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sábado, 29 de dezembro de 2012

O funeral da nossa mãe

                                             

Autor: Célia Correia Loureiro
Edição: 2012, Outubro
Páginas: 437
ISBN: 9789898455482
Editora: Alfarroba
Sinopse:
Quando, aos 58 anos, Carolina Alves decide pôr termo à vida, deixa um pedido concreto às suas três filhas: que se reúnam na festa em honra da padroeira da vila e que recuperem os laços de sangue que as consagram irmãs. Luísa emigrou para Paris, decepcionada com a frieza da mãe; Cecília é pianista e vive num alheamento artístico constante e Inês refugiou-se na política para fugir à negligência da família.
Com a ajuda da tia Elisa, vão regressar aos campos de alfazema da infância e desvendar ao longo de quatro dias o passado inesperado de Carolina. Os seus erros, as suas fraquezas e, numa reviravolta inesperada, o acto vil que lhe permitiu prender a si há trinta e oito anos aquele que viria a ser o pai das suas filhas...
 
A minha opinião:
Um romance de emoções e afetos.
 
Já há algum tempo que descobri a alma lusa em inspirados e bem escritos romances de autores portugueses, contrariando assim o meu ceticismo e desconfiança sobre a capacidade e competência dos mesmos de me agradarem  com um romance que fica na memória. Claro que não me refiro aos conceituados e indiscútiveis autores da nossa literatura, mas a novos autores quase anónimos. Parabéns, este é mais um belissimo exemplo. Claro que sinto admiração e congratulo quem o consegue fazer tão bem.

Uma hisória de picos quando são revelados segredos do passado das personagens. Na sinopse, percepcionamos que se tratam dos segredos de Carolina desvendados com a sua morte e que deram origem à dificil relação afectiva dos pais, mas é muito mais do que isso. A  justificada aproximação das três irmãs e a convivência forçada por tão triste evento vai permitir exorcisar todos os fantasmas e avaliar tudo o que sabiam do passado conjunto e dos seus reais sentimentos. Uma catarse.
 
Analitica e muito descritiva dos ambientes, ideologias e caraterização das personagens é o que considero o ponto fraco desta leitura porque marca o ritmo como pausado (e não compulsivo como aprecio), até que uma nova revelação fosse apresentada ao leitor. Ainda assim, devido a uma boa conjugação de acção e  emoção, gostei muito deste romance. A empatia e proximidade com as personagens que "não são a história de ninguém mas serão certamente a história de alguém" tornam-na cativante e envolvente porque todos temos segredos e histórias a contar.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O último dia de um amor Eterno

Autor: Francisco Goldman
Edição: 2012, Novembro
Páginas: 360
ISBN: 9789898461339
Editora: Matéria-Prima
 
Sinopse:
Francisco Goldman era um homem sem sorte no amor e avesso a compromissos: a escrita bastava-lhe para viver. Até conhecer Aura Estrada, uma belíssima mulher e brilhante estudante de literatura.
A paixão de Aura pela vida e pela literatura preencheram o vazio existente na vida de Francisco. Casaram no Verão de 2005, no México.
O arrebatamento com que ambos encaravam a vida e o gosto pelo inesperado faziam prever uma longa vida juntos. Mas, em 2007, a dois meses de completarem dois anos de casados, Aura morre de forma trágica.

Sentindo-se responsável pela morte da mulher e profundamente ferido pela sua perda, Francisco entra numa espiral autodestrutiva. Porém, depois de ter chegado a equacionar pôr fim à sua própria vida, percebeu que o mais importante seria honrar e perpetuar a memória de Aura.
O último dia de um amor eterno é a homenagem prestada à mulher amada, à brilhante estudante e escritora, a uma vida cheia de amor e partilha.
Entre a ficção e a realidade, Goldman recupera tudo o que o uniu a Aura, revisitando-a, descobrindo-a, mesmo depois da sua morte, num relato por vezes duro, por vezes triste, mas também divertido.
O último dia de um amor eterno é, acima de tudo, um tributo e uma expiação da dor que surge quando se perde a amor de uma vida.
 
A minha opinião:
Muito dificil de ler e não vale a pena dissimular que talvez o obstáculo ou a falha seja minha porque não consigo avaliar ou julgar tão significativa perda.
De qualquer modo, apesar de a sinopse ser suficientemente objetiva para se perceber do que se tratava, há variadissimas formas de vivenciar um luto e uma tão grande perda. Este é um relato sentido e sofrido, em que a diversão é quase ausente (e não conforme a sinopse referenciava).
 
Uma escrita coerente, baseada em reminiscências e memórias, assim como nos diários que Aura deixou (ou não fosse ela uma mulher de letras), permitiram ao autor compor um quadro, mais ou menos próximo, de uma mulher dinâmica e entusiástica que muito admirou e amou, bem como reviver um curto período feliz da sua vida, abruptamente interrompido, quando numa praia do México, Aura foi enrolada numa onda e fragmentou a coluna. Todas estas emoções condensadas nesta narrativa "mexem" com o leitor e tornam a leitura um tanto exigente e perturbadora.

Relevante nesta narrativa é a relação de Aura com a mãe. Superprotetora e interventiva, a mãe, desempenhava um forte papel na vida da filha, do mesmo modo que Aura se sentia responsável pela mãe. Acentuadas diferenças culturais nesta relação maternal, se fizermos um paralelo com as relações que reconhecemos.

Importante testemunho de um grande amor que, deste modo, o autor exalta.
 
"Um acidente tão bizarro que aconteceu apenas a uma pessoa, Aura, e a mais nenhum dos incontáveis nadadores que fazem bodysurf em Mazunte há anos, dia após dia. Aura foi muito desafortunada. Morreu porque eu estava a ser eu mesmo, um adolescente eterno... Morreu porque, a irromper de amor, decidi juntar-me a ela dentro de água. Mas tudo isto também é uma fuga à VERDADE, contra a qual a minha narrativa diligentemente construída desaba como uma onda enorme de nada."
(pag.338)

sábado, 22 de dezembro de 2012

Boas Festas




A todos os que seguem ou visitam este blogue desejo um Feliz Natal e um 2013 melhor do que este ano que em breve termina. Que seja repleto de calor humano, cor e alegria.
Depois de um ano cinzento, marcado por notícias que nos inquietam e sobressaltam, mudemos para melhor.  Vamos colorir o panorama.
 
