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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A amiga

Autor: Dorothy Koomson
Edição: 2017/ junho
Páginas: 496
ISBN: 978-972-0-04025-1
Editora: Porto Editora

Sinopse:
Quando o marido é promovido, Cece Solarin muda-se para Brighton com os três filhos, animada com a possibilidade de um recomeço. No entanto, o ambiente do bairro que a acolhe parece-lhe ansioso e os vizinhos sobressaltados.

Cece descobre que, três semanas antes, Yvonne, uma das mães mais populares da zona, foi deixada às portas da morte, no pátio da escola dos filhos - a mesma onde se vê obrigada a inscrever os seus.

No primeiro dia de aulas, Cece conhece três mães muito diferentes que parecem querer ajudá-la neste novo começo. Mas Maxie, Anaya e Hazel são também amigas de Yvonne, e a polícia desconfia que uma delas poderá estar envolvida no crime.

Preocupada com a segurança dos filhos, Cece está decidida a descobrir a verdade…


A minha opinião:
Bestial!
Gosto tanto quando o enredo é tão envolvente e verossímel que as personagens tornam-se nossas amigas (ou inimigas) e a leitura tão viciante que as quase 400 páginas lêem-se num ápice.
Dorothy Koomson é uma quase estreia para mim porque o único livro que li era bom, mas sem deixar marca e sem a sinalizar como uma autora a seguir. Este romance quase me passou despercebido como sendo mais um romancezinho. A amiga é um título simples mas qualquer mulher sabe o quanto pode ser complexo. Na verdade, qualquer pessoa sabe. 
 
"... fazer amigos é surpreendentemente fácil, mas a malha que resulta dessa amizade é enganosamente complexa." (pag. 352)

Enganosamente semelhante a um outro romance de que muito gostei como "Pequenas Grandes Mentiras" de Liane Moriarty. E só isso era o bastante para eu o ler. Poderia ser uma desilusão, mas se não o superou ficou lá perto. As personagens marcantes e o suspense no muito que se pode revelar numa intriga que aparenta ser banal é um trunfo que a autora sabe usar com uma narrativa em que cada uma intervêm no tempo certo. Cece é uma nova amiga e a personagem central que vai desvendando toda a tramoia. 

E mais não conto, para não estragar o prazer da descoberta. 
Um prazer de ler!

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

O Porto das Almas

Autor: Lars Kepler
Edição: 2017/ maio
Páginas: 392
ISBN: 978-972-0-04841-7
Editora: Porto Editora

Sinopse:
Jasmin é uma mulher soldado do exército sueco colocada no Kosovo que vive para o filho, Dante, cujo pai é um camarada de armas, um homem instável que tenta afogar os horrores da guerra em álcool e drogas. No Kosovo, Jasmin fica gravemente ferida e, durante a hospitalização, enquanto se encontra entre a vida e a morte, a sua alma parte para uma misteriosa e sobrelotada cidade portuária, um porto de almas, de onde os que morrem jamais regressarão. Mas Jasmin é forte e consegue escapar.

Dois anos após a sua primeira experiência na cidade dos mortos, um acidente rodoviário obriga Jasmin, desta feita acompanhada pelo filho, a regressar: todavia, só ela é que consegue escapar ao porto das almas. O caso de Dante, que está à espera de uma operação, é muito mais grave, e Jasmin não pode abandoná-lo à mercê da cidade misteriosa: a sua única opção é voltar, uma vez mais, e lutar por quem ama, num jogo terrível de vida e morte no qual é provável que saia derrotada.


A minha opinião:
Um thriller sobrenatural. Pareceu-me um bom livro para desligar do anterior. Para mais, ainda não tinha lido nada desta dupla de escritores suecos que assina com o pseudónimo Lars Kepler, e este em particular foi muito bem recomendado.

O reino dos mortos representado por uma cidade portuária sem regras é onde quase toda a ação se passa, como elemento sobrenatural desta narrativa em dois tempos, ou melhor, em dois mundos paralelos. Jasmim é uma personagem forte marcada por uma quase morte que lhe trouxe memórias da cidade que a levaram a ser considerada desiquilibrada. A maternidade alterou o seu modo de vida em função do bem estar de Dante, mas quando um acidente de viação a faz regressar, verifica o que muitos sabem e não querem revelar.

