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domingo, 27 de fevereiro de 2022

Madalena

 

A minha opinião:

Não é um livro fácil e por isso, fiz algumas pausas e não, não me refiro à escrita, que mantêm a mesma precisão e clareza que aprecio mas ao teor... Leitor(a) certamente que não o irá encarar com leveza ou indiferença.

Escrito na primeira pessoa, a de uma jovem professora que enfrenta um carcinoma de mama quando se decide a examinar os papéis deixados num móvel pertencente aos seus bisavós. Madalena era o nome da bisavó. A dualidade de versões convivem nesta narrativa, mas há um maior destaque à atualidade da narradora. Ambas as mulheres se debatem com a devastação que sentem. E com os seus desfechos. Madalena, Madalena.

Autor: Isabel Rio Novo
Páginas: 200
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722074148
Edição: 2022/ fevereiro 

Sinopse: 
Enquanto se submete a tratamentos para um tumor, uma jovem professora ocupa os longos dias a examinar papéis, retratos e cartas dos bisavós que encontrou num velho armário de livros que outrora lhes pertenceu. É assim que vai desvelando a história dos dois, envolta em mistério, na qual a traição, o ciúme e a tragédia são os ingredientes principais.

Álvaro Amândio, o bisavô culto e ensimesmado, mas sobretudo Madalena Brízida, a bisavó sedutora, enigmática e talvez cruel, vão ganhando contornos diante da jovem mulher, à medida que ela própria se vai descobrindo, nos seus amores do passado, nos seus sofrimentos recalcados, talvez até nas razões para ser como é.

Muito mais do que uma narrativa sobre a doença ou os seus efeitos sobre o indivíduo, Madalena - obra vencedora do Prémio Literário João Gaspar Simões - é um romance notável sobre a família e sobre o que, em cada um de nós, é construído pelos que vieram antes, assinado por uma das grandes vozes da ficção portuguesa contemporânea.

Destino

A minha opinião:

Uma história italiana. Uma história irresistível, para mim, que adoro este tipo de enredos. Uma personagem feminina estraordinária que recorda o justo que não é uma coisa feita à toa, pode-se quantificar. Mrs. Guilia Masca ainda recorda uma vida de miséria no Burgo de Dentro. E a traição do noivo e da amiga.

Um acaso. Um jornal que rodopiava por toda a parte, perto da sua casa. Destino.

Descrições belíssimas que me levam a ler e a reler, mesmo quando espelham estados de alma. Até quando se percebe que demasiada raiva faz avançar. Duas amigas e quase meio séculos distantes, com tanto para contar. Retrato de época que passa por duas guerras mundiais mas em diferentes continentes foram vividas. 
Familia são as pessoas de quem curamos. O que os seus não lhe podiam dar Giulia encontrava ali na familia Leone.

Poderosa narrativa que remonta a um grande romance como E tudo o vento levou. Magistral. Uma verdadeira preciosidade que não vou perder de vista.

Autor: Raffaella Romagnolo
Páginas: 400
Editora: Edições Asa
ISBN: 9789892352305
Edição: 2021/ outubro 

Sinopse: 
Em março de 1946, num carro com motorista, Giulia Masca regressa a Borgo de Dentro. Quarenta e seis anos antes, sozinha, grávida e sem dinheiro, despedira-se de Itália e da miséria para embarcar num vapor rumo a Nova Iorque. Foi o fim de uma época, a do frio entranhado nos ossos, dos confrontos com os patrões na fiação onde trabalhava desde criança, do azedume e das pragas da mãe. Perdida nas multidões de Manhattan, entre os arranha-céus e o bulício das ruas, Giulia começou uma nova vida.

A mulher que agora regressa tem um marido, um filho e um império de pequenos negócios. A América realizou o sonho prometido. Mas o passado continua a assombrá-la. O que será feito da sua mãe, Assunta? Da sua amiga Anita Leone e da sua tempestuosa família? O que terá acontecido a Pietro Ferro, o noivo que Giulia abandonou sem uma palavra de explicação, quase meio século antes?

Durante a sua ausência, as colinas em redor de Borgo de Dentro e os seus habitantes foram protagonistas de duas guerras mundiais, do advento do fascismo e da luta pela libertação. De batalhas, amores e esperanças. Giulia não terá outra escolha senão encarar esses lugares e rostos com um novo e mais profundo olhar, se quiser reconciliar-se com o passado e com a traição que determinou o seu destino.

