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domingo, 29 de janeiro de 2023

Tudo É Rio

 

A minha opinião:

O Rio é metáfora para a vida. Tudo traz, tudo leva, tudo lava. Tudo é intenso, tudo é muito. Menos o amor. O amor é uma verdade à prova do tempo. O prefácio reza assim e é tudo o que se sabe quando se abre este livro/ebook. E mais não se deve saber para que as personagens e a trama exerçam o seu fascínio.

Um romance safado de bom. Muito, muito bom. Personagens de vincada personalidade (já o referi) numa história que flui rápidamente como um rio, e arrasta o leitor na corrente sem querer sair. Frases curtas, pequenos capítulos, em constante sobressalto. Um livro de emoções e afetos. História simples e bem contada, sem desperdício de palavras. Avassalador. Tudo é muito com Dalva, Venâncio e Lucy.

Carla Madeira é uma autora- brasileira e que tem o seu jeito de escrever e o balanço da língua para conquistar fiéis. Não vou perder os romances que se seguiram.
O meu primeiro 7* estrelas do Ano.

Autor: Carla Madeira
Páginas: 210
Editora: Editora Record
ISBN: 9786555872316
Edição: 

Sinopse:
Tudo é rio é o livro de estreia de Carla Madeira. Com uma narrativa madura, precisa e ao mesmo tempo delicada e poética, o romance narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma perda trágica, resultado do ciúme doentio do marido, e de Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um triângulo amoroso. Na orelha do livro, Martha Medeiros escreve: "Tudo é rio é uma obra-prima, e não há exagero no que afirmo. É daqueles livros que, ao ser terminado, dá vontade de começar de novo, no mesmo instante, desta vez para se demorar em cada linha, saborear cada frase, deixar-se abraçar pela poesia da prosa. Na primeira leitura, essa entrega mais lenta é quase impossível, pois a correnteza dos acontecimentos nos leva até a última página sem nos dar chance para respirar. É preciso manter-se à tona ou a gente se afoga." A metáfora do rio se revela por meio da narrativa que flui – ora intensa, ora mais branda – de forma ininterrupta, mas também por meio do suor, da saliva, do sangue, das lágrimas, do sêmen, e Carla faz isso sem ser apelativa, sem sentimentalismo barato, com a habilidade que só os melhores escritores possuem.

Cartas a Um Jovem Poeta

 

A minha opinião:

Não é uma novidade. A obra mais conhecida de Rilke que se correspondeu com um jovem aspirante a poeta e também ele militar, Franz Xaver Kappus. As cartas não são muitas, apenas dez, e este é um pequeno livro com um século de existência que iniciei numa hora de insónia. Inesquecível, acessível e extraordináriamente generoso. É justo referir que é uma sugestão de um clube de leitura.

Os livros quando são realmente mágicos deixam-nos alheados de tudo o que nos rodeia e ainda nos transmitem tanto, muitas vezes em conexão intíma profunda. Uma experiência necessária que é amiúde referida nestas cartas que têm muito de confessional e de passagem de testemunho de um homem frágil ou debilitado que muito reflectiu sobre as grandes questões da vida.

Autor: Rainer Maria Rilke
Páginas: 104
Editora: Cultura Editora
ISBN: 9789898979933
Edição: 

Sinopse:
Cartas a um Jovem Poeta é uma coleção de dez cartas escritas por Rainer Maria Rilke a Franz Xaver Kappus, um jovem militar que aspirava ser poeta.
De 1902 a 1908, Rilke oferece a sua orientação e revela a sua perspetiva sobre viver com incertezas, a superficialidade da ironia, a inutilidade da crítica, escolhas de carreira, a criatividade e a solidão.

Cartas a um Jovem Poeta é, assim, um manual de vida. A arte, disse Rilke ao jovem poeta na sua última carta, é apenas outra forma de vida.

domingo, 22 de janeiro de 2023

Vida Mortal e Imortal da Rapariga de Milão

A minha opinião:

Domenico Starnone é o autor de um dos meus romances de culto - Laços. Adorei a escrita e a história, com personagens bem definidas e coração. Esperava algo similar. Não errei. Terno e muito bonito.

A delicadeza das palavras deslumbra numa narrativa que recorda a criança e jovem que fora. O primeiro amor. A nostalgia e inocência da infância, em que a avó é a figura maternal que o protege e acarinha. Valorizada quando a compreendeu. A avó que se enalteceu com as expressões em dialecto Napolitano que lemos em nota.

"Para as minhas invenções tive sempre necessidade, desde pequeno, de uma pitadinha de verdade."