Muitas e boas leituras no sapatinho. 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Meu Encontro com a Vida


Autor: Cecelia Ahern
Edição: 2012, Julho
Páginas: 320
ISBN:9789722348492
Editora: Presença

Sinopse:
Nos últimos anos, a vida de Lucy Silchester não tem corrido como ela idealizara. No entanto, isso não parece incomodá-la, uma vez que para cada coisa desagradável que lhe acontece, há sempre uma maneira de a contornar contando uma mentira. Um dia, quando chega a casa, Lucy encontra um envelope com um convite para se encontrar com a vida, que aparentemente ela anda a negligenciar. A partir desse momento, as suas mentiras irão ser desmascaradas – a menos que Lucy aprenda a dizer a verdade sobre o que é realmente importante para si.Comovente, divertido e enternecedor, O Meu Encontro Com a Vida conta o que acontece quando desistimos da vida, mas ela se recusa a desistir de nós.

A minha opinião:
Adoentada e "hibernada", que mais poderia eu ler do que "O Meu Encontro com a Vida". Uma leitura mágica e fantasiosa que nos reporta para assuntos sérios com ligeireza e galhardice, ou não fosse um livro de Cecelia Ahern (autora de P.S. Eu Amo-te). Comparo-a a Marc Lévy no seu estilo singular e único, marcado por réplicas sagazes, respostas espirituosas, opiniões inteligentes, e assim levar-nos a reflexões profundas, balanços até, através de estórias inusitadas que se reflectem no leitor. Neste, Lucy confronta-se com uma outra personagen que não é mais do que a personificação da sua Vida.
"(...) coisas muito comuns na sociedade moderna. Estamos doentes, vamos ao médico, tomamos antibióticos. Estamos deprimidos, falamos com um psiquiatra, ele talvez nos dê antidepressivos. Temos cabelos brancos, vamos pintá-los. Mas, com a nossa vida, tomamos decisões erradas, às vezes sentimo-nos tristes, ou assim, mas temos de seguir me frente, não é? Ninguém consegue ver o nosso intimo, e se não se consegue ver - se uma radiografia ou uma câmara não o consegue fotografar -, nos dias que correm é porque não existe."
(pag. 112)
 
Como a sinopse revela, Lucy era uma mulher inteligente, espirituosa, encantadora, culta e viajada, mas como consequência do fim de uma relação afetiva com um egocêntrico convicto e empedernido, começou uma espiral de mentiras, que assentavam todas umas nas outras e tornou a sua vida uma grande mentira, assim como esvaziou de sentido a sua relação com os outros que nada de si, concretamente, sabiam.
Vida, ou Cosmo Brown, é a personagem que vem confrontar Lucy com a verdade e aproximar-se de todos os que realmente importam e se importam com a sua vida. Personagens fascinantes, todas bem definidas no enredo e bem caraterizadas.
 
"Como passei a carregar esse enorme segredo de que ninguém sabia, essa grande bola de mágoa que se transformara em raiva, que muitas vezes se transformou em pena, depois em solidão porque nunca tive as conversas necessárias para me ajudarem a superar como deve ser, sentia-me sózinha na minha secreta realidade. (...)
Caíra de uma enorme altura e ficara presa naquilo a que se poderia chamar um sítio bastante frágil que fácilmente se quebraria fazendo-me cair de novo... "
(pag. 54)
 
Sempre que leio algum romance de Cecelia Ahern fico comovida e divertida, o que parece uma combinação de opostos - uma contradição. Emoção e Humor. Penso que essa combinação é a razão do seu sucesso e o motivo porque desejo ler o que escreve. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A Magia das Estrelas

Subtítulo: A fabulosa vida de Konstantin
Autor:  Tom Bullough
Edição: 2012, Outubro
Páginas: 212
ISBN: 9789898461452
Editora: Matéria-Prima

Sinopse:
Estamos no Inverno de 1867, em Ryazan, uma cidade nas margens do rio Oka, na Rússia Central. Konstantin tem dez anos e os dias cheios de sonhos de voo — até Moscovo, até às estrelas distantes. Um dia, apanha uma constipação nos bosques gelados, perto de casa, e todo o seu mundo se torna silencioso. Surdo depois da escarlatina, as perspectivas de futuro parecem desesperadas. Apenas o seu encantamento pela nova era de mecanização e as suas extraordinárias visões acerca do futuro da humanidade parecem fazer chegar-lhe alguma esperança.
Para fugir à Terra, Konstantin aprende que tem de viajar a uma velocidade dez vezes superior à de uma bala de espingarda, e oitocentas vezes maior do que a de um comboio expresso. Mas como atingir tão incrível velocidade?
Tom Bullough, dá-nos a conhecer o ambiente de um país no final do século XIX.
Das florestas infestadas de lobos, aos bordéis de Moscovo, dos confins da vida na aldeia, ao deslumbramento da Era do Vapor, de uma terrível tragédia à maravilhosa descoberta de um grande amor, A Magia das Estrelas, o brilhante e inspirador romance de Tom Bullough, conta-nos a história extraordinária, e real de Konstantin Tsiolkovsky, o primeiro homem a acreditar que viajar no espaço iria ser uma realidade. A história de um homem, da natureza e do ilimitado poder da imaginação.

A minha opinião:
Raramente me distancio de uma narrativa a ponto de interromper a leitura e não desejar retomá-la. Assim se passou com este livro, por várias razões. Umas subjectivas, outras não. As subjectivas é desnecessário esmiuçar porque serão certamente temporárias e transversais, como o cansaço e o stress normal desta época do ano. As relacionadas com a narrativa é que me tenho esforçado por compreender.
Gosto de romances de época ou históricos, gosto de histórias de vidas reais que algumas menos romanceadas dão interessantes biografias, outras romances fascinantes e envolventes, mas não é este o caso. Falta empatia e envolvimento numa narrativa que considerei árida e gélida como as paisagens descritas ou as pouco expressivas personagens. A pobreza/ miséria também me afetou um pouco. O desenvolvimento da personagem como professor foi o que mais me cativou.

