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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Deus Foi de Férias

 

A minha opinião:

Atraída fui ler a sinopse e vacilei. Disponível e no topo das minhas prioridades de leitura mas não o iniciava porque um rapto e cativeiro não é o que esperava ou pretendia ler.
Afinal, é uma estória despretensiosa com muitas surpresas que nos presenteia com boas personagens. E não é uma estória macabra ou com uma carga dramática pesada que seja amarga porque há algo mais que sabemos. O que não sabemos é o que nos leva a ler esta fluída narrativa com entusiasmo dada a aversão ao antagonista. Uau Edmundo. Gostei muito.

Autor: Edmundo Rosa
Páginas: 184
Editora: Oficina do Livro
ISBN: 9789896617912
Edição: setembro/2023

Sinopse:
No anexo do número 3 da Keizersstraat, em Amesterdão, uma mulher vai perceber que, durante mais de anos, esteve privada do mundo e de si própria. Nesse tempo viveu uma relação assente na única realidade que conhecia: a de ter sido raptada com 13 anos e mantida em cativeiro por ele. Ele, o filho exemplar, o excelente professor de Literatura Inglesa numa prestigiada universidade, na qual, os alunos jamais suspeitaram que aquele homem que tanto os cativava, que levava uma vida frugal, sem grandes imprevistos e oscilações, não era o cidadão exemplar que todos imaginavam, mas sim aquele que todas as noites a visitava no anexo escondido dos olhares de todos. Ele ensinava os clássicos de forma dedicada e fazia coisas inomináveis àquela mulher. Porém, quando tudo parecia ser o cenário perfeito para história de amor deturpado, os segredos começam a ser revelados e os acontecimentos precipitam-se. Ela começa a descobrir que afinal nada é aquilo que parece e que coisas terríveis podem ser o escape para a liberdade.

A Livraria dos Gatos Pretos

 

A minha opinião:

Não resisti ao título e sinopse deste livro ou não fosse eu uma incondicional admiradora de gatos pretos (e na minha casa sempre houve algum gato preto mas atualmente são dois) e ia comprar, se uma boa amiga não me o tivesse emprestado. Também eu gosto de ler policiais ou thrillers e Montecristo arrebatou-me nas primeiras páginas com Miss Marple e Poirot (os gatos da livraria) que ambientam esta trama que vicia com o clube de investigadores da terça feira que ajudam a resolver crimes no real. O melhor é mesmo o atendimento deste livreiro com idiotas. Apesar disso, um assassino anda à solta.

"Cada um tem os clássicos que merece."

Autor: Piergiorgio Pulixi
Páginas: 272
EditoraClube do Autor
ISBN: 9789897246951
Edição: outubro/2023

Sinopse:
Uma livraria peculiar. Um livreiro com um passado como professor de matemática. Uma investigação sobre um assassino implacável que se move nas sombras. Um grupo de detetives amadores, leitores inveterados, cada um com a sua própria fraqueza.

Um reformado melancólico, um frade vivaço, uma octogenária obcecada com assassinos em série, uma jovem que se veste de preto e sonha matar alguém e um livreiro à beira da falência. Confiaria nestes detetives para conduzir a investigação de um crime?

«Os casos mais difíceis costumam ser os mais banais. São espinhosos só porque o investigador carrega o crime com uma complexidade que é apenas aparente, fruto dos seus preconceitos. Mas, na verdade, é tudo extremamente simples e a resposta está ali, onde menos se espera, escondida sob um manto de banalidade.»

Os Esquecidos de Domingo

A minha opinião:

Muito bom. Não desilude e mais uma vez surpreende.

Duas histórias decorrem em paralelo. A de Justine e a de Helène e ainda que distanciadas no tempo, estas duas mulheres são muito especiais e muito próximas. Mulheres solitárias, com um imenso sentimento de perda e uma rara sensibilidade. E também estas mulheres se confundem com a Violette, de A breve vida das flores (um romance posterior de Valérie Perrin mas que foi o primeiro em português).

Um daqueles livros que dão um bom filme com algumas reviravoltas em que nada fica por explicar.

Os esquecidos de domingo num lar de idosos são quem imaginamos e é um título maravilhoso.

