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domingo, 5 de novembro de 2023

Autobiografia Não Autorizada 2

A minha opinião:

"Olhar para o meu passado envolve quase sempre um exercício de compaixão para com as outras que fui sendo, neste caso com a jovem e desajeitada mulher à espera de um futuro jubiloso que, sei agora, nunca chega."

E foi quanto bastou para eu voltar a ficar rendida às crónicas de Dulce Maria Cardoso na sua Autobiografia não Autorizada 2. 

A naturalidade de ser que tanto admiro. A viagem que fazemos ao passado que tanto abraçamos como lamentamos e quantas vezes em simultâneo. O sentido crítico sobre o futuro no presente que se vive. O absurdamente trágico e o desprezível banal. Tanto saber condensado em muitos pequenos textos. E mesmo sem ter aprendido a ser escritora é exemplar. A maneira simples como se dá a conhecer profundamente, mesmo que como personagem. E que se quer próxima.

Autor: Dulce Maria Cardoso
Páginas: 248
Editora: Tinta da China
ISBN: 9789896717742
Edição: setembro/2023

Sinopse:
«Talvez tivesse sido melhor começar por falar da decisão de me usar como personagem: tendo em conta que, numa crónica, se espera que o autor esteja mais declaradamente presente, este seria o sítio em que experimentaria não fugir de mim. Bem sei que era arriscado: vivi histórias extraordinárias, vi-me envolvida em situações terríveis, também eu se quisesse enlouquecia. Talvez não fosse prudente aventurar-me por mim adentro. Daí a autobiografia ser não autorizada. Escreveria a minha biografia à minha revelia. O ilícito desmascarado no não autorizada dizia-me exclusivamente respeito. Nunca pensei que pudesse ser de outro modo. Evidentemente que ao falar de mim falaria também daqueles que estão ou estiveram comigo, dos que passam ou passaram por mim. Não estou sozinha, nunca estive sozinha, não sei estar sozinha. Não quero estar sozinha. Os outros estariam a salvo nas minhas crónicas, eu seria a única a correr perigo: estilhaçar-me na minha memória. Não sei escrever sobre o que não amo. Escrever é descobrir, é conhecer. E conhecer, se não é amar, é pelo menos dispor-me a amar. Dispor-me a amar coisas ignóbeis, às vezes. O que também é assustador. Aqueles que não amo nunca terão lugar no que escrevo. O que escrevo é iluminado pelos que amo, são eles que escrevem o que escrevo. Ou, dito de outra maneira, eu sou os que amo, são eles que me escrevem.»
 

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