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sábado, 31 de março de 2012

As meninas dos chocolates

Autor: Annie Murray
Edição: 2011, Outubro
Páginas: 496
ISBN: 9789892316130
Editora: ASA

Sinopse:
Edie, Ruby e Janet são amigas e dedicam-se a fazer chocolates na famosa fábrica Cadbury, em Inglaterra. As suas vidas poderiam ser de sonho, não fossem as atribulações familiares e a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Edie casa muito jovem. A sua fé no futuro é ilimitada mas o destino tem outros planos para ela. Com apenas dezanove anos, Edie enfrenta a guerra sozinha e tomada pela dor após a perda do marido e do filho. Até que uma noite, durante um bombardeamento, uma criança abandonada é deixada ao seu cuidado…Entretanto, a sua jovial amiga Ruby, apesar do medo de ficar solteirona, acaba por se casar com Frank, desconhecendo o seu carácter temperamental.
E há também Janet - inteligente, bondosa e atraída pelos homens errados. Profundamente magoada pela sua última relação amorosa, Janet está convencida de que nunca mais se apaixonará.
Mas David, a criança que Edie acolhe, conquista o coração de todos. E quando tem idade suficiente para questionar a sua verdadeira identidade, David vai novamente transformar as suas vidas e proporcionar-lhes algo com que nunca sonharam …
Três mulheres cujas vidas são marcadas pela amizade, a guerra e o amor por uma criança.

A minha opinião:
Romance sobre a forte relação de amizade entre três jovens mulheres de Birmingham, num período marcado pela segunda guerra mundial (entre 1939 e 1959).  Mulheres com passado e personalidades muito diferentes que se entreajudam e apoiam num período crucial da história, onde as circusntâncias e escolhas definem os seus percurso de vida.
Não fiquei plenamente satisfeita com as personagens ou a própria narrativa, que me pareceu globalmente superficial. Com excepção do último capítulo, 1957-59, não senti emoção ou empatia pelas personagens.

Apesas das suas quase 500 páginas é um romance que se lê rápidamente e sem esforço, porque a narrativa é leve e explora essencialmente as vivências das personagens e os seus sentimentos. De referir, que os chocolates e a fábrica Cadbury são uma promessa quase ausente, se considerarmos o título do livro, que no texto nem uma página ocupa, apesar da adaptação da fábrica no esforço de guerra e subsistência.

A devastação e sofrimento que esta guerra causou, é sentido e compreendido no último capítulo. Com as personagens Anatoli Gruschov, aliado de origem germânica e Hermann Mayer, judeu sobrevivente aos campos de concentração nazis, encontrei o realismo e humanismo que esperava deste romance.

Esteticamente apelativo, este livro proporciona momentos de dispersão numa agradável leitura, mas não correspondeu às minhas expectativas.

terça-feira, 27 de março de 2012

Beleza Atormentada

Autor: Cecilia Samartin
Edição: 2012, Fevereiro
Páginas: 300
ISBN: 9789896681395
Editora: Vogais

Sinopse:
Ainda jovem, Jamilet vê a sua vida mudar quando a mãe morre. Durante anos é apontada e atormentada na sua aldeia natal no México por causa da marca hedionda que tem no corpo. Ela rejeita ficar com a avó, e decide partir para os EUA à procura de alguém que a ajude. É em Los Angeles que Jamilet vai descobrir a beleza do amor e da amizade, ao conhecer Don Peregrino.
Nesta história inspiradora, de redenção e amor, que percorre o milenar Caminho de Santiago, Cecilia Samartin, «a sucessora de Isabel Allende», dá-nos uma perspetiva iluminadora do verdadeiro significado da beleza.

A minha opinião:
Belíssimo. Um prazer de ler.
(Não tenho por hábito classificar/ qualificar os livros que leio, porque acho-o muito subjectivo e variável. Mas quando um livro realmente me agrada, não deixo de referir que foi um PRAZER DE LER).