A corrupção, a violência e a morte, com descrições tão visuais foi a parte menos empolgante desta leitura trepidante. Claro que se trata de um thriller, mas esta é uma caracteristica dos autores nórdicos, que não me distanciou tanto assim do livro anterior. Exímios neste género literário, o enredo é bem construído e a leitura fácil não deixa de nos contagiar com a adrenalina de Jasmin que luta para salvar o filho. 

Enfim... Continua no próximo livro da série.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O Ministério da Felicidade Suprema

Autor: Arundhati Roy
Edição: 2017/ junho
Páginas: 464
ISBN: 9789892339146
Editora: Asa

Sinopse:
Num cemitério da cidade, Anjum desenrola um tapete persa puído entre duas campas. Num passeio de betão surge um bebé, como que do nada, num leito de lixo. Num vale coberto de neve, um pai escreve à filha de cinco anos, falando-lhe do número de pessoas que estiveram presentes no seu funeral.

Num apartamento, sob o olhar atento de uma pequena coruja, uma mulher solitária alimenta uma osga até à morte. E, na Jannat Guest House, duas pessoas dormem abraçadas como se tivessem acabado de se conhecer.

Uma viagem íntima pelo subcontinente indiano, desde os bairros superlotados da Velha Deli e os centros comerciais reluzentes da nova metrópole às montanhas e os vales de Caxemira, com um elenco glorioso de personagens inesquecíveis, apanhadas pela maré da História, todas elas em busca de um porto seguro. Contada num sussurro, num grito, com lágrimas e gargalhadas, é uma história de amor e ao mesmo tempo uma provocação. Os seus heróis, presentes e defuntos, humanos e animais, são almas que o mundo quebrou e que o amor curou. E, por este motivo, nunca se renderão.

 
A minha opinião:
Não li "O Deus das Pequenas Coisas". Ainda assim, estava entusiasmada em ler o novo romance e mudar para uma leitura com um diferente apelo dos sentidos. Contudo, a prosa colorida, crua e inquietante não me agarrou inicialmente. Talvez, porque não soubesse de todo o que me esperava. Um encadear de histórias, com tanto de mirabolante ou mistico, violento ou realista que não se esquece facilmente, sendo esse o propósito oculto - intemporalidade. Alguns dos episódios ultrapassam a ficção. Anjum é a heroína transgénero, a personagem principal que atravessa todas as histórias e com o seu nascimento começa a narrativa. Outras personagens marcam e destacam-se por capítulos.  

A India. Os vales de Caxemira. As suas mil e uma facetas. As novas familias de coração, diferenciadas e alargadas. A guerra como modo de vida. A história num ciclo de perda e renovação, perturbação e normalidade. Tanto para apreender. O mundo é um lugar estranho.

"Como sempre, a história seria tanto uma revelação do futuro como era um estudo do passado" (pag. 421) 

Avassalador, recorre a requintadas metáforas e terminologia própria para nos transmitir em sussurro ou gritos a alma de um povo. Um romance de emoções fortes e sentimentos à flor da pele. Esperança e dor entretecidas de forma apertada e inextricável.  

"Como contar uma história destroçada? Tornando-me lentamente todos. Não. Tornando-me lentamente tudo." (pag.456)  

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A Seca

Autor: Jane Harper
Edição: 2017/ julho
Páginas: 352
ISBN: 9789892339443
Editora: Asa

Sinopse:
No calor sufocante do deserto, uma pequena vila é abalada por um crime inexplicável. Luke Hadler, filho da terra e amado por todos, matou brutalmente a mulher e o filho, tendo-se suicidado em seguida. Dos alegres retratos de família apenas sobreviveu a pequena Charlotte, de 13 meses.
Ninguém parece duvidar da explicação oficial para o crime exceto os pais de Luke, que tentam convencer o amigo de infância do filho, Aaron Falk, a manter a mente aberta a outras possibilidades.

Aaron está relutante. Após anos de ausência, o regresso à terra natal está a revelar-se duro mas as memórias da infância partilhada com Luke falam mais alto. Embora dividido, ele aprofunda a investigação e, pouco a pouco, começa também a duvidar da acusação que paira sobre a honra do amigo. Mas há algo ainda mais assustador: estas mortes ameaçam desenterrar o velho segredo que ditou o fim da inocência de Aaron e Luke tantos anos antes. Sob um sol escaldante, a claustrofóbica vila assolada pela seca pulsa de tensão. Se Luke é inocente, estará o culpado pela morte da sua família a viver entre eles? Todos se conhecem e ninguém seria capaz de semelhante atrocidade. Certo?

