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domingo, 28 de outubro de 2012

Álbum de Verão

Autor:  Emylia Hall
Edição: 2012, Junho
Páginas: 304
ISBN: 9789722635240
Editora: Civilização

Sinopse:
Beth Lowe recebe uma encomenda.
Lá dentro há uma carta que a informa da morte da mãe, com quem cortou relações há muito tempo, e um álbum de recortes que Beth nunca tinha visto. Tem um título – Álbum de Verão – e está repleto de fotografias e lembranças reunidas pela mãe para recordar os sete gloriosos verões que Beth passou na Hungria rural quando era criança.
Durante esses anos Beth dividia-se entre os pais divorciados e dois países muito diferentes. A sua encantadora mas imperfeita mãe húngara e o seu pai inglês carinhoso mas reservado, a fascinante casa de uma artista húngara e uma casa de campo sem vida no interior de Devon, Inglaterra. Esse tempo terminou do modo mais brutal quando Beth completou dezasseis anos.
Desde então, Beth não voltara a pensar nessa fase da sua infância. Mas a chegada do Álbum de Verão traz o passado de volta – tão vivo, doloroso e marcante como nunca.

A minha opinião:
Encantador enquanto aborda a fase mais feliz, inocente e cheia de esperança de Beth em sete verões (dos 10 aos 16 anos de idade). Marcada pela dor e saudade com a perda dos que mais amou nos quatorze anos subsequentes.

Apesar da sua reduzida dimenão, não é um livro fácil de ler. Torna-se muito extenso e algo demorado com a sua prosa muito descritiva, lirica sobre um lugar de doce memória  - Villa Serena, na Hungria.
Imagens campestres idílicas de verões passados, recordadas gradualmente e na medida do amadurecimento/ crescimento da personagem enquanto desfolha um álbum de fotos deixado por Marika, que o concebeu com esmero e carinho.
 
Um romance denso sobre sentimentos. Sentimentos de afeto recalcados para se proteger da dor e da mentira ou omissão que acompanhou essa fase da sua vida.
Bem escrito e até belo mas que me deixou "um sabor amargo". As boas criticas que li não corresponderam à minha expetativa. Ou a minha predisposição atual não era favorável a um romance tão sentimental. A relação distante/ pouco comunicativa de Beth com o pai, afetuosa com a "mãe"e  Zóltan e apaixonada pelo Tamás perturbaram-me um pouco pelo muito e simultâneamente pouco que durou.
 
"Existe uma espécie triste de poesia nos incautos. Por cada catástrofe que se abate sobre nós, houve um tempo anterior em que de nada suspeitávamos. Mal sabíamos a que ponto erámos felizes."
(pag. 17)
 
"Uma coisa sei: as velhas feridas nunca desaparecem. São, aliás, as coisas que nos moldam, são as coisas para que olhamos quando começamos a fragmentar-nos."
(pag. 24)
 
"A sua relação com o álbum é estranha. Demorou tempo a compreendê-lo, a desejar deliciar-se com as suas páginas. Agora sabe que não é apenas o seu mundo que ama mas o facto de ele existir."
(pag.299)

sábado, 20 de outubro de 2012

A noiva despida

Autor:  Nikki Gemmell
Edição: 2012, Outubro
Páginas: 320
ISBN: 9789892321301
Editora: Edições ASA

Sinopse:
Uma mulher desaparece. Ela era a esposa perfeita, a mãe exemplar, uma mulher irrepreensível. O que dizer então do explosivo diário que deixa para trás? Nas suas páginas, ela revela pormenores surpreendentes da sua jornada de descoberta e libertação sexual.
Ela inicia o seu diário em Marrocos. Está em lua-de-mel. Acredita ser feliz na sua vida confortável e convencional. Mas ela precisa de mais. Ao descobrir um livro raro, de uma autora anónima do século XVII, sente-se inspirada pela sua heroína fogosa, que desafia as convenções e busca o prazer.
Mas o que começa apenas na sua imaginação, rapidamente ganha contornos de urgência. Pela primeira vez, ela põe em prática o que de mais íntimo e inconfessável lhe vai na alma. Assim começa uma vida dupla na qual transpõe a barreira entre fantasia e realidade, num mundo onde o desejo não conhece limites. Mas o preço dessa liberdade pode ser demasiado alto…
A Noiva Despida é uma aventura nos meandros do sexo e do amor. Uma partilha de confidências que apenas as melhores amigas ousam fazer. No final, é impossível evitar a pergunta: até que ponto conhecemos verdadeiramente outra pessoa?
 