Desde o primeiro momento em que toquei neste livro que senti vontade de o ler. Não sei exacatamente o que me cativou, se a capa, a sinopse ou mesmo as criticas, mas reorganizei as minhas prioridades para o ler e fiquei refèm da história de Jamilet e depois da história de Don Peregrino.

Talvez o mais importante desta narrrativa forte, realista e com um marcado traço latino sejam as personagens integras e maravilhosas, que encaram todas as vicissitudes com determinação e convição. Jamilet, uma  inteligente jovem mexicana marcada devido a um hemangioma de nascença, numa comunidade pobre que a tratou com ostracismo, tranfigura-se num rapaz para dar o salto para os EUA e reencontrar a tia Carmen.

Don Peregrino, um díficil paciente num hospital psiquiátrico é o trabalho que vai conseguir obter com um falso documento e um falso nome. A ligação entre os dois será redentora e cúmplice, dando origem à instrução de Jamilet e ao relato da peregrinação enquanto jovem de António Calderon pelos caminhos de Santiago, com o amigo Tomás, a bela Rosa e mais tarde a rica e pérfida Jenny.

Uma escrita fluida e ritmada sem excesso de detalhes que me agradou bastante. Uma digna sucessora de Isabel Allende neste romance.

"Quem inventou que os milagres são como magia? (...) E eu sei que quem faz os milagres somos nós - retorquiu ele, estendendo as mãos para ela. (...)  A magia é para os fracos, ao passo que os milagres nascem da fé, mais nada. (...)
Inspirada pela força das suas palavras e pelo calor das suas mãos, Jamilet compreendeu, pela primeira vez, exactamente o que ele queria dizer.
- Só porque acreditamos que é verdade, torna-se verdade.
- Exactamente, e tu tens de escolher as tuas histórias e acreditar nelas com todo o teu coração e a tua alma - com todo o teu ser."   (pag.282)

Sobre a autora:
Cecilia Samartin nasceu na revolucionária Havana, em Cuba. Ainda hoje não esquece o momento em que, enquanto a família e amigos dançavam alegremente no pátio, na cozinha a mãe chorava no ombro do pai. Foi a primeira vez que se apercebeu de que uma tragédia se tinha abatido sobre a família.
Cecilia levou anos a perceber porque é que não cresceu na sua terra natal, fazendo parte de uma típica primeira geração de “Cuban American”.
A adolescência não foi muito tranquila, com as diferenças culturais a serem, por vezes, demasiado evidentes e, por vezes, conflituosas. “Trabalhar duro e, por Deus, ser cuidadoso”, foi este o lema dos pais da autora que, sempre próxima das suas origens, decidiu tirar psicologia na UCLA, de forma a poder ajudar a sua comunidade.
Há mais de 20 anos que Cecilia Samartin ajuda emigrantes da América Latina a adaptarem-se às suas novas vidas, trabalho ao qual vai buscar muita da sua inspiração para escrever. É a autora de Broken Paradise, livro aclamado pela crítica, pelo qual recebeu o Mariposa Award.

domingo, 25 de março de 2012

Fragmento

"Quem pode negar a beleza dos primeiros dias de primavera quando os primeiros botões começam a revelar os seus segredos e o Sol espalha a sua glória pelo mundo com um brilho sem paralelo? Suponho que há pessoas que, quando confrontadas com tamanha beleza, não se sentem afectadas. As mesmas que se limitam a olham de relance para o mais espetacular dos ocasos, continuando com as suas rotinas diárias. Eu pertenço àquelas que param para notar cada fase súbtil, cada raio de luz errante que dança no céu. Fico enfeitiçado até ao fim, tal como Rosa."
(Beleza Atormentada, de Cecelia Samartin, pag. 141)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Últimas Notícias do Sul

Autor: LuisSepúlveda
Fotos: Daniel Mordzinsk
Edição: 2012, Fevereiro
Páginas: 160
ISBN:  9789720043696
Editora: Porto Editora

Sinopse:
Este livro nasceu como a crónica de uma viagem realizada por dois amigos, mas o tempo, as mudanças violentas da economia e a voracidade dos triunfadores transformaram-no num livro de notícias póstumas, no romance de uma região desaparecida. Nada do que vimos existe tal como o conhecemos. De certo modo fomos os afortunados que presenciaram o fim de uma época no Sul do Mundo. Desse Sul que é a minha força e a minha memória. Desse Sul a que me aferro com todo o amor e com toda a raiva.

