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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Um Lugar ao Sol seguido de Uma Mulher

 

A minha opinião:

O terceiro livro que li de Annie Ernaux. Duas narrativas compiladas bnum único volume com os progenitores como personagens centrais em que mantêm o seu estilo desassombrado numa viagem no tempo que inicia com o fim das suas vidas. Escrita regulada que impõe uma leitura ponderada.

"Escrevo lentamente. Esforço-me por revelar a trama significativa de uma vida num conjunto de factos e escolhas, e tenho a impressão de perder gradualmente a figura particular do meu pai."

Agridoce. Memórias que nos transportam para momentos felizes ou terríveis, de alienação. Annie consegue que o leitor reviva aquelas situações e sensações consigo, colando-as às suas próprias vivências. É isso que faz dos seus romances especiais. O seu partilhado e muito sentido que se pode tornar avalassador. Orgulho.

"O que espero escrever de mais justo situa-se sem dúvida na conjugação do familiar e do social, do mito e da história."

Autor: Annie Ernaux
Páginas: 152
Editora: Livros do Brasil
ISBN: 978-989-711-203-4
Edição: Novembro/2022

Sinopse:
Dois meses depois de passar nos exames finais para se tornar professora, o pai de Annie Ernaux morreu. Revisitando a memória da sua vida, no que ela teve de mais particular, repleta de confiança no trabalho árduo e igual dose de sonhos frustrados, complexos de inferioridade e vergonha, uma filha procura preencher um vazio que é seu, traçando em simultâneo um retrato coletivo sobre uma época, um meio social, uma ligação familiar. Pouco depois, também a mãe desapareceu, após uma doença prolongada que lhe arrasou a existência, intelectual e física, e mais uma vez cabe à filha restaurar, através da palavra escrita, a sua presença na história. Neste volume reúnem-se os dois textos de Annie Ernaux sobre estas perdas: Um Lugar ao Sol, sobre o pai, publicado em 1984 e vencedor do Prémio Renaudot, e Uma Mulher, sobre a mãe, lançado em 1988. Duas peças literárias fulgurantes, misto de biografia, sociologia e história, onde resplandece a ambivalência dos sentimentos que unem filhos e pais e o impacto da quebra desse elo vital.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Talvez Devesses Falar com Alguém

 

A minha opinião:

A capa é colorida, com um pacote de lenços de papel e temos tendência a desconfiar de capas assim, considerando os livros como superficiais ou banais. Assim como se desconfia de terapeutas. E talvez devesses ler este livro para mudar de perspectiva. Talvez seja possível falar com alguém e ficar com a sensação de sentir que nos sentem. 

Uma história acerca de terapia: acerca de como nos curamos e de onde a terapia nos leva. A narradora, terapeuta, não escreve apenas sobre esse papel mas também como paciente quando teve que fazer uma "gestão" de crise.

Talvez estee livro se insira na categoria de livros de autoajuda mas é tão divertido e tocante, cheio de histórias comuns que dão que pensar sem maçar, que se lê rápidamente. Um livro despretensioso e eficaz. Um livro de partilha de Lori. Ás vezes vale a pena arriscar.

Autor: Lori Gottlieb
Páginas: 464
Editora: Self PT
ISBN: 9789899032293
Edição: Fevereiro/2022

Sinopse:
Da autora bestseller do New York Times, psicoterapeuta e colunista nacional de aconselhamento, este é um livro hilariante, provocador e surpreendente, que nos leva aos bastidores do mundo de uma terapeuta - um lugar onde os seus pacientes estão à procura de respostas (e ela também!). Num dia Lori Gottlieb é uma terapeuta que ajuda pessoas no seu, no outro uma crise faz o seu mundo desabar. Subitamente entra na história Wendell, um terapeuta peculiar mas experiente, em cujo escritório ela "aterra". Com uma sabedoria e humor surpreendentes, Gottlieb convida-nos a entrar no seu mundo como profissional e paciente, examinando as verdades e ficções que contamos a nós próprios e aos outros enquanto oscilamos na corda bamba entre o amor e o desejo, o significado da vida e a mortalidade, a culpa e a redenção, o terror e a coragem, a esperança e a mudança. Este é um livro revolucionário na sua transparência e oferece um passeio profundamente pessoal mas universal pelos nossos corações e mentes.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

O Meu Ano de Repouso e de Relaxamento

 

A minha opinião:

Gostei muito de Eillen, portanto O meu ano de repouso e de relaxamento não me podia passar ao lado. Improvável que algum livro desta autora não seja lido. Amarga mas sacia. E apetece repetir.

"Passavam-se muitas coisas em Nova Iorque - como sempre - mas nada disso me afetava. Era o que o sono tinha de maravilhoso - a realidade distanciava-se e surgia na minha mente com a simplicidade de um filme ou de um sonho."

Hibernar. Incrível. E partir desta ideia para uma boa estória ainda o é mais. Uma protagonista com recursos financeiros que decide que é o que lhe convém e com a colaboração de uma terapeuta muito peculiar vive uma experiência que tem muito de rejeição. A sua percepção é uma finíssima crítica social. 

Uma protagonista, sem nome, que se pode detestar mas que à medida que a fui conhecendo fui apreciando. E tal como Eileen não se esquece. Tortuosa como parecem serem as personagens de Ottessa.

Autor: Ottessa Moshfegh
Páginas: 216
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897832871
Edição: Outubro/2022

Sinopse:
Ottessa Moshfegh, uma das mais importantes novas vozes literárias, narra neste romance os esforços de uma jovem mulher para se esquivar aos males do mundo.

