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segunda-feira, 29 de junho de 2020

A Rapariga do Lago

A minha opinião:
A história de Becca. Os seus segredos. O crime de que foi vitima. Uma história bem contada numa narrativa paralela com a jornalista Kelsey Castle, também ela vitima de um crime. 
 
A capa espetacular lembra o crime  de Laura Palmer da série Twin Peaks e certamente não é coincidência. Uma deslumbrante estudante universitária é assassinada numa cidade ficcional muito especial como Summit Lake, nas montanhas Blue Ridge, na Carolina do Norte é difícil de dissociar. A envolvência daquele cenário idílico e o carisma de todas as personagens fazem com que esta narrativa intrigante e inteligente nos leve à deriva até ao final numa leitura compulsiva.
 
Um thriller assombroso pela narrativa cinematográfica naquela paisagem do lago. Faltou apenas uma carga de tensão maior- Poucos são os romances que tiram o sono para seguir a investigação com escassas pistas e sem suspeitos  do assassinato de uma personagem acarinhada. E o final valeu. Não o antecipei. Gostei!
 
Autor: Charlie Donlea
Páginas: 320
Editora: Editorial Presença
ISBN: 9789722365352
Edição: 2020/ junho

Sinopse:
Nenhum suspeito. Nenhum motivo aparente. Apenas uma rapariga que inesperadamente é encontrada morta.

Alguns lugares parecem demasiado belos para serem tocados pelo horror. A pequena cidade de Summit Lake, aninhada nas montanhas de Blue Ridge, na Carolina do Norte, é um desses lugares. Mas, há duas semanas, Becca Eckersley, uma estudante universitária de Direito, filha de um advogado poderoso, foi aí brutalmente assassinada. A cidade está em estado de choque e a polícia não dispõe de qualquer pista relevante.

De início, a repórter de investigação Kelsey Castle pensa que este é um caso simples de resolver. No entanto, a brutalidade do crime e os esforços para o manterem longe do mediatismo prenunciam algo bastante mais sinistro do que um crime aleatório perpetrado por um estranho. À medida que Kelsey investiga, apesar dos avisos e dos perigos que surgem no horizonte, ela começa a sentir uma crescente ligação à rapariga assassinada. E quanto mais descobre sobre as amizades de Becca e a sua vida amorosa - bem como sobre os seus segredos -, mais Kelsey se convence de que reconstituir os passos da vítima poderá ajudá-la a superar o seu próprio passado sombrio… 

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Caronte à Espera

A minha opinião:
Claudia Andrade é uma novidade para mim que desconhecia esta autora ou qualquer uma das suas obras. Curiosa, encarei este pequeno livro como um tesouro a descobrir, em que a sinopse faz jus ao texto elaborado, de linguagem requintada e erudita, mordaz, sobre um idoso, desencantado, que planeia o fim, mas que se vê de volta à cerimónia em que um rosto o intriga e a memória o atraiçoa. A debanda, é perturbadora e suficientemente esclarecedora. E... nem se pense em personagens boazinhas e benevolentes porque este pequeno romance, quase um conto poético e musical é perverso e algo negro. Surpreende. Estamos habituados a personagens diferentes, enquanto as que habitam este romance tem o Caronte à espera. Personagens nodosas.
 
Narrativa forte e ousada, que se estranha até que entranha.

Gostei muito mas impõe reler para bem entender.

 
 
 Autor: Cláudia Andrade
Páginas: 136
Editora: Elsinore
ISBN: 9789896689414
Edição: 2020/ junho

Sinopse:
Reformado, enfastiado e desapaixonado, Artur decide finalmente colocar um ponto final na sua vida. Chegou o momento de deixar para trás o tédio, as dores do corpo e todos os pequenos incómodos que, com o passar dos anos, ganham proporções desmesuradas. Mas eis que um rosto numa fotografia de casamento semeia a dúvida no espírito de Artur, uma sombra que teima em não mais largá-lo: quem é aquele homem, bonito e confiante, que surge entre família e amigos? Perante as respostas vagas da sua mulher, não resta a Artur outra hipótese senão adiar o seu plano e ajustar contas com o passado.

