Páginas

domingo, 30 de junho de 2019

Cai a noite em Caracas

A minha opinião:
Há livros que doem... e são extraordinários.

"Prometeram. Que nunca mais ninguém roubaria, que tudo seria do povo, que cada um teria a casa dos seus sonhos, que nada de mal voltaria a acontecer. Prometeram que se fartaram.
...
Os dias assemelhavam-se mais à gestão de uma guerra do que à vida... Os vivos lutavam à dentada pelas sobras. Naquela cidade sem desfechos, brigávamos por um sítio onde morrer."


É uma pena que não se leia mais. Saberiam mais sobre a culpa do sobrevivente. O que tem e o que não tem. O que parte e o que fica. O que é de fiar e o suspeito.

Em Caracas seria sempre noite. Uma metáfora que se compreende bem depois de ler este livro magistral. Fundamental ler!


Autor: Karina Sainz Borgo
Páginas: 215
Editora: Alfaguara
ISBN: 9789896657345
Edição: 2019/ junho

Sinopse:
Caracas, Venezuela: Num país que antes da crise era a terra dos sonhos, da beleza e da prosperidade e que agora está esgaçado pela corrupção, pela criminalidade e pela repressão, Adelaida procura apenas sobreviver. A sua mãe, professora, grande companheira de toda a vida, acaba de morrer de uma doença prolongada. Adelaida, de trinta e oito anos, fica sem nada, sem ninguém, à deriva numa cidade em que tudo falta, menos a violência e a extorsão.

Poucos dias depois do funeral, Adelaida encontra a sua casa ocupada por um grupo de mulheres às ordens do regime. Decide procurar refúgio na casa da vizinha, mas quando bate à porta só recebe silêncio. Aurora Peralta, a quem todos chamam “a filha da espanhola”, está morta no chão da sala. Em cima da mesa, está uma carta a informá-la da concessão do passaporte espanhol: um salvo-conduto para fugir do inferno.

Para sobreviver, Adelaida terá de deixar de ser quem é.

Cai a Noite em Caracas é o retrato de uma mulher que, frente a uma situação extrema, terá de transformar-se, renegar o pasado para se agarrar a uma nova vida. É a história de muitas outras mulheres, muitos outros homens, crianças, velhos, encurralados num país em que a violência, a miséria e a traição marcam o ritmo diário da existência. Um romance extraordinário, que anuncia uma grande promessa na literatura em espanhol.

No Meio do Nada

A minha opinião:
Do nada surgem histórias que parecem pensamentos soltos, desassossego que é preciso libertar. Angústia. Solidão. Perda. Desencanto. Saudade. Fé ... E têm nome. Nomes, maioritariamente femininos. As mulheres têm este hábito de exteriorizar em jeito de ladainha o que lhes apoquenta a alma. Monólogos. Supostamente há interlocutores que escutam sem falar. Trivialidades e dramas em desabafo sentido. Genuinamente nosso.

Escrita clara e objectiva, para uma leitura muito breve de concisas histórias (duas ou três páginas) de que gostei muito. De um lado para o outro, sem tempo a perder, gosto de começar e acabar uma história.


Autor: António Mota
Páginas: 224
Editora: ASA
ISBN: 9789892344225
Edição: 2019/ Fevereiro

Sinopse:
Como num palco, e com a unidade temática de um romance, as múltiplas personagens de No Meio do Nada, falam do que as desassossega.

Monólogos sobre a busca da felicidade, a solidão, a passagem do tempo, os sonhos e as desilusões, as súbitas mudanças, o envelhecimento, o medo, o espanto, as novas moradas, o deslaçar dos afetos, o amor e a crueldade.

Histórias francas e ousadas, que nos interpelam, onde nos reconhecemos e, por vezes, nos encontramos.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

A Paciente Silenciosa

A minha opinião:
Cúm caraças! O final deste thriller apanhou-me mesmo de surpresa. Deve ser por isso que toda a gente anda a falar nele. 

