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domingo, 25 de novembro de 2012

O Aroma das Especiarias

Autor:  Joanne Harris
Edição: 2012, Setembro
Páginas: 496
ISBN: 9789892320106
Editora: ASA

Sinopse:
Quando Vianne Rocher recebe uma dessas cartas, ela sente que a mão do destino está a empurrá-la de volta a Lansquenet-sur-Tannes, a aldeia de Chocolate, onde decidira nunca mais voltar. Passaram já oito anos, mas as memórias da sua mágica chocolataria La Céleste Praline são ainda intensas. A viver tranquilamente em Paris com o seu grande amor, Roux, e as duas filhas, Vianne quebra a promessa que fizera a si própria e decide visitar a aldeia no Sul de França.
À primeira vista, tudo parece igual. As ruas de calçada, as pequenas lojas e casinhas pitorescas… Mas Vianne pressente que algo se agita por detrás daquela aparente serenidade. O ar está impregnado dos aromas exóticos das especiarias e do chá de menta. Mulheres vestidas de negro passam fugazes nas vielas. Os ventos do Ramadão trouxeram consigo uma comunidade muçulmana e, com ela, a tão temida mudança. Mas é com a chegada de uma misteriosa mulher, velada e acompanhada pela filha, que as tensões no seio da pequena comunidade aumentam. E Vianne percebe que a sua estadia não vai ser tão curta quanto pensava. A sua magia é mais necessária do que nunca!

A minha opinião:
O último romance e o terceiro da série "Chocolate", que para mim, é o primeiro em tudo, porque esta autora é uma estreia absoluta. Vi o filme baseado no primeiro livro desta série, com  Juliette Binoche e Johnny Depp e recordo vagamente o ambiente bucólico daquela aldeia e a presença subtilmente distinta de Vianne. Uma mulher livre, que se deslocava com o vento, com capacidades extrassensoriais. A mãe considerava-se bruxa.
"Essa palavra está sobrecarregada agora com história e preconceitos. As pessoas que dizem que as palavras não têm poder não sabem nada sobre a natureza delas. Bem colocadas, podem pôr fim a um regime; podem transformar o afeto em ódio: podem começar uma religião ou mesmo uma guerra. As palavras são as pastoras das mentiras; conduzem os melhores de nós ao matadouro."
(pag.258)

Esta estória é contada a duas "vozes"; Padre Francis Reynaud e Vianne em capítulos alternados durante aproximadamente um período de tempo correspondente a um mês - enquanto decorria o Ramadão, sobre uma guerra ... "(...) entre homens e mulheres; velhos e novos; amor e ódio; Oriente e Ocidente; tolerância e tradição." (pag. 377)

Como o vento, ora suave e agradável, ora violento e tumultuoso, também assim se pode descrever esta narrativa. Enfeitiçou-me e levou-me perplexa ao longo das suas quase 500 páginas "aconchegando-me num casulo de doçura".

Pessoas e a sua interação que pode ser inquinada com um elemento numa pequena comunidade marcada pela diferença e pela mudança. As crianças tem a estranha faculdade de as aceitar. Mas, nós os adultos julgamo-nos tão espertos que não sabemos do que precisamos e deixamo-nos enganar ou manipular. É fantástico quando um livro nos conduz a uma reflexão e nos dá muito mais do que aquilo que esperávamos.
"Se o mundo fosse assim tão simples para nós... Mas nós temos a estranha faculdade de nos concentrarmos na diferença; como se excluir os outros pudesse tornar mais forte o nosso sentido de identidade. No entanto, em todas as minhas viagens descobri que as pessoas são geralmente iguais em todo o lado. Sob o véu, a barba, a sotaina, é sempre o mesmo mecanismo. Apesar daquilo em que a minha mãe acreditava, não há magia no que fazemos. Vemos porque olhamos para além de toda a confusão do que os outros veem. As cores do coração humano. As cores da alma."
(pag. 235)

sábado, 17 de novembro de 2012

Eu tenho um sonho



Subtítulo: Os Discuros que Mudaram a História
Autor:  Ferdie Addis  
Edição: 2012, Setembro
Páginas: 184
ISBN: 9789724745008
Editora: Texto Editores

