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quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Quando os Rios se Cruzam

A minha opinião:

Abri e fiquei. Aquela mãe da Leonor reconheço. A ficção imita a realidade. 
Uma história que flui tão bem que, nos deixamos levar.

Não li o livro anterior da Rita, e sequer ouço o podcast mas sigo os comentários sobre as leituras mensais. E não consigo não imaginar a Rita a representar a Leonor.

Gosto da autenticidade introspectiva e lúcida e das várias camadas que vai revelando neste romance que me surpreendeu e prendeu. Despretensioso e cativante. O facto de eu conhecer uma mãe tão sufocante e controladora também ajudou. Talvez as pessoas tóxicas tenham os mesmos códigos mentais e de conduta. Uma confissão a uma desconhecida é a melhor terapia.

Autor: Rita da Nova
Páginas: 240
Editora: Manuscrito Editora
ISBN: 9789899181175
Edição: abril/2024

Sinopse:
«Durante anos, imaginei o que aconteceria quando contasse tudo isto, quando cravasse a mão no peito para extrair a culpa lá de dentro. E posso concluir que foi como arrancar o meu próprio coração, com a desvantagem de continuar viva.»

Para Leonor, ir de Erasmus significava começar de novo, aqueles meses em Turim seriam o balão de oxigénio de que tanto precisava para se afastar da mãe controladora, talvez até libertar-se da pessoa reservada e observadora que tinha aprendido a ser a casa. Onde ninguém a conhecesse, poderia ser quem quisesse.

Na cidade italiana, ela descobre partes de si que ignorava existirem, muitas delas novas e entusiasmantes. Mas há um outro lado de si que se revela, uma parte que a envergonha e amedronta, atitudes em que não se reconhece e cujas consequências vão ficar consigo para sempre.

Dez anos depois, mais uma vez a adiar o reencontro com o passado, Leonor dá por si a revelar a uma estranha tudo o que aconteceu naqueles meses e de que forma o fogo, até então tão inofensivo, acabou por lhe deixar marcas eternas.

Depois de um romance de estreia que se tornou um sucesso imediato, Rita da Nova está de volta com uma personagem complexa em busca de si própria, que procura conciliar as suas várias versões. Afinal, somos mais nós quando estamos junto das pessoas que nos conhecem ou quando estamos longe de tudo e podemos ser quem quisermos?

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Raparigas Mortas

 

A minha opinião:

Femicídio. 
Mulheres mortas pelo simples facto de serem mulheres porque se tornaram objeto de misoginia. A pobreza também as vitimiza. E este livro é um grito de alerta para o que não pode ser aceite pela sociedade ou passar impunemente pela justiça mas que ainda é assustadoramente real.

Três crimes, entre centenas de outros, nos anos oitenta no interior da Argentina. Simples e direto não poupa o leitor à insegurança e ao temor que, surge num dia rotineiro. Sem motivo e que até no aconchego do lar pode alcançar.

Eu sabia ao que ia e um não ficção não seria uma leitura fácil ou leve mas que deve ser feita. Obrigatório reflectir. Um livro que se lê muito rápidamente mas que me custa ler. 

Autor: Selva Almada
Páginas: 192
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722063050
Edição: setembro/2017

Sinopse:
«Três adolescentes de província assassinadas nos anos oitenta, três mortes impunes ocorridas quando ainda, no nosso país, desconhecíamos o termo femicídio.»

Três assassínios entre centenas que não chegam aos títulos de capa nem atraem as câmaras dos canais de TV de Buenos Aires. Três casos que chegam desordenados: são anunciados na rádio, recordados no jornal de uma cidade, alguém fala deles numa conversa. Três crimes ocorridos no interior da Argentina, enquanto este país festejava o regresso da democracia. Três mortes sem culpados. Convertidos em obsessão com o passar dos anos, estes casos dão lugar a uma investigação atípica e infrutífera. A prosa nítida de Selva Almada plasma em negro o invisível, e as formas quotidianas da violência contra meninas e mulheres passam a integrar uma mesma trama intensa e vívida.