A minha opinião:
Um Diário Intimo em 138 "lições"/capítulos, apoiado num manuscrito seiscentista de uma autora isabelina."Uma perspectiva nua e crua do casamento - o que uma esposa pode pensar mas nunca diria" (pag. 263). Escrito anónimamente para não expor toda uma vida secreta, de verdades reprimidas sobre o que realmente sentia e o que realmente queria.
 
FASCINANTE, ERÓTICO E OBSCENO. Uma nova edição atual.
 
"A voz forte e singular nunca vacila, o texto tem um rigor tal" que, sentimos contraditórias emoções na forte e até agressiva narrativa. Despudorado e perturbador na sua exposição, com dúvidas, ansias e controversos pareceres sobre o marido Cole, o amante Gabriel e a melhor amiga Theo.

Sensações, perceções, reações, emoções e sentimentos, tudo aflui à superfície enquanto o  descreve esta jovem mulher na faixa dos 35 anos. Um livro que inquieta e desassossega, pelo muito que oculto se passa no universo feminino através desta "atriz" esposa e mãe. A diferença é que são desejos vividos e realizados, não sujeitos ao espaço de uma fantasia.
 
"Ninguém, a não ser o teu marido, sabe da cautela que rege a essência da tua vida. A tua vida de adulta tem sido um progressivo retiro da curiosidade e do espanto, uma infidável série de atrasos e adiamentos. Querias ser tanta coisa, antigamente, mas a vida teimou em intrometer-se. Brilhaste no curso de Jornalismo, mas nunca foste suficientemente ambiciosa para uma redação. Tinhas pavor dos telefonemas frios, de invadires a vida das pessoas. Fizeste um mestrado e deixaste-te levar pelo ensino e sempre duvidaste das tuas capacidades ... Acomodaste-te. Esquivaste-te à criatividade, ao voo, ao risco, nunca tiveste coragem de dar asas a um sonho, qualquer sonho."
(pag. 110)
 
Uma dupla identidade numa história pessoal, sobre aquele tipo de intimidade que abre brechas na vida privada e que não lemos com indiferença ou distanciamento porque em algumas passagem reflete-se em quem o lê.
Obrigatório para quem quer experienciar um tipo de leitura diferente. Uma leitura participativa.

domingo, 14 de outubro de 2012

O Mercador de Livros Malditos



Autor:  Marcello Simoni
Edição: 2012, Setembro
Páginas: 384
ISBN: 9789892240294 
Editora: Clube do Autor
 
 
Sinopse:
Uma incursão apaixomante pela história. Uma viagem no tempo até à época medieval.

É quarta-feira de cinzas do ano de 1205. O padre Vivïan de Narbonne é perseguido por um grupo de cavaleiros que ostentam estranhas máscaras. O padre possui um bem muito precioso que precisa de proteger a todo o custo, mesmo que tal possa significar a sua morte.
Treze anos passaram sobre este dia tenebroso. O amigo do padre, Ignazio de Toledo um mercador de relíquias, é encarregado de seguir o rasto de um livro raro, o Uter Ventorum. Diz-se que essa cópia de certos manuscritos persas pode conter o método de evocar os anjos e a sua divina sabedoria. As criaturas sobrenaturais, uma vez invocadas, estariam dispostas a revelar os segredos dos poderes celestes.
E assim se inicia a viagem de Ignazio através da Itália, da França e de Espanha em busca de um manuscrito que alguém terá desmembrado em quatro partes, escondido cuidadosamente e protegido por meio de intrincados enigmas. Só que o mercador não é o único a procurá-lo. Quem será o primeiro a conseguir descobri-lo? E o que estará cada um disposto a arriscar para desvendar o mistério?
O Mercador de Livros Malditos é uma história envolvente, marcada por intrigas, segredos ocultados durante séculos e mistérios que vão para lá do conhecimento de sábios e de alquimistas. Afinal, que segredo poderá conter a chave para o domínio absoluto do mundo?
 