Sinopse:
Podem as palavras mudar o mundo? Ou palavras leva-as o vento?
Por vezes, quando as circunstâncias envolventes parecem demasiado negras para haver qualquer esperança, são palavras que envolvem, elevam e motivam populações a lutar. As palavras podem desafiar ditadores: «lutaremos nas praias»; podem começar revoluções: «Liberdade, Igualdade, Fraternidade»; podem criar novas nações. «consideramos estas verdades como auto-evidentes». Outras, dão início a novas ideologias: «os fracos herdarão a terra».
Este livro apresenta momentos memoráveis em que o futuro foi decidido por palavras pronunciadas por homens e mulheres de fortes convicções. Desde palavras absurdas a inspiradoras, de divinas a diabólicas, estes são os discursos que mudaram a História e deixaram a sua marca no mundo actual.
 
A minha opinião:
Um pequeno grande livro. Simples, acessível e sintético. De quando em quando é bom ler para saber ou quiça recordar, palavras inflamadas, inspiradas ou proféticas que nos deem alguma compreensaõ e alento sobre a capacidade que o ser humano tem de se unir em torno de uma causa e superar desafios. Sem qualquer posição política ou ideológica, excepto, a razão e a coerência, somos capazes de nos surpreender com o extraordinário poder da palavra e de um bom discurso.
Senão vejamos o exemplo de uma controversa senhora, Margareth Thatcher (1980):
 
"Se gastar dinheiro como água fosse a resposta para os problemas do nosso país, não teriamos problemas agora. Se alguma vez uma nação gastou, gastou e voltou a gastar, foi a nossa. Hoje esse sonho chegou ao fim. Todo esse dinheiro não nos levou a parte alguma, mas continua a ter de vir de algum lado. Aqueles que nos exortam a aliviar o aperto, a gastar ainda mais dinheiro indiscriminadamente, na crença de que ajudará os desempregados, não estão a ser bondosos, compassíveis ou solícitos.
(...)
Se o nosso povo sentir que faz parte de uma grande nação e estiver preparado para desejar os meios de a manter grande, uma grande nação seremos e continuaremos a ser.
(...)
Permitam-nos então que resistamos às lisonjas dos fracos; permitam-nos que ignoremos os uivos e ameaças dos extremistas; permitam-nos que nos conservemos coesos e façamos o nosso trabalho e não falharemos. "
 
EU TENHO UM SONHO!
 

O Livro dos Perfumes Perdidos

Autor:  M. J. Rose
Edição: 2012, Outubro
Páginas: 420
ISBN: 9789897240393
Editora: Clube do Autor

Sinopse:
Um segredo pelo qual vale a pena morrer...Jac L'Étoile sempre foi ensombrada por visões do passado e as suas recordações mais antigas misturam-se com as lembranças dos aromas exóticos que cresceram com ela, enquanto herdeira de uma tradicional companhia de perfumes.
Quando Robbie - que assumiu o controlo da Maison L'Étoile das mãos do pai - contacta a irmã Jac para lhe falar de uma espantosa descoberta feita nos arquivos da família, esta mostra-se cética. Porém, Robbie desaparece antes de partilhar a sua descoberta e Jac mergulha num mundo que acreditava ter deixado para trás.
Jac viaja até Paris a fim de investigar o desaparecimento do irmão e descobre que o segredo de família tem que ver com uma misteriosa fragrância desenvolvida nos tempos de Cleóptera. Serão os rumores que circulam verdadeiros? Poderá este antigo perfume deter o poder de desencadear memórias de vidas passadas e provar que a reencarnação é uma realidade? Se este tesouro tiver de facto o poder de mudar o mundo, nesse caso justificar-se-á que vidas sejam sacrificadas em seu nome...
O Livro dos Perfumes Perdidos combina história, paixão e suspense numa inebriante teia que nos leva do Egito de Cleóptera aos terrores da Revolução Francesa, dos confrontos do Tibete com a China ao encanto da moderna capital francesa.

 
A minha opinião:
Intrincado.  Uma elaborada e algo complexa história, bem contada, mas nada fácil de ler. Exige alguma atenção e concentração para entrar na trama e perceber o papel de cada uma das várias personagens.