A sinopse chamou-me a atenção. O que leva uma mulher a matar o marido, sem que nada indicie maus tratos? Fiquei intrigada. Achei que poderia ser bom. Fiquei atenta e os ecos positivos não tardaram.

Os protagonistas seduzem o leitor, enquanto as personagens secundárias provocam desconforto e desconcerto. O silêncio da danificada Alicia, que no seu diário é uma mulher razoável e realizada, é um mistério que o psicoterapeuta Theo a braços com os seus próprios traumas quer curar.

Escrita fácil e fluída, ritmo pausado em que o leitor é enredado pela narrativa das personagens para desvendar o móbil do crime. Não cheguei lá como é costume. 
Muito bom.

Autor: Alex Michaelides
Páginas: 336
Editora: Presença
ISBN: 9789722363822
Edição: 2019/ maio

Sinopse:
Alicia Berenson é uma pintora britânica, jovem e famosa, que vive numa casa sublime nos arredores de Londres com o marido, Gabriel, um conhecido fotógrafo de moda. A vida de ambos parece perfeita. Mas uma noite, quando ele chega a casa depois de uma sessão fotográfica, Alicia mata -o com cinco tiros. E nunca mais diz uma palavra.

A recusa de Alicia em falar e dar qualquer tipo de explicação sobre a tragédia, transforma-se num mistério que prende a imaginação da opinião pública, e confere a Alicia uma notoriedade sem precedentes. O preço dos seus trabalhos artísticos dispara e ela, a paciente silenciosa, é alvo de um mediatismo implacável. Para evitar isso, é conduzida para uma unidade forense de alta segurança no norte de Londres.

Theo Faber, um psicoterapeuta criminal, espera há muito pela oportunidade de trabalhar com Alicia. A sua determinação em convencê-la a falar e a desvendar as razões misteriosas que motivaram o assassínio do marido leva-o por um caminho tortuoso, numa busca pela verdade que ameaça consumi-lo...

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Contador de Histórias

A minha opinião:
Contador de histórias é... maravilhoso... para quem gosta tanto de ler contos como eu. Quase que parece fácil escrever curtas histórias comoventes e divertidas que surpreendem. Não acho que poderiam ser desenvolvidas para um romance porque gosto tanto de histórias sem muito entretanto que vão direto ao que interessa. Histórias que podem ser contadas oralmente. Por isso, li devagar para melhor recordar. Algumas, marcadas com asterisco no final, baseiam-se em factos reais. As restantes são ficção.

Começa com Único com apenas 100 palavras. Quem matou o presidente da Câmara numa pequena cidade é uma deliciosa intriga burguesa. A primeira detenção de um polícia não se esquece. E o que dizer da memorável académica versada em Shakespeare que bate um cavalheiro. O amor que vence na guerra não é banal, assim como uma boleia pode ser o encontro de uma vida e claro que não podia perder a oportunidade de decidir o meu final para as férias de uma vida. A reforma do bancário é merecida. 
Enfim... treze admiráveis contos. 


Autor: Jeffrey Archer
Páginas: 208
Editora: Bertrand
ISBN: 9789722536110
Edição: 2019/ abril

Sinopse:
Jeffrey Archer, o autor da saga dos Clifton, regressa com um novo livro de contos há muito aguardado pelos leitores, repleto de textos emocionantes e, às vezes comoventes, escritos nos últimos dez anos.

Descubra o que aconteceu ao jovem detetive napolitano que, para resolver um assassínio, é arrastado para uma pequena cidade. Veja o que muda na vida de um jovem à medida que este descobre as origens da fortuna do seu pai. Siga as histórias de uma mulher que, na década de 1930, se atreve a desafiar homens poderosos, e a de uma outra, jovem, que apanha boleia e tem o encontro da sua vida.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

A Rapariga Sem Pele

A minha opinião:
Li este livro ao concluir o projecto A Ler Vamos Chamar a Primavera

De início, não me entusiasmou como eu esperava. A escrita seca não fluía, apesar dos acontecimentos e do passado do protagonista, por quem não sentia empatia, sucederem em curtos capítulos. O frio, esse arrepia a pele, com as breves descrições da calota glaciar onde foi encontrado o homem do gelo e onde se deu o crime macabro.