Raffaella Romagnolo compõe um romance magistral, sobre uma mulher arrojada que nunca esqueceu as suas raízes, porque nem mesmo um oceano as pode diluir. Esta é a história dos que partem mas também dos que ficam. A história da Itália do século XX.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Um Vasto Céu Azul

 

A minha opinião:

Não sei o que me atraiu neste livro que tem uma bela capa. Aparentemente nada a ver para um thriller. Também não é do tipo macabro ou vertiginoso mas aliciante como os bem organizados grupos criminosos o conseguem com o tráfico humano para fins de exploração sexual. 

Jackson Brodie é a personagem central que me conquistou de imediato.O humor e a generosidade das personagens neste enredo criam empatia e como leitora mal podia esperar para ler os próximos parágrafos, tal o entusiasmo em continuar em tão boa companhia. E o desfecho que não deixa pontas soltas, ainda que para as atar se dê algum invertido que é o mais certo.

Uma autora que me faltava conhecer e que vou continuar a seguir. Jackson, Peggy e Ronnie valem a pena. Não são super mas convencem plenamente.
Que gozo!

Autor: Kate Atkinson
Páginas: 408
Editora: Bertrand Editora
ISBN: 9789722538695
Edição: 2022/ janeiro 

Sinopse: 
Jackson Brodie mudou-se com armas e bagagens para uma tranquila vila na costa oriental do Yorkshire, tendo por visitas ocasionais Nathan, o filho adolescente e de personalidade recalcitrante, e Dido, a fiel cadela labrador, já velhinha. Ambas as visitas obedecem aos critérios da sua antiga companheira, Julia.
A atual missão de Jackson - recolher provas da infidelidade de um marido a mando da sua mulher - parece bastante simples, mas um encontro fortuito com um homem desesperado, literalmente na berma de um penhasco em risco de ruir, levá-lo-á ao encontro de uma sinistra e enigmática rede, deixando-o de novo frente a frente com um fantasma do passado.

Numa narrativa de cortar a respiração, Kate Atkinson entrelaça neste romance velhos segredos e novas mentiras com uma vivacidade de espírito apurada e, ao mesmo tempo, uma serena melancolia - uma das mais brilhantes e surpreendentes escritoras da atualidade.

Choram Mães-Casa seus Filhos-Metade

 

A minha opinião:

Não li a sinopse deste livro tão pequenino e belo após ler o prólogo Naugrágio soube logo ao que ia. Aos milhares de imigrantes naufragados no mar Mediterrâneo.

Por norma evito livros que me magoam demasiado porque não consigo o distanciamento suficiente de quem tanto ouve e sabe sobre cruéis realidades. Mentalizo-me para o ler e para enfrentar o que gostaria de erradicar. O medo, a solidão e a morte.

Li devagar pela beleza das palavras e pelo peso do sentido. É um livro pequeno mas não poderia ser grande porque as enormidades cabem em pouco. Curtos capítulos dedicados aos esquecidos. A menina sem nome de Moçambique, os meninos das minas de carvão da Indía, às crianças findas na Síria, ou suspensas nos campos na Grécia. E tantos artigos que salvaguardam os direitos das crianças mas que o homem precisa de recordar para cumprir a sua humanidade. Como este livro precisa de ser lido para perceberem a dimensão do sofrimento que leva a seguir a esperança. E... que fazemos nós?

Autor: Rute Simões Ribeiro
Páginas: 80
Editora: Distopia
ISBN: 9798708340290
Edição: 2021/ abril 

Sinopse: 
Choram Mães-Casa seus Filhos-Metade sucede à obra A Revolução dos Homens Sentados e apresenta sete breves histórias que franqueiam, sem concederem à amenidade, a violenta vivência, ainda hoje, de muitas crianças em vários lugares do mundo. São textos-nus, de força crua, inexoráveis, não complacentes com o esquecimento. Rute Simões Ribeiro transporta para a literatura a verdade sem ambiguidade e sem transformação, a não ser a da estética humanista do quase-poema. Desobediente uma vez mais a convencionalismos literários ou sequer deles consciente, a autora impõe aos textos somente o ritmo da rudeza e o fôlego da sensibilidade que dessa brutalidade se extrai, concluindo-se em narrativas breves delicadamente cruas, irredutivelmente humanas. Não obstante exalarem os textos reais existências na mais dura das suas possibilidades, a autora nunca compromete o lugar da literatura, antes a exalta à função de consciência. O livro recorda, em diversas citações, a Convenção sobre os Direitos das Crianças, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção de Genebra relativa ao Estatuto dos Refugiados. Constrange o leitor ao desassossego da humanidade que nele se agite e dificilmente se separará do que for capaz de transpor as suas páginas. Encontra-se nesta série o texto O Naufrágio, que integrou os microcontos nacionais finalistas selecionados pela Escrever Escrever, no âmbito do European Association of Creative Writing Programmes (EACWP) Flash Fiction Contest III Ed. 2020.

