livros do Brasil
ISBN: 978-989-711-185-3
Edição: Setembro/2022

Sinopse: 
Uma jovem de 23 anos, estudante universitária brilhante, descobre que está grávida. Tomada pela vergonha, consciente de que aquela gravidez representará um falhanço social para si e para a sua família, sabe que não poderá ter aquela criança. Mas, na França de 1963, o aborto é ilegal e não existe ninguém a quem possa acorrer. Quarenta anos mais tarde, as memórias daquele acontecimento continuam presentes, num trauma impossível de ultrapassar e cujas sombras se estendem para além da história individual. Escrito com uma clareza acutilante, sem artifícios, este é um romance poderoso sobre sofrimento, justiça e a condição feminina. Escrito por Annie Ernaux em 1999, foi adaptado ao cinema em 2021 por Audrey Diwan, num filme vencedor do Leão de Ouro em Veneza.

«Há anos que giro à volta deste acontecimento da minha vida. Ler num romance a narrativa de um aborto mergulha-me numa comoção sem imagens nem pensamentos, como se as palavras se transformassem instantaneamente numa sensação violenta.»

Histórias Bizarras

A minha opinião:

Não é fácil uma curta história nos arrebatar. Eu gosto de episódios, sínteseses, e curiosidades. As pequenas histórias satisfazem a minha impaciência. E quando elas me tocam e são tão precisas e exatas que não necessitam sequer de uma vírgula a mais dou-me por feliz com o tempo que lhes dediquei. E ainda fico a remoer sobre o que li.

Olga Tokarczuk usa palavras delicadas e convictas de quem parece que o faz na oralidade. De uma beleza extraordinária. E de uma consciência do mundo e dos homens que arrebata o leitor. Um fenómeno que é compreendido por quem a lê. Histórias Bizarras é um pequeno livro com dez imperdíveis histórias. E não é de supreender o lado sombrio que inquieta, sequer a ligação com a natureza que assombra. Indiferentes não ficamos, seja quando remonta ao passado, fique no presente ou projecte o futuro. O que se pretende é que olhemos para nós. 

Um livro aveludado que se sente com a ponta dos dedos. E com a mente aberta e o coração apertado.

Autor: Olga Tokarczuk
Páginas: 216
Editora: Cavalo de Ferro
ISBN: 9789896236267
Edição: Setembro/2022

Sinopse: 
Uma recolha inédita de contos, em que a celebrada autora de Viagens nos dá a conhecer os espaços infinitos que escapam à nossa razão, estabelecendo correspondências insólitas entre o real e o imaginário.

Um médico escocês do século XVII, ao serviço do rei da Polónia, descobre uma estranha raça de crianças verdes. Uma família de quatro mulheres idênticas, que se podem ligar e desligar, vê a sua rotina ser perturbada pelo aparecimento de dois vizinhos. Um mundo onde impera o uso do metal mantém a sua ordem graças ao sacrifício de um misterioso semideus com mais de trezentos anos. Uma mãe deixa uma estranha herança de vários frascos de conserva ao seu filho preguiçoso.

Eis algumas das histórias fascinantes que se encontram neste volume. Histórias capazes de desafiar expectativas e certezas, histórias que desenham os contornos de um presente alternativo e de um futuro apocalíptico; de confins geográficos que têm tanto de incompreensível quanto de familiar; de seres humanos alienados, solitários, perdidos. São histórias em que nada do que parece é e que encerram uma pergunta: a estranheza estará dentro de nós ou será ela uma característica do mundo?

Conjugando o grotesco, o fantástico, o humor negro e a beleza poética, Histórias Bizarras é mais um testemunho da singularidade literária e imaginativa de Olga Tokarczuk, que, unindo lugares e tempos, lança um olhar distópico e terno sobre a realidade e as profundezas da mente humana.

O Homem do Ciúme

 

A minha opinião:

Não lia nada do Jo Nesbø há algum tempo (O Reino aguarda vez) mas reconheço que é um contador de histórias nato e dificilmente não agarra um leitor com um enredo de suspense e intriga. E uma morte ou outra. Londres é o primeiro, em que a empatia pelas personagens não falha. O homem do cíume é o que dá título a este pequeno livro e a mais longa. Um caso com gémeos alpinistas numa pequena ilha. A fila, Lixo, A confissão e O brinco são curtas mas no melhor estilo. Odd é escritor e o que menos gostei. Bons pequenos thrillers. 7 e nem mais.

O sarcasmo das narrativas é um bônus, em que o cíume marca presença em todas. Não fica áquem das expectativas. Viciante como se deseja.

Autor: Jo Nesbø
Páginas: 256
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722075695
Edição: Setembro/2022

Sinopse: 
Repletos de emoções sombrias, mentes perversas e corações vingativos, estes thrillers do rei do policial nórdico, e criador do icónico detetive Harry Hole, vão levar-nos a ler pela noite fora.