Gronelândia. Nuuk, uma cidade com cerca de dezasseis mil habitantes em que a única coisa que havia à volta eram montanhas, céu ou mar. Fascinante porque é real. A cidade e o clima árctico destacam-se neste enredo tortuoso e severo que ganha ímpeto com a personagem Tupaarnaq. E as revelações do passado daquela pequena comunidade. A maligna estatística oculta. 

A capa é bestial.


Autor: Mads Peder Nordbo
Páginas: 368
Editora: Planeta
ISBN: 9789897771392
Edição: 2019/ maio

Sinopse:
Um policial intenso e perturbador na fascinante Gronelândia. Neve, gelo e neblina revelam terríveis segredos mortais escondidos há muito tempo. Quando um cadáver viquingue mumificado é descoberto numa fenda no gelo, o jornalista Matthew Cave é destacado para cobrir a história.

No dia seguinte, a múmia desapareceu. o corpo do polícia que a guardava jaz no gelo, nu e esfolado, tal como as vítimas de uma horrível série de assassínios que aterrorizaram a remota Nuuk na década de 1970.

Acredita em Mim

A minha opinião:
Vìciante. Intenso. Excelente leitura para um fim de semana prolongado.

Claire julga-se actriz mas acaba enredada num trabalho para uma firma de advogados como engodo para maridos infiéis. Um dos maridos não vacila e a mulher aparece morta e Claire é envolvida como isco para apanhar o criminoso que é tido como sociopata.


O livro "Flores do Mal" de Charles Baudelaire é o elo de ligação de duas mentes brilhantemente retorcidas que confundem o leitor. 
"Acima de tudo, porém, é uma história sobre um homem e uma mulher a tentarem adivinhar os motivos um do outro."  (pag. 290)

Capítulos curtos, escrita directa na voz de Claire e um enredo bem construído com bom ritmo e muitas reviravoltas que mantêm o suspense no auge. 

Muito superior ao anterior thriller psicológico do autor "A rapariga de antes" que também li. 

Autor: J. P. Delaney
Páginas: 424
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9789896657871
Edição: 2019/ maio

Sinopse;
Claire Wright gosta de se pôr na pele de outras pessoas.

Mas quem é o isco… e quem é a presa?

Claire é uma inglesa estudante de teatro em Nova Iorque. Sem o green card, não tem outra saída senão aceitar o único emprego que consegue: trabalhar para uma firma de advogados especializados em casos de divórcio. A sua missão é fingir que é uma rapariga fácil, em bares de hotel, para desmascarar maridos infiéis. Quando um dos seus alvos se transforma no objecto de uma investigação por assassinato, a Polícia pede a Claire que use todas as suas habilidades para ajudar a atrair o suspeito para uma confissão. Mas, desde o início, ela tem dúvidas. Patrick Fogler é realmente um assassino? Ou o único marido decente que conheceu? E… será que lhe estão a ocultar alguma informação relevante para o caso? Depressa Claire percebe que está a desempenhar o papel mais perigoso da sua vida…

terça-feira, 18 de junho de 2019

A Baía de Miramar

A minha opinião:
Exactamente o que me apetecia ler. E o entusiasmo manteve-se ao longo de todo o livro. Suave e terno, sem ser entediante ou previsível. Um romance convincente com personagens extraordinárias em que todos brilham.

Miramar é um lugar que se quer conhecer. onde os sonhos se podem recuperar e segundas oportunidades acontecer. Ás vezes, o acaso pode mudar a vida. 