Uma atmosfera intensa e vibrante que esconde um mistério surpreendente. O romance de estreia de Jane Harper é absolutamente imperdível.


A minha opinião:
NÃO É UMA SECA! Talvez seja o melhor policial que me lembro ter lido. E não é uma frase de promoção.

Adoro quando a história é tão absorvente, mas tão absorvente, que nos poucos momentos livres que tenho me esqueço de tudo para mergulhar na leitura e acompanhar o desenrolar dos acontecimentos que, nesta narrativa nem antecipo.

Atmosférico é uma palavra que se aplica. A seca. A desolação e a dureza pura e dura da terra que se estende a perder de vista, em que a chuva é uma benção que não se dá há dois anos. Uma cidade pequena, boatos grandes. Um crime hediondo que parece estar relacionado com um mistério antigo. Uma trama tão equilibrada e bem contada que se torna exemplar, principalmente se se considerar que é uma estreia. Mal posso aguardar pelos próximos livros desta autora.

O início agarrou-me de imediato. O primeiro parágrafo bastou. O meu receio era de que a história fosse tenebrosa, mas não, é eficaz e consistente, e como tal, intensa e apaixonante. A investigação segue todos os passos que Falk, um policial, filho da terra escorraçado por estar ligado ao mistério do passado, deveria seguir oficiosamente. A cidade é uma personagem que Falk procura compreender. As memórias interligam os factos. E novos dados se revelam paulatinamente. Muito bom. Um livro para partilhar e perservar. 

"Não era a primeira vez que a quinta via morte, e as moscas-varejeiras não faziam distinção. Para elas, havia pouca diferença entre a carcaça de um animal e o cadáver de uma pessoa."

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A Mulher do Camarote 10

Autor: Ruth Ware
Edição: 2017/ julho
Páginas: 344
ISBN: 9789897243806
Editora: Clube do Autor

Sinopse:
Emocionante e compulsivo, este romance evoca o ambiente clássico dos policiais de Agatha Christie: um ritmo que aumenta gradualmente de tensão, a sensação de perigo iminente e um conjunto de suspeitos reunidos num único lugar.

A jornalista Lo Blacklock recebe um convite irrecusável: acompanhar a primeria viagem do cruzeiro de luxo Aurora Borealis. O serviço é exclusivo e a bordo estão vários empresários e pessoas influentes da sociedade. No entanto, a viagem ganha outros contornos para a jornalista. Certa noite, testemunha aquilo que acredita ser um crime no camarote ao lado do seu.

Desesperada, denuncia o ocorrido ao responsável pela embarcação. Ninguém acredita na sua versão, pois todos os passageiros continuam no navio. Blacklock decide investigar o crime por conta própria. Colocando a carreira e a própria vida em risco, ela não vai descansar enquanto não encontrar resposta para o mistério do camarote 10.

A minha opinião:
Muitos comentários já circulam sobre este livro. Eu li uns quantos e refleti sobre a minha opinião. Um cruzeiro nos fiordes noruegueses com o propósito de ver as Luzes do Norte é certamente aliciante, mas... não para mim. Não gosto de estar "fora de pé", e como tal, sabia que este enredo ficcionado não me seria indiferente.  A escrita simples e direta não falhou em passar uma tensão constante num espaço confinado. 

No começo da história, sexta feira, dia 18 de setembro, Lo Blacklock foi assaltada. No domingo, rompeu com o namorado antes de viajar como jornalista para cobrir a inauguração do cruzeiro. Perturbada e frágil, embarcou num barco  bem menor do que imaginara, com tectos baixos, corredores estreitos e espaços acanhados que davam uma sensação de clausura. Neste estado de espirito testemunha um crime e começa a investigar no restrito núcleo de presentes, o suspeito ou suspeitos, enquanto estes põem em causa a fiabilidade do seu testemunho. Apesar de não ter sentido grande empatia pela personagem, ela é muito humana nas suas emoções e reações.  

Em determinado momento, fui averiguar qual o título original deste thriller para perceber porque razão o título não coincidia com o texto. A vitima do camarote 10 foi quase sempre referida como a "rapariga" e não a "mulher. Traduzido à letra, pensei se não seria para não se confundir com qualquer outra "rapariga" num outro meio de transporte, de um qualquer outro livro do género. 

Em jeito de conclusão, é uma história intensa e vertiginosa, como convêm. Bem escrita, tem ritmo, suspense, ação e um bom final. O que se quer. Uma autora a seguir.