Na Grécia, encontramos um detetive que se tornou perito em ciúme graças a algumas lições duramente aprendidas na sua vida privada. Longe, num outro país, um taxista encontra o brinco da sua mulher num carro pertencente ao patrão e parte à descoberta de como ele lá foi parar. No alto dos céus, uma mulher que contratou o seu assassínio está a bordo de um avião em direção a Londres. E quem é o homem que está sentado ao seu lado?

No seu primeiro livro de thrillers mais curtos, Nesbo, o mestre da literatura policial nórdica, atrai habilmente o leitor enquanto folheia as emoções mais poderosas e fatais da humanidade.

O Barulho das Coisas ao Cair

A minha opinião:

O  barulho das coisas ao cair. O título deste romance é fabuloso e suspeitava que o significado também. Por esse fui adiando. Com a ressaca já anunciada fui buscá-lo e a escrita fluída e intíma com Yammara a descrever um período da sua vida em que conheceu Laverde tornou-me cúmplice desta desventura marcada pelo narcotráfico da Colômbia.

O barulho das coisas ao cair é a compaixão aprendida com as dores alheias.

Uma narrativa que começa no presente e recua ao passado. A relação de Ricardo com Elaine Fritts. E nesse meandro perdeu um pouco o fulgor mas recuperou a ligação cúmplice da vida destas pessoas nesse período da História da Colômbia. Um romance com uma escrita exemplar numa narrativa que se debate entre a angústia e a admiração pela forma como é aceite. A sensação de vulnerabilidade que marcou o combate ao narcotráfico. Um romance poderoso quando se aproxima do final e nos faz enfrentar a realidade neste tremendo testemunho onde duas improváveis histórias de amor são contadas.
Muito bom.

Autor: Juan Gabriel Vásquez
Páginas: 304
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789897841286
Edição: Outubro/2020

Sinopse: 
A crónica de uma amizade interrompida e de uma dupla história de amor em tempos funestos.
No instante em que conhece Ricardo Laverde, o jovem Antonio Yammara intui que o passado do seu novo amigo esconde vários segredos. A atracção de Yammara pela misteriosa vida de Laverde, nascida de encontros ocasionais num salão de bilhar, transforma-se em verdadeira obsessão quando Laverde cai a seu lado, ferido de morte por uma bala, horas depois de ter recebido uma misteriosa cassette.
Convencido de que resolver o enigma de Laverde revelará um novo caminho na encruzilhada da sua vida, Yammara empreende uma investigação que o levará à década de 70 do século XX, quando uma geração de jovens idealistas assistiu ao nascimento do negócio da droga, que acabaria por conduzir a Colômbia - e o mundo - à beira do abismo.
Passados vários anos sobre o tiroteio fatal, Yammara depara-se com a notícia da fuga de um hipopótamo do decadente jardim zoológico de Pablo Escobar, incontornável barão da droga. A bizarra fuga do animal é o pretexto que leva Yammara a contar a sua história e a de Laverde. Histórias comuns às de tantos outros colombianos que, por terem nascido com o narcotráfico, se viram irremediavelmente enredados nos seus danos colaterais. Histórias que encerram em si o destino da própria Colômbia.
Um mistério sedutor entrelaçado com uma reflexão inquietante, O barulho das coisas ao cair é uma obra magistral de um dos mais proeminentes autores de língua espanhola do presente.

domingo, 2 de outubro de 2022

A Balada de Adam Henry

A minha opinião:

Ian McEwan. Não é o primeiro romance que leio deste autor. E sei ao que vou. Escrita apurada, narrativa acutilante, personagens portentosas.


Uma juíza de direito de familia. Alguns casos marcantes, uns atuais e outors passados. A religião de permeio. A crise matrimonial da juíza. E... Adam Henry. que tem leucemia e pode ter uma morte atroz sem uma transfusão de sangue.

Nem o clima ou a música são deixados de fora deste enredo emocionante e conciso, depois destas personagens se cruzarem. Avassalador.

Autor: Ian McEwan
Páginas: 192
Editora: Gradiva
ISBN: 9789896166335
Edição: 

Sinopse: 
Trata-se de um romance que tem como personagem central Fiona Maye, uma juíza proeminente do Supremo Tribunal, que julga casos do Tribunal de Família. É bem sucedida profissionalmente, mas nem tudo lhe corre pelo melhor. Ao remorso latente por nunca ter tido filhos, junta-se a crise num casamento que dura há trinta anos.
Ao mesmo tempo que tem de enfrentar um casamento onde a relação com o marido está a desmoronar-se, é chamada a julgar um caso urgente. Por razões religiosas, um bonito rapaz de dezassete anos, Adam, recusa o tratamento médico. Sendo Testemunhas de Jeová, tanto ele como os familiares, rejeitam a transfusão de sangue que poderia salvar-lhe a vida. Deverá o tribunal secular sobrepor-se à fé sinceramente vivida? Enquanto procura tomar uma decisão, Fiona visita Adam no hospital. Esse encontro tem consequências para ambos, agitando sentimentos que estavam enterrados nela e despertando novas emoções nele.
Trata-se de um romance de elevada sensibilidade, em que McEwan prova, mais uma vez, a sua mestria em escrever sobre a natureza humana e sobre temas de grande actualidade que motivam a reflexão.

