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sábado, 26 de março de 2016

A Mulher

Autor: Meg Wolitzer
Edição: 2016/ março
Páginas: 288
ISBN: 9789724750743
Editora: Teorema

Sinopse:
A trinta e cinco mil pés de altitude, no conforto da cabina de 1ª classe do avião, Joan Castleman decide deixar o marido. Estão lado a lado, rumam a Helsínquia, onde ele, escritor de renome, irá receber o prémio literário de uma vida.
Na semiobscuridade, Joan mergulha numa intensa reflexão sobre a sua relação com Joe. O início tempestuoso, na universidade, onde ela era a aluna promissora e deslumbrada e ele o professor carismático e casado. E depois, o resto, a vida boémia em Greenwich Village, o nascimento dos filhos, e a decisão de subjugar o seu talento em prol da vida que acreditava querer.

Mas Joe revelou-se medíocre enquanto pai e marido, concentrando-se unicamente no seu dom. E Joan, entretanto, perdeu qualquer sentido de identidade, vivendo apenas como "a mulher do génio".
Agora, perante o apogeu da carreira literária do marido, é-lhe impossível refrear a memória do momento em que, ainda estudante, leu o primeiro conto dele. Chegou o momento de se confrontar com as consequências das opções que tomou tão cedo na vida - e do segredo que ambos sempre guardaram tão bem.

A minha opinião:
Joan Castleman, narradora e personagem principal conta a sua historia com Joe. Tal e qual como a sinopse revela, e o motivo porque quis ler este livro, que considerei a prenda perfeita para uma leitora convicta como eu. Por acaso, a leitura foi antecipada porque a minha generosa amiga deixou-mo ler primeiro. 

Não é uma leitura fácil ou óbvia como pode parecer, mas profunda e poderosa como apenas uma grande romancista consegue. O impacto da escrita de Meg Wolitzer é justamente porque funciona e ganha vida. O leitor mergulha  nas palavras e realiza o filme na sua cabeça. São palavras desencantadas, viscerais e irónicas, que tem o peso das decisões irreversíveis sobre o papel de mulheres brilhantes na vida de homens de sucesso que são os donos do mundo. O preço a pagar na década de 1950 em que as mulheres não conseguiam singrar e vingar simultaneamente no amor e na fama. Muitas ainda hoje não conseguem.
"(...) acho que se pode dizer que é uma conspiração para manter as vozes das mulheres abafadas e mínimas e as dos homens altas."    (pag. 67)

Sorumbático talvez. Em muitas passagens não parecia uma escrita feminina, noutras era intensamente feminina. Talento, casamento e filhos, realização pessoal e identidade, infidelidade, são muitos os temas abordados numa perspectiva muito pessoal e realista, mas principalmente o preço da fama.

Não li os "Interessantes" porque o que sei sobre esse romance ainda não me atraiu, mas depois de "A Mulher", vou considerar essa opção. 

Uma escolha adequada nestes dias longos de lazer e reflexão.

terça-feira, 15 de março de 2016

A Vida É Fácil, Não Te Preocupes

Autor: Agnes Martin-Lugand
Edição: 2016/ março
Páginas: 232
ISBN: 9789896650346
Editora: Suma de Letras

Sinopse:
Desde o seu regresso da Irlanda, Diane virou a página da sua tumultuosa história com Edward, determinada a reconstruir sua vida em Paris. Com a ajuda do seu amigo Felix, lança-se de cabeça na compra e abertura do seu café literário. E é aí, em As pessoas felizes lêem e bebem café, o seu refúgio, que conhece Olivier. É simpático, atencioso e principalmente compreende e aceite a sua recusa em ser mãe novamente. Diane sabe que nunca vai se recuperar da perda da sua filha.

No entanto, um evento inesperado muda tudo: as certezas de Diane, as suas escolhas, pelas quais tanto lutou, vão entrar em colapso, uma após a outra.
Será que Diane tem a coragem necessária para aceitar um outro caminho?

A minha opinião:
As pessoas felizes lêem e bebem café foi o romance anterior que me seduziu pelo titulo. Na ocasião, ainda não sabia que se tratava do café literário da Diane. A Vida É Fácil, Não Te Preocupes continua a ter esse efeito. Adoro o titulo deste romance. E continuo a adorar Diane e Edward, bem como Abby, Jack, Judith, Felix  e agora Declan.

Do que recordo, Diane estava a fazer um luto difícil e escapuliu se para a Irlanda por um ano, e nesse período ... conheceu uma família que lhe fez retomar a sua vida e regressar ao seu refúgio - Pessoas Felizes. Sei que fiquei um pouco desiludida porque esperava outro final, mas não imaginei que um novo romance surgisse para concluir em beleza.

As pessoas felizes fumam?! Diane e Edward sim, e fumavam mais quando não estavam felizes. Algo que tinham em comum, e desfrutavam sempre que podiam sem pejo.

Pobre Olivier. Empatia é o que sentimos pelas personagens e dai o sucesso deste romance que usa a formula do amor e da família para ultrapassar a dor e a perda, com uma escrita suave e tranquila que nos sussurra como se nos confidenciasse um segredo que devemos conhecer.