Inscrevendo-se no género romance não ficção, inaugurado por Truman Capote, Raparigas Mortas é uma obra singular. Combinando perceções e lembranças pessoais com a investigação de três femicídios no interior da Argentina durante a década de 80, Selva Almada revela, de modo subtil, a ferocidade do machismo e o desamparo das mulheres pobres, ao mesmo tempo que abre novos rumos à narrativa latino-americana.

Mendel dos Livros

A minha opinião:

Uma pequena novela de 1921. Um clássico. Uma leitura fora da contemporaneidade que gosto. E claro que, quem me conhece gozou comigo, por tanto proclamar o quanto era arredia mas um livro que me seduz no início e não perde o fascínio até o concluir é de louvar e divulgar.

O lugar de Mendel traz à memória uma personagem lendária. 

E mais não conto porque é demasiado curto para me alongar. Se não conhecem encontrem Jakob Mendel. Ele ainda por aí.

Autor: Stefan Zweig
Páginas: 88
Editora: Assírio & Alvim
ISBN: 978-972-37-1781-5
Edição: setembro/2014

Sinopse:
Esta novela foi escrita em 1929 e publicada, em folhetim, no jornal diário vienense Neue Freie Presse, de que Zweig era colaborador permanente. Narra-se aqui a história de um judeu ortodoxo galiciano, estabelecido há anos em Viena como alfarrabista/vendedor de livros ambulante, e cujo único interesse eram os livros que comprava e vendia a universitários e académicos de Viena.


Esta história constitui, espantosamente, a antecipação em mais de uma década do definhamento do próprio autor: a metáfora de um escritor, «cidadão europeu», pacifista empenhado, entregue de corpo e alma, como o próprio Mendel o era, aos seus queridos livros, à criação de uma obra literária europeia com características universais, mas que, vítima da barbárie nacional-socialista, perde tudo, isto é o seu país, a sua língua, os seus leitores da língua alemã para quem escrevia e o próprio sentido da vida.

Um Amor

A minha opinião:

Nat é a personagem que se isola no interior árido para trabalhar (é tradutora) e resolver o passado, onde desde o inicio sente uma ameaça óbvia da parte do Senhorio e uma ingerência e dissimulação do vizinho. Sieno é a companhia e protecção que pretende. 

Uma relação com Andreas é um amor, ameaçado por subterfúgios e não ditos.

Bem escrito é cinematográfico. Uma novela que nas questões em que Nat se debate encontramos a vulnerabilidade que também já sentimos. A palavra que melhor descreve este livro não é forte mas intenso.

Autor: Sara Mesa
Páginas: 152
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897831225
Edição: abril/2021

Sinopse:
A história decorre em La Escapa, uma pequena povoação rural, para onde Nat, uma jovem tradutora, se mudou por razões económicas e também em busca de equilíbrio emocional. Os outros habitantes da zona com quem se relaciona acolhem-na com distante normalidade.

Mas na povoação respira-se um ambiente de preconceito, incompreensão e estranheza em relação a tudo o que é diferente, em particular a uma mulher que vive só. La Escapa, dominada pelo monte El Glauco, vai confrontando Nat com silêncios, equívocos, preconceitos e tabus e também com ela própria e os seus fracassos.

Tu Não És Como as Outras Mães

A minha opinião:

Um grande livro não é necessariamente um livro que demore  a ler se a história prender com uma linguagem cuidada numa escrita fluída não apetece largar.

"Enquanto mulher da minha geração, era algo de novo, invulgar e suspeito. Saia dos cânones, tive de ser muito forte e criar as minhas próprias leis. Ninguém me ajudou, pelo contrário; na melhor das hipóteses consideravam-me esquisita, na pior, uma degenerada."

Uma sintese da natureza de Else, protagonista da história que a filha conta. Uma mulher exabundante.

Angelika tem um pai alemão e uma mãe germano-judia e viveu na Alemanha até aos doze anos. Após "a noite de cristal" instalaram-se na Bulgária. A vida destas pessoas foi condicionada pelos acontecimentos e pelas escolhas que fizeram e este é um livro extraordinário.

Autor: Angelika Schrobsdorff
Páginas: 568
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789896655044
Edição: abril/2018

Sinopse:
Quando se pensa que já se leu tudo sobre a Segunda Guerra Mundial, chega um testemunho incrivelmente vívido de uma família que sobreviveu ao Holocausto.