Autor: Valérie Perrin
Páginas: 312
Editora: Editorial Presença
ISBN: 9789722372503
Edição: novembro/2023

Sinopse:
Aos 22 anos, Justine vive com os avós e o primo, Jules, desde que os pais de ambos morreram num acidente. Os dias de Justine parecem suceder-se sem que nada se altere: trabalha nas Hortênsias, um lar de idosos na pequena aldeia onde habita, e adora conversar com os residentes. Entre eles, está Hélène, uma centenária cujo sonho sempre foi aprender a ler.

Justine e Hélène criam um profundo laço de amizade, alimentado pelas horas que passam a escutar-se e a partilhar memórias e sentimentos. E eis que, enquanto as conversas se multiplicam, três coisas acontecem: Justine começa a interrogar-se sobre a morte dos pais, compra um caderno no qual começa a escrever regularmente, e, no lar, surgem estranhos telefonemas que vão provocar uma pequena revolução nas Hortênsias… De que forma se entrelaçam as histórias? Como podem as antigas e novas memórias fazer Justine mudar o rumo da sua vida?

Como já nos habituou, Valérie Perrin deslumbra-nos com a sua enorme sensibilidade ao tratar os temas mais delicados das nossas vidas num romance em que a melancolia e a graça andam de mãos dadas e nada é deixado ao acaso do destino.

domingo, 26 de novembro de 2023

Olá, Linda

A minha opinião:

Corre, corre.
A dimensão de um livro é algo que tenho sempre em conta. Neste romance fui surpreendida porque a Ann Napolitano conta as histórias destas personagens sem perder tempo e como se as resumisse ao som ritmado dos seus passos numa maratona. Incrivel. O melhor é que o leitor embala entusiasmado na mesma velocidade com esta familia que gosta de conhecer porque todas as personagens são muito humanas. "...as quatro raparigas Padavano partilhavam as suas vidas, celebrando e utilizando as forças umas das outras, cobrindo as fraquezas umas das outras. Julia era a organizadora e líder, Slyvie, a leitora e voz sensata, Emeline, a cuidadora e Cecilia, a artista.

Um romance profundo, comovente e muito empático que se lê compulsivamente. Perfeito por tão completo e sintético. A breve definição de percepções, emoções ou sentimentos é tão exata que inquieta. "...o prazer entontecedor de mergulhar em novos mundos ficcionais.".

Olá, linda é um título maravilhoso para o imenso amor que esse cumprimento acarreta e que fazia eco em quem o ouvia. Até em quem o lê. Charlie, oh Charlie! William, oh William!
Um livro sobre ser leal a quem se ama. Um livro sobre ser leal a si mesmo.

Autor: Ann Napolitano
Páginas: 464
Editora: TopSeller
ISBN: 9789897871603
Edição: outubro/2023

Sinopse:
Poderá o amor curar uma pessoa ferida?
Uma história comovente sobre como é possível amar alguém, não apesar de quem a pessoa é, mas por causa disso mesmo.

William Waters cresceu numa casa silenciada pela tragédia, na qual os seus pais mal conseguiam olhar para ele, muito menos amá-lo; mas quando conhece a vivaz e ambiciosa Julia Padavano, é como se o seu mundo se iluminasse. E com Julia vem a sua família, pois ela e as três irmãs são inseparáveis: Sylvie, a sonhadora, é feliz com o nariz enfiado nos livros; Cecelia é um espírito livre, apaixonado pelas artes; Emeline cuida pacientemente de todos eles. Com os Padavanos, William experimenta um novo sentimento: ter um lar, pois cada momento naquela casa é repleto de caos amoroso.

É então que a escuridão do passado de William vem à tona, colocando em risco não apenas os planos cuidadosamente pensados por Julia para o futuro de ambos, mas também a inexorável devoção das irmãs umas pelas outras. O resultado é uma desavença familiar catastrófica que muda irremediavelmente as suas vidas.

Será a inabalável lealdade que outrora os ligava forte o suficiente para voltar a reuni-los quando é mais importante?