Estas são, pois, as últimas notícias do Sul.

A minha opinião:
Luis Sepúlveda é sempre uma referência literária. Uma escrita determinada, marcada pelas suas convições e ideologia, com traços de humor, humanismo e sarcasmo.

Este pequeno livro de dois amigos ao caminho é um diário com algumas histórias documentadas com interessantes fotos a preto e branco (que eu muito aprecio), da viagem à Patagónia, que se tornou um romance. Fácil de manusear e de transportar, é ideal para ler em deslocações (como é o meu caso).

"A história não passa de um pretexto para enfeitar a oralidade e prolongar as tardes  junto à lareira com um chá mate" (pag.82)

Deste modo, para além de narrar as características físicas, geográficas e climatéricas, o mais importante são as pessoas/ gente da Patagónia que se cruzaram no caminho destes dois amigos.

"A estepe patagónica é um convite ao silêncio das vozes humanas, porque a poderosa voz do vento está sempre a dizer de onde vem e, carregado de odores, conta tudo o que viu."  (pag.

"A Patagónia e a Terra do Fogosempre foram considerados territórios para explorar sem contemplações. Em nome da criação de gado e do progresso, exterminaram-se etnias, raças, bosques, e, quando não restava um índio vivo, procuraram os seus restos, as suas múmias, para os enviar para os museus do mundo."
(pag.152)

Uma viagem feliz à memória do autor.    

quinta-feira, 22 de março de 2012

Fragmento

"Quando lemos ou escrevemos realizamos um ato de fuga, a mais pura e legítima das evasões. Dela saimos mais fortes, renovados e talvez melhores. No fundo, apesar de tantas teorias literárias, os escritores são como aqueles personagens do cinema mudo que escondiam uma lima num bolo e, assim, o preso conseguia cortar as grades da cela. Proporcionamos fugas temporais." 

("Últimas Notícias do Sul" de Luis Sepúlveda, pag. 34) 

terça-feira, 20 de março de 2012

Ligações proibidas

Autor: Cheryl Holt
Edição: 2011, Agosto
Páginas: 383
ISBN: 978-989-8228-61-1
Editora: Quinta Essência

Sinopse:
Abigail Weston, uma solteirona resoluta de vinte e cinco anos, está decidida em ver a irmã mais nova casada com um homem de bem. Contudo, a sua falta de experiência com o sexo oposto impede-a de apaziguar os medos da irmã em relação à noite de núpcias - a não ser que se atreva a dar um passo arriscado de forma a aprender o que a intimidade entre um homem e uma mulher implica. No entanto, o único homem em Londres qualificado para a ensinar fá-la desejar algo que ela nunca esperou: experimentar todos os prazeres por si própria...
James Stevens - rico, imoral e tremendamente aborrecido com a sociedade londrina - acredita que nada é capaz de chocá-lo. Embora o pedido de Abigail, a explicação verbal dos prazeres da carne, seja um pouco surpreendente, o que o espanta realmente é a sua reacção poderosa em relação à inocência e beleza dela. Um romance entre ambos pode trazer grandes êxtases carnais, mas qualquer coisa mais arruinaria para sempre Abigail. Pela primeira vez na vida, James suspeita que a mera intimidade física nada é comparada ao amor verdadeiro...

A minha opinião:
Divertidissimas estas licções de sensualidade e sexualidade num romance de época. Para "desligar" de leituras mais sérias e pesadas. Erótico, sem dúvida
Com o único objectivo de entreter, este romance não tem grandes pretensões senão narrar uma estória baseada na relação carnal entre uma nobre inexperiente e ousada e um libertino rico /filho bastardo de um nobre, que a preconceituosa sociedade rejeita.
Uma leitura flúida e elucidativa sobre paixões e desejo. Um romance cor-de-rosa picante.