Depois de Quartos de Final e Outras Histórias — considerado um dos melhores livros do ano pela crítica —, Cláudia Andrade reafirma o seu lugar único na Literatura portuguesa com um romance pleno de ironia mordaz e crueza poética sobre a fragilidade do corpo, a memória e a pulsão da vida.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

O comboio das crianças

A minha opinião:
Amerigo é um menino de sete anos em 1946, no pós guerra em Nápoles. Sem pai, vive apenas com a mãe´. Um menino pobre que nunca teve sapatos seus e olha para os sapatos das pessoas. Um menino que tem a esperteza das crianças de rua e que um dia viajou no comboio dos comunistas para o Norte e conheceu outra vida. Outro destino.
 
A capa, expressiva, com o rosto do menino, sugeria-me outro tempo e se não tivesse lido a sinopse não o teria começado a ler e teria perdido o mundo visto pelos olhos desta criança. Um romance espantosamente bem escrito que impressiona porque escrever uma história em que o narrador/ protagonista é tão novo não é fácil. Não é um romance piegas ou fantasioso mas credível e terno. O amor de mãe e o amor divido ao meio de filho. Um amor que não se perde neste romance inesquecível.
 
Se não souber o que ler este verão, lembre-se deste romance. Não o vai pousar mal comece.  
 

Autor: Viola Ardone
Páginas: 296
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03267-6
Edição: 2020/ junho
 
Sinopse: 
Nápoles, 1946 Amerigo, um menino de sete anos, deixa a vida que sempre conheceu em Nápoles e parte num comboio. Não sozinho, mas no meio de milhares de outras crianças do Sul de Itália que atravessam o país para passarem alguns meses com uma família do Norte, enquanto a sua terra natal se reconstrói do caos e da destruição.
Com o espanto típico de uma criança de sete anos e a astúcia de um rapaz de rua, Amerigo mostra-nos uma Itália que renasce da guerra e conta-nos como, mesmo renunciando a tudo - até ao amor da própria mãe -, é nessa viagem que descobre o seu verdadeiro destino.
Um romance apaixonante sobre uma pequena testemunha de uma Grande Guerra e da sua luta pela sobrevivência e pelo amor. O fenómeno italiano vendido para 25 países que irá derreter o seu coração.

sábado, 20 de junho de 2020

E de Repente, a Alegria

A minha opinião:
Não é fácil explicar porque gosto tanto dos romances de Manuel Vilas. Ele é atormentado pela escuridão mas busca a luz. O sofrimento de que tomou consciência quando escreveu um romance. Em E, de repente, a alegria há 107 capítulos de apego aos fantasmas do passado e à vida como ela era para abraçar o presente numa prosa delicada.
 
"Eu andava deprimido sempre com Arnold de roda de mim.
porque na altura vivia só para o Arnold Schönberg: repara que inventei um nome ilustre para as minhas angústias, talvez os livros sirvam para isso, para adornar as nossas dores."

"Uma esperança à qual umas vezes chama beleza, e outras, alegria,  e há que ter fé na alegria, porque sem ela a vida humana não prevalecerá." (pag.239)
 
O que torna este romance arrebatador é a proximidade com o leitor que, acaba por se identificar com um protagonista tão complexo mas verdadeiro, que dá nome a sentimentos e emoções que nem sempre conseguimos definir. A lucidez é inebriante. A busca da verdade e de si mesmo também.  O amor que se perpetua de pais para filhos, testemunho de vida é o tema circular que Manuel Vilas não deixa cair, com rasgos de brilhantismo quando expande a sua análise para os outros. Politica, sociedade, natureza humana são assuntos sobre o qual reflete.

Eventualmente, não agradará a todos mas é um romance muito bom para muitos. A sinopse não deixa margem para dúvidas.

Autor: Manuel Vilas
Páginas: 408
Editora: Alfaguara
ISBN: 9789896659745
Edição: 2020/ maio
 
Sinopse: 
Desde o coração das suas memórias, um homem que arrasta tantos anos de passado como ilusões de futuro, recorre às suas recordações para iluminar a sua história. A história de um filho que tem de aprender a viver sem os pais, e de um pai que precisa de aceitar a viver mais longe dos filhos. Uma história que por vezes dói, mas que sempre acompanha.

Neste romance, a meio caminho entre a ficção e a confissão, o protagonista viaja pelo mundo e pelas suas memórias. É uma viagem com duas faces: a face pública, em que o protagonista-autor encontra os seus leitores; e o lado íntimo, em que aproveita cada momento de solidão para procurar a sua verdade.

