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sábado, 31 de agosto de 2019

Um Gentleman em Moscovo

A minha opinião:
Insidioso. É o que me apraz dizer sobre este romance. 
Subtilmente, ficamos viciados na inteligente languidez e no charme do Conde Rostov. Em prisão domiciliária, num grande hotel que tinha tomado como lar quatro anos antes, decide aceitar como se nada fosse e envolver-se no ambiente de uma forma única ou não fosse ele um arguto observador e um cavalheiro. 

Escrita elegante, personagens encantadoras e um enredo simples e genial. Poderia se pensar que é uma "seca" mas é o inverso. Uma discreta incursão pela História do Se. XX com um excelente analista do comportamento humano de refinado humor.

Não é preciso esperar pelo frio para nos deliciarmos a lê-lo. A densidade de um dicionário ou de uma Biblia que não se espera ter que deambular com ele. Faz jus à fama que tem. Estou extasiada com este grande romance. Não tenho mais palavras. Simplesmente FAN-TÁS-TI-CO.  

Autor: Amor Towles
Páginas: 544
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722063869
Edição: 2018/ Fevereiro

Sinopse:
Por causa de um poema, um tribunal bolchevique condena o conde Aleksandr Rostov a prisão domiciliária. Ficará retido, por tempo indeterminado, no sumptuoso Hotel Metropol. A prisão pode ser dourada. Mas é uma prisão.

Estamos em Junho de 1922. Despejado da sua luxuosa suíte, o conde é confinado a um quarto no sótão, iluminado por uma janela do tamanho de um tabuleiro de xadrez. É a partir dali que observa a dramática transformação da Rússia. Vê com tristeza os magníficos salões do hotel, antes animados por bailes de gala, serem agora esmagados pelas pesadas botas dos camaradas proletários. E vê-se obrigado a negociar a sua sobrevivência, num ambiente subitamente hostil.

Aos poucos, porém, o aristocrata descobre aliados no hotel, com quem partilha o seu amor pelo belo - e a defesa de valores morais que nenhuma ideologia poderá vergar. Faz-se amigo do chef, dos porteiros, do barbeiro, do encarregado da garrafeira, e com eles conspira para devolver ao Metropol a sua antiga e majestosa glória. Ao mesmo tempo, toma sob a sua proteção uma menina desamparada, a quem provará que a vida não se resume à luta de classes.

Amor Towles oferece-nos um dos mais requintados (e melancólicos) romances dos últimos anos.
Uma obra épica, habitada por uma galeria de personagens inesquecíveis e servida por uma escrita de uma elegância cada vez mais rara nas letras contemporâneas. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Pessoas Normais


 



A minha opinião:
Quando vi este livrinho pensei que era muito juvenil. Depois li as criticas e mudei de opinião. 

A escrita é diferente, seca e dura, sucinta nos diálogos, sobre uma relação entre dois  jovens que parece perfeita mas é interrompida algumas vezes. A dificuldade de pessoas normais conseguirem ser felizes. A intensidade e perturbação do que sentem não facilita uma leitura distraída ou distanciada, o que é uma surpresa. Muito bom mas não sei se será do agrado de todos os leitores. 

Um romance que nos dá que pensar. Aliás... é tão avassalador que tive que intervalar a leitura para recuperar a razão. A crueldade que se esconde em vidas perfeitamente normais. A ânsia de poder e o desejo de ser amado. O impacto dos outros no quotidiano. A vida como ela é. Realmente, este livro é soberbo.

Autor: Sally Rooney
Páginas: 248
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789896419363
Edição: 2019/ Julho

Sinopse:
Prémio Costa para Melhor Romance 2018
Livro do Ano Waterstones
Nomeado para: Man Booker Prize 2018, Women’s Prize for Fiction 2019 e Dylan Thomas Prize 2019

Connell e Marianne cresceram na mesma pequena cidade da Irlanda, mas as semelhanças acabam aqui. Na escola, Connell é popular e bem-visto por todos, enquanto Marianne é uma solitária que aprendeu com dolorosas experiências a manter-se à margem dos colegas. Quando têm uma animada conversa na cozinha de Marianne — difícil, mas eletrizante —, as suas vidas começam a mudar.