Não conhecia a escrita de Cheryl Holt mas sabia o género de leitura. Não foi surpresa e daí o quanto me divertiu e abstraiu. E rápidamente o li. Não me desiludiu porque correspondeu ao que me apetecia ler no momento.

Sobre a autora:
Cheryl Holt é advogada, romancista e uma mãe de família que vive em Los Angeles.
Formada em Direito pela Faculdade de Wyoming, trabalhou num escritório de advogados e no gabinete do promotor distrital em Denver antes de se dedicar exclusivamente à escrita.
A autora, considerada a rainha do romance sensual, foi distinguida com vários prémios, designadamente o de Melhor Romancista do Ano, atribuído pela revista Romantic Times Book Reviews. Noites de Paixão, também publicado pela Quinta Essência, foi eleito Top Pick pela publicação Romantic Times e esteve na lista dos livros mais vendidos do jornal USA Today.

sábado, 17 de março de 2012

As Horas Distantes

Autor: Kate Morton
Edição: 2012, Fevereiro
Páginas: 528
ISBN: 9789720043559
Editora: Porto Editora

Sinopse:
Tudo começa quando uma carta, perdida há mais de meio século, chega finalmente ao seu destino...
Evacuada de Londres, no início da II Guerra Mundial, a jovem Meredith Burchill é acolhida pela família Blythe no majestoso Castelo de Milderhurst. Aí, descobre o prazer dos livros e da fantasia, mas também os seus perigos.
Cinquenta anos depois, Edie procura decifrar os enigmas que envolvem a juventude da sua mãe e a sua relação com as excêntricas irmãs Blythe, que permaneceram no castelo desde então.Há muito isoladas do mundo, elas sofrem as consequências de terríveis acontecimentos que modificaram os seus destinos para sempre.
No interior do decadente castelo, Edie começa a deslindar o passado de Meredith. Mas há outros segredos escondidos nas paredes do edifício. A verdade do que realmente aconteceu nas horas distantes do Castelo de Milderhurst irá por fim ser revelada...

A minha opinião:
Depois de ler "O Jardim dos Segredos" não poderia deixar de ler este novo romance de Kate Morton. Brilhante e perturbador como só ela consegue. Uma escrita elaborada e cuidada de uma beleza ímpar, pautada por descrições que enriquecem a narrativa, e permitem ao leitor uma imagem tão real e sensitiva quanto possível numa obra de ficção. 

Num ambiente envolvente e carismático com fantásticas personagens, alternando passado e presente, condicionado pela história sombria do Homem da Lama, a autora tece, qual aranha, por meio de palavras, uma complexa trama que nos vicia e inebria. Um talento indiscutível para contar uma história e provocar emoções fortes ao longo da leitura.  

Com expectativas elevadas não foi fácil embrenhar-me nesta leitura, que desde o primeiro momento me provocou um estado de espírito de ansiedade e inquietação enquanto vislumbrava os muitos mistérios, segredos e dramas que naquelas horas distantes e entre  as paredes sussurrantes do Castelo de Milderhurst ocultavam as idosas gémeas Blythe e a perturbada irmã mais nova Juniper. 
Edie Baker, é o fio condutor de todas as revelações, que começam depois de ser surpreendida pela emotiva reacção da sua mãe Meredith, quando uma carta que lhe era endereçada e há muito perdida lhe chega às mãos. Curiosa e fantasiosa não obtêm respostas satisfatórias da parte da mãe, com quem tem uma relação distante e difícil, e parte à descoberta de um passado que gradualmente, como se de um puzzle se tratasse vai construindo e reconstituindo. 