Esta é a história de uma vida maior que a vida, um retalho de História extraordinário.
Quem nos conta a história é Angelika Schrobsdorff, importante escritora de origem alemã.
Era filha de Else e demorou quinze anos a pôr no papel a história da mãe, sem sentimentalismos, mas com o amor e a admiração inevitáveis, criando um pedaço de grande literatura, um clássico do nosso tempo.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

A Filha Única

 

A minha opinião:

Dificilmente uma mãe não é tocada por este livro ao ler a primeira por um sentimento partilhado de promessa.

E depois... É um livro que não se pousa. Ecoa em nós. 
O pragmatismo de Laura à volta do tema da maternidade em que se debate com a história de Alina, a amiga, e a da vizinha. Capítulos curtos para muito realismo. (Vinte e muitos anos antes conheci uma mãe que viveu a mesma terrível experiência da Alina mas escolheu diferente e abreviou o drama, não sem apoio psicológico).

Não é a beleza da escrita que me cativou nesta história sobre três mulheres que, fizeram o que tinha de ser feito mas a proximidade com estas personagens que as torna reais e empáticas numa estreita intimidade e cumplicidade com a leitora. 

"Penso que se chega a um ponto em que todas as mães percebem uma coisa: temos os filhos que temos, não os que imaginámos ou os que gostaríamos de ter tido, e é com eles que temos que lidar."

Autor: Guadalupe Nettel
Páginas: 232
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722081689
Edição: abril/2024

Sinopse:
Pouco depois de atingir os oito meses de gravidez, anunciam a Alina que a sua filha não irá sobreviver ao parto. Ela e o companheiro embarcam então num processo doloroso, e ao mesmo tempo surpreendente, de aceitação e luto. Esse último mês de gestação transforma-se para eles numa estranha oportunidade de conhecer aquela filha a quem tanto lhes custa renunciar.

Laura, a grande amiga de Alina, fala-nos do conflito deste casal enquanto reflete sobre o amor e a sua lógica por vezes incompreensível, mas também sobre as estratégias que os seres humanos inventam para superar a frustração. Simultaneamente, Laura vai-nos contando a história da sua vizinha Doris, mãe solteira de um menino encantador com problemas de comportamento.

Escrito com uma simplicidade apenas aparente, A Filha Única é um romance profundo e cheio de sabedoria que nos fala de maternidade, da sua negação ou aceitação, das dúvidas, incertezas e até dos sentimentos de culpa que a rodeiam, das alegrias e angústias que a acompanham. É também um romance sobre três mulheres - Laura, Alina, Doris - e os laços - de amizade e amor - que estabelecem entre elas.

O Quinto Filho

 

A minha opinião:

Uma escrita depurada e concisa para uma narrativa que evoluí rápidamente, com uma sentida ameaça que inquieta e intriga. A belissima capa também passa essa ideia. 

O quinto filho é o elemento destabilizador daquela familia e daquele casal que não esperavam aquela gravidez, apesar de pretenderem uma familia alargada em harmonia. E se promete tensão e intensidade cumpre. Um livro avassalador. Não se esquece.

A inclusão da diferença e as expectativas goradas. A maternidade. Escolhas. E o assustador desfecho sem qualquer  concessão ou atenuante. Apenas processar.

Autor: Doris Lessing
Páginas: 176
Editora: Bertrand Editora
ISBN: 9789722547123
Edição: abril/2024

Sinopse:
«Ao ouvirem os risos, as vozes, as conversas, os sons das crianças a brincar, Harriet e David, no seu quarto, ou talvez descendo as escadas, procuravam a mão um do outro, sorriam e respiravam felicidade…»

Quatro crianças, uma distinta casa vitoriana, o amor da família e a admiração dos amigos. Na desinibida sociedade inglesa do fim dos anos 60, a vida de Harriet e de David Lovatt, um casal de classe média alta, é uma ode gloriosa à felicidade doméstica e aos valores familiares ditos tradicionais. Mas quando nasce Ben, o seu quinto filho, parece nascer também uma sombra perversa e implacável, que se abate sobre este núcleo imaculado.

