Edição: 2016/ maio
Páginas: 268
ISBN: 9789897243059
Editora: Clube do Autor
Sinopse:
No princípio tinha corpo e nome de homem. Depois partiu da aldeia, foi-se embora. Quando voltou era uma mulher, com um nome estranho e um passado de estrela dos palcos. Mas talvez fosse mentira. Por algum tempo foi atração de uma boîte de beira de estrada. Até à noite do incêndio, quando lhe deram o nome de Castiça, e se tornou a tola da aldeia.
No primeiro sábado da Quaresma, Castiça aparece morta no fundo de uma pedreira abandonada. Traz vestida ainda a roupa que usara durante o corso e o baile de carnaval. Castiça era a doida da aldeia, cantava nas esquinas, bebia muito, e dizia asneiras alto. Mas não foi sempre assim, nem teve sempre esse nome.
Justiniano Alfarro é preso no próprio dia em que o corpo é descoberto, porque tudo indica, com uma clareza sem margem para dúvidas, que foi ele quem a matou. Seria tudo um logro, um embuste, porque Justiniano era o mais perfeito dos homens. Mas nenhuma voz se levantou quando o levaram, e todos aceitaram a notícia num silêncio cúmplice. Todos, menos as mulheres que o amaram.
Antuérpia, sua filha, é uma dessas mulheres. Convencida de que enfrenta um conluio, prepara-se para repor a verdade procurando-a no passado do pai. Mas engana-se, porque a origem de tudo está no futuro da aldeia.
A minha opinião:
Gosto cada vez mais de ler romances de autores portugueses. E se antes isso me surpreendia, atualmente não acontece porque espero ler algo francamente bom e com a nossa marca. Personagens com facetas que identifico, em contextos que reconheço e em circunstancias que compreendo.
O que me surpreende é esse gosto cada vez apurado não estar mais difundido e o novo não ser motivo de curiosidade e interesse para tantos outros leitores como eu. Assim, tento espicaçar essa vontade de novas e quiçá felizes incursões literárias partilhando a minha opinião.
Para o fazer tenho que reler os parágrafos que marquei com post its porque este pequeno livro prendeu a minha atenção tanto pela forma como pelo conteúdo. A escrita e a capacidade de expressar ideias lúcidas e bem articuladas numa trama que desvendei no inicio, mas que ainda assim me deixou cativa com a caracterização gradual de todas as personagens sem enfado ou decepção, e a confirmação do desfecho que a mestria do autor não desiludiu. Não é uma historia feliz mas é uma historia possível e impõe alguma reflexão. Os juízos de valor e as regras de conduta desta pequena comunidade fascinaram-me.
"Há seres que não se procuram nem fazem falta, mas que não se dispensam depois de os termos. São amuletos que não dão sorte, mas não se jogam fora para não darem azar. E´ por isso que as aldeias devem ter sempre, pelo menos um tolo, para que a tolerância possa ser aprendida e exercida sem se pedir grandes concessões aos valores. Um ganho para a tranquilidade de consciência, que se alcança sem perdas morais a lamentar." (pag. 236)
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