A minha opinião:
Este é um daqueles casos em que a sinopse revela quase tudo sobre a história passada na obscura Idade Média, como a capa tão bem o documenta. Ainda assim, é uma bem urdida trama sobre uma tenaz e audaciosa busca de um misterioso livro, através de enigmáticas pistas que apenas a mente iluminada de Ignazio de Toledo decifra. No seu rasto, tenebrosas forças do mal procuravam apoderar-se desse objeto de culto, que acreditavam dar amplos poderes a quem o possuisse.
 
"- Diz-se que a Santa Vehme foi instituída por Carlos Magno para manter a ordem nas terras germânicas. Tratava-se de um tribunal secreto composto por cavaleiros que tinham o direito de vida ou de morte sobre quem quer que fosse. Ninguém estava isento do seu castigo, nem sequer os nobres. Com o tempo, vieram a ser chamados de "Videntes". Reivindicam as suas execuções deixando no lugar do delito um punhal cruciforme. Puniam uma infinidade de delitos, da descrença à usurpação do poder soberano, da necromancia à violência sobre as mulheres. Os suspeitos eram expulsos das suas casas e levados perante os juízes e se fossem considerados culpados eram imediatamente enforcados. À testa da Santa Vehme estão o grão-mestre, depois vêm os franco-condes e, por último, os franco juízes."
(pag. 194)
 
Um livro surpreendente, com Prólogo e Epílogo, dividido em seis partes e oitenta oito capítulos. Devido ao suspense numa narrativa bem concebida e com um adequado enquadramento de época, fui agradávelmente enredada na ação mas fiquei algo desapontada com o final que apesar de terminar no ... fim ... feliz, não se concretizou como eu esperava, apesar do fator inesperado com a personagem Uberto.
 
Um livro que recomendo para quem aprecia romances do género.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um dia naquele inverno

Autor:  Sveva Casati Modignani.
Edição: 2012, Outubro
ginas: 384
ISBN: 978-972-0-04419-8
Editora: Porto Editora
 
Sinopse:
Numa grande mansão, às portas de Milão, vivem os Cantoni, proprietários há três gerações da homónima e prestigiada fábrica de torneiras.
Aparentemente, todos os membros da família levam uma vida transparente, mas, na realidade, todos eles escondem segredos que os marcaram; existem situações que, ainda que conhecidas por todos, permanecem um tema tabu. Omite-se até a loucura de que sofre Bianca, a matriarca desta dinastia.
Um dia, entra em cena Léonie Tardivaux, uma jovem francesa sem dinheiro e sem parentes, que casa com Guido Cantoni, o único neto de Bianca. Léonie adapta-se bastante bem à rotina familiar, compreendendo a regra de silêncio dos Cantoni. Isso não a impede de ser uma esposa exemplar, uma mãe atenta e uma gerente talentosa, que, com bastante êxito, conduz a firma pelo mar hostil da recessão económica. No entanto, também ela cultiva o seu segredo, aquele que todos os anos, durante apenas um dia, a leva a largar tudo e a refugiar-se no Lago de Como.
 
A minha opinião:
Sempre que saí um livro da Sveva, eu apresso-me a comprá-lo e tem prioridade sobre todos os outros livros que tenho em pilha ordenada por ler. Dos vários escritores que muito aprecio, destaca-se claramente pelo seu estilo único e pelas histórias singulares que, através de personagens femininas fortes, inteligentes e priveligiadas (com exceção do penúltimo - Mr. Gregory) contam histórias de vida e desvendam mistérios e segredos, muito deles de familias.
 
Os livros da Sveva tem em mim, o mesmo encanto e carisma que em criança tinham os contos de encantar. Não se trata de fantasia que nos faz sonhar mas descobrir entre as suas páginas, personagens tão integras e corajosas que gostariamos de as conhecer e com elas conviver  num  mundo paralelo e real.