Em suspense, quis acelerar para mais rapidamente desvendar, mas a autora tinha outros planos e tive que condicionar a leitura ao ritmo imposto para me deleitar com cada revelação. Com a compreensão, vem a assimilação e depois a reflexão sobre relacionamentos, afectos, sonhos, e circunstâncias que tudo mudam. A vida e os seus mistérios. 

Excelente romance. Um prazer de ler.

Sobre a autora:
Kate Morton cresceu nas montanhas do Sudoeste de Queenland, na Austrália. Licenciou-se em Teatro e, mais recentemente, em Literatura Inglesa. Kate vive com o marido e os dois filhos em Brisbane, num palacete do século XIX repleto de mistérios. As horas distantes é o seu terceiro romance, depois do sucesso internacional obtido com O Segredo da Casa de Riverton e O jardim dos segredos. Os seus livros estão publicados em 31 países.

terça-feira, 13 de março de 2012

Não fomos nós dois

Autor: Tiago Gonçalves
Edição: 2011, Novembro
Páginas: 76
ISBN: 9789897010736
Editora: Edium

Sinopse:
O desespero de Júlio empurra-o para Mafalda, uma jovem mas experiente terapeuta habituada a lidar com inquietos desenquadrados sociais. A relação entre eles flui com a natural química de um aparente jogo predestinado, mas as suas convicções são tão diferentes como as suas personalidades.
A afinidade e complementaridade entre ambos é por demais evidente, mas será que os seus caminhos se juntarão ou, pelo contrário, eles nunca se aproximaram?
Nestas páginas não só poderá encontrar a resposta, mas também toda a história entre ambos, que alternam entre si a narração de como tudo se passou.

A minha opinião:
Últimamente tenho procurado contrariar uma ideia préconcebida de que não gostava de ler autores portugueses porque me maçavam e tenho tido gratas surpresas porque vão de encontro às minhas expectativas, interesses e gostos. Este livro não desiludiu e nem me maçou.
Pequeno em tamanho mas não em conteúdo. Claro que poderia ser mais desenvolvido porque me pareceu um pequeno conto sobre duas personagens que se encontram num contexto profissional, uma vez que Mafalda é a terapeuta de Júlio. 
Li a reflexão introspectiva de ambos alternadamente sobre si mesmos, o outro e a sociedade em que se inserem, com diferentes perspectivas e objectivos. Súbitamente a empatia e atracção mútua mas o desfecho é diferente do que desejei mas coerente com toda a narrativa.
   
"A minha alma terá de sorrir devagar."

É disso que se trata. Tocante e sincero sobre emoções e sentimentos numa escrita bela e profunda.

"Não se lembrava de datas, não se lembrava de momentos, não se lembrava de pessoas, não se lembrava dela, não se lembrava de viver. Reitera que vivia por viver, amava por amar, nada nele envolvia paixão."
Pag. 46
"Paixão e romantismo não são, para mim, mais que euforia momentânea e breves segundos de felicidade fugaz e inconsequente."
Pag. 66

Sobre o autor:
Nascido a 3 de Junho de 1986, Tiago Gonçalves sempre teve como berço a cidade do Porto. Nasceu e cresceu no Porto, numa rua histórica, que o ajudaria na sua educação humilde e simples, mas sempre de horizontes abertos para outras realidades. O gosto pela literatura vem desde a sua infância, crescendo progressivamente à medida que os anos avançavam.

Licenciando-se no ano de 2008, em Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o seu sentido crítico e analítico é sinónimo de uma constante evolução ao longo de toda a sua vida, até ao ponto de chegada. A instrução académica seria o complemento para a sua própria aprendizagem, curiosidade e constante vontade de conhecer, aprender e pensar.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Pensamento adquirido em "As Horas Distantes"


