Edição: 2017/ março
Páginas: 256
ISBN: 9789725305867
Editora: Bizâncio
Sinopse:
No momento em que o regime castrista perde o alento, «Don Fuego» continua a cantar nos cabarés de Havana. Outrora, a sua voz electrizava as multidões. Agora, os tempos mudaram e o rei da rumba tem de ceder o seu lugar. Entregue a si próprio, conhece Mayensi, uma jovem «ruiva e radiosa como uma chama», pela qual se apaixona perdidamente. Mas o mistério que cerca essa beldade fascinante ameaça o seu improvável idílio.
Cântico dedicado aos fabulosos destinos contrariados pela sorte, Deus não Mora em Havana é também uma viagem ao país de todos os paradoxos e de todos os sonhos.
Aliando a mestria e o fôlego de um Steinbeck contemporâneo, Yasmina Khadra conduz uma reflexão nostálgica sobre a juventude perdida, incessantemente contrabalançada pelo júbilo de cantar, de dançar e de acreditar em amanhãs felizes.
A minha opinião:
Que surpresa maravilhosa! Um autor que nunca antes lera transporta-me para o ambiente de Havana com uma narrativa viva, colorida e cativante, que me fez sonhar com um país que nunca visitei, mas de que ouvi sobejamente falar como destino de férias. Não é habitual, mas enchi o pequeno livro de post-its dado o fascínio que a escrita de Yasmina exerceu sobre mim. Parece um nome de uma mulher e no entanto é um homem que tão bem o faz.
"Em Havana, Deus perdeu a sua cotação. Nesta cidade que trocou o seu brilho de outrora por uma humildade militante feita de privações e de abjurações, a pressão ideológica liquidou a fé. " (pag.44)
"Em Havana, vivem várias familias num mesmo apartamento. Desde 1959 e da revolução castrista, a população centruplicou, mas a cidade não aumentou, como se uma maldição a mantivesse cativa de um passado tão flamejante como o inferno." (pag.49/50)
"Havana está repleta desses individuos "descaracterizados" que passam o tempo a vigiar os actos e os gestos das pessoas." (pag. 70)
Cantar era a vida de "Don Fuego", o sopro incendiário das Caraíbas que se vê impedido de o fazer quando o Buena Vista é vendido e se confronta com dificuldades em regressar ao palco. Vai tomando o pulso à vida e à realidade que o rodeia. Para agravar o quadro, apaixona-se perdidamente por uma jovem. No fim, uma aventura.
Panchito, o velho sábio e trompetista excepcional, que se refugiou com o seu cão Orfeo numa velha barraca depois da glória, é o mistério que procuro desvendar durante toda a narrativa.
Uma leitura arrebatadora carregada de cheiros e de sons numa paisagem distante que deixa adivinhar. Uma viagem inebriante. Jonava é o mago que nos dá a mão nesta viagem. Que bom!
"O poeta inspira-nos, o cantor respira-nos. O poeta ilumina-nos, o músico inflama-nos. (...) Não se presta a mesma atenção a um recital de poesia e a um concerto de música. Não se está lá pela mesma razão, ainda que, em ambos os casos, o objetivo seja o mesmo: procurar a evasão. A relação com a poesia é mais íntima. É a procura tranquila de si próprio. Com a música, uma pessoa adere às outras, expande-se em vez de se conter, dá-se em vez de se procurar. As pessoas não vão aos concertos procurar verdades mas sim romper com elas." (pag.174/5)
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