Para tal, embarca numa hibernação prolongada, com a ajuda de uma das piores psiquiatras da história da literatura e com as enormes doses de medicamentos por ela prescritos.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Pequenas Coisas como Estas

 

A minha opinião:


Desde que li a sinopse deste pequeno livro que não parava de pensar nele e no quanto o queria ler mas depois de o ler e poucas horas bastam para o fazer continuo a pensar nele. Bill Furlong é um homem bom. Inquieto e essa sensação passa para o leitor que tal como eu é uma pessoa boa. Uma vida dura, de muito trabalho, numa época terrível. As pequenas coisas agarram-no mas também são as pequenas coisas que se avolumam para o levar a mudar e a enfrentar uma situação que deveria ter existido apenas na ficção. Maravilhoso e perturbador. Se não incomodar, algo não está bem. Conciso e tão preciso que é brilhante. 

Autor: Claire Keegan
Páginas: 96
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897832864
Edição: Outubro/2022

Sinopse:
Estamos em 1985, numa pequena cidade irlandesa. A autora narra-nos a vida de Bill Furlong, um comerciante de carvão e pai de família.


Uma manhã, ainda muito cedo, quando vai entregar uma encomenda no convento local, Bill faz uma descoberta que o leva a confrontar-se com o passado e os complicados silêncios de uma povoação controlada pela Igreja.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

A Casa Holandesa

 

A minha opinião:

A Casa era a História. A Casa Holandesa, como ficou conhecida, tratava-se do lugar onde viviam aqueles holandeses de nome impronunciável. Danny é o narrador que retoma ao passado para contar a história da sua familia desde que foram viver para aquela casa singular. Numa escrita clara e objetiva a história avança rapidamente e vicia porque as personalidades vincadas daquelas personagens provocam sentimentos de admiração e repulsa. E como leitora não conseguia esquecer Maeve, Danny, Andrea e Celeste. Pretendia saber mais sobre o desenrolar dos acontecimentos até ao desfecho que envolvia A Casa Holandesa. 

Não li Comunidade mas sei que não vou perder qualquer romance desta autora. Sagas familiares é o que mais gosto de ler, em que há laços afetivos de todo o tipo e circunstâncias que mudam vidas. Algumas determinam. E em que não faltam pessoas especiais. E mais não conto sobre este romance maravilhoso. Inesquecível.

Autor: Ann Patchett
Páginas: 312
Editora: Cultura Editora
ISBN: 9789898860286
Edição: Novembro/2022

Sinopse: 
Em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, Cyril Conroy, um homem pobre, enriquece repentinamente com um investimento fortuito. A primeira compra que faz é uma opulenta propriedade nos subúrbios de Filadélfia, nos EUA, antes pertencente a uma família neerlandesa, entretanto arruinada. Conroy muda-se, com a mulher, Elna, e a filha, a confiante e protetora Maeve, para a nova casa, na qual já nascerá Danny, o narrador desta história.

O que seria uma agradável mudança de vida, torna-se no desmoronamento de toda a família, numa espécie de paraíso perdido. Elna, incapaz de lidar com as mordomias da propriedade e respetivos empregados, termina o casamento e foge, deixando também os filhos.

Mais tarde, chega à propriedade uma madrasta, Andrea, uma jovem viúva com duas filhas, e os dois irmãos, Maeve e Danny, vão sendo afastados aos poucos, até que acabam expulsos da própria casa, devolvidos à pobreza, podendo contar apenas um com o outro para lidar com a perda, com a humilhação, com a raiva, até que um dia possam, enfim, confrontar quem os abandonou.

A Casa Holandesa, uma narrativa que percorre cinco décadas, é uma saga familiar, uma viagem lenta, sofrida, com personagens que ficarão para sempre connosco, como num conto de fadas virado do avesso.

domingo, 11 de dezembro de 2022

Um Cão no Meio do Caminho

A minha opinião:

Se quando o abri e li o primeiro capítulo este livro era uma promessa, quando prossegui tornou-se uma certeza. Um romance honesto e visceral sobre duas personagens que vale a pena conhecer.

A escrita de Isabela Figueiredo é marcante e segura. Um daqueles romances que apetece ler em voz alta para apreciar a sonoridade das palavras e o sentido ecoar dentro de nós. A beleza do vulgar que não contemplamos.

Duas personagens que recolhem o que os outros deixam e que às tantas ficam ancorados próximo, quebrando deste modo a profunda solidão em que viviam. Duas personagens livres. Duas personagens com história. Duas personagens com vivências e memórias que nos são comuns. Duas personagens inesquecíveis. 

E é tão bom quando um romance nos envolve, emociona e nos marca por tantas razões. Como eu gosto de romances assim.

Autor: Isabela Figueiredo
Páginas: 296
Editora: Editorial Caminho
ISBN: 9789722131872
Edição: Novembro/2022

Sinopse: 
Este novo romance de Isabela Figueiredo, a que ela deu o sugestivo e justificado título de Um Cão no Meio do Caminho, conta-nos as histórias de um homem e de uma mulher que sofrem, cada um à sua maneira, um dos grandes males da vida moderna - a solidão.

Neles a solidão é a resposta aos violentos acidentes com que a vida os agrediu. As sociedades modernas vivem sobre a violência. Mas há quem a recuse, como é aqui o caso de José Viriato e da sua misteriosa vizinha, Beatriz, que todos conhecem como a Matadora. O acaso junta-os, como o leitor verificará com a leitura deste livro.

Que resultado obtemos quando se juntam duas solidões? É esta a questão que este novo romance da autora do aclamado A Gorda vem equacionar, deixando a resposta ao critério de cada leitor. Eventualmente um cão pode ajudar.