As Árvores

 

A minha opinião:

Não só não detestei como amei. Que maravilha! Um thriller policial burlesco que prende e vicia. Uma vingança tardia com uma sucessão de crimes violentos com um elemento em comum, em que intervêm personagens muito peculiares que, nos levam ao riso. Uma história intringante que de tão bem contada apesar da mistura de ódio racial com algum "folclore" característico do Mississipi tem um tanto de macabro como os linchamentos.
"Se querem conhecer um lugar, há que falar com a sua história." (pag.116)
Um sítio a abarrotar de pategos ignorantes parados no século dezanove onde andam a matar brancos e encontram sempre o mesmo negro morto em todos os locais do crime.

Autor: Percival Everett
Páginas: 324
Editora: Livros do Brasil
ISBN: 978-989-711-215-7
Edição: setembro/2023

Sinopse:
Uma série de homicídios macabros toma de assalto a cidade de Money, Mississípi. O xerife, os seus ajudantes, o médico-legista e demais habitantes daquela localidade orgulhosamente branca reagem com desconfiança quando uma dupla de detetives estaduais, negros, chega para ajudar na investigação. Em cada uma das cenas do crime, um mesmo elemento deixa-os a todos cada vez mais perplexos: um segundo corpo, de um homem incrivelmente semelhante a Emmett Till, rapaz negro linchado naquela cidade 65 anos antes. Quando os detetives se convencem de que se trata de uma vingança, são surpreendidos pelo facto de haver registo de mortes em moldes idênticos um pouco por todo o país. À medida que os corpos se amontoam, a investigação é conduzida até à casa de uma senhora centenária com um assombroso arquivo histórico. As Árvores é um romance audacioso, de sátira mordaz, que avança a ritmo veloz, sem desviar o olhar dos fantasmas que encontra pelo caminho.

O Pior dos Nossos Medos

A minha opinião:

Gosto de ler thrillers porque são viciantes quando são bons e ainda nos estimulam a criatividade enquanto tentamos desvendar o(s) autor(es) do(s) crime(s) no meio de várias pistas num registo de ficção. Perfeito para ler em transportes públicos que de tão envolventes nos mantêm despertos e abstraídos de tudo.

A vantagem dos clubes de leitura é que nos direcciona para leituras que provavelmente não iriamos pegar, como é este o caso. O problema é ler por metas. Neste cumpri mas o meu ebook ajudou porque estava fragmentado e recorrentemente bloqueava e saltava, o que quebrou o ritmo.Não desisti porque é ótimo e queria saber o desfecho. E não desiludiu.

Não há familias perfeitas e esta é exemplo mas o afeto que os unia era quase porque os manteve unidos quando o filho mais velho foi acusado de um crime e durante 7 anos lutaram para o inocentar.

Autor: Alex Finlay
Páginas: 360
Editora: Editorial Presença
ISBN: 9789722370486
Edição: fevereiro/2023

Sinopse:
Se a família deve estar perto de nós… Os inimigos devem estar ainda mais.

A noite foi de festa para Matt, um estudante universitário, mas, quando regressa ao seu quarto, dão-lhe a pior notícia da sua vida: quase toda a sua família - mãe, pai, irmão mais novo e irmã - foi encontrada morta no apartamento em que passava férias, no México.

A causa da morte parece ter sido uma fuga de gás e a polícia mexicana determina que se tratou de um acidente, mas o FBI e o Ministério dos Negócios Estrangeiros norte-americano não têm assim tanta certeza… e não dizem a Matt porque acham isso.

A tragédia é notícia em todo o lado, e não é a primeira vez que a família Pine faz manchetes. O irmão mais velho de Matt, Danny - a cumprir pena de prisão perpétua por ter matado a namorada adolescente, Charlotte -, tinha sido o protagonista de um documentário que se tornou viral, defendendo a tese de que Danny teria sido condenado injustamente.

Apesar de o país inteiro ter ficado ao lado de Danny, Matt guarda um segredo que nunca contou a ninguém: na noite em que Charlotte foi morta, Matt viu algo que o leva a acreditar que Danny é mesmo culpado.