Esta saga familiar e as peculiaridades de cada um dos elementos da mesma, com o suas alegrias e tristezas, alguns silêncios resultado de escolhas difíceis mas profundamente sentidas, bem como as delicadas questões da loucura, e infidelidade são bem fundamentados através de tudo o que nos é dado a conhecer sobre as perssonagens.
Para mim, este foi mais um romance que muito prazer me deu ler.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Reflexão

Ler é para mim, uma paixão que se tornou um hobbie de tempos livres. Todos os momentos de pausa ou lazer, eu ocupo a ler. E leio quase tudo o que casualmente me surge e que, defina como interessante ou promissor, principalmente romances. Depois de tantos, partilhei neste e no espaço do Segredo dos Livros, as minhas opiniões, esperando com isso motivar outros a procurar ler e assim formar a sua opinião sobre este ou aquele livro.
 
Frequentemente me debato com a dúvida, de se os meus comentários refletem o que realmente o livro representou para mim e se consegui transmitir a quem eventualmente os possa ler, algo susceptível de interesse ou curiosidade.
Na verdade, não tenho qualquer propósito de promover ou publicitar esta ou aquela editora, ou este ou aquele autor, apenas gostaria que um livro que pode moldar uma personalidade ou ir de encontrar a um sentir, fosse lido. Apenas quero, que outros sintam e apreciem como eu os livros, e desfrutem de momentos especiais e enriquecedores na sua companhia.
 
Quantas e quantas vezes procurei ler um livro devido a um comentário verbal ou escrito. Claro que cada um de nós tem juízos de valor diferentes sobre o mesmo objecto e que mesmo estes, podem mudar consoante o nosso estado de espírito, mas o importante é mesmo investir tempo nisso. Preencher a nossa mente com palavras e histórias que nos chegam ao coração.
 
 

A Arca

Autor:  Victoria Hislop
Edição: 2012, Julho
ginas: 416
ISBN: 9789722635264
Editora: Civilização

Sinopse:
Tessalonica, 1917.
No dia em que Dimitri Komninos nasce, um incêndio devastador varre a próspera cidade grega, onde cristãos, judeus e muçulmanos vivem lado a lado. Cinco anos mais tarde, a casa de Katerina Sarafoglou na Ásia Menor é destruída pelo exército turco. No meio do caos, Katerina perde a mãe e embarca para um destino desconhecido na Grécia. Não tarda muito para que a sua vida se entrelace com a de Dimitri e com a história da própria cidade, enquanto guerras, medos e perseguições começam a dividir o seu povo.
 
Tessalonica, 2007.
Um jovem anglo-grego ouve a história de vida dos seus avós e, pela primeira vez, apercebe-se de que tem uma decisão a tomar. Durante muitas décadas, os seus avós foram os guardiões das memórias e dos tesouros das pessoas que foram forçadas a abandonar a cidade. Será que está na altura de ele assumir esse papel e fazer daquela cidade a sua casa?
 
A minha opinião:
"Como seria fazer de Tessalonica a sua casa permanente? Era um lugar onde as pessoas apinhavam as ruas de uma alvorada à outra, onde cada laje do pavimento, antiga, moderna, polida ou quebrada estava impegnada de história e onde as pessoas se saudavam umas às outras com tanta afababilidade. Suspeitava que a cidade seria sempre desafiada pela adversidade, mas havia uma outra coisa de que ele tinha a certeza: de que continuaria a ser rica e plena de música e de histórias.
Subitamente, soube que ia ficar. Para escutar e para sentir."
(pag. 416) 
 
Neste magnifico cenário que durante um seculo atravessou inúmeras vicissitudes (como a História o documenta) que Dimitri e Katerina crescem, vivem  e envelhecem e arrebatam o leitor com uma narrativa forte e sensivel de um tempo e de um lugar que nos dá uma sensação tanto de história como de intemporalidade. As personagens são tão reais como nós, que nos confundem.
 
Reconheço o talento de Victoria Hislop que fez dela uma das minhas autoras preferidas, sendo mesmo imperdível, com este novo romance. Entrelaça como se de uma tapeçaria se tratasse, os fios das vidas das diversas personagens com acontecimentos que,  de um colorido e padrão únicos nos deixam deslumbrados.

Um romance que não se lê de ânimo leve pelo muito que nos diz, e nos faz pensar. Nos conturbados tempos que vivemos algum paralelismo fazemos. A prodigiosa capacidade do ser humano de amar, sobreviver, resistir e renovar.
 
Uma escrita fluida e ritmada que se desenvolve perante os nossos olhos e que dificilmente interrompemos de tão empolgados e envolvidos que ficamos.

Um prazer de ler!