Certas temáticas atraem-me: Espiritualidade, misticismo, mitologia, crenças, História. Nesta narrativa temos uma história ficcional que mistura uma grande quantidade de factos, resultado da pesquisa e estudo da autora, conjugado com dados da investigação efetuada ao mundo dos aromas e dos perfumes. No fim, temos as notas de autora que revela o que existe de real no que lemos nesta obra.

"Os perfumes despertam a memória. É possível tropeçarmos sem querer numa fragância e recordarmos de repente um dia inteiro da nossa infância... e será uma lembrança tão real e vívida como se tivesse sucedido há umas horas."
(pag. 117)

A importância dos cheiros que nos conduzem a extraordinárias associações.

Jac L' Étoile é uma personagem com um nariz muito sensível, descendente de uma prestigiada familia de perfumistas, perseguida por alucinações, sonhos ou surtos psicóticos provocados por estímulos olfactivos, desde o drama em adolescente com a morte da mãe.
Com o negócio de familia em risco, fragmentos de um antigo artefacto egípcio com hieróglifos inscritos - lendário segredo de familia - era o instrumento mneumónico mais disputado por um psicólogo reencarnacionista que cuidara de Jac e pela máfia chinesa interessada em impedir uma nova onda de simpatia pela causa tibetana. E assim, temos o mote para uma aventura que conduz às catacumbas de Paris e ao fascínio pelas crenças e rituais tibetanos.

Uma bela capa para um belo romance.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Fragmento



"Não se devia deitar abaixo o passado para abrir caminho ao futuro. Era a forma mais certa de se perderem lições. A arte de manter uma civilização viva, tal como a arte de fazer perfumes, estava na mistura, na combinação."
(pag.63)

sábado, 10 de novembro de 2012

A menina na falésia

Autor:  Lucinda Riley
Edição: 2011, Maio
Páginas: 528
ISBN: 9789892318448
Editora: ASA

Sinopse:
Grania Ryan tem em Nova Iorque a vida com que sempre sonhou. Tudo é perfeito até ao dia em que o seu desejo mais íntimo é brutalmente estilhaçado. Arrasada, Grania decide voltar à Irlanda e aos braços da sua adorada família. E é aqui, à beira de uma falésia, que conhece Aurora Lisle, a menina que vai mudar profundamente a sua vida.
A ligação entre ambas é imediata e profunda. Pouco a pouco, Grania descobre que as histórias das suas duas famílias estão estranha e intrinsecamente ligadas…

De um agridoce romance na Londres do tempo da grande guerra a uma relação tempestuosa na Nova Iorque contemporânea; da devoção a uma criança terna e carente a memórias esquecidas de um irmão perdido, o passado e o presente das famílias Ryan e Lisle estão unidos há um século. Cem longos anos de equívocos e segredos, paixões e ódios… Apenas a intuição e a coragem de Aurora poderão quebrar o feitiço e vencer as barreiras que o passado ergueu.
Assombrosa, terna e comovente, a história de Aurora é uma inspiração para todos nós. Um exemplo de como a esperança e o amor podem ultrapassar todas as perdas.

A minha opinião:
Este romance é realmente uma preciosidade. Para ler e reler.  Retardei o mais possível a sua leitura, pelo prazer de o ler.

Nesta época do ano, que bem que sabe aninharmos confortavelmente com um bom livro, uma música suave, uma bebida reconfortante, e deixarmo-nos enlevar numa história credível e bem contada como esta.

Ao iníciar a leitura, deparei-me com um dos "apontamentos" da Aurora Lisle e fiquei encantada com a narradora que, retrocede no tempo para recordar a criança precoce que era. Uma criança que cresceu com um pai atrapalhado e sem o afeto da mãe, até conhecer Grania e a familia Ryan. Mas, recua ainda mais, para contar a história de personagens que morreram antes do seu tempo.
Histórias de vidas entrelaçadas e de familias com uma História conjunta, através de um leque de personagens boas e más, em que o amor é a causa das escolhas que se fazem. A magia do amor nas suas diversas formas.
Como se de um conto de fadas se tratasse, mas este retrata a realidade, com a sua complexidade e mistérios que, gradualmente desvendamos num crescendo de interesse e empatia pelas personagens.