Manual para Senhoras Caça-Fortunas

A minha opinião:

Não sei o que me deu. Vi este livro e achei que devia ser leve e divertido. Um romance de época cheio de picardias e quezílias por uma hábil casadoira para um oportuno negócio e uma família de alta estirpe e recursos em que um garboso nobre se iria opor. Não errei. E gostei de ler algo que deve ter sido vagamente inspirado em Jane Austen (se reparar na frase de abertura) e que está bem conseguido para o género. Não é fogoso e os diálogos e a caracterização das personagens prende e (que era o que pretendia para um dia de praia) li de sorriso no rosto. Não é hilariante mas uma mulher inteligente e determinada pode sermpre conseguir os seus intentos e gosto disso. E depois seguir estes jogos de sociedade em que a boa educação e a etiqueta é levada a níveis ritualísticos é uma mudança de registo bem vinda. Por monentos lembrei-me da Gata Borralheira e não por esta mas por a madrasta arrastar as duas filhas para convenientes casamentos.
O desfecho não poderia ser menos do que o esperado.

Autor: Sophie Irwin
Páginas: 328
Editora: Planeta
ISBN: 9789897775987
Edição: 2022/ julho

Sinopse: 
Kitty Talbot precisa de uma fortuna. Ou melhor, precisa de arranjar um marido que tenha uma fortuna. Afinal, estamos em 1818, e só os homens têm o privilégio de obter a sua própria riqueza.

Após a morte dos pais, a mais velha de cinco irmãs vê-se a braços com dívidas para pagar. Faltam apenas doze semanas para ficarem sem casa e Kitty só tem uma solução: apresentar-se em Londres, para a temporada que está prestes a começar.

Destemida, ela sabe que o risco faz parte do jogo e está absolutamente determinada a usar toda a sua astúcia e engenho para encontrar um solteiro rico. E, rapidamente. O que Kitty não esperava era encontrar Lorde Radcliffe que a vê como a caça-fortunas que ela realmente é. Desconfiado, não se deixa levar nem pela sua mente rápida, nem pelo seu espírito inquebrável, nem muito menos pelo seu olhar brilhante e cativante.

Ele está determinado a impedi-la de conseguir o seu objetivo, a todo o custo. Kitty sabe que não tem um minuto a perder para salvar as irmãs da pobreza e não vai deixar que nada, nem ninguém, nem mesmo um Lorde, se meta no seu caminho...

Um romance inteligente e divertido sobre as aventuras de uma mulher nada convencional que vai à caça de um marido rico, e que a última coisa que espera encontrar é o amor.

Em Todos os Sentidos

A minha opinião:

Dizem-me frequentemente que não gostam de ler contos ou crónicas porque são breves e deixam uma sensação de saber a pouco ou incompleto. Eu adoro. Claro que depende do meu estado de espírito e do que leio. Normalmente bastam-me e até fico suspensa nas palavras a reflectir.

Lídia Jorge não era uma das minhas autoras. Um livro que nunca teria pegado se um leitor admirável não o sugerisse e estimulada não o fosse requisitar à biblioteca. E cética o abri para se revelar uma grande surpresa. Um livro em que cada crónica me deixava pasma. O maior prazer que um leitor pode ter é quando um livro nos arrebata completamente. No caso, sequer conseguia escolher a crónica que mais gostava porque todas são especiais. Diversas temáticas atuais mas todas tão bem pensadas e melhor concebidas através de uma prosa elegante e simples, de uma maturidade, consciência e sensibilidade que me tocou. A literatura está muito presente nestas crónicas.

"Os livros de Literatura não são antropologia, nem sociologia, nem filosofia, nem história, nem psicologia, são tudo isso. Falam dos seres humanos em seu estado intímo, descrevem os seus motivos profundos."

Autor: Lídia Jorge
Páginas: 264
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722070089
Edição: 2020/ abril

Sinopse: 
Na introdução que abre este livro, Lídia Jorge define a crónica como uma homenagem ao deus que faz escorregar os grãos de areia, mirando-nos de soslaio. E acrescenta: «Como não podemos vencer o Tempo, escrevemos textos que o desafiam a que chamamos crónicas.»

Em Todos os Sentidos, conjunto de quarenta e uma crónicas que Lídia Jorge leu, ao longo de um ano, aos microfones da Rádio Pública, Antena 2, corresponde a essa definição - são crónicas que encaram de frente a fúria do mundo contemporâneo, interpretando os seus desafios, perigos e simulacros com um olhar crítico acutilante.

Mas a singularidade destas páginas de intervenção provém, sobretudo, do facto de a autora ser capaz de juntar no mesmo palco da reflexão o pensamento crítico sobre a realidade e o discurso subjectivo da memória íntima, com um olhar profundamente sentido.

No interior deste livro, há páginas inesquecíveis sobre a vida humana.