À medida que a morte da família parece mais e mais suspeita e surge ligada ao caso de Danny, Matt sente que tem de desvendar a verdade por detrás de tudo aquilo, mesmo que, para isso, tenha de pôr a sua própria vida em risco. Mesmo que, para isso, tenha de enfrentar o pior dos seus medos.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Amor e Perda

 

A minha opinião:


Não é um livro banal. Não é um romance. Não é ficção.
Este livro de forma sucinta e pragmática discute a parte da vida que quase sempre evitamos discutir, o fim. E esse foi o pedido. "Por favor, escreve sobre isto" disse o meu marido. O que descreve é algo muito conhecido. A doença de Alzeihmer. O que não é conhecido, aceito ou referido é o suícídio medicamente assistido, opção para um fim digno.

Desenganem-se se julgam uma narrativa lúgrube ou sentimental. É uma narrativa amadurecida, esclarecida e lúcida, em que o amor e a dor fazem parte mas a razão tomou a decisão, enquanto o podia fazer. "Prefiro morrer de pé a viver de joelhos."
Belíssima e serena Amy Bloom.

Autor: Amy Bloom
Páginas: 240
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897833793
Edição: setembro/2023

Sinopse:
Amy Bloom começou a reparar em mudanças no marido, Brian. Reformou-se de um novo emprego de que gostava. Afastou-se das amizades mais próximas. Começou a falar bastante sobre o passado. Subitamente sentiu que existia uma parede de vidro entre eles. As suas longas caminhadas e conversas cessaram. O seu mundo foi lentamente abalado até uma ressonância magnética confirmar o que não podiam mais ignorar: Brian sofria de Alzheimer.

Ponderaram o impacto que isso teria no seu futuro como casal. Brian estava determinado a morrer de pé. A não viver de joelhos. Apoiando-se mutuamente numa última jornada, Brian e Amy tomaram a complicada decisão de recorrer à Dignitas, uma organização com sede na Suíça que permite às pessoas terminarem a sua própria vida com paz e dignidade.

Este livro discute a parte da vida que quase sempre evitamos discutir, o fim.

Foi Assim

A minha opinião:

Adoro a capa. E o título curto para uma breve história que começa a partir do matricídio. A imagem desta mulher alude à serena angústia da espera como a da narradora/ personagem. 

As narrativas de Natalia têm uma pecularidade que a distingue e que eu gosto muito. O distanciamento e a frieza com que são contadas as histórias, ainda que na primeira pessoa é assombroso e parece que as emoções e sentimentos profundos das personagens estão bloqueados mas o leitor não deixa de os sentir. E de perceber como se estivesse a visualizar o crescendo de uma tensão numa análise psicossocial intemporal. Foi assim. Um casamento mais ou menos igual a muitos outros. Dolorosamente brutal!

"Quando uma rapariga está muito só e leva uma vida bastante monótona e cansativa com poucos trocos no bolso e luvas gastas, corre atrás de muitas coisas com a imaginação e fica sem defesa perante os enganos e os perigos que a imaginação prepara todos os dias a todas as raparigas."

Autor: Natalia Ginzburg
Páginas: 104
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897833564
Edição: setembro/2023

Sinopse:
«No final, todavia no início. Pois o romance começa por narrar o crime: "Disparei-lhe nos olhos." Depois, sentada num banco do jardim público, antes de se entregar, evoca a história. Contá-la aqui seria retirar-lhe todo o sabor, aquele rigor límpido que a rege do princípio ao fim sem qualquer hesitação e nos faz lê-la toda de enfiada.»

Baumgartner


 A minha opinião:

Paul Auster. Nunca li. Não sei porquê porque livros dele há mas imaginava sérios e nada divertidos. Um discurso sério-cómico, critíco e muito realismo, os mesmos fatores que me levam a gostar de ler Siri Hustvedt era o que deveria ter levado em conta.

Baumgartner e o seu pequeno acidente doméstico, bem como a sequência de peripécias, levou-me a pensar em Ove, também ele um homem viúvo e pouco sociável mas as semelhanças ficam por aí. Ove é uma personagem zangada, fechada. Sy não. Ambas mudam.