Pessoas Normais é uma história de fascínio, amizade e amor mútuos, que acompanha a vida de um casal que tenta separar-se mas que acaba por entender que não o consegue fazer. Mostra-nos como é complicado mudar o que somos. E, com uma sensibilidade espantosa, revela-nos o modo como aprendemos sobre sexo e poder, desejo de magoar e ser magoado, de amar e ser amado.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Rebecca

A minha opinião:
Ouvi falar deste livro. Uma referência. Inclusive em romances que li em que este livro era nomeado. 

Acho que o deixei "a marinar" na estante tanto tempo porque o considerava do tipo Lolita (associação do título com nome próprio), amargo e controverso. 

Começa com memórias de Manderley, uma casa de sonho num lugar paradisíaco e um ambiente inquietante. A narradora (sem nome), jovem,  recatada e silenciosa conhece Mr. Winter, um homem rico e viúvo. Um homem atormentado por quem se apaixona. 

E depois... tudo gira à volta de Rebecca, apesar desta já ter desaparecido e da sua Manderley. Poderia ser enfadonho mas as descrições são tão belas e vibrantes que nos sentimos lá, incomodadas com aquela presença que parece uma partida mental que não se consegue decifrar. E temos Mrs. Danvers. Que personagem fantástica!

Requintado e enigmático, é realmente um romance que não se consegue pousar. A escrita precisa e a narrativa empolgante fazem deste uma ambiciosa e viciante leitura. A reviravolta final é brilhante e mais não posso contar.

Autor: Daphne Du Maurier
Páginas: 209
Editora: Presença
ISBN: 9789722341035
Edição: 2009/ Março

Sinopse:
Escrito em 1938, Rebecca é uma obra de fôlego, diversas vezes adaptada ao cinema. Porém, só em 1941, numa versão de Alfred Hitchcock, o filme ganharia protagonismo, chegando mesmo a vencer dois Óscares estando nomeado para nove categorias. Rebecca é um clássico onde os sentimentos adquirem um lugar de destaque. Sentimentos no feminino, já que se trata da história de duas mulheres que se envolvem com o mesmo homem, apenas com uma particularidade: Rebecca está morta. E é o fantasma, embora nunca visível, do seu passado que assombra a nova mulher, agora casada com o nobre britânico e apaixonado de Rebecca. A intriga é assombrosa e ao mesmo tempo envolvente deixando sempre a sensação de que Rebecca é omnipresente. E é com esta imagem antiga que a nova mulher do viúvo Maxim de Winter terá de enfrentar todos os que amavam Rebecca e que a encaram como alguém que veio para lhe roubar o lugar. Rebecca é o romance que celebrizou Daphne du Maurier e que conheceu 28 reedições em quatro anos só na Grã-Bretanha.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Nas Águas Mais Calmas / Série Sandhamn - Livro 1

A minha opinião:
Ui! Não é apenas um romance policial. É o primeiro de uma série. E da breve pesquisa que fiz há mais seis romances com os protagonistas Thomas Andreassoon e Nora Linde. A série Sandhamn.

Um, dois, três mortos que estão relacionados sem motivo aparente. A policia à nora. Um romance simples e bem contado que se torna verossímel. Não é um romance trepidante mas a empatia com os protagonistas faz a diferença. Os seus problemas humaniza-os. E Sandhamn, a ilha, onde tudo se passa; que a autora adora e o leitor também começa a gostar. 

Não fui surpreendida com o final. Já o tinha imaginado. Leitora convicta dá nisto. Ainda assim, foi bom de ler até o confirmar. Acho que vou continuar, se os próximos livros da série sairem. Quero saber o que a Nora vai decidir e torço por um final roamântico... com ele.

Autor: Viveca Sten
Páginas: 440
Editora: Planeta
ISBN: 9789897772429
Edição: 2019/ Julho

Sinopse:
O verdadeiro perigo está muito mais perto do que imagina.

Um excelente mistério. O novo fenómeno do policial sueco chega a Portugal. Numa manhã quente de Julho, na idílica ilha de Sandhamn, na Suécia, um homem passeia com o cão e faz uma descoberta horrível: um corpo, emaranhado numa rede de pesca, deu à costa. Uma das autoras suecas mais populares e com mais êxito da actualidade. A série Sandhamn já vendeu mais de 4,5 milhões de exemplares em todo o mundo.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

A Mulher que Correu Atrás do Vento

A minha opinião:
Finalmente li um livro de João Tordo.
Não sei ao certo ou se existe um porquê, mas nunca antes me senti tentada a ler os romances deste autor. A minha absurda anterior aversão por autores portugueses, de quando em quando, impõe-se. Lúgubre, era o que imaginava. No meu grupo de amigos o afecto não é consensual e talvez tenha sido essa a percepção que me ficou.