Autor: Domenico Starnone
Páginas: 160
Editora: Editora Guerra & Paz
ISBN: 9789897029066
Edição: janeiro/2023

Sinopse:
Imagine uma criança napolitana sonhadora, sempre a olhar pela janela. A avó, pouco letrada, mas cheia de sabedoria e amor, anda pela cozinha e conta-lhe histórias, enquanto o miúdo olha seduzido para a varanda do prédio em frente, onde uma menina de cabelos negros dança sobre o parapeito.

Desse olhar, nasce um amor. Mimí, é este o nome do miúdo, está disposto a tudo por esse amor terno e jovem, desde desafiar o seu amigo Lello para um duelo até ir recuperar a menina bailarina ao reino dos mortos, se preciso for.

Quando se é criança, pode-se ser tudo e este irresistível livro, tão afiado como as espadas da imaginação escondidas debaixo da cama, tão precioso como uma jóia de família, em que a descoberta do amor e da morte se perseguem mutuamente, leva-nos, na voz única de um dos melhores escritores italianos contemporâneos, à nostalgia da infância. É impossível não se ficar fascinado pelo poder da palavra de Starnone, pela poesia das peripécias do pequeno Mimí e pelo seu périplo de formação e crescimento.

Sob Um Céu Escarlate

 

A minha opinião:

No meio de uma guerra em que há bombardeamentos aéreos o céu é para onde se olha. E era isto que eu esperava. A Guerra com toda a barbárie, que atualmente revivemos. E quando Pino foi deslocado para os Alpes fiquei surpreendida porque se afastava da guerra mas logo compreendi que nesta narrativa baseada em factos e no testemunho de Pino Lella, este faria parte da Resistência. 

A partir daqui, a guerra entra plenamente na história. A violência, a violação, a exploração e o desespero. Muito sentido e real, apesar de não apreciar a escrita. Penoso porque o que se passou sempre me deixou perplexa, tal a desumanidade e o ódio.

"A vida é mudança, mudança constante, e, a menos que tenhamos a sorte de descobrir a comédia que ela encerra, a mudança é quase sempre um drama, senão mesmo uma tragédia. Mas depois de tudo, e mesmo quando os céus se tornam escarlates e ameaçadores, ainda acredito que se temos a sorte de estar vivos pelo milagre de cada momento de cada dia, por mais imperfeito que possa ser."

Autor: Mark Sullivan
Páginas: 464
Editora: Cultura Editora
ISBN: 9789898979971
Edição: 

Sinopse:
Pino Lella não quer nada com a guerra ou com os nazistas. Ele é um adolescente italiano normal - obcecado por música, comida e miúdas, mas os seus dias de inocência estão contados. Quando a sua casa em Milão é destruída pelas bombas dos Aliados, Pino junta-se a uma via-férrea subterrânea ajudando judeus a escapar dos Alpes e apaixona-se por Anna, uma bela viúva seis anos mais velha do que ele.

Numa tentativa de protegê-lo, os pais de Pino forçam-no a alistar-se como soldado alemão - julgando que assim o manteriam longe de combate. Mas Pino é ferido e depois recrutado, aos dezoito anos, como motorista pessoal do general Hans Leyers, o caudilho de Adolf Hitler na Itália, e um dos comandantes mais misteriosos e poderosos do Terceiro Reich.

Agora, com a oportunidade de espiar o Alto-Comando Alemão, Pino luta em segredo, suportando os horrores da guerra e da ocupação, tendo a sua coragem reforçada pelo seu amor por Anna e pela vida que ele sonha que um dia compartilhar.

84, Charing Cross Road

 

A minha opinião:

Não sou muito expansiva a manifestar afetos mas gosto da galhofa e do convívio que os clubes de leitura proporcionam, sem descurar a enriquecedora partilha sobre livros. Muitos e muitos livros não teria conhecido ou lido sem esta partilha. E as afinidades trazem tanto de bom que perdura no tempo e à distância. Amizades.

Um exemplo é este pequeno livro que é maravilhoso. Se o encontrarem, leiam.

Os livros antigos usados uniram um pequeno núcleo de pessoas por correspondência desde 1949 entre os Estados Unidos e a Inglaterra. 

Um prazer de ler.

P.S.- As cartas não são ficção.

Autor: Helene Hanff
Páginas: 104
Editora: Lema d`Origem
ISBN: 9789898342034
Edição: 

Sinopse:
Em 1949, uma carta, escrita num pequeno apartamento nova-iorquino, atravessa o oceano Atlântico e vai parar às mãos de Frank Doel, funcionário da livraria Marks & Co., no número 84 de Charing Cross Road, em Londres. É assim que se inicia uma correspondência de vários anos, que virá a transformar-se numa história de grande amizade.

O Apelo

 

A minha opinião:

A curiosidade levou-me a comprar o livro. Não é demais referir que gosto de um bom thriller. Uma leitura conjunta foi o mote para finalmente o ler.