Escrita cuidada e fluída numa linguagem que não domino apesar de simplificada. Fisica e matemática. Ui...
Konstantin é um rapaz diferente. Introspectivo e muito inteligente focou o seu olhar e interesse no que estava longe do seu alcance - no céu. 
As circunstâncias que rodeavam o passarinho (como a mãe o chamava) eram dificeis. Terriveis mesmo, mas ele sobreviveu  à escarlatina que o condenou à surdez "parcial" e para o qual inventou a  corneta acústica e venceu como pai da ciência espacial russa.

Talvez seja um romance para retomar mais tarde e ler pausadamente.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Zonas Íntimas

Autor:  Charlotte Roche
Edição: 2012, Juhho
Páginas: 247
ISBN: 9789892319803
Editora: Lua de Papel

Sinopse:
Logo nas primeiras páginas o leitor é guiado, com arrepiante despudor, para o último reduto da intimidade: o quarto de casal. É ali, debaixo dos lençóis, no decurso de um fellatio, prolongada e minuciosamente descrito, que Elizabeth se apresenta. Ela é uma mulher de 33 anos, mãe de uma filha de sete, a viver o seu segundo casamento. É a personagem principal, mas também o coro grego; expõe-se mas também se observa à distância. E nesse duplo processo, já não é apenas uma mulher casada, mas a mulher contemporânea, onde se desvendam as terríveis cicatrizes da modernidade.
Zonas Íntimas é um romance que nada teme, que despreza rótulos ou tabus. Ergue-se em torno da voz desabrida de uma mulher que não consegue perdoar a mãe (a negação do sexo) e que tenta reconciliar-se com o passado (a traumática perda de três irmãos). Nesse sôfrego monólogo interior, onde cruamente se expõem as marcas da contemporaneidade (a morte de Deus, o ambiente), o sexo surge já não como metáfora, mas como âncora - é no sexo, e pelo sexo, que Elizabeth se tenta (re)construir, perseguir a intimidade e, em última análise, sobreviver.

A minha opinião:
A sinopse e as criticas deixaram-me intrigada em ler um romance que tanto poderia gostar como detestar. Ponderei inclusive não o terminar, mas a curiosidade sobre todos aqueles controversos e perturbados pensamentos e atos descritos por Elizabeth durante um curto período de três dias (de terça a quinta-feira) num formato que poderia ser um diário solicitado pela psicoterapeuta que a acompanhava há 8 anos, levou-me a conclui-lo.

Não sei muito bem o que pensar e sentir sobre este romance intenso, perturbador e até neurótico mas acentuamente de cariz sexual. A personagem principal desnuda corpo e alma numa busca desesperada de algo que não está ao seu alcance e que divide o leitor entre a compaixão e o desdém. A obscessão com a morte ou a perda relacionada com a morte dos seus três irmãos num acidente de automóvel no dia do seu casamento, o divórcio dos pais em criança e as curtas  relações afetivas da mãe com vários homens, condicionaram o seu modo de vida e a sua sexualidade. Aliás, tudo é resumido na intimidade e sexualidade, e narradora e personagem princípal Elizabeth reconhece-se como doente e com demasiado tempo para se ocupar dos seus defeitos.
"(...)seria melhor uma guerra, uma fuga ou uma formação profissional qualquer, pois assim poderia libertar-me um pouco dos meus pais, do meu marido, da minha psique, da minha sexualidade."
(pag. 229)
 
Um tanto chocante ou perturbador, não por pudor, mas porque há  algum paralelo com o sentir real em determinadas circunstâncias.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Tempo dos Amores Perfeitos


Autor:  Tiago Rebelo
Edição: 2012, Julho
Páginas: 620
ISBN: 9789892320168
Editora: ASA

Sinopse:
Em O Tempo dos Amores Perfeitos, Tiago Rebelo conta-nos as aventuras de um oficial português em Angola, nos finais do século XIX, nos conturbados anos que se seguiram ao Ultimatum britânico. Num universo de ficção e veracidade histórica acompanhamos a história de amor do jovem tenente Carlos Augusto de Noronha e Montanha, um antepassado do próprio escritor, que é destacado para algumas das operações mais difíceis no interior de Angola, e Leonor, filha do governador, que Carlos conhece numa das travessias Lisboa - Luanda.
Intensamente apaixonados vêem, no entanto, a sua relação amorosa comprometida por conflitos de interesses que opõem a família de Leonor ao tenente Montanha.

A minha opinião:
Que grande calhamaço!!!
Sei que Tiago Rebelo tem uma escrita fluída e ligeira, quase como que passando ao papel o que poderia contar verbalmente, mas fui surpreendida pela dimensão do livro que ainda assim li prazeirosamente. 
 
A nossa História recente num romance de época. A importância da expansão territorial dos portugueses em África com descrições coloridas e vivas, num tempo de grandiosas expedições e notáveis feitos de coragem, que só podem analisados adequadamente contextualizando os acontecimentos.
  
"Eram tempos heróicos aqueles, arriscava-se a vida por uma pátria que ousara ser do tamanho do mundo e que entregara a nobre missão  de o descobrir a sonhadores de boa índole, homes de grande engenho e determinação que tinham atravessado oceanos sem a certeza de nada, senão de que navegavam para a morte ou para a glória. ... Agora, séculos passados, (...) A coroa perdia o brilho, a anarquia ganhava terreno e o império esboroava-se os poucos. Mas em Àfrica tudo parecia diferente."
(pag.193)
 
Para tal contribuiram as aventuras militares do tenente Carlos Augusto de Noronha e Montanha e o seu romance com Leonor, uma jovem inadequada pelos convenções e expetativas  que fazem esse enquadramento de época com realismo e riqueza de detalhes. O que mais me encantou foi a apaixonante e díficil relação deste casal, que comunicava por carta devido à distância que os separava em Angola e o papel que estava destinado às mulheres da classe social de Leonor nesses tempos.
 