"Não tenho muitos (amigos), pelo menos da espécie viva e que respira. Não digo isto de uma forma tríste e solitária; não sou o tipo de pessoa que acumula amigos ou aprecia multidões. Tenho jeito para palavras, mas não faladas; foram muitas as vezes que pensei como seria maravilhoso se pudesse conduzir relações no papel. Parece-me que, de certa forma, é isso que faço, pois tenho centenas da outra espécie, os amigos contidos em capas de livros, magnífica página após página de tinta, histórias que se desenrolam sempre da mesma forma mas que nunca perdem a alegria, que me levam pela mão e me fazem passar portas que dão para mundos de grande horror e deleite arrebatado."
pag. 22

quinta-feira, 8 de março de 2012

O Caso Rembrandt


Autor: Daniel Silva
Edição: 2011, Outubro
Páginas: 448
ISBN: 9789722523585
Editora: Bertrand Editora

Sinopse:
Decidido a cortar os laços com o Departamento, Gabriel Allon refugiou-se nos penhascos da Cornualha com a sua bela mulher, Chiara. Mas, uma vez mais, esse isolamento é interrompido por alguém vindo do seu complexo passado: Julian Isherwood, o sedutor e excêntrico negociante de arte londrino. Como de costume, Isherwood tem um problema. E apenas Gabriel o pode resolver. Em Glastonbury, um restaurador de arte é brutalmente assassinado e um quadro de Rembrandt, há muito desaparecido, é misteriosamente roubado. Apesar da sua relutância, Gabriel é persuadido a utilizar os seus talentos singulares para encontrar o quadro e os responsáveis pelo crime.
Mas, ao seguir meticulosamente um rasto de pistas com início em Amesterdão, passagem por Buenos Aires e fim numa villa nas margens graciosas do Lago Genebra, Gabriel descobre que há segredos mortíferos associados ao quadro. E homens malévolos por trás deles. Uma vez mais, Gabriel vai ser atraído para um mundo que pensava ter deixado para sempre e deparar-se-á com um elenco extraordinário: uma deslumbrante jornalista londrina, determinada a desfazer o pior erro da carreira, um esquivo ladrão de arte, atormentado pela sua consciência, e um influente multimilionário suíço, conhecido pelas suas boas ações mas bem capaz de estar por trás de uma das maiores ameaças que o mundo enfrenta.

A minha opinião:
O primeiro que li dos dez volumes que até então foram editados da saga Gabriel Allon. Não posso fazer comparações, mas ainda assim não posso negar o excepcional talento de Daniel Silva para construir uma estória bem equilibrada e balanceada de espionagem, suspense, intriga, acção e emoção que me agarrou quase imperceptivelmente desde as primeiras páginas numa leitura compulsiva.

Curiosamente sempre pensei que fossem livros essencialmente para leitores do sexo masculino, talvez pelo género. Estava errada. Carismáticas e enigmáticas personagens mas com grande nível de humanismo alimentam o imaginário e informação sucinta mas suficiente de arte, história, entre outros, despertam o interesse para uma estória bem construída. A narrativa adensa-se num crescendo desde a investigação do roubo de um valioso quadro, aos crimes do Holocausto que enriqueceram homens gananciosos e sem escrúpulos, a atuais homens de negócios que sobre os holofotes da opinião pública posam de respeitáveis e preocupados mas são amorais quando constroem impérios com todo o tipo de crimes ocultos inclusive ajudando o desenvolvimento de programas de armamento nuclear que podem possibilitar um novo holocausto.

"O retrato de uma jovem" conduz à Operação Obra-Prima. E como leitora fiquei fã. Provavelmente irei ler outros livros deste autor.

"A mente é como um recipiente... Podemos enchê-la e despejá-la à vontade..."
pag. 257

domingo, 4 de março de 2012

Pensamentos adquiridos em" O Livro do Despertar"


Com a gravidade acontecem as mesmas coisas,
mas mais devagar.

"Quando um prato se parte, dizemos que foi um acidente. Quando um coração se quebra, dizemos que é triste. Se for o nosso, dizemos que é trágico. Quando é um sonho que se quebra, por vezes dizemos que é injusto. No entanto, as formigas deixam cair o que carregam e apanham mais, os pássaros deixam tombar a comida do bico e apanham-na de novo. Mas nós, humanos, quando perdemos o que precisamos, somos pródigos em filosofias e queixas.
O problema não é queixarmo-nos mas pararmos de viver para nos queixarmos.... Como seres humanos, umas vezes temos de libertar, outras recebemos o choque."
pag. 412 

Não pergunte do que precisa o mundo. Pergunte o que o faz sentir vivo e faça-o.
Porque do que o mundo precisa é de pessoas que se sintam vivas.