As críticas não defraudam. É realmente viciante e atual, uma vez que é em formato epistolar, através de emails, mensagens e notas, que fazem do leitor detetive e em que todos são suspeitos. Uma personagem irritante é mais suspeita do que os outros mas também é ela o fio condutor deste enredo e a vítima o baluarte da verdade.

Numa pequena comunidade, a hierarquia social é rígida, as lealdades são fortes e os rancores ampliados. E neste caso, o que interessa está nas entrelinhas.

Autor: Janice Hallett
Páginas: 464
Editora: Cultura Editora
ISBN: 9789899096677
Edição: julh0/22

Sinopse:
Caro leitor,
Em anexo estão todos os documentos necessários para a resolução deste caso, que começa com a chegada de dois desconhecidos à pacata cidade de Lockwood e termina com uma morte trágica.
Alguém já foi condenado pelo assassínio, mas suspeitamos que seja inocente e que haja segredos muito mais obscuros por revelar.
Com a preparação da peça Todos Eram Meus Filhos e o apelo para salvar a vida de uma menina de dois anos, o assassino escondeu-se à vista de todos. No entanto, acreditamos que cometeu erros. Por escrito. As provas estão todas aqui, entre as linhas, à espera de serem descobertas.
Aceita o desafio?

Afirma Pereira

 

A minha opinião:

Muitas e muitas vezes ouvi falar deste livro que protelei ler. Afirma Pereira é uma novela satírica sobre um passivo jornalista da página de cultura do Lisboa que, durante o regime salazarista entre 1938-43 descreve de modo muito afirmativo o que corresponde à verdade ou se assemelha a ela. Um homem com um grande coração fraco num verão quente que se sente só e fala com o retrato da mulher falecida. Insidioso e cativante protagonista. 

Não é à toa que este livro não passa ao esquecimento ou perde importância, assim como os valores que defende.

Autor: Antonio Tabucchi
Páginas: 224
Editora: BIS
ISBN: 9789896602116
Edição: 

Sinopse:
Num fatídico agosto de 1938, o mês crucial da sua vida, Pereira narra o que vai acontecendo e em que circunstâncias de um período trágico da sua existência e da Europa.

Tendo por pano de fundo o salazarismo português, o fascismo italiano e a guerra civil espanhola, Afirma Pereira é a história atormentada da tomada de consciência de um velho jornalista solitário e infeliz.

Sónetchka

A minha opinião:

Que maravilha! A escrita aprumada, elegante, requintada e a narrativa tragicamente realista. Alguns livros são pequenas obras de arte.

A vida de Sónetcka (diminuitivo de Sónia) era alimentada por invenções literárias alheias, enganosas e cativantes, até que conheceu Robert Viktorovich, criado com liberdade parisiense, que não exercia a sua profissão de artista ao serviço do Estado entendiante e sinistro, mesmo que pudesse reconciliar-se com a sua sede de sangue e as suas mentiras descaradas.
Uma critica nada subtil ao regime soviético e algumas considerações sobre diferenças de classes.

Sónechka é uma mulher comum judia que nos leva nesta pequena novela numa incursão pela História da Rússia do sec. XX como cenário de fundo da sua vida enquanto o circulo se fecha. 
Surpreendente. Mágico

Autor: Ludmila Ulitskaya
Páginas: 108
Editora: Campo das Letras
ISBN: 9789896234041
Edição: 

Sinopse:
Uma história subtil e inteligente sobre o destino de uma mulher, tendo como pano de fundo a História da Rússia no século xx — o regime soviético e o seu desmoronamento.

Desde a mais tenra idade que Sonechka, uma rapariga invulgar e pouco atraente, se refugia obsessivamente na leitura, a ponto de tratar personagens inventadas como pessoas reais. Com o início da guerra, Sonechka parte para Sverdlovsk, onde encontra trabalho como bibliotecária. Aí conhece Robert Viktorovich, um artista recém-libertado de um campo de trabalho forçado soviético, que, de rompante, lhe pede em casamento.

Seguem-se anos de satisfação, em que o amor conjugal, a maternidade e os cuidados do lar passam a ocupar o centro da vida de Sonechka, trazendo-lhe uma felicidade que ela nuncasonhou merecer e que sobreviverá ao período difícil do pós-guerra e ao surgimento de um surpreendente triângulo amoroso.

Publicado em 1995 e amplamente traduzido e premiado, Sonechka é o primeiro romance de Ludmila Ulitskaya e o início de uma fulgurante carreira que a consagrou como um dos nomes cimeiros da Literatura contemporânea internacional. Uma história subtil e inteligente sobre o destino de uma mulher, tendo como pano de fundo a História da Rússia no século XX — o regime soviético e o seu desmoronamento.

