E Onde é que Está o Amor?

Autora: Ana Zanatti
Edição/Reimpressão: 2013

Páginas: 136

ISBN: 9789897020711
Editora: Editora Guerra & Paz

Sinopse: 
Seis mulheres e três homens, reúnem-se para confessar o que lhes parece inconfessável. Casamentos falhados, amores que não se cumprem, ciúme, traição, medo, frustração, erotismo, solidão. De tudo se fala nessa tarde, num encontro transformador do qual ninguém sai como entrou.

A minha opinião: 

Um pequeno romance que me pareceu promissor pela temática e ideal como interlúdio de leituras mais pesadas e exigentes. Não desiludiu. Fácil de ler e quase todo ele em diálogo, uma vez que se trata de uma reunião numa pequena livraria com nove pessoas que analisam dificuldades nos relacionamentos. 

Surpreendente a dinâmica entre as personagens que transportam o leitor para o cerne da reunião, envolvido em todos os íntimos conflitos de cada um que se querem proteger de mais sofrimento e desilusão e encontrar a solução na partilha. Receios, inseguranças, dependências e solidão levam à reflexão na Era da comunicação e do conhecimento do que ainda nos falta assegurar. 

Ana Zanatti é mais uma autora que não conhecia e aproveitei este pequeno romance para a estreia de um texto seu. Longe do ideal por ser sucinto, com a aproximação do real na complexidade e efemeridade dos afetos em que muitas questões são colocadas e se procura um padrão de comportamento vicioso que perpetua relacionamentos infelizes, fiquei rendida a uma leitura imparável e analítica. 

Por tudo isto, "E onde é que está o amor?" é uma pergunta legitima e um ótimo título para este romance tão atual.

Sete anos bons

Autor: Etgar Keret
Edição:  2016 / agosto
Pages:  184
ISBN:  978-989-676-177-6
Editora: Sextante Editora (chancela)

Sinopse: 

Se um rocket pode cair sobre nós a qualquer momento, que importância tem despejar o lixo? E os pássaros do jogo «Angry Birds», lançados raivosamente contra pobres porquinhos, não lembram terroristas?

Com particular ironia, Etgar Keret relata neste livro histórias de sete anos da sua vida: o nascimento do filho, a terrível história da sua irmã ultraortodoxa e dos seus onze filhos, a trajetória dos seus pais sobreviventes do Holocausto, encontros com taxistas stressados, viagens de avião, noitadas literárias agitadas, ameaças de bombas, a morte do pai.

Um livro extraordinário sobre a vida de hoje em Israel e no mundo, onde o humor e a emoção se combinam com uma boa dose de absurdo.

A minha opinião:

Histórias tão minimalistas e pequenas quanto possível. 

Vou repetir-me. Gosto de contos. Mas não de qualquer um. Apenas aqueles em que sinto o que leio. 

Num tom mordaz, irónico e bem humorado, que parece desprendido Etgar conta pequenos episódios pessoais sobre o mundo em que vive e onde velhas questões se encontram por resolver e sem perspetivas de isso acontecer a curto prazo. Uma realidade em que raramente refletimos e que nos parece tão distante como nota de rodapé de qualquer noticiário que se entrevê ficção.  

Sete anos bons que medeia entre o nascimento do filho e a morte do pai. Sete anos marcantes. Sete anos profundamente sentidos apesar dos pesares que combate com humor, a arma dos mais fracos como bem explica. Sete anos de força e coragem que nos deixa menos indiferentes com algumas passagens que persistem na memória, o que não é para qualquer um.

Altamente recomendado e que deste modo fique a interessar quem não o conhece. 

A Rainha do Sul

Autor: Arturo Pérez-Reverte
Edição: 2003/ outubro

Reimpressão: 2016
Páginas: 440

ISBN: 972-41-3575-6
Editora: ASA

Sinopse: 

Teresa Mendoza. Uma mulher solitária que constrói um império a partir do nada, num mundo implacável inteiramente dominado por homens, o mundo do narcotráfico. Uma história de corrupção, amor e morte que nos revela o que de melhor e de pior existe no ser humano. Teresa vê-se forçada a fugir do México quando o namorado, que trabalhava para um cartel de droga, é assassinado. Este vai ser o momento de viragem da sua vida. Pobre e analfabeta, estava longe de imaginar que acabaria por se converter numa lenda do narcotráfico espanhol. No final, aquela que regressa à sua terra natal para ajustar contas com o passado será uma Teresa muito diferente da que fugiu doze anos antes.