Um romance que nos enche o coração.

Autor: Andrew Sean Greer
Páginas: 304 
Editora: Quetzal 
ISBN: 9789897225574
Edição:2019/ maio

Sinopse:
Ele não veio até tão longe apenas para partir mais um coração.

Na esteira da melhor literatura romântica, Davis Bunn apresenta-nos este romance excecional e cativante entre dois estranhos numa pequena cidade costeira. Connor Larkin apanha um expresso no centro de Los Angeles, mas não sabe ao certo para onde vai ou o que procura. Um dia sonhou ser cantor e vê-se agora catapultado para o cinema e para os braços de uma jovem herdeira famosa. Connor sente que tem de repensar tudo e de se reencontrar, mesmo que para tal tenha de colocar em segundo plano o casamento e uma carreira brilhante. Alguma coisa indefinível ficou esquecida, a caminho do sucesso uma parte de si ficou para trás. É assim que, com a data do casamento a aproximar-se, Connor desembarca na pacata cidade costeira da baía de Miramar onde uma mulher notável o vai obrigar a repensar todas as suas escolhas. Ela precisava de lhe conhecer os segredos e de saber se o que ele lhe dizia era verdade.

Sylvie Cassick é o oposto das estrelas pretensiosas de Hollywood. Filha de um pintor com pouco sucesso, teve sempre de trabalhar para alcançar aquilo que queria. Quando Connor se candidata para trabalhar no restaurante de Sylvie, ela não sabe exatamente o que pensar desse estranho, incrivelmente atraente, mas aceita o desafio. Lentamente, sente o coração ceder, mas compreende também que há em Connor mais do que aquilo que ele deixa transparecer. E este percebe que reencontrou o seu destino. Porém o mundo exterior ameaça o vínculo frágil que foram estabelecendo e Connor tem de arriscar perder tudo para poder alcançar a vida que anseia e ser o homem que Sylvie merece.

A Baía de Miramar é uma viagem inesquecível, por caminhos pouco percorridos, em busca de uma verdade sempre envolvida em dúvidas e desejo.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Less

Vencedor do Prémio Pulitzer 2018

Autor: Andrew Sean Greer
Páginas: 304 
Editora: Quetzal 
ISBN: 9789897225574
Edição:2019/ maio

Sinopse:
Arthur Less está a chegar aos cinquenta anos. É um homem de boa índole e que tem uma carreira de escritor discreta e demasiado mediana. Muitos anos antes, fora o jovem amante de um génio da literatura e aprendera a ocupar um lugar de irrelevância ou periferia. Agora, luta com as suas dúvidas e inseguranças, e tenta sobreviver num meio de egos devoradores. Um dia é convidado para um casamento que descobre ser o do seu ex-namorado com outra pessoa.

Assim começa o longo périplo que antecede o seu quinquagésimo aniversário: tentando fugir ao casamento, Less começa a aceitar todo o tipo de convites para participar em leituras, festivais literários, palestras um pouco por todo o mundo.

De França à Índia, da Alemanha ao Japão, do México a Itália, Arthur Less quase se apaixona, quase desiste, quase morre, mas acaba por encontrar o seu caminho de regresso a casa e à vida. Um romance satírico sobre o amor, o avanço da idade, o desencontro e as profundezas do coração humano.


A minha opinião:
Um romance melancólico e pungente, com laivos de humor, acerca da vida de um homem de meia idade solitário e falido que viaja para vários lugares do mundo para escapar ao casamento do seu mais recente amante.

O périplo plano de fuga desenrola-se entre memórias e cómicas peripécias que tornam este romance uma deliciosa ode à vida com este homem cândido.

Romance em que se não aprendermos a amar a literatura e os escritores, ainda que geniais, aprendemos a voltar a amar a linguagem e por causa disso Arthur Less. 

Escrita sumptuosa mas não tão escorreita quanto eu gostaria. Um livro (e um homem) para estimar.