"Leonor não tinha muitas ilusões. Sabia que nascera numa sociedade de homens, feita para os homens, que lhes concedia todos os direitos ao mesmo tempo que coarctava as liberdades femininas por motivos que podiam ser histórica e culturalmente explicáveis, mas que, pelo menos a ela, soavam muito a hipocrisia. As mulheres eram educadas para serem subservientes ..."
(pag.53)

domingo, 2 de dezembro de 2012

Fragmento

"Estamos pior do que nunca, atolados pela crise política e financeira, com a economia devastada pela depressão internacional. O país tem vivido acima das suas posses e não produz nada, não tem uma indústria capaz. Estamos nas maõs das potências europeias, ameaçados pela cobiça inglesa e alemã em África e pelo iberísmo espanhol em casa ... é um desastre."
(pag. 33)
 
(ora bem, onde é que eu já li ou ouvi parte disto... a História repete-se...)

domingo, 25 de novembro de 2012

O Aroma das Especiarias

Autor:  Joanne Harris
Edição: 2012, Setembro
Páginas: 496
ISBN: 9789892320106
Editora: ASA

Sinopse:
Quando Vianne Rocher recebe uma dessas cartas, ela sente que a mão do destino está a empurrá-la de volta a Lansquenet-sur-Tannes, a aldeia de Chocolate, onde decidira nunca mais voltar. Passaram já oito anos, mas as memórias da sua mágica chocolataria La Céleste Praline são ainda intensas. A viver tranquilamente em Paris com o seu grande amor, Roux, e as duas filhas, Vianne quebra a promessa que fizera a si própria e decide visitar a aldeia no Sul de França.
À primeira vista, tudo parece igual. As ruas de calçada, as pequenas lojas e casinhas pitorescas… Mas Vianne pressente que algo se agita por detrás daquela aparente serenidade. O ar está impregnado dos aromas exóticos das especiarias e do chá de menta. Mulheres vestidas de negro passam fugazes nas vielas. Os ventos do Ramadão trouxeram consigo uma comunidade muçulmana e, com ela, a tão temida mudança. Mas é com a chegada de uma misteriosa mulher, velada e acompanhada pela filha, que as tensões no seio da pequena comunidade aumentam. E Vianne percebe que a sua estadia não vai ser tão curta quanto pensava. A sua magia é mais necessária do que nunca!

A minha opinião:
O último romance e o terceiro da série "Chocolate", que para mim, é o primeiro em tudo, porque esta autora é uma estreia absoluta. Vi o filme baseado no primeiro livro desta série, com  Juliette Binoche e Johnny Depp e recordo vagamente o ambiente bucólico daquela aldeia e a presença subtilmente distinta de Vianne. Uma mulher livre, que se deslocava com o vento, com capacidades extrassensoriais. A mãe considerava-se bruxa.
"Essa palavra está sobrecarregada agora com história e preconceitos. As pessoas que dizem que as palavras não têm poder não sabem nada sobre a natureza delas. Bem colocadas, podem pôr fim a um regime; podem transformar o afeto em ódio: podem começar uma religião ou mesmo uma guerra. As palavras são as pastoras das mentiras; conduzem os melhores de nós ao matadouro."
(pag.258)

Esta estória é contada a duas "vozes"; Padre Francis Reynaud e Vianne em capítulos alternados durante aproximadamente um período de tempo correspondente a um mês - enquanto decorria o Ramadão, sobre uma guerra ... "(...) entre homens e mulheres; velhos e novos; amor e ódio; Oriente e Ocidente; tolerância e tradição." (pag. 377)

Como o vento, ora suave e agradável, ora violento e tumultuoso, também assim se pode descrever esta narrativa. Enfeitiçou-me e levou-me perplexa ao longo das suas quase 500 páginas "aconchegando-me num casulo de doçura".

Pessoas e a sua interação que pode ser inquinada com um elemento numa pequena comunidade marcada pela diferença e pela mudança. As crianças tem a estranha faculdade de as aceitar. Mas, nós os adultos julgamo-nos tão espertos que não sabemos do que precisamos e deixamo-nos enganar ou manipular. É fantástico quando um livro nos conduz a uma reflexão e nos dá muito mais do que aquilo que esperávamos.
"Se o mundo fosse assim tão simples para nós... Mas nós temos a estranha faculdade de nos concentrarmos na diferença; como se excluir os outros pudesse tornar mais forte o nosso sentido de identidade. No entanto, em todas as minhas viagens descobri que as pessoas são geralmente iguais em todo o lado. Sob o véu, a barba, a sotaina, é sempre o mesmo mecanismo. Apesar daquilo em que a minha mãe acreditava, não há magia no que fazemos. Vemos porque olhamos para além de toda a confusão do que os outros veem. As cores do coração humano. As cores da alma."
(pag. 235)

sábado, 17 de novembro de 2012

Eu tenho um sonho



Subtítulo: Os Discuros que Mudaram a História
Autor:  Ferdie Addis  
Edição: 2012, Setembro
Páginas: 184
ISBN: 9789724745008
Editora: Texto Editores

Sinopse:
Podem as palavras mudar o mundo? Ou palavras leva-as o vento?
Por vezes, quando as circunstâncias envolventes parecem demasiado negras para haver qualquer esperança, são palavras que envolvem, elevam e motivam populações a lutar. As palavras podem desafiar ditadores: «lutaremos nas praias»; podem começar revoluções: «Liberdade, Igualdade, Fraternidade»; podem criar novas nações. «consideramos estas verdades como auto-evidentes». Outras, dão início a novas ideologias: «os fracos herdarão a terra».
Este livro apresenta momentos memoráveis em que o futuro foi decidido por palavras pronunciadas por homens e mulheres de fortes convicções. Desde palavras absurdas a inspiradoras, de divinas a diabólicas, estes são os discursos que mudaram a História e deixaram a sua marca no mundo actual.
 