A minha opinião: 

Arturo Pérez-Reverte, escritor espanhol conta a história da Rainha do Sul. O corrido de Teresa Mendoza. Uma mulher complexa que se observava de longe nas situações de maior perigo. Os homens da sua vida Guero e Santiago determinaram o seu destino quando teve que correr para se salvar. Acabou presa bem longe da sua terra onde conheceu uma mulher, a Tenente O'Farrell que a instruiu. Depois, foi muito esperta, correu riscos e montou uma poderosa rede de transporte de droga por mar ou ar. Tornou-se uma lenda e uma mulher muito solitária e culta. 

Uma história exaustivamente detalhada e completa como se de uma reportagem se tratasse em que não faltaram entrevistas que o jornalista e narrador apurou em três continentes sobre doze anos da vida de Teresa Mendoza. Bem escrita e repleta de peripécias e aventuras. Uma leitura mais profunda e séria sobre um mundo real que o autor parece conhecer bem. Uma leitura em dois tempos mas com uma ordem cronológica crescente, e com dois ritmos, mais lento com a protagonista ou mais rápido com as entrevistas. 

Um livro que vale a pena ler ou reler, uma vez que foi reeditado com nova apresentação. 

De referir, o elogio recorrente que o autor faz à leitura com Teresa "que verificou que aquilo que não era mais do que um objeto inerte de papel e tinta ganhava vida quando alguém passava as suas folhas e percorria as suas linhas, projectando aí a sua existência, as suas inclinações, os seus gostos, as suas virtudes ou os seus vícios. 

(...) 

E que cada livro lido é, como cada ser humano, um livro singular, uma história única e um mundo à parte." (pag. 194)

"Às vezes interrogo-me como conseguem superar as coisas, aqueles que não lêem." (pag. 167)

Concerto em Memória de Um Anjo

Autor: Eric-Emmanuel Schmitt
Edição: 2016/ outubro
Páginas: 192
ISBN: 978-989-75-4147-6
Editora: Editorial Presença

Sinopse: 

Que relação existe entre uma mulher que envenena sucessivamente os seus maridos e um presidente da República apaixonado? Qual a ligação entre um simples e honesto marinheiro e um escroque internacional que vende bugigangas religiosas fabricadas na China?

Por que milagre uma imagem de Santa Rita, padroeira das causas perdidas, assume o papel de guia misteriosa das suas existências? Todas estas personagens tiveram a possibilidade de se redimir, de escolher a luz em vez da sombra. A todas foi um dia oferecida a salvação. Algumas aceitaram-na, outras recusaram-na, outras ainda não souberam reconhecê-la.

Concerto em Memória de Um Anjo são quatro histórias ligadas entre si e que exploram uma questão: Somos livres ou estamos presos a um destino? Será que podemos mudar?

A minha opinião:

Quatro contos. Quatro narrativas curtas reduzidas ao essencial. Como eu gosto! 

Um livro de contos concebido como um projecto global com o tema da evolução segundo as escolhas ou os traumas e a velha questão de que a mudança se pode ou não dar deliberadamente. O autor defende que o homem não muda: ele corrige-se. 

"A mulher venenosa" é uma velha senhora da província que conseguiu inteligentemente matar três maridos e sair ilibada das acusações, tendo-se tornado uma atracão turística. As suas convicções  e crimes dão muito que falar.

"O Regresso" é sobre um marinheiro que recebe a noticia da morte de uma das suas quatro filhas mas não sabe qual e isso muda tudo.

"Concerto em memória de um anjo" dá nome ao livro e relata o que se passou com dois promissores talentos que em competição um não socorre o outro e esse ato criminoso tem consequências terríveis. Uma redenção encontra uma danação. 

Por fim "Um Amor no Eliseu" é um amor dessincronizado no elitista ambiente dos ricos e poderosos com todos as mascaras e olhares. 

 

Tal como o autor "sinto-me genuinamente feliz ao descobrir livros e autores que não conhecia." Eric-Emmanuel Schmitt, que eu não conhecia, tem o hábito de acrescentar o diário de escrita no final do livro e teceu algumas considerações muito interessante sobre um livro de contos ou um romance, que eu li e reli com gosto. A escrita clara, limpa e bela é para repetir em outros textos do autor, sem dúvida. Também tal como ele, sou sensível ao tamanho de um livro e faço um balanço sobre a minha disposição e disponibilidade quando são muitas as páginas. 
Um livro que não se insere no âmbito do fantástico apesar do aspecto que pode iludir Reflectindo bem também se tratam de quatro belas histórias de amor.