Sy é professor e escritor. Um homem inteligente, lúcido que se sente dissociado. Um homem em fuga, que o sonho com Anna e que percebe que o tempo se escoa "... quando chegar o fim que ao menos lhe seja concedida a dignidade de o seu coração parar em pleno esforço de uma última frase da sua lavra. de preferência as palavras finais de um sonoro vão-se foder dirigido aos loucos famintos de poder que governam o mundo."

Linguagem acessível, escrita elegante e muito fluída para uma grande empatia com Baumgartner. Adorei.

Autor: Paul Auster
Páginas: 208
Editora: Edições Asa
ISBN: 9789892359519
Edição: outubro/2023

Sinopse:
Tudo começa com uma panela de água, que Sy Baumgartner - escritor de renome e professor de Filosofia à beira da reforma - acabou de esquecer no fogão.

A vida de Baumgartner fora definida pelo seu profundo amor pela mulher, Anna. Nove anos passaram desde que ela morreu inesperadamente num bizarro acidente de natação, e Baumgartner continua a lutar para sobreviver à sua ausência.

O romance de ambos é-nos então desvendado desde o seu início, em 1968, quando Sy e Anna se conhecem enquanto estudantes falidos em Nova Iorque, e segue a relação apaixonada que mantêm ao longo dos quarenta anos seguintes.

Serão as memórias de Baumgartner coincidentes com as de Anna, cujos textos autobiográficos ele decide agora ler? Porque é que nos lembramos de certos momentos da nossa vida e esquecemos outros por completo? De que são feitas as nossas histórias pessoais?

Baumgartner revela Paul Auster no auge da sua mestria criativa e estilística. Um romance fulgurante sobre a beleza e a tragédia da vida quotidiana.

Os Crimes do Verão de 1985

 

A minha opinião:

Uma ilha esquecida pelo mundo e pelo tempo, qual civilização perdida, onde nevava no inverno e fazia um calor abrasador no verão foi onde se deu os crimes de 85. A Ilha do Poço Negro, à qual Ademar Leal regressa ao fim de vinte e sete anos em que vai remexer neste caso, nunca fechado porque não houve corpos e apenas um confissão. Como jornalista tinha obsessão encontrar a verdade e esta personagem convenceu-me nas primeiras páginas desta trama que recua e avança.

Gosto de personagens credíveis e até reprováveis mas muito humanas. E o misterioso Elias Rufino também me agradou. Sherlock Holmes e o seu inseparável parceiro Dr. Watson foi o que me ocorreu. Um thriller bem construído que não me deixou antecipar nada e que me prendeu à história com muito interesse através de capítulos curtos e muito pensados. É por isso que vale a pena ler e autores portugueses assim é demais. Miguel fiquei admiradora.

Autor: Miguel d’Alte
Páginas: 384
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9789897870699
Edição: outubro/2023

Sinopse:
Verão. 27 de agosto de 1985. Numa noite de tempestade, duas crianças e a sua cuidadora, Beatriz - uma adolescente de dezasseis anos -, desaparecem da casa de férias dos Mariz, uma família abastada de Lisboa, ligada à banca, na pequena Ilha do Poço Negro.

Quando os pais regressam depois de jantar, encontram a casa vazia e sinais de luta e sangue. em pânico, e com a ajuda de Ademar Lear - um jovem jornalista que passava na rua a caminho de casa -, contactam as autoridades. A ilha está isolada devido à tempestade, as buscas decorrem toda à noite, sem sucesso. de manhã, após a tempestade passar, uma dupla de inspetores da Polícia Judiciária chega à ilha para investigar. A população acorda em choque e acolhe as forças da autoridade com desconfiança; jornalistas invadem a ilha: o caso torna-se mediático.

Dias depois, o violento namorado de Beatriz é preso. Todas as provas apontam para ele, mas são circunstanciais. É então que confessa os crimes e é condenado. Até que, em 2012, um documentarista estrangeiro chega à ilha com novas provas sobre o caso e entra em contato com Ademar Leal - jornalista caído em desgraça, atormentado pela investigação que o tornou famoso -, entretanto regressado à ilha.

O que se passou no verão de 1985?

Lei da Gravidade

A minha opinião:

Uma questão a que responder. Será que a vida imita a literatura, ou o contrário? E nesse propósito embrenhei-me nesta romance, de capítulos curtos, e personagens vulgares mas extraordinárias que apetece conhecer e querer estar. E que inquietam.