Uma escrita fluida e singela sem grandes "floreados", mas extremamente eficaz pelas emoções que provoca no leitor, que se envolve nesta extraordinária narrativa.

"Deram-me o nome de uma princesa  de um célebre conto de fadas. Talvez seja essa a razão pela qual eu sempre acreditei em magia. E à medida que crescia, apercebi-me de que um conto de fadas é uma alegoria para a grande dança da vida que todos empreendemos desde o momento em que nascemos. 
E não podemos fugir a ela até ao dia em que morremos."   
(pag. 10)
 
"Bom. Eu vou morrer. Antes de ter sido corrompida. E dessa forma, ainda consigo acreditar na magia do amor. Eu acredito que as nossas vidas, tal como os contos de fadas - as histórias que foram escritas por humanos como nós, através das nossas próprias experiências de vida - terão sempre um Herói e uma Heroína, uma Fada Madrinha e uma Bruxa Malvada.
E esse amor e bondade, e fé, e esperança irão sempre levar a melhor.
...
Por favor, se puder, lembre-se de mim e da história da minha familia num cantinho da sua mente. Também é a sua história, porque diz respeito à humanidade.
E acima de tudo, nunca perca a fé na beleza e na bondade da natureza humana.
Estão sempre presentes; mas, por vezes, tem de as procurar com mais afinco."
(pags. 516/517)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Solstício de Verão

Autor:  Tara Moore
Edição: 2012, Junho
Páginas: 440
ISBN: 9789897260049
Editora: Quinta Essência

Sinopse:
O Baile do Solstício de Verão dos Granville é sempre inesquecível. Todas as pessoas importantes da sociedade irlandesa ​​reúnem-se em Carrickcross House - a propriedade rural da família - para uma noite de folia. Mas este ano a noite é muito especial: a matriarca Honoria vai anunciar o noivado do seu neto Rossa com Ashling Morrison. Ashling está delirante. Alto, moreno e bonito, Rossa é o partido perfeito, mas será demasiado bom para ser verdade?

Por que motivo está Honoria tão interessada em fazer Ashling - enteada da sua arqui-inimiga Coppelia - parte do clã Granville? Poderá Carrick, o irmão de Rossa, manter a sua posição como herdeiro legítimo? E o que fará a implacável Coppelia? Com a promessa de convidados distintos, bebidas, danças e assassínio... será um solstício de verão inesquecível!

A minha opinião:
A capa sugeria-me um típico romance "cor-de-rosa" com glamour, paixão e intriga. Romance que me permitiria "desligar" das preocupações e ansiedades do dia-a-dia, enquanto me deixava seduzir  por personagens carismáticas em ambientes luxuosos.
Não poderia estar mais enganada. E essa é a mais-valia deste romance. De me surpreender. Mas não me seduziu.

Crime, mistério, intriga e vingança num romance repleto de segredos sórdidos, que vão sendo desvendados em ritmo acelerado sobre personagens que de belas, tinham apenas o aspeto exterior. Até a linguagem utilizada entre os mesmos é grosseira (ordinária até),  o que não seria previsível ou expectável entre personagens da classe alta e de refinada educação. Soberba, ganância, prepotência, manipulação, perversão e vícios vários (alguns de indole sexual, eventualmente para combater o tédio ou quiça a perda enquanto muito jovens dos pais), são alguns dos adjetivos que poderão caracterizar o comportamento de certas personagens e esses já não são inesperados. O expoente máximo de insanidade maléfica e perversa são os "anjos caídos" - os gémeos Sapphire e Indigo Granville. Depois disso, a excêntricidade e homossexualidade de Jaspar Granville, a par com o encantador e inescrupuloso Rossa. O melhor, é sem dúvida, Carrick, o herdeiro legítimo de um património cobiçado - Carrickcross.

Escrita simples e acessível em que se nota um maior cuidado com a acção do que com o conteúdo. Como se de um seriado ou folhetim radiofónico se tratasse e em que se procura uma trama contínua de impacto. Alguma superficialidade e inexpressividade quer das personagens, quer do próprio enredo. Não creio que retome esta autora em outras leituras.