Não é um livro que nos conquiste de imediato. A escrita requintada não é fluída, dada a complexidade das personagens femininas que se procura compreender. 
A Lia encantou-me com a sua força dissimulada de fraqueza e fiquei agarrada. Lisbeth, uma mulher desfasada do seu tempo, depois do desconforto inícial também me seduziu. Não esperava o desconforto final. 
A estranheza e a curiosidade levaram a melhor na ligação entre as partes distintas de uma narrativa longa e algo confusa, se não for lida com alguma atenção.

"Nada é verdade, respondeu ele. E, contudo, o que se aprende ao escrever é que tudo é verdadeiro, mesmo quando mentimos." (pag.205)

Fantástica definição de um romance. 

O abandono, a solidão, a vergonha e a culpa que cercam estas mulheres, ligadas por um romance no final do sec. XIX. Trágico e muito bom.

Autor: João Tordo
Páginas: 504
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789896657604
Edição: 2019/ Março

Sinopse:
1892, Baviera. Lisbeth Lorentz, uma professora de piano, apaixona-se por um aluno de 13 anos que sofre de autismo. Ao descobrir que ele é um prodígio, instiga-o a compor um concerto durante as aulas e, um dia, sem explicação, fá-lo desaparecer.

1991, Lisboa. Beatriz, uma estudante universitária —que sonha com o toque das mãos da mãe falecida —envolve-se com o autor d’A História do Silêncio, um romance sobre Lisbeth Lorentz. Ao mesmo tempo, enquanto voluntária num abrigo para mendigos, Beatriz conhece Lia, uma jovem adolescente com um passado incógnito e um presente destruído.

1973, Londres. Graça Boyard, portuguesa, dá à luz a primeira e única filha. Fugida de Lisboa durante as cheias de 1967, para escapar à tirania do pai e à mordaça da ditadura, regressa à capital após a Revolução, tornando-se uma actriz de renome —e abandonando a filha ainda criança.

2015, Lisboa. No consultório de uma terapeuta, Lia Boyard desfia a sua história, dos anos de mendicidade ao momento em que decide procurar a mãe. É aqui que começam a unir-se as pontas de um romance a várias vozes: a história de quatro mulheres - Lisbeth, Graça, Beatriz e Lia - que atravessam um século de História e diferentes geografias, unidas por uma força que transcende a própria vida.

Um livro sobre o poder do amor e o vazio da perda, sobre a amizade que nasce das circunstâncias mais improváveis e o terrível poder da confissão. E, quase no final, uma revelação chocante, a reviravolta que faz deste romance de João Tordo uma narrativa magnética.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Turbulência

A minha opinião:
Não esperava que este livro fosse tão fino.
O toque aveludado da capa (e das páginas), característica da Elsinore, é um luxo e um prazer num livro de capa dura que, não larguei desde que o comprei. Infelizmente, como referi antes, numa muito breve leitura. 

Turbulência não é apenas o que se sente numa viagem de avião. Turbulência é o que se passa num intímo de cada uma das doze personagens em demanda de um ponto a outro do planeta para reencontrar familiares ou atingir objectivos. As ligções que se estabelecem e as vidas que se tocam em etapas que não se escolhem. A viragem em que se confrontam com a solidão e a dor da perda. 

Capítulos com siglas do ponto de partida e destino para cada uma das desabrigadas histórias de vida, com a citação de Kennedy como pano de fundo "... em última análise, o mais básico laço que nos liga é que todos habitamos este pequeno planeta. Todos respiramos o mesmo ar. Todos estimamos o futuro dos nossos filhos. E todos somos mortais."