No início da gravidez, o bebé move-se no ventre de Harriet antes do tempo e de forma impetuosa. Sentindo o filho dentro de si como se estivesse ele próprio «fervilhando de excitação», Harriet experiencia um parto extremamente violento, acompanhado por dores mais intensas do que de qualquer das vezes anteriores. Vigoroso, excecionalmente desenvolvido, agressivo, esfomeado, bestial, Ben exibe um triunfo frio, os olhos brilhantes de prazer intenso. Que ser é este?

Ao prover o cuidado materno ao recém-nascido, e frente a uma treva e a um desafio estranho que nunca havia conhecido, Harriet sente um medo profundo da criança a que acabou de dar a vida e que ao crescer vai destruindo pouco a pouco a família que o gerou.

Com um estilo incisivo de escrita, que suscita a leitura compulsiva e inquebrantável de cada frase até à última palavra, O Quinto Filho é uma das obras de Doris Lessing, vencedora do Prémio Nobel de Literatura (2007), que podemos considerar como um clássico, um romance no qual a língua do amor maternal - o mais puro, o mais absoluto - é descrita de peito aberto e à luz da condição de que a maternidade é, de facto, um conjunto de escolhas impossíveis, por vezes irreconciliáveis com todas as escolhas que a precedem e sucedem.

A Senhora Tan e a Aliança de Mulheres

A minha opinião:

"Seja animal ou mulher somos propriedade de um homem."

Recuar no tempo até 1469 na China e ler sobre os pés enfaixados, diferentes classes ou casamentos arranjados parece ficção mas é História, enquanto duas meninas criam uma amizade que é uma aliança. A infância e crescimento de Yunxian Tan.

Lê-se com entusiasmo e apreensão porque as mulheres não tinham quaisquer direitos e eram descartadas quando deixavam de interessar ou agradar, inclusive as mais priveligiadas. A sua primeira função era reproduzir.

Um tempo e um lugar que de tão distantes no modo de vida nos parecem irreais. Eunucos, concubinas e filhos rituais. As crianças podiam ser vendidas como mercadoria. A saúde das mulheres não era cuidada porque os médicos não as podiam ver e não sabiam como as tratar. A Sra. Tan aprendeu com os seus avós. Não podia falar de medicina mas em benefício da familia teve que o fazer. Por tudo isto e muito mais é uma história longa mas cativante inspirada numa história verídica. 

Autor: Lisa See
Páginas: 432
Editora: Edições Asa
ISBN: 9789892360966
Edição: março/2023

Sinopse:
De acordo com as palavras de Confúcio, "uma mulher instruída é uma mulher inútil". Tan Yunxian, nascida numa família aristocrática ensombrada pela tragédia, é educada pelos avós para ser uma mulher útil.

Graças à avó, uma das poucas médicas na China, aprende a encarar o corpo como um reflexo do cosmos. Desde tenra idade, estuda medicina chinesa, particularmente as doenças das mulheres, interesse que partilha com Meiling, uma jovem parteira.

As duas raparigas encontram uma amizade rápida e um objetivo comum e prometem ser amigas para sempre, nas alegrias e nos desgostos. Sem lama não há lótus, repetem - da adversidade pode nascer a beleza. Até que Yunxian é obrigada a submeter-se a um casamento arranjado e a sogra a proíbe de ver Meiling e praticar medicina. Yunxian deve comportar-se como uma esposa digna - usar os pés enfaixados, recitar poesia, dar à luz filhos e ficar confinada à propriedade familiar, o Jardim das Delícias Perfumadas. Mas Yunxian não é uma mulher tradicional - nunca será.

Cinco séculos depois, muitos dos seus remédios ainda são usados. Como é que ela conseguiu a proeza de se libertar de tradições milenares, mudando assim o rumo da História?

A Senhora Tan e a Aliança de Mulheres é uma recriação triunfante da vida de uma mulher que ultrapassou os limites da sua condição e, com isso, tornou o mundo um lugar melhor.

Tan Yunxian foi notável na dinastia Ming e seria considerada notável até mesmo nos nossos dias.

O Livro do Verão

A minha opinião:

Uma novela numa ilha do Golfo da Finlândia em que uma avó e uma neta têm uma relação muito peculiar. Entrelaça lições de vida. Estranhamente sedutor.
 