A minha opinião:
Um pequeno grande livro. Simples, acessível e sintético. De quando em quando é bom ler para saber ou quiça recordar, palavras inflamadas, inspiradas ou proféticas que nos deem alguma compreensaõ e alento sobre a capacidade que o ser humano tem de se unir em torno de uma causa e superar desafios. Sem qualquer posição política ou ideológica, excepto, a razão e a coerência, somos capazes de nos surpreender com o extraordinário poder da palavra e de um bom discurso.
Senão vejamos o exemplo de uma controversa senhora, Margareth Thatcher (1980):
 
"Se gastar dinheiro como água fosse a resposta para os problemas do nosso país, não teriamos problemas agora. Se alguma vez uma nação gastou, gastou e voltou a gastar, foi a nossa. Hoje esse sonho chegou ao fim. Todo esse dinheiro não nos levou a parte alguma, mas continua a ter de vir de algum lado. Aqueles que nos exortam a aliviar o aperto, a gastar ainda mais dinheiro indiscriminadamente, na crença de que ajudará os desempregados, não estão a ser bondosos, compassíveis ou solícitos.
(...)
Se o nosso povo sentir que faz parte de uma grande nação e estiver preparado para desejar os meios de a manter grande, uma grande nação seremos e continuaremos a ser.
(...)
Permitam-nos então que resistamos às lisonjas dos fracos; permitam-nos que ignoremos os uivos e ameaças dos extremistas; permitam-nos que nos conservemos coesos e façamos o nosso trabalho e não falharemos. "
 
EU TENHO UM SONHO!
 

O Livro dos Perfumes Perdidos

Autor:  M. J. Rose
Edição: 2012, Outubro
Páginas: 420
ISBN: 9789897240393
Editora: Clube do Autor

Sinopse:
Um segredo pelo qual vale a pena morrer...Jac L'Étoile sempre foi ensombrada por visões do passado e as suas recordações mais antigas misturam-se com as lembranças dos aromas exóticos que cresceram com ela, enquanto herdeira de uma tradicional companhia de perfumes.
Quando Robbie - que assumiu o controlo da Maison L'Étoile das mãos do pai - contacta a irmã Jac para lhe falar de uma espantosa descoberta feita nos arquivos da família, esta mostra-se cética. Porém, Robbie desaparece antes de partilhar a sua descoberta e Jac mergulha num mundo que acreditava ter deixado para trás.
Jac viaja até Paris a fim de investigar o desaparecimento do irmão e descobre que o segredo de família tem que ver com uma misteriosa fragrância desenvolvida nos tempos de Cleóptera. Serão os rumores que circulam verdadeiros? Poderá este antigo perfume deter o poder de desencadear memórias de vidas passadas e provar que a reencarnação é uma realidade? Se este tesouro tiver de facto o poder de mudar o mundo, nesse caso justificar-se-á que vidas sejam sacrificadas em seu nome...
O Livro dos Perfumes Perdidos combina história, paixão e suspense numa inebriante teia que nos leva do Egito de Cleóptera aos terrores da Revolução Francesa, dos confrontos do Tibete com a China ao encanto da moderna capital francesa.

 
A minha opinião:
Intrincado.  Uma elaborada e algo complexa história, bem contada, mas nada fácil de ler. Exige alguma atenção e concentração para entrar na trama e perceber o papel de cada uma das várias personagens.

Certas temáticas atraem-me: Espiritualidade, misticismo, mitologia, crenças, História. Nesta narrativa temos uma história ficcional que mistura uma grande quantidade de factos, resultado da pesquisa e estudo da autora, conjugado com dados da investigação efetuada ao mundo dos aromas e dos perfumes. No fim, temos as notas de autora que revela o que existe de real no que lemos nesta obra.

"Os perfumes despertam a memória. É possível tropeçarmos sem querer numa fragância e recordarmos de repente um dia inteiro da nossa infância... e será uma lembrança tão real e vívida como se tivesse sucedido há umas horas."
(pag. 117)

A importância dos cheiros que nos conduzem a extraordinárias associações.

Jac L' Étoile é uma personagem com um nariz muito sensível, descendente de uma prestigiada familia de perfumistas, perseguida por alucinações, sonhos ou surtos psicóticos provocados por estímulos olfactivos, desde o drama em adolescente com a morte da mãe.
Com o negócio de familia em risco, fragmentos de um antigo artefacto egípcio com hieróglifos inscritos - lendário segredo de familia - era o instrumento mneumónico mais disputado por um psicólogo reencarnacionista que cuidara de Jac e pela máfia chinesa interessada em impedir uma nova onda de simpatia pela causa tibetana. E assim, temos o mote para uma aventura que conduz às catacumbas de Paris e ao fascínio pelas crenças e rituais tibetanos.

Uma bela capa para um belo romance.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Fragmento



"Não se devia deitar abaixo o passado para abrir caminho ao futuro. Era a forma mais certa de se perderem lições. A arte de manter uma civilização viva, tal como a arte de fazer perfumes, estava na mistura, na combinação."
(pag.63)

sábado, 10 de novembro de 2012

A menina na falésia

Autor:  Lucinda Riley
Edição: 2011, Maio
Páginas: 528
ISBN: 9789892318448
Editora: ASA

Sinopse:
Grania Ryan tem em Nova Iorque a vida com que sempre sonhou. Tudo é perfeito até ao dia em que o seu desejo mais íntimo é brutalmente estilhaçado. Arrasada, Grania decide voltar à Irlanda e aos braços da sua adorada família. E é aqui, à beira de uma falésia, que conhece Aurora Lisle, a menina que vai mudar profundamente a sua vida.
A ligação entre ambas é imediata e profunda. Pouco a pouco, Grania descobre que as histórias das suas duas famílias estão estranha e intrinsecamente ligadas…

De um agridoce romance na Londres do tempo da grande guerra a uma relação tempestuosa na Nova Iorque contemporânea; da devoção a uma criança terna e carente a memórias esquecidas de um irmão perdido, o passado e o presente das famílias Ryan e Lisle estão unidos há um século. Cem longos anos de equívocos e segredos, paixões e ódios… Apenas a intuição e a coragem de Aurora poderão quebrar o feitiço e vencer as barreiras que o passado ergueu.
Assombrosa, terna e comovente, a história de Aurora é uma inspiração para todos nós. Um exemplo de como a esperança e o amor podem ultrapassar todas as perdas.