Gabriela Ruivo sabe escrever e sabe chegar ao cerne do que quer que o leitor atinja e como tal, não deixa esta questão sem resposta. A contemporaneidade é colocada em espelho a partir de um padrão de abuso e violência sobre as mulheres. E a espiral recua e avança em caleidoscópio em sensação de queda. Um romance que adorei.

"Os livros vão-se, as histórias ficam." Sementes para um futuro que já edifica 

Autor: Gabriela Ruivo
Páginas: 264
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03662-9
Edição: setembro/2023

Sinopse:
Será a vida que imita a literatura, ou o contrário?
O que terão em comum um velho à beira da morte numa cama de hospital, o escritor de um bestseller, um pré-adolescente inquieto e um menino de dois anos com um fascínio por livros? Que destino espera as amigas Maria Ana e Ana Maria – o espelho uma da outra? Conseguirá uma livrar-se do marido agressor, e a outra do sofrimento da perda? E Marinela? E Mariana? E a mãe solteira que existe em todas elas, fruto de um abandono continuado? E o pai, protagonista do descalabro? E o futuro, que teima em ser passado, e o passado, que teima em ser futuro?
O tempo é o grande mistério. É ele que se ri de nós do outro lado do espelho, no reflexo onde procuramos o sentido da existência e que teima em nos devolver a imagem do absurdo. É também ele que perpetua um incessável padrão de violência, que faz com que a mesma história se repita uma e outra vez, lutando contra a esperança do leitor de que o ciclo, por fim, se quebre.
Neste ousado e original romance, Gabriela Ruivo oferece-nos com maestria um universo alternativo onde o tempo se sujeita à lei da gravidade – a força motriz que agrega passado, presente e futuro, e dissolve os contornos da realidade – e convida-nos a explorar outros mundos no interior dos conceitos de espaço e de tempo e, em última análise, da própria Literatura.
O ABANDONO. O DESEJO DE LIBERDADE. E O MEDO DA SOLIDÃO QUE NOS PRENDE NUM CICLO DE VIOLÊNCIA.

domingo, 5 de novembro de 2023

Autobiografia Não Autorizada 2

A minha opinião:

"Olhar para o meu passado envolve quase sempre um exercício de compaixão para com as outras que fui sendo, neste caso com a jovem e desajeitada mulher à espera de um futuro jubiloso que, sei agora, nunca chega."

E foi quanto bastou para eu voltar a ficar rendida às crónicas de Dulce Maria Cardoso na sua Autobiografia não Autorizada 2. 

A naturalidade de ser que tanto admiro. A viagem que fazemos ao passado que tanto abraçamos como lamentamos e quantas vezes em simultâneo. O sentido crítico sobre o futuro no presente que se vive. O absurdamente trágico e o desprezível banal. Tanto saber condensado em muitos pequenos textos. E mesmo sem ter aprendido a ser escritora é exemplar. A maneira simples como se dá a conhecer profundamente, mesmo que como personagem. E que se quer próxima.

Autor: Dulce Maria Cardoso
Páginas: 248
Editora: Tinta da China
ISBN: 9789896717742
Edição: setembro/2023

Sinopse:
«Talvez tivesse sido melhor começar por falar da decisão de me usar como personagem: tendo em conta que, numa crónica, se espera que o autor esteja mais declaradamente presente, este seria o sítio em que experimentaria não fugir de mim. Bem sei que era arriscado: vivi histórias extraordinárias, vi-me envolvida em situações terríveis, também eu se quisesse enlouquecia. Talvez não fosse prudente aventurar-me por mim adentro. Daí a autobiografia ser não autorizada. Escreveria a minha biografia à minha revelia. O ilícito desmascarado no não autorizada dizia-me exclusivamente respeito. Nunca pensei que pudesse ser de outro modo. Evidentemente que ao falar de mim falaria também daqueles que estão ou estiveram comigo, dos que passam ou passaram por mim. Não estou sozinha, nunca estive sozinha, não sei estar sozinha. Não quero estar sozinha. Os outros estariam a salvo nas minhas crónicas, eu seria a única a correr perigo: estilhaçar-me na minha memória. Não sei escrever sobre o que não amo. Escrever é descobrir, é conhecer. E conhecer, se não é amar, é pelo menos dispor-me a amar. Dispor-me a amar coisas ignóbeis, às vezes. O que também é assustador. Aqueles que não amo nunca terão lugar no que escrevo. O que escrevo é iluminado pelos que amo, são eles que escrevem o que escrevo. Ou, dito de outra maneira, eu sou os que amo, são eles que me escrevem.»
 