Autor: Tove Jansson
Páginas: 168
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897834295
Edição: março/2024

Sinopse:
Tove Jansson capta nesta novela a essência do verão. Uma artista e a neta de seis anos passam estes meses numa pequena ilha no golfo da Finlândia. A avó é pouco sentimental e a neta, Sophia, é impetuosa e inquieta. Uma conhece profundamente o que é a vida, a outra está ansiosa para saber tudo sobre ela.

Em momentos opostos da vida, exploram a ilha e os seus segredos e inventam histórias para os mistérios que as rodeiam, enquanto se interrogam sobre a vida, a morte, a natureza e o amor. A prosa cristalina e direta de Tove Jansson é capaz de descrever o esforço da natureza para manter o delicado equilíbrio entre a sobrevivência e a extinção.

domingo, 19 de maio de 2024

O Clube do Crime das Quintas-Feiras

 

A minha opinião:

Eu sei que este livro é uma mudança de registo. Um desafio para ler um policial, que até é um género de que gosto, e com um grupo de idosos engenhosos e curiosos a passar o tempo. Entretenimento.

Os idosos rondam muito a morte. Contudo, este está longe de ser um livro mórbido e apesar de algumas reflexões sobre essa etapa da vida e as muitas perdas, a perspectiva é se não há tempo a perder é gozar e avançar o quanto se pode. E, nesse intuito, duas mulheres e dois homens numa Residencial de idosos formam o clube do crime das quintas-feiras. A vitima aparece (e não é tão vitima quanto isso) e as peripécias são muito divertidas com investigações bem sucedidas para revelar as tramóias e o responsável pelo(s) crime(s). 
Joyce é a narradora arguta desta história. Elizabeth a líder do clube. Ambas fazem desta aventura, com os dois membros da policia, uma caça ao crime bem sucedida e muito viciante para quem lê, rendido que fica a estas personagens. E estas têm energia e lucidez para mais porque mais livros há para ler. E como é óbvio eu não descobri nada, o que diz muito da minha inteligência.

Autor: Richard Osman
Páginas: 384
Editora: Planeta
ISBN: 9789897774782
Edição: julho/2021

Sinopse:
Quatro reformados com alguns truques na manga
Uma polícia com o seu primeiro grande caso nas mãos
Um assassinato brutal
Bem-vindos a... O Clube do Crime das Quintas-feiras

Num pacato bairro de residências privadas para reformados, quatro amigos improváveis reúnem-se uma vez por semana para discutir crimes que ficaram por resolver.

Ron, um ex-sindicalista todo tatuado; a doce Joyce, uma viúva que não é tão ingénua quanto parece; Ibrahim, um ex-psiquiatra com uma incrível habilidade analítica; e a tremenda e enigmática Elizabeth, que lidera este grupo de investigadores amadores... ou nem por isso.

Quando um homicídio ocorre no pequeno bairro, e uma misteriosa fotografia é encontrada ao lado do cadáver, o clube vê-se envolvido no seu primeiro caso real. Embora sejam quase octogenários, os quatro amigos têm alguns truques na manga...

Será que este gangue pouco convencional, mas brilhante, irá conseguir apanhar o assassino antes que seja tarde demais? O melhor é nunca subestimar um grupo de velhotes.

O Ladrão de Arte

 

A minha opinião:

Um jovem casal que supera a maioria das fantasias. Eles viviam dentro de uma arca de tesouros. Roubada. E não foi ficção.

Mais jornalistico do que romanceado, este livro é sobre um ladrão de arte por instinto que efetuou dezenas de roubos sem levantar suspeitas. Com a colaboração da namorada. E não menos importante também é uma narrativa sobre a História dos roubos de arte.

As expectativas superavam quando a narrativa se limita a descrever os acontecimentos com personagens sem carisma. O antes e o depois dos crimes numa escrita escorreita e esclarecedora que vale por si. O fascínio de quem não resiste à tentação. 