Caderno de Memórias Coloniais

 

A minha opinião:

Esta é a história da pequena Isabela e do colonialismo entretanto desaparecido. Trata de relações do gênero, racismo e do nacionalismo. Memórias de um tempo recente. Não me surpreendeu, mas de tão profundamente honesto pode chocar. Sem filtros e sem rodeios. Direto ao âmgo.

"Precisamos de tempo para compreender. Para matar. Para poder olhá-los de novo na cara com o mesmo amor. Para perdoar."

Isabela escreve sem desperdício. Tudo dito e em poucas palavras. E é extraordinário. E muito corajoso. Obrigatório ler.

Autor: Isabela Figueiredo
Páginas: 224
Editora: Editorial Caminho
ISBN: 9789722127585
Edição: Outubro/2022

Sinopse:
«O Caderno de Memórias Coloniais relata a história de uma menina a caminho da adolescência, que viveu essa fase da vida no período tumultuoso do final do Império colonial português.
O cenário é a cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo, espaço no qual se movem as duas personagens em luta: pai e filha.» Isabela Figueiredo, in «Palavras prévias»

«Nenhum livro restitui, melhor do que este, a verdade nua e brutal do colonialismo português em Moçambique. Até porque, como a autora refere, ele aparece envolvido pelo mito da sua mansuetude - sobretudo quando comparado, como era sempre, com o apartheid sul-africano. Mito tão interiorizado pelos próprios colonos que através dele, como por uma lente, percepcionavam a realidade de que constituíam um elemento decisivo - como considerar-se a si mesmos violentos e prepotentes no tratamento que davam aos negros?
A verdade escondia-se sob a boa consciência necessária à regularidade quotidiana da vida «paradisíaca» dos brancos. Para a desenterrar era preciso ir procura-la nas sensações infinitamente vibráteis e virgens de uma menina, filha de colonos, que vivia à flor da pele o sentido mais profundo de tudo o que acontecia.»
José Gil, in «Sobre Caderno de Memórias Coloniais»

A Imperatriz

 

A minha opinião:

Sissi sempre me fascinou. E dos três livros que tinha para ler foi esta mulher aguerrida e nada convencional que me prendeu. Uma rebelde. Uma poetisa. Um espírito livre. Alguém de quem eu queria saber mais e sobre o romance que a tornou imperatriz, numa época em que não contavam senão as alianças.

Gigi Griffis não desilidiu quando humanizou Elizabeth, Franz, Helene e Maxi. E mais do que saber o desfecho desta história (que é sobejamente conhecida) o que me empolgou foi o desenrolar dos acontecimentos com personagens tão carismáticas e esmagadas pelo peso das responsabilidades que se debatiam com os seus sentimentos. Um romance envolvente por ser tão bem contado. Um romance envolvente por ser tão bem contado. Um bom romance que prende com capítulos curtos, alternando nos protagonistas, em que abunda intriga na rivalidade de irmãos.

Autor: Gigi Griffis
Páginas: 296
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03597-4
Edição: Outubro/2022

Sinopse:
Baseado na série da Netflix, este é um romance histórico sobre Sissi, a lendária imperatriz que continua a inspirar paixões.
Corre o ano de 1853. A princesa Elisabeth “Sissi” da Baviera está muito certa do que quer para o futuro: vai esperar por um amor digno de conto de fadas, daqueles de que falam os poetas, ou ficará sozinha. O facto de a irmã mais velha, Helene, estar a cumprir à risca o desejo da mãe, preparando-se para casar com o imperador Franz da Áustria, não significa que Sissi também se sujeite a uma existência tão obediente e submissa. Sissi sabe que há mais na vida do que almoços e espartilhos.
Enquanto isso, na Áustria, o imperador está a recuperar de uma tentativa de assassinato. Num esforço para manter a paz, Franz compromete-se novamente com os seus deveres imperiais – e promete cortejar a influenciável Helene da Baviera durante a sua próxima festa de aniversário. Haverá melhor forma de unir o império do que com o anúncio de uma nova imperatriz? Mas quando Sissi e Franz se encontram inesperadamente nos jardins do palácio, longe dos olhares indiscretos e da crítica implacável da corte, a ligação que sentem é imediata. E à medida que as suas conversas ilícitas se transformam em algo mais, começam a perceber que é urgente escolher entre as expectativas das famílias e aquilo em que os dois verdadeiramente acreditam.
Uma história cativante e intemporal sobre apaixonarmo-nos e encontrarmos a nossa própria voz.

Os melhores de 2022

Os dez melhores livros que li em 2022 (sem nenhuma ordem específica)