Uma verdade que começa a despontar - dolorosa e inesperadamente - depois da morte dos pais, do divórcio, do afastamento do vício. Uma verdade que ganha novos matizes à medida que toma forma uma nova vida ao lado de um novo amor, uma vida em que os filhos se transformam na pedra angular sobre a qual gira a necessidade inadiável de encontrar a felicidade. Ou a alegria.

Se Em tudo havia beleza procurava no passado o caminho para regressar ao presente, aqui Manuel Vilas escreve uma história que vai buscar ímpeto ao passado para se lançar para o futuro e tudo o que ele pode trazer de inesperado. Depois da dor do auto-conhecimento, esta é a história da busca esperançada da alegria, essa reivindicação de fé e coragem em tempos convulsos, essa força maior da vida, que, como a beleza, pode estar em qualquer lugar.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Comida fit

A minha opinião:
Gordon Ramsay é um chef sobejamente conhecido pela sua participação em programas televisivos. Recordo-o pelo seu talento mas também pelo seu temperamento.
 
Gosto de comer. Sou o que chamam "Um bom garfo" e tenho que cozinhar para a família. Familia essa, que hoje em dia tem a preocupação consciente de exigir comida saudável, logo, este livro FABULOSO é absolutamente necessário. 
 
Comida saudável tem que ser equilibrada, saborosa e variada. Adequada à altura do ano e do dia. Este livro tem estes aspetos salvaguardados e deste modo, podemos selecionar os nossos pratos. E come-se com os olhos porque as fotos deixam qualquer leitor a salivar e apto a entrar na cozinha e a testar qualquer uma das receitas que Gordon sugere com arte. Recomendo Tacos de Peixe com Especiarias mas são tantas as receitas que não vou repetir. As saladas são divinais.
 
Muitos são os livros de receitas disponíveis no mercado mas este é especial. Atrevam-se a desfolhá-lo e não vão resistir.
 
Autor: Gordon Ramsay
Páginas: 288
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-06384-7
Edição: 2020/ Junho

Sinopse:
«Estas são as minhas receitas preferidas sempre que quero comer bem em casa. Tudo o que espero é que lhe sirvam de inspiração para começar a cozinhar pratos que lhe deem mais saúde, seja qual for o seu principal objetivo.»
GORDON RAMSAY

Chefe premiado e fanático da boa forma, Gordon Ramsay propõe o guia essencial para uma alimentação saudável. As mais de 100 deliciosas receitas deste livro prometem otimizar a sua saúde, forma e bem-estar geral, deixando-o satisfeito, saciado e cheio de energia
 

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Mulheres que compram flores

A minha opinião:
Percebo, porque este romance se tornou um sucesso de vendas, apesar do título que não aprecio, ainda que faça sentido dado que o enredo se passa no Jardim do Anjo, onde um núcleo se reúne por diferentes motivos,  o que vai desencadear um processo em cadeia.

Os múltiplos pequenos grandes problemas que as mulheres arranjam para si mesmas. Uma história de mulheres para mulheres. Exatamente o meu tipo de livro. O que me vicia.

Marina, é a protagonista. Uma copiloto na vida. E Olívia, uma florista muito especial. Sagaz. Ambas reconstruiram-se num oásis. Um lugar que continha a paz ansiada. Uma toca para hibernar e fortalecer. Um lugar mágico que outras mulheres encontraram também. Na partilha, desvendaram segredos, despiram-se de preconceitos e expectativas e descobriram a sua essência na grande aventura da vida. E libertaram-se da culpa, a boa e velha amiga judaico-cristã.
A linguagem das flores tem um papel nas relações afetivas destas mulheres. E a  curativa amizade também. O mais invulgar são as metáforas de Marina enquanto velejava, e escrevia o seu diário de viagem.
  
Um romance extraordinário que li sem parar porque fiquei amiga da Gala, Victoria, Aurora e Cassandra. Mulheres comuns que quis conhecer a fundo. Mulheres admiráveis.
 