Quanto ao café literário, um sonho realizado como Diane o descreve.

"Eu queria que o Pessoas Felizes se tornasse um local de convívio, caloroso, aberto a todos, onde todas as literaturas encontrassem o seu lugar. Queria aconselhar os leitores permitindo-lhes sentir prazer de lerem as historias que tivessem vontade de ler, sem vergonha. Pouco importava que quisessem ler um prémio literário ou um sucesso popular, só uma coisa contava: que os clientes lessem, sem terem a impressão de estarem a ser julgados relativamente `a sua escolha. A leitura fora sempre um prazer para mim, desejava que as pessoas que frequentassem o meu café o sentissem, o descobrissem e, no caso dos mais refractários, que tentassem a aventura. Nos meus degraus, misturavam-se todas as literaturas; o romance policial, a literatura generalista, o romance sentimental, a poesia, o young adult, os testemunhos, os bestsellers e os títulos mais confidenciais. (...) Eu gostava do lado de caça ao tesouro de encontrar O livro. Os novos clientes eram iniciados progressivamente por uns e por outros."

Um prazer de ler.

domingo, 13 de março de 2016

A Amiga Genial e História do Novo Nome

Autor:  Elena Ferrante
Edição: 2014/ dezembro
Páginas: 272
ISBN: 9789896414795
Editora: Relógio D'Água



Sinopse:

A Amiga Genial é a história de um encontro entre duas crianças de um bairro popular nos arredores de Nápoles e da sua amizade adolescente.
Elena conhece a sua amiga na primeira classe. Provêm ambas de famílias remediadas. O pai de Elena trabalha como porteiro na câmara municipal, o de Lila Cerullo é sapateiro.
Lila é bravia, sagaz, corajosa nas palavras e nas acções. Tem resposta pronta para tudo e age com uma determinação que a pacata e estudiosa Elena inveja.
Quando a desajeitada Lila se transforma numa adolescente que fascina os rapazes do bairro, Elena continua a procurar nela a sua inspiração.
O percurso de ambas separa-se quando, ao contrário de Lila, Elena continua os estudos liceais e Lila tem de lutar por si e pela sua família no bairro onde vive. Mas a sua amizade prossegue.                                      
Autor:  Elena Ferrante
Edição: 2015/ julho
Páginas: 384
ISBN: 9789896415440
Editora: Relógio D'Água

Sinopse:
Este romance continua a história de Lila e Elena, tendo como pano de fundo a cidade de Nápoles e a Itália do século XX.
Lila, filha de um sapateiro, escolhe o caminho de ascensão social no próprio bairro e, no final de A Amiga Genial, vemo-la casada com um comerciante. Elena, pelo contrário, dedica-se aos estudos.
Ambas têm agora 17 anos e sentem-se num beco sem saída. Ao assumir o nome do marido, Lila tem a sensação de ter perdido a identidade. Elena, estudante modelo, descobre que não se sente bem nem no bairro nem fora dele.
No início, vemos Elena a abrir um caderno de notas onde Lila fala sobre a vida com o seu marido e as complicadas relações com a Mafia e os grupos neofascistas, que invadem os bairros com as suas proclamações.
Lila e Elena hesitam entre a tendência para a conformidade e a obstinação em tomar nas suas mãos o seu destino, numa relação conflitual, inseparável mistura de dependência e vontade de autoafirmação, em que o amor é um sentimento «molesto» que se alimenta do desequilíbrio até nos momentos mais felizes.

A minha opinião:
Tanto ouvi falar desta autora e desta tetralogia como um fenómeno, que não adiei. Comecei com algum receio que esta leitura que algumas amigas definiram como compulsiva e avassaladora ficasse aquém das minhas expectativas. Li os dois livros como se de um se tratasse e por essa razão optei por os referir em conjunto. Por si só, este aspecto já dá razão aos pareceres que ouvi.

O primeiro tem o subtítulo de Infância, Adolescência e o seguinte Juventude. A ação acontece num bairro pobre de Nápoles, uma pequena comunidade onde as duas protagonistas, amigas desde a primeira classe, Lenú (a narradora) e Lila/Lina, ou melhor Elena e Rafaela viviam com as famílias. No prólogo, são apresentadas as várias famílias/ personagens destas narrativas.

No primeiro livro não me rendi completamente, apesar de identificar e reconhecer sentimentos muitos próprios daquela fase que recordo, mas com o segundo, li sem querer parar, viciada na relação ambígua mas muito estreita destas duas jovens que seguiram caminhos dispares, nem sempre próximas, mas conscientes uma da outra. Como se fossem duas faces da mesma moeda e ora admirava uma pelas suas qualidades, ora desdenhava a outra pelos seus defeitos, mas depois mudava de perspectiva. Uma ligação difícil como o eram muitas que retrata, algumas marcadas pela violência e interligadas, que merece uma leitura atenta.

Pode parecer uma história banal mas há uma força contida nas palavras que transfigura esta narrativa. Um realismo cru que me fez sentir que se tratava de uma espécie de catarse para a autora ao relatar sentimentos e vivências de tempos idos. Por tudo isto, tenho de continuar a ler...