Outros Pássaros


 A minha opinião:

Alguns anos antes li todos os romances que a Sarah Addison Allen tinha em português porque eram arrebatadores. Não no sentido que devem imaginar. Mais como um feitiço que inebria e relaxa. Se parece piroso não o é porque ela cria personagens valorosas e cativantes que têm uma boa história para contar, com um pouco de fantasia e principalmente muito amor à natureza e ao próximo. Assim que comecei a ler percebi que o talento não se tinha perdido apesar do interegno de tempo em que não li nenhum dos seus livros. Outros pássaros são metáforas. E são muitos os que rodeiam as personagens que tanta falta têem. Personagens ternas e solitárias que acarinhamos. Personagens que não podem desperdiçar uma segunda oportunidade. Um romance dos sentidos que se lê com o coração. 

Autor: Sarah Addison Allen
Páginas: 336
Editora: Quinta Essência
ISBN: 9789896617974
Edição: setembro/2023

Sinopse:
A IIha Malva, na Carolina do Sul, aparenta ser o refúgio perfeito para Zoey Hennessey. Desconcertada com a frieza do pai e a ânsia da madrasta em transformar o seu quarto num oásis de artesanato, ela decide ir para a ilha passar o verão no estúdio da sua falecida mãe.

Zoey é recebida pelo enigmático Frasier, o zelador do prédio, sempre acompanhado pelos seus leais pássaros turquesa, e descobre um mundo repleto de pessoas intrigantes e histórias por contar. Os seus vizinhos incluem Mac, um chef exímio em esconder os seus sentimentos e que acorda todos os dias coberto de farinha de milho; a artista Charlotte, em fuga do passado; Lizbeth, eternamente à procura de algo numa casa repleta de objetos; a sua irmã, Lucy, fumadora compulsiva…e alguns fantasmas.

Quando Lisbeth morre inesperadamente, Frasier pede ajuda a Zoey para limpar a casa dela. A jovem quer desvendar os segredos daquela mulher tão excêntrica, mas começa a desconfiar de que Lizbeth pode não ter sido a única moradora assombrada pelo passado.

Tendo como pano de fundo o charme pitoresco da pequena ilha e a presença da memória da mãe, Zoey vê-se enredada numa teia de destinos cruzados que a obriga a enfrentar os seus anseios, medos e sonhos não realizados.

O Italiano

A minha opinião:

Arturo Pérez-Reverte é um autor que não dispenso. Qualquer livro dele me chama a atenção mas a sinopse dita se o leio. Um romance que resulta de uma investigação complexa sobre personagens e acontecimentos dramáticos, a resolução de um mistério e que demorou quarenta anos a ser escrito é um romance que não podia deixar de ler. A prosa é objectiva, pouco dispersa e nada exaustiva.

O Italiano é o homem que Elena Arbués encontrou na praia durante a Segunda Guerra Mundial. Um sabotador. Um dos muitos que nasceram heróis sem o saberem, numa época de heróis e vilões sob qualquer bandeira. E cavalherios. E é com um homem desta estirpe que nasce uma incrível história de amor em tempo de guerra. E de coragem.

Autor: Arturo Pérez-Reverte
Páginas: 368
Editora: Edições Asa
ISBN: 9789892358680
Edição: agosto/2023

Sinopse:
Entre 1942 e 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, mergulhadores de combate italianos afundaram ou danificaram catorze navios aliados em Gibraltar e na Baía de Algeciras. Elena Arbués, uma livreira de vinte e sete anos, viúva de um oficial da Marinha espanhola, encontra um desses mergulhadores numa manhã ao passear pela praia. Ele é Teseo Lombardo, um suboficial da Marinha Italiana, e está desmaiado na rebentação. Quando o socorre, Elena não sabe que esse pequeno gesto mudará a sua vida, e que o amor será apenas parte de uma perigosa aventura.