Autor: Vanessa Montfort
Páginas: 384
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03301-7
Edição: 2020/ junho

Sinopse:
Num bairro pequeno e central da cidade, há cinco mulheres que compram flores. A princípio, nenhuma o faz para si própria: uma compra-as para um amor secreto, outra para o seu escritório, a terceira para as pintar, uma outra para os seus clientes, e a última... para um homem morto.
«A última sou eu e esta é a minha história.»
Após a perda do seu companheiro, Marina percebe que está totalmente perdida: durante demasiado tempo, ocupou um lugar secundário na sua própria existência. Procurando começar do zero, aceita um trabalho temporário numa curiosa florista chamada «O Jardim do Anjo». Lá, encontrará outras mulheres, todas muito diferentes entre si, mas que, como ela, estão numa encruzilhada vital no que diz respeito ao trabalho, aos amores, aos desejos ou à família. Do relacionamento entre elas e Olivia, a excêntrica e sábia dona da florista, despontará uma amizade íntima da qual depende o novo rumo que as suas vidas tomarão.
Viciante, divertido, romântico e honesto, Mulheres que compram flores é um comovente romance sobre amizade e independência feminina, numa viagem épica rumo ao centro dos sonhos da mulher contemporânea.

terça-feira, 9 de junho de 2020

Um Verão de Segredos

A minha opinião:
De quando em quando, preciso de livros mais leves e inocentes, exuberantes de vida, que me distanciem de outras, mais pesadas, marcadas pela perda, dor e morte. Frequentemente, sou induzida em erro.
"A história de duas mulheres ligadas por um segredo do passado" parecia um destes livros que serviam para contrabalançar. Um romance terno e suave. Maddy e Chloe são duas personagens encantadoras. Uma sombra paira sobre uma delas e uma sombra que conheço sobejamente bem de outras leituras. Um marido abusador e controlador, mascarado de dedicado e apaixonado. E nesta fase, a leitura ganhou novo ímpeto, principalmente quando as duas personagens se cruzam.

Na verdade, a trama não se centra em duas mas em três mulheres, uma delas já desaparecida. E o amor, as várias faces deste sentimento tão possessivo e vertiginoso. O cenário é a bela costa da Cornualha. 

Não foi uma leitura apaixonante porque antecipei parte do desfecho mas foi uma leitura muito agradável, sem pesar, apesar de tratar de assuntos sérios. 


Autor: Nikola Scott
Páginas: 327
Editora: Círculo de Leitores
ISBN: 1095587
Edição: 2014/ fevereiro

Sinopse:
Agosto de 1939. Na tranquila Summerhill, Maddy aguarda a chegada da sua adorada irmã Georgiana. Georgiana traz um novo amigo - o atraente Victor - mas Maddy receia que ele não seja nada do que aparenta, o que na verdade se confirmará...Hoje. Este deveria ser um momento de alegria para Chloe - que acaba de descobrir que está grávida. Mas apesar da devoção do marido, Chloe teme pelo seu futuro.Quando o acaso a leva a Summerhill, ela é atraída pelo mistério do que aconteceu décadas atrás. E o passado regressa de um modo que poderá mudar tudo.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Margarida Espantada

A minha opinião:
O melhor é o último. Li os dois livros anteriores do Rodrigo Guedes de Carvalho e cada um deles traz uma marca, uma missão, um despertar para uma realidade para o qual estamos alheados. O lado jornalístico do autor não se perde, apura-se numa escrita incisiva, em romances que perturbam e fascinam.
 
A violência doméstica e as doenças mentais são temas fortes e fraturantes da sociedade. Não são temas que eu procure porque exigem alguma resistência. Temo ler porque são credíveis numa narrativa ficcionada.  

Margarida Espantada foi uma surpresa dada a empatia pelas personagens. Conciso nas palavras, Rodrigo Guedes de Carvalho enreda o leitor num mistério que quer desvendar e vai tecendo a estória, personagem a personagem e revelando gradualmente o mal, perpetuado no tempo. Oculto, sigiloso e acompanhado de muita dor.
 
Um romance que deveria ser obrigatório ler. Duríssimo mas brilhante. Uma narrativa emotiva para uma leitura imparável. Muito, muito bom e tão avassalador que fiquei perdida sem saber o que ler a seguir.
 
Autor: Rodrigo Guedes de Carvalho
Páginas: 284
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722069830
Edição: 2020/ junho

Sinopse:
Margarida Espantada é sobre família. Sobre irmãos. É sobre violência doméstica e doença mental. É um efeito dominó sobre a dor.

A literatura é um jogo do avesso. Os bons romances são sempre sobre amor, e os melhores são os que fingem que não são.
Não devemos recear livros duros. As histórias que mais nos prendem trazem uma catarse que nos carrega as mágoas, personagens que apresentam as suas semelhanças connosco.
Gosto da ficção que é número arriscado de circo, com fogo e espadas, que nos faz chegar muito perto da queimadura que não vamos realmente sentir. Mas reconhecemos.