"A arte assinala a nossa liberdade. Ela existe porque vencemos a guerra evolutiva." (pag. 99)

Autor: Michael Finkel
Páginas: 200
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03809-8
Edição: abril/2024

Sinopse:
Acabar permanentemente com quase todos os crimes em museus seria fácil: trancar as obras em cofres e contratar guardas armados. Claro que isso também significaria o fim dos museus. Passariam a chamar-se bancos

Stéphane Breitwieser era capaz de lhe roubar a carteira neste preciso momento. Enquanto lê este texto. Mas as suas mãos treinadas preferem outro tipo de riqueza: a inigualável beleza das obras de arte. Com a ajuda da sua namorada Anne-Catherine e de um canivete suíço, este Lupin da vida real roubou mais de trezentas peças de museus e igrejas na Europa. A fim de as vender no mercado… perdão, para tê-las simplesmente no sótão da sua mãe, numa província francesa, e poder olhá-las sempre que acordasse ao lado da sua adorada. São cerca de duzentos assaltos, em oito anos consecutivos, um rombo total de mais de dois mil milhões de euros. Este livro é a extraordinária história do maior ladrão de arte de todos os tempos, uma lenda do crime digna de uma série televisiva. Pelo sim, pelo não: verifique os bolsos antes de o comprar.

O Livro que Me Escreveu


 A minha opinião:

Ler devagar para apreciar a sonoridade das palavras que se sente quando interpretadas. Saborear a língua.
O maior tributo aos livros que já li.

Autor: Mário Lúcio Sousa
Páginas: 184
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722082242
Edição: abril/2024

Sinopse:
Diagnosticado com uma doença cardíaca grave, um jovem decide escrever o Livro da sua vida - e escrevê-lo literalmente com o coração. Sempre ao lado da mulher, leva trinta anos para completar a empreitada, passando fome e privações e vivendo a crédito, esperando pagar as dívidas quando o Livro for publicado.

Assim que o termina, manda as folhas dactilografadas ao seu editor, mas este nunca as recebe. O desespero leva o casal e os amigos e vizinhos a uma busca desesperada em todas as estações de Correios do mundo, até que o editor dá a entender que finalmente recebeu o livro. Só que não era o Livro… Então, começam a chover livros assinados com o nome do escritor, e o povo começa a ler desenfreadamente, tornando a leitura um fenómeno à escala global.

O Livro que Me Escreveu é uma novela genial, um elogio maravilhoso à solidariedade e à leitura, essenciais na formação do ser humano. «O Livro tem magia e vida dentro, é um passeio pelo melhor que somos, um derrame de imaginação e de amor pela leitura, os leitores, os escritores, teu povo e toda nossa gente. Tem momentos de grande beleza poética, e mais, tem uma poética sustentada que não se perde nem quando acelera, às vezes com força demasiada. Gosto das imagens, tantas, por exemplo, que o mundo é uma biblioteca, que os livros podem ser deixados junto a jarras de água nas janelas das casas, e que o som da palavra cria caramelos na boca. É uma novela estupenda, para ser repartida pelo mundo.»
Fragmentos de uma carta de Pilar del Río ao autor

Escovar a Gata e Outras Histórias

A minha opinião:

Gostei muito deste livro com treze curtas histórias de mulheres. Histórias de desapropriação porque a velhice não lhes retira o livre arbítrio.

Autor: Jane Campbell
Páginas: 256
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722081665
Edição: março/2024

Sinopse:
Um livro poderoso e emocionante que explora a vida erótica, emocional e intelectual de treze mulheres de idade, escrita por uma psicoterapeuta à beira de completar oitenta anos.


Depois de lermos esta estreia provocadora de Jane Campbell acerca do mundo sensual das idosas, daremos realmente razão a quem inventou a expressão «velhos são os trapos». Longe de caírem nos estereótipos da velhice, as protagonistas - tantas vezes atiradas para lares ou casas de família só por terem passado dos setenta - querem continuar a ter a chave de casa e não deixam que a sua vida seja controlada por outros.

Susan descobre-se sexualmente atraída pela sua cuidadora no hospital; ao enviuvar, Linda resolve procurar o homem com quem teve um relacionamento escaldante durante um congresso; Martha, isolada num apartamento em tempos de pandemia, aceita a proposta do governo para desfrutar da companhia de um robô bem-comportado, que engana descaradamente; a avó que vai de comboio ao encontro da neta decide casar-se com o único passageiro da carruagem para não ter de ficar a tomar conta da irmã inválida e prepotente; a senhora que escova a gata do filho recorda, nos movimentos do animal, as próprias experiências sexuais e pensa que a nora há de acabar por pô-las na rua, a ela e à siamesa…

Escrito de forma desafiante, cheio de uma sabedoria intemporal, eis uma fantástica lição contra o preconceito e os equívocos que rodeiam a vida das mulheres mais velhas.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

A Gravidade das Circunstâncias

A minha opinião:

A gravidade das circunstâncias era a expressão que Berta usava para a difícil relação familiar em qualquer situação. As consequências da guerra. E o desfecho que, encerra um ciclo de não escolhas até ao cerne do drama.