A minha opinião:
Este romance é realmente uma preciosidade. Para ler e reler.  Retardei o mais possível a sua leitura, pelo prazer de o ler.

Nesta época do ano, que bem que sabe aninharmos confortavelmente com um bom livro, uma música suave, uma bebida reconfortante, e deixarmo-nos enlevar numa história credível e bem contada como esta.

Ao iníciar a leitura, deparei-me com um dos "apontamentos" da Aurora Lisle e fiquei encantada com a narradora que, retrocede no tempo para recordar a criança precoce que era. Uma criança que cresceu com um pai atrapalhado e sem o afeto da mãe, até conhecer Grania e a familia Ryan. Mas, recua ainda mais, para contar a história de personagens que morreram antes do seu tempo.
Histórias de vidas entrelaçadas e de familias com uma História conjunta, através de um leque de personagens boas e más, em que o amor é a causa das escolhas que se fazem. A magia do amor nas suas diversas formas.
Como se de um conto de fadas se tratasse, mas este retrata a realidade, com a sua complexidade e mistérios que, gradualmente desvendamos num crescendo de interesse e empatia pelas personagens.

Uma escrita fluida e singela sem grandes "floreados", mas extremamente eficaz pelas emoções que provoca no leitor, que se envolve nesta extraordinária narrativa.

"Deram-me o nome de uma princesa  de um célebre conto de fadas. Talvez seja essa a razão pela qual eu sempre acreditei em magia. E à medida que crescia, apercebi-me de que um conto de fadas é uma alegoria para a grande dança da vida que todos empreendemos desde o momento em que nascemos. 
E não podemos fugir a ela até ao dia em que morremos."   
(pag. 10)
 
"Bom. Eu vou morrer. Antes de ter sido corrompida. E dessa forma, ainda consigo acreditar na magia do amor. Eu acredito que as nossas vidas, tal como os contos de fadas - as histórias que foram escritas por humanos como nós, através das nossas próprias experiências de vida - terão sempre um Herói e uma Heroína, uma Fada Madrinha e uma Bruxa Malvada.
E esse amor e bondade, e fé, e esperança irão sempre levar a melhor.
...
Por favor, se puder, lembre-se de mim e da história da minha familia num cantinho da sua mente. Também é a sua história, porque diz respeito à humanidade.
E acima de tudo, nunca perca a fé na beleza e na bondade da natureza humana.
Estão sempre presentes; mas, por vezes, tem de as procurar com mais afinco."
(pags. 516/517)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Solstício de Verão

Autor:  Tara Moore
Edição: 2012, Junho
Páginas: 440
ISBN: 9789897260049
Editora: Quinta Essência

Sinopse:
O Baile do Solstício de Verão dos Granville é sempre inesquecível. Todas as pessoas importantes da sociedade irlandesa ​​reúnem-se em Carrickcross House - a propriedade rural da família - para uma noite de folia. Mas este ano a noite é muito especial: a matriarca Honoria vai anunciar o noivado do seu neto Rossa com Ashling Morrison. Ashling está delirante. Alto, moreno e bonito, Rossa é o partido perfeito, mas será demasiado bom para ser verdade?

Por que motivo está Honoria tão interessada em fazer Ashling - enteada da sua arqui-inimiga Coppelia - parte do clã Granville? Poderá Carrick, o irmão de Rossa, manter a sua posição como herdeiro legítimo? E o que fará a implacável Coppelia? Com a promessa de convidados distintos, bebidas, danças e assassínio... será um solstício de verão inesquecível!

A minha opinião:
A capa sugeria-me um típico romance "cor-de-rosa" com glamour, paixão e intriga. Romance que me permitiria "desligar" das preocupações e ansiedades do dia-a-dia, enquanto me deixava seduzir  por personagens carismáticas em ambientes luxuosos.
Não poderia estar mais enganada. E essa é a mais-valia deste romance. De me surpreender. Mas não me seduziu.

Crime, mistério, intriga e vingança num romance repleto de segredos sórdidos, que vão sendo desvendados em ritmo acelerado sobre personagens que de belas, tinham apenas o aspeto exterior. Até a linguagem utilizada entre os mesmos é grosseira (ordinária até),  o que não seria previsível ou expectável entre personagens da classe alta e de refinada educação. Soberba, ganância, prepotência, manipulação, perversão e vícios vários (alguns de indole sexual, eventualmente para combater o tédio ou quiça a perda enquanto muito jovens dos pais), são alguns dos adjetivos que poderão caracterizar o comportamento de certas personagens e esses já não são inesperados. O expoente máximo de insanidade maléfica e perversa são os "anjos caídos" - os gémeos Sapphire e Indigo Granville. Depois disso, a excêntricidade e homossexualidade de Jaspar Granville, a par com o encantador e inescrupuloso Rossa. O melhor, é sem dúvida, Carrick, o herdeiro legítimo de um património cobiçado - Carrickcross.

Escrita simples e acessível em que se nota um maior cuidado com a acção do que com o conteúdo. Como se de um seriado ou folhetim radiofónico se tratasse e em que se procura uma trama contínua de impacto. Alguma superficialidade e inexpressividade quer das personagens, quer do próprio enredo. Não creio que retome esta autora em outras leituras.

domingo, 28 de outubro de 2012

Álbum de Verão

Autor:  Emylia Hall
Edição: 2012, Junho
Páginas: 304
ISBN: 9789722635240
Editora: Civilização

Sinopse:
Beth Lowe recebe uma encomenda.
Lá dentro há uma carta que a informa da morte da mãe, com quem cortou relações há muito tempo, e um álbum de recortes que Beth nunca tinha visto. Tem um título – Álbum de Verão – e está repleto de fotografias e lembranças reunidas pela mãe para recordar os sete gloriosos verões que Beth passou na Hungria rural quando era criança.
Durante esses anos Beth dividia-se entre os pais divorciados e dois países muito diferentes. A sua encantadora mas imperfeita mãe húngara e o seu pai inglês carinhoso mas reservado, a fascinante casa de uma artista húngara e uma casa de campo sem vida no interior de Devon, Inglaterra. Esse tempo terminou do modo mais brutal quando Beth completou dezasseis anos.
Desde então, Beth não voltara a pensar nessa fase da sua infância. Mas a chegada do Álbum de Verão traz o passado de volta – tão vivo, doloroso e marcante como nunca.