Autor: David Szalay
Páginas: 128
Editora: Elsinore
ISBN: 9789897079887
Edição: 2019/ Junho

Sinopse:
Depois de um momento de turbulência, uma mulher mete conversa com o homem que se senta a seu lado no avião, revelando-lhe a sua intimidade. Ao chegar a casa, após outro voo, esse homem recebe notícias trágicas que implicam profundamente a vida de outra pessoa, um piloto de aviões, o qual, transtornado, acaba por procurar conforto nos braços de uma jornalista que conhece essa mesma noite, e cuja vida também se transformará antes de conseguir seguir para o aeroporto e terminar uma reportagem que, por sua vez, terá consequências no destino de outras pessoas.

De Londres a Madrid, de Dakar a São Paulo, de Toronto a Deli, em viagem para reencontrar amantes, irmãos afastados, parentes idosos ou ninguém, as histórias dos doze desconhecidos que compõem Turbulência são o retrato de um mundo global, e uma exploração corajosa e delicada dos efeitos que o nosso percurso, aparentemente tão pessoal, tem na vida dos outros - por vezes, de modo devastador.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Os Armários Vazios

A minha opinião:
Não contava gostar tanto deste livrinho. A escrita sublime não me bastava. A narrativa breve supunha antiga ou ultrapassada. A sugestão de uma boa amiga foi portanto acolhida com ceticismo.

Dora Rosário ganhou vida nas primeiras páginas, embora como personagem não esbanjasse energia. Orgulhosa e desencantada viúva que se tinha anulado durante o casamento com um homem sem ambição que tardiamente conheceu.

A sogra Ana e a tia jùlia, duas mulheres sós e vazias. Sonhadoras. 

Manuela, a misteriosa narradora a quem queriam ser leais e sobrou nesta história.

E, por fim, Lisa, a jovem de dezassete anos, filha de Dora e neta de Ana, num lar sem figuras masculinas, que sabia muito bem o que queria. 

Romance brilhante de escrita acutilante que deixa a alma a nu. Intemporal como é a natureza do ser humano. Uma história bestial. Quase real e sem final feliz. O mundo é dos espertos. No caso, das espertas.

Autor: Maria Judite de Carvalho
Páginas: 152
Editora: Ulisseia
ISBN: 9789725686713
Edição: 2011/ Abril

Sinopse:
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para a Formação de Adultos, como sugestão de leitura.

O grande romance de Maria Judite de Carvalho, obra central da literatura portuguesa da renovação de meados do século XX, volta aos temas de preferência da autora: a solidão da mulher na cidade. A vida moderna que prende as personagens de Maria Judite de Carvalho ao inferno de viverem sós no meio da multidão
.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Uma Estrela na Noite

A minha opinião:
No âmbito do projecto da Dora e "Covinhas" (gosto muito desta alcunha ternurenta) leio Kristin Hannah. Não sei se irei conseguir ler todos os que sugerem, mas por ora estou a gostar.

Aviso: Este romance é comovente. 
O que não surpreende se considerarmos que é a continuação do "As inseparáveis" sobre a amizade de Tully e Kate, até que Kate morre de cancro. 
Refazer é devastador e Kristin oube captar bem muitos dos sentimentos envolvidos e é por aí que o livro começa. Afinal, trata-se do luto. 

Não é necesário ler o livro anterior para saber os incidentes principais do que aconteceu entre elas. A resenha foi bem feita e o destaque é entregue a cada uma das personagens na sua dor. 

Custou mas chegou a redenção que eu ansiava ler. Dorothy, a mãe de Tully é a revelação (faltava desvendar o enigma da sua vida).

Afinal, o que importa é o amor, a familia, risos... e memórias. 

Autor: Kristin Hannah
Páginas: 400
Editora: Bertrand
ISBN: 9789722538060
Edição: 2019/ Julho

Sinopse:
Tully Hart e Kate Mularkey eram amigas inseparáveis. Agora, anos mais tarde, Tully tenta lidar com a perda da sua melhor amiga e cumprir a promessa que lhe fez de apoiar os seus filhos - mas Tully desconhece o que é ser mãe, ter uma família e preocupar-se com os outros. Marah Ryan, a filha de Kate, anda tão perdida na sua dor como Tully. Dorothy Hart, a mãe de Tully, é uma mulher instável que abandonou a filha muitas vezes no passado, mas reaparece desesperada por uma oportunidade de ser boa mãe.

Uma tragédia irá unir estas três mulheres e colocá-las num momento da vida poderoso e de redenção. Todas elas estão desnorteadas e vão precisar umas das outras - e talvez de um milagre - para transformar as suas vidas...