A ambiguidade dos nomes que se aplicava aos filhos e aos progenitores, bem como o simbolismo dos números, a presença da religião ou a inveja avassaladora da amiga torna este pequeno livro com uma estrutura narrativa peculiar pouco fluído ou envolvente. Aéreo, diria. Esperava mais e não gostei muito.

Autor: Marianne Fritz
Páginas: 136
Editora: Cavalo de Ferro
ISBN: 9789897877452
Edição: março/2024

Sinopse:
Depois de anos a esforçar-se por se resignar à felicidade da maternidade e da vida doméstica, a tímida e distante Berta Faust, sempre com a cabeça algures a cismar e a duvidar, encontra-se internada na enfermaria número 66. Protegida do mundo exterior e dos outros, sobretudo da sua amiga Wilhelmine e do ex-marido Wilhelm, e da força de gravidade das circunstâncias, «da vida concreta, tal como ela é», Berta terá ainda de cumprir um último sacrifício para encontrar a paz e a absolvição do acto insano e desesperado que marcou o seu exílio definitivo da realidade.

Distinguida, ainda em manuscrito, com o prestigiado Prémio Robert Walser, A Gravidade das Circunstâncias é a fulgurante obra de estreia de Marianne Fritz, autora de culto, que marcou assim de forma indelével a literatura austríaca do século XX.

Um romance inesquecível em que a tragédia se cruza com a sátira, a estranheza com o génio, para contar a história de uma mulher incapaz de lidar com a realidade e os seus horrores, lançando, ao mesmo tempo, uma sombra nos anos do pós-guerra e da Reconstrução da sociedade europeia.

As Minhas Estúpidas Intenções

A minha opinião:

Eu gosto de livros inesperados. E não porque quero ser diferente mas porque busco algo novo que exerça o seu fascínio.

A sinopse deste livro certamente afastou muita gente. A história de um fuínha macho, coxo, numa fábula moderna não é o que mais apetece ler. É simplesmente fa-bu-lo-so. Não é exagero e também não pretendo criar altas expectativas que prejudiquem a leitura, mas como não havia nenhumas, fui bem surpreendida. Um extraordinário primeiro livro de um jovem de vinte e um anos.

Se gosto de histórias curtas também aprecio as que se desenrolam rapidamente e esta é uma párabola com uma personagem corajosa e inteligente, que conhece as suas fragilidades e limitações e contraria o seu destino. Um animal e as suas estúpidas intenções. Um livro sobre a efémera existência.

Autor: Bernardo Zannoni
Páginas: 224
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722079402
Edição: outubro/2023

Sinopse:
As Minhas Estúpidas Intenções é a história fascinante de Archy, um macho de fuinha nascido na miséria, mutilado ainda jovem por um acidente e vendido como escravo pela mãe a um raposo usurário chamado Solomon, que, considerando-o esperto, resolve ensiná-lo a ler a Bíblia em segredo. Este conhecimento faz de Archy um milagre da zoologia, mas também um ser estranho que acaba por não encaixar em lugar nenhum.

À medida que a vida de Archy é transformada pela descoberta da escrita - e de uma entidade bastante ambígua chamada Deus -, ele começa paradoxalmente a ter saudades da sua velha existência guiada pelo instinto. Mas não pode desaprender o que aprendeu, nem conciliar as suas pulsões mais selvagens com dilemas éticos ou o seu desejo de transcendência com as suas necessidades animais. Escrever sobre a sua vida e passar a outros o conhecimento é a tentativa de Archy de vingar o destino a que a mãe, afinal, o quis condenar.


Vencedor de uma série de prémios no ano da sua publicação, este é um romance de estreia a todos os títulos excecional.