A minha opinião:
Encantador enquanto aborda a fase mais feliz, inocente e cheia de esperança de Beth em sete verões (dos 10 aos 16 anos de idade). Marcada pela dor e saudade com a perda dos que mais amou nos quatorze anos subsequentes.

Apesar da sua reduzida dimenão, não é um livro fácil de ler. Torna-se muito extenso e algo demorado com a sua prosa muito descritiva, lirica sobre um lugar de doce memória  - Villa Serena, na Hungria.
Imagens campestres idílicas de verões passados, recordadas gradualmente e na medida do amadurecimento/ crescimento da personagem enquanto desfolha um álbum de fotos deixado por Marika, que o concebeu com esmero e carinho.
 
Um romance denso sobre sentimentos. Sentimentos de afeto recalcados para se proteger da dor e da mentira ou omissão que acompanhou essa fase da sua vida.
Bem escrito e até belo mas que me deixou "um sabor amargo". As boas criticas que li não corresponderam à minha expetativa. Ou a minha predisposição atual não era favorável a um romance tão sentimental. A relação distante/ pouco comunicativa de Beth com o pai, afetuosa com a "mãe"e  Zóltan e apaixonada pelo Tamás perturbaram-me um pouco pelo muito e simultâneamente pouco que durou.
 
"Existe uma espécie triste de poesia nos incautos. Por cada catástrofe que se abate sobre nós, houve um tempo anterior em que de nada suspeitávamos. Mal sabíamos a que ponto erámos felizes."
(pag. 17)
 
"Uma coisa sei: as velhas feridas nunca desaparecem. São, aliás, as coisas que nos moldam, são as coisas para que olhamos quando começamos a fragmentar-nos."
(pag. 24)
 
"A sua relação com o álbum é estranha. Demorou tempo a compreendê-lo, a desejar deliciar-se com as suas páginas. Agora sabe que não é apenas o seu mundo que ama mas o facto de ele existir."
(pag.299)

sábado, 20 de outubro de 2012

A noiva despida

Autor:  Nikki Gemmell
Edição: 2012, Outubro
Páginas: 320
ISBN: 9789892321301
Editora: Edições ASA

Sinopse:
Uma mulher desaparece. Ela era a esposa perfeita, a mãe exemplar, uma mulher irrepreensível. O que dizer então do explosivo diário que deixa para trás? Nas suas páginas, ela revela pormenores surpreendentes da sua jornada de descoberta e libertação sexual.
Ela inicia o seu diário em Marrocos. Está em lua-de-mel. Acredita ser feliz na sua vida confortável e convencional. Mas ela precisa de mais. Ao descobrir um livro raro, de uma autora anónima do século XVII, sente-se inspirada pela sua heroína fogosa, que desafia as convenções e busca o prazer.
Mas o que começa apenas na sua imaginação, rapidamente ganha contornos de urgência. Pela primeira vez, ela põe em prática o que de mais íntimo e inconfessável lhe vai na alma. Assim começa uma vida dupla na qual transpõe a barreira entre fantasia e realidade, num mundo onde o desejo não conhece limites. Mas o preço dessa liberdade pode ser demasiado alto…
A Noiva Despida é uma aventura nos meandros do sexo e do amor. Uma partilha de confidências que apenas as melhores amigas ousam fazer. No final, é impossível evitar a pergunta: até que ponto conhecemos verdadeiramente outra pessoa?
 
A minha opinião:
Um Diário Intimo em 138 "lições"/capítulos, apoiado num manuscrito seiscentista de uma autora isabelina."Uma perspectiva nua e crua do casamento - o que uma esposa pode pensar mas nunca diria" (pag. 263). Escrito anónimamente para não expor toda uma vida secreta, de verdades reprimidas sobre o que realmente sentia e o que realmente queria.
 
FASCINANTE, ERÓTICO E OBSCENO. Uma nova edição atual.
 
"A voz forte e singular nunca vacila, o texto tem um rigor tal" que, sentimos contraditórias emoções na forte e até agressiva narrativa. Despudorado e perturbador na sua exposição, com dúvidas, ansias e controversos pareceres sobre o marido Cole, o amante Gabriel e a melhor amiga Theo.

Sensações, perceções, reações, emoções e sentimentos, tudo aflui à superfície enquanto o  descreve esta jovem mulher na faixa dos 35 anos. Um livro que inquieta e desassossega, pelo muito que oculto se passa no universo feminino através desta "atriz" esposa e mãe. A diferença é que são desejos vividos e realizados, não sujeitos ao espaço de uma fantasia.
 
"Ninguém, a não ser o teu marido, sabe da cautela que rege a essência da tua vida. A tua vida de adulta tem sido um progressivo retiro da curiosidade e do espanto, uma infidável série de atrasos e adiamentos. Querias ser tanta coisa, antigamente, mas a vida teimou em intrometer-se. Brilhaste no curso de Jornalismo, mas nunca foste suficientemente ambiciosa para uma redação. Tinhas pavor dos telefonemas frios, de invadires a vida das pessoas. Fizeste um mestrado e deixaste-te levar pelo ensino e sempre duvidaste das tuas capacidades ... Acomodaste-te. Esquivaste-te à criatividade, ao voo, ao risco, nunca tiveste coragem de dar asas a um sonho, qualquer sonho."
(pag. 110)
 
Uma dupla identidade numa história pessoal, sobre aquele tipo de intimidade que abre brechas na vida privada e que não lemos com indiferença ou distanciamento porque em algumas passagem reflete-se em quem o lê.
Obrigatório para quem quer experienciar um tipo de leitura diferente. Uma leitura participativa.

domingo, 14 de outubro de 2012

O Mercador de Livros Malditos



Autor:  Marcello Simoni
Edição: 2012, Setembro
Páginas: 384
ISBN: 9789892240294 
Editora: Clube do Autor
 
 
Sinopse:
Uma incursão apaixomante pela história. Uma viagem no tempo até à época medieval.