"...Muitas vezes, quando adaptamos os nossos interesses àquilo que os outros precisam, acabamos por trocar a nossa oportunidade de felicidade pelo que pensamos ser seguro. Mas, ainda que a oferta e a procura possam funcionar no papel, na prática podem levar a uma vida sem amor. 
É por isso que procurar aquilo de que gostamos, embora possa levar anos, é construir uma vida de paixão. Porque o que nos faz sentir vivos mantém-nos vivos, quer sejamos bem pagos por isso, quer não. E além da volatilidade  do mercado de trabalho, uma vida de paixão torna-nos numa célula saudável do corpo do mundo."
pag. 404

Proccurando o essencial, tornamo-nos essenciais.

"Sempre me espantou como as coisas mais profundas são intangíveis: amor, dúvida, fé, confusão, paz, sabedoria, paixão. Onde estão? Não podem segurar-se na mão como um fruto ou lidas no colo como as páginas de um livro sagrado. E, no entanto, moldam as nossas vidas. Foi sempre este o mistério condutor de toda a sabedoria sagrada: as únicas coisas que vale a pena dizer são indizíveis."
pag. 432 

sexta-feira, 2 de março de 2012

Preciso de ti

Autor: Luísa Jeremias
Edição: 2011, Junho
Páginas: 340
ISBN: 9789896263270
Editora: Esfera dos Livros

Sinopse:
Não há nada mais difícil do que revelar um segredo. Violeta Guerra sabia-o, por isso tinha-o guardado a sete chaves, há mais de um ano, com medo de ser julgada, de, ao dizê-lo, torná-lo real. Contudo estava longe de imaginar que, ao abrir as portas do seu coração às suas duas melhores amigas, a sua vida iria sofrer uma tamanha transformação. Mas a vida é realmente uma caixa de surpresas.

Depois de perder o emprego e de se libertar de uma relação amorosa sem futuro, Violeta, aos 33 anos, está pronta para enfrentar a vida tal como ela é, com as suas alegrias, tristezas, perdas, obstáculos e vitórias. Para isso, conta com a ajuda das suas amigas, Rita, a eterna solteirona, que faz da vida uma festa e não pretende ficar refém do amor, e Inês, casada, mãe de duas filhas, que não se deixa levar nem pela morte nem pela doença que abala a sua família. Amigas que estão sempre presentes, nos bons e nos maus momentos, nas alegrias e na dor, para dar a mão ou puxar por ela quando precisamos de coragem. Juntas estão dispostas a tudo para serem felizes e encontrarem o amor, nas suas mais diferentes formas.

A minha opinião:
Despretensioso e encantador romance sobre o universo urbano feminino numa narrativa viva e ligeira através da atribulada existências de três amigas num curto período de tempo. Três amigas que cresceram juntas e que apesar das diferenças se mantiveram ligadas e próximas nos bons e maus momentos. Três formas distintas de ser e de estar na vida.
A personagem principal Violeta Guerra representa uma mulher idealista, batalhadora e de boa indole, que enfrenta um romance falhado, a perda do emprego e um aborto quase em simultâneo e que ainda assim teve a capacidade de superar os medos e ultrapassar os obstáculos.

Com uma linguagem acessível e corrente foca experiências e locais que reconhecemos, assim como emoções e sentimentos que não nos passam ao lado. Peca por ser um tanto previsível no desenvolvimento da trama.

Como moral, valorizar o que é realmente importante - afectos, familia e amigos, tendo presente a fragilidade do que damos como certo e duradouro.

Mais um romance que leio escrito na lingua de Camões que reflecte a nossa identidade e cultura. Muito agradável.