Uma viagem extraordinária através da História e da alma humana, mais uma obra magistral de Arturo Pérez-Reverte.

Maria dos Canos Serrados

 

A minha opinião:

A capa e o título deste romance de 2013 de Ricardo Adolfo (que há muito os meus amigos me recomendavam) é suficientemente explícita. Maria é uma mulher jovem, desabrida e desbocada, das periferias de Lisboa, muito lixada (ela diria noutros termos, como o faz no início deste romance) que envia mensagens a um amante ausente em jeito de desabafo e lamento.

Uma animação ler tanto palavrão, bem enquadrado, e terapeutico, numa escrita escorreita e veloz sobre o estado de alma desta mulher que, não consegui deixar de gostar a rir. Maria no plural ainda me confundiu mas tanto sarcasmo e ironia também pode ser assim. "Ambas"se impõe(m) e corre qualquer macho que a afronte à cacetado ou a tiro.

"Mais um génio da gestão incompreendido neste país. Mais uma empresa nacional que não vai conquistar a Europa, a Ásia e o ciberespaço porque os pobres que aqui trabalham não são capazes de acompanhar a genialidade de quem quer liderar a empresa até aos quatro cantos da falência."

Autor: Ricardo Adolfo
Páginas: 214
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789896721572
Edição: janeiro/2013

Sinopse:
Maria dos Canos Serrados é a história de uma moça de má rês que se torna pior ainda. Arredores de Lisboa. Maria, vinte e muitos, adora a igualdade de liberdades, o seu namorado gigolô, as noites intoxicadas com as amigas e a ideia de vir a ser directora. Mas, de um dia para o outro, vê-se desamada, despedida e falida. E, entre resignar-se ou virar a mesa, Maria decide acertar contas de arma em punho. Contada de rajada na primeira pessoa, Maria dos Canos Serrados é uma história desbocada, nascida da Grande Crise. Uma reflexão sobre a nova mulher, que não precisa de um Clyde para ser Bonnie.

Não Mais Amores

A minha opinião:

Um ano após a morte de Javier Marías li mais um dos seus livros, nomeadamente uma colectânea de contos, por ele designados como os aceites e os aceitáveis já publicados.

Bem escritos e criativos são maravilhosos. Sóbrios, bem humorados, intrigantes e muito curiosos. Não há qualquer relação entre eles, exceto o veredicto do autor sobre a qualidade destes textos. Contos que levam à reflexão sem que seja um exercício de esforço. Muita da sua sapiência sobre o ser humano fazem da leitura um prazer. Contos longos e curtos para um livro 

Autor: Javier Marías
Páginas: 408
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789897841033
Edição: novembro/2020

Sinopse:
Uma irresistível porta de entrada na obra de um dos mais aclamados autores espanhóis do presente.
Excelente porta de entrada no universo Marías, Não mais amores reúne todos os contos do autor, não apenas os que entraram em anteriores antologias como muitos outros nunca antes reunidos em livro.
E é um universo esplêndido o que encontramos, pleno de mistérios e volte-faces, de sombras e matizes, convidando a várias leituras. Nestas páginas encontramos um tradutor metido em sarilhos durante a rodagem de um filme com Elvis Presley; uma mulher que lê para um fantasma; um médico que visita mulheres presas a casamentos infelizes; um guarda-costas que testemunha a preparação de um homicídio; uma aspirante a actriz porno à espera de conhecer o seu companheiro no filme; um homem e uma mulher assassinados por uma lança africana; um mordomo fechado num elevador em Nova Iorque; um casal de mafiosos caído em desgraça; um assassino por encomenda que tenta dissuadir aqueles que o querem contratar; um escritor viciado em medicamentos que põe de lado a medicação para investigar o efeito da dor na existência. O mundo dos contos de Javier Marías é tão inquietante e sedutor que é difícil não mergulhar nele, encantados, enfeitiçados, mesmo sem saber se seremos capazes de sair.