É quarta-feira de cinzas do ano de 1205. O padre Vivïan de Narbonne é perseguido por um grupo de cavaleiros que ostentam estranhas máscaras. O padre possui um bem muito precioso que precisa de proteger a todo o custo, mesmo que tal possa significar a sua morte.
Treze anos passaram sobre este dia tenebroso. O amigo do padre, Ignazio de Toledo um mercador de relíquias, é encarregado de seguir o rasto de um livro raro, o Uter Ventorum. Diz-se que essa cópia de certos manuscritos persas pode conter o método de evocar os anjos e a sua divina sabedoria. As criaturas sobrenaturais, uma vez invocadas, estariam dispostas a revelar os segredos dos poderes celestes.
E assim se inicia a viagem de Ignazio através da Itália, da França e de Espanha em busca de um manuscrito que alguém terá desmembrado em quatro partes, escondido cuidadosamente e protegido por meio de intrincados enigmas. Só que o mercador não é o único a procurá-lo. Quem será o primeiro a conseguir descobri-lo? E o que estará cada um disposto a arriscar para desvendar o mistério?
O Mercador de Livros Malditos é uma história envolvente, marcada por intrigas, segredos ocultados durante séculos e mistérios que vão para lá do conhecimento de sábios e de alquimistas. Afinal, que segredo poderá conter a chave para o domínio absoluto do mundo?
 
A minha opinião:
Este é um daqueles casos em que a sinopse revela quase tudo sobre a história passada na obscura Idade Média, como a capa tão bem o documenta. Ainda assim, é uma bem urdida trama sobre uma tenaz e audaciosa busca de um misterioso livro, através de enigmáticas pistas que apenas a mente iluminada de Ignazio de Toledo decifra. No seu rasto, tenebrosas forças do mal procuravam apoderar-se desse objeto de culto, que acreditavam dar amplos poderes a quem o possuisse.
 
"- Diz-se que a Santa Vehme foi instituída por Carlos Magno para manter a ordem nas terras germânicas. Tratava-se de um tribunal secreto composto por cavaleiros que tinham o direito de vida ou de morte sobre quem quer que fosse. Ninguém estava isento do seu castigo, nem sequer os nobres. Com o tempo, vieram a ser chamados de "Videntes". Reivindicam as suas execuções deixando no lugar do delito um punhal cruciforme. Puniam uma infinidade de delitos, da descrença à usurpação do poder soberano, da necromancia à violência sobre as mulheres. Os suspeitos eram expulsos das suas casas e levados perante os juízes e se fossem considerados culpados eram imediatamente enforcados. À testa da Santa Vehme estão o grão-mestre, depois vêm os franco-condes e, por último, os franco juízes."
(pag. 194)
 
Um livro surpreendente, com Prólogo e Epílogo, dividido em seis partes e oitenta oito capítulos. Devido ao suspense numa narrativa bem concebida e com um adequado enquadramento de época, fui agradávelmente enredada na ação mas fiquei algo desapontada com o final que apesar de terminar no ... fim ... feliz, não se concretizou como eu esperava, apesar do fator inesperado com a personagem Uberto.
 
Um livro que recomendo para quem aprecia romances do género.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um dia naquele inverno

Autor:  Sveva Casati Modignani.
Edição: 2012, Outubro
ginas: 384
ISBN: 978-972-0-04419-8
Editora: Porto Editora
 
Sinopse:
Numa grande mansão, às portas de Milão, vivem os Cantoni, proprietários há três gerações da homónima e prestigiada fábrica de torneiras.
Aparentemente, todos os membros da família levam uma vida transparente, mas, na realidade, todos eles escondem segredos que os marcaram; existem situações que, ainda que conhecidas por todos, permanecem um tema tabu. Omite-se até a loucura de que sofre Bianca, a matriarca desta dinastia.
Um dia, entra em cena Léonie Tardivaux, uma jovem francesa sem dinheiro e sem parentes, que casa com Guido Cantoni, o único neto de Bianca. Léonie adapta-se bastante bem à rotina familiar, compreendendo a regra de silêncio dos Cantoni. Isso não a impede de ser uma esposa exemplar, uma mãe atenta e uma gerente talentosa, que, com bastante êxito, conduz a firma pelo mar hostil da recessão económica. No entanto, também ela cultiva o seu segredo, aquele que todos os anos, durante apenas um dia, a leva a largar tudo e a refugiar-se no Lago de Como.
 
A minha opinião:
Sempre que saí um livro da Sveva, eu apresso-me a comprá-lo e tem prioridade sobre todos os outros livros que tenho em pilha ordenada por ler. Dos vários escritores que muito aprecio, destaca-se claramente pelo seu estilo único e pelas histórias singulares que, através de personagens femininas fortes, inteligentes e priveligiadas (com exceção do penúltimo - Mr. Gregory) contam histórias de vida e desvendam mistérios e segredos, muito deles de familias.
 
Os livros da Sveva tem em mim, o mesmo encanto e carisma que em criança tinham os contos de encantar. Não se trata de fantasia que nos faz sonhar mas descobrir entre as suas páginas, personagens tão integras e corajosas que gostariamos de as conhecer e com elas conviver  num  mundo paralelo e real.

Esta saga familiar e as peculiaridades de cada um dos elementos da mesma, com o suas alegrias e tristezas, alguns silêncios resultado de escolhas difíceis mas profundamente sentidas, bem como as delicadas questões da loucura, e infidelidade são bem fundamentados através de tudo o que nos é dado a conhecer sobre as perssonagens.
Para mim, este foi mais um romance que muito prazer me deu ler.