Violeta

A minha opinião:

Isabel Allende é um gosto adquirido, dado os vários romances publicados e os quantos que a maioria dos leitores conhece e recorda. O primeiro que li foi A casa dos espíritos.
Outros vieram, alguns mais marcantes que outros, mas todos os que li tinham uma componente histórica e humanista. Violeta não desilude, desde que nasce, no auge da pandemia. Carismática, a sua história de vida confunde-se com os grandes acontecimentos do país, sem poupar palavras ao descrever o horror da ditadura militar, sendo este uma versaõ fictícia de paisagens de memórias da América Latina. E não é mais do que uma saga familiar que se lê com deleite, contada por Violeta e Camilo. O que não surpreende visto que a Isabel não perdeu o jeito e inspirou-se na sua mãe. Violeta... Uma mulher fascinante, que se expõe com todas as suas fragilidades e paixões perante Camilo a quem se confessa numa trama apaixonante e muito viciante.

Autor: Isabel Allende
Páginas: 360
Editora: Porto Editoa
ISBN: 978-972-0-03529-5
Edição: 2022/ janeiro 

Sinopse: 
Violeta del Valle é a primeira rapariga numa família de cinco irmãos truculentos. Nasce num dia de tempestade, em 1920, quando ainda se sentem os efeitos devastadores da Grande Guerra e a gripe espanhola chega ao seu país natal, na América do Sul.
Graças à ação determinada do pai, a família sairá incólume desta crise, apenas para ter de enfrentar uma outra: a Grande Depressão. A elegante vida urbana que Violeta conhecia até então muda drasticamente. Os Del Valle são forçados a viver numa região selvagem e remota, onde Violeta atinge a maioridade e viverá o primeiro amor.
Décadas depois, numa longa carta dirigida ao seu companheiro espiritual, o mais profundo amor da sua longa existência, Violeta relembra desgostos amorosos e apaixonadas relações, momentos de pobreza e de prosperidade, perdas terríveis e alegrias imensas. A sua vida será moldada por alguns dos momentos mais importantes da História: a luta pelos direitos da mulher, a ascensão e queda de tiranos, os ecos longínquos da Segunda Guerra Mundial.
Contado a partir do olhar de uma mulher determinada, de paixões intensas, com uma vida plena de sobressaltos, Violeta é um romance épico, inspirador e emotivo, ao melhor estilo de Isabel Allende.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Contos Escolhidos

A minha opinião:

Gosto de contos. Gosto de histórias curtas que vão direitas ao coração. Pequenos excertos de vida numa história mais longa. E não é o primeiro livro de contos que tenho ou leio. De quando em quando gosto de saltitar e ler curtas ou sucintas representações do real e muitas vezes num registo cómico ou trágico. Carson McCullers é uma estreia (ou assim o pensava até verificar que constava no registo do blogue) que adiei muito tempo apesar das boas indicações para a ler. E nada mais me impediu do que uma lamentável associação de que os clássicos eram uma seca, ou seja, elaborados, intrincados e descritivos. Datados. E não podia estar mais equivocada com alguns autores. Por essa razão, tenho tentado fazer algumas incursões em eternas escritoras.

Traduzido por Ana Teresa Pereira é um selo de qualidade. E se o primeiro conto de Carson não me agarrou, os restantes foram o conseguindo. Incomodam pela sua humanidade numa complexa gestão de emoções e sentimentos de uma boa observadora, em que não falta desencanto e dor. E solidão.

Autor: Carson McCullers
Páginas: 176
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789896413125
reEdição: 20

Sinopse: 
Reúnem-se aqui doze contos de Carson McCullers numa selecção feita por Ana Teresa Pereira.
Embora seja conhecida pelos seus romances, Carson McCullers foi uma notável contista, inserindo-se na tradição sulista da literatura norte-americana. Carson McCullers dedicou-se aos contos desde os 17 anos, ano em que escreveu «Sucker», tendo muitos deles começando por aparecer em revistas literárias.
As suas capacidades de observação e o seu estilo revelam uma assumida filiação em autores tão diversos como Flaubert e Dostoievski. Julie Harris considerou-a mesmo «uma mulher encantadora e misteriosa que escrevia como um anjo».
Carson McCullers foi reconhecida pelos grandes escritores da sua época. Graham Greene declarou preferi-la a Faulkner, e Tennessee Williams disse que a sua obra «não se eclipsará com o tempo, mas irradiará cada vez mais fulgor».