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domingo, 31 de dezembro de 2023

Jane Eyre

 

A minha opinião:


Não é de agora mas tenho alguma resistência a ler os grandes romances clássicos da literatura. No âmbito do tema Góticos para o #clubedonaleitura lá me aventurei e conheci Jane Eyre que é uma personagem surpreendente, muito à frente do seu tempo. Determinada, é dizer pouco.

Enquanto criança enfrenta os que a desprezam, como mulher apaixonada mantêm o seu amor próprio e como feminista afirma "não sou nenhum pássaro; nenhuma armadilha me prenderá; sou uma criatura livre, dependente apenas da minha própria vontade."

O desenvolvimento e crescimento desta personagem numa sociedade conservadora e preconceituosa de meados do sec. XIX é de leitura compulsiva. Uma personagem que se admira e quer bem. E Mr. Rochester. Ui ui. Que par. Um romance notável, sem dúvida, que resistiu e resiste ao esquecimento.

Coleção Romances Eternos

Sinopse:
Escrito por Charlotte Brontë e publicado pela primeira vez em 1847, este clássico da literatura inglesa combina, de uma forma magnífica, ingredientes da literatura gótica com paixão, mistério e suspense.
Jane Eyre, órfã de pai e mãe, recebe uma educação severa, primeiro na casa da tia Reed, que detesta, e depois na escola Lowood. Esta infância solitária e infeliz fortalece-lhe o espírito e a independência, que serão postos à prova quando Jane se torna preceptora da jovem Adèle em Thornfield Hall. É aí que Jane e o Sr. Edward Rochester se apaixonam. No entanto, um segredo terrível separa-os, obrigando Jane a fazer uma escolha…

Sob as luzes do amor

 

A minha opinião:

Um livro de Natal. Leve, divertido, romântico. Diálogos muitos e alguma ternura. Nada de sério ou realista mas tão divertido como o amor não assumido e nada fingido de Luka e Stella que se revela tão agradável e aconchegante como todas as imagens que temos em mente para esta quadra festiva. Um romance para uma inflencer que pode ajudar a salvar a quinta. O espírito de Natal, generoso, esperançoso e alegre que reune as pessoas em comunidade para enfrentar o vilão. Comunidade essa de que se espera um final feliz que, inevitavelmente acontece. O spoiler que nos leva a ler um romance. E sequer falta umas personagens fabulásticas e umas fofuras peludas que se confundiram com uns guaxinis mas faziam miau. Adorei. Li sempre com um sorriso e era exatamente isso que pretendia e para minha surpresa ainda me comovi. 

Autor: B.K. Borison
Páginas: 320
Editora: Singular
ISBN: 978-989-789-000-0
Edição: setembro/2023

Sinopse:
Stella conseguiu realizar um dos maiores sonhos da sua vida: comprar a Lovelight Farms, uma quinta de árvores de Natal, como a que visitava em criança, com a mãe. Afinal, o Natal é pura magia, e uma caneca de chocolate quente e luzes cintilantes é o quanto basta para fazer o mundo sorrir, mesmo no pior dos momentos.

Mas Stella rapidamente percebe que essa magia não chega para gerir as finanças deste negócio. E precisa urgentemente de um milagre. Talvez o concurso online da famosa influenciadora Evelyn St. James e a publicidade que promete gerar ajude.

Só há um problema: para aumentar as suas hipóteses de ganhar, Stella declara na candidatura que gere a romântica quinta com o namorado… que não tem e dava mesmo jeito ter, agora que é uma das finalistas!

Resta-lhe pedir ao melhor amigo, Luka, que seja o seu namorado a fingir por uma semana. E fingir, fingir muito que não está apaixonada por ele há 10 anos. E tentar, com muita força mesmo, não lhe cair nos braços e partir o coração em mil pedaços.

Era tão bom que Luka sentisse o mesmo…

O Polaco

 

A minha opinião:

O Polaco é um pianista com um nome dificil de pronunciar para uma espanhola que o vai receber e acompanhar em Barcelona. Duas personalidades. Um relacionamento narrado e enumerado em pontos. Peculiar mas eficaz narrativa porque imprime uma certa certa cadência num bom ritmo a uma história curta que se conta em seis capítulos de um modo seco e prosaico na perspectiva feminina de Beatriz. Não é uma história de amor mas desconcerta porque estas duas maduras personagens sentem um certo fascínio, apesar da diferença de idades e culturas que os torna autênticos neste relacionamento. Uma busca de algo que o leitor sente uma inexplicável curiosidade enquanto estas personagens lhe são antipáticas. A ironia. Tanto o leitor como Beatriz (Beatrice) atraem quando repelem. 

"Porque é que Chopin perdura? Porque é que é tão importante? ... Porque nos fala de nós próprios. Dos nossos desejos. Que por vezes não são claros para nós. É a minha opinião. Que são por vezes desejos daquilo que não podemos ter. Do que está além de nós."

Autor: J.M. Coetzee
Páginas: 160
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722076128
Edição: maio/2023

Sinopse:
O Polaco conta a história de Witold Walczykiewicz, um virtuoso pianista polaco, intérprete de Chopin, que fica enfeitiçado por Beatriz, uma patrona das artes espanhola, depois de esta ajudar na organização do seu concerto em Barcelona.

Beatriz é casada e, de início, não se deixa impressionar, mas rapidamente se vê perseguida pelo pianista e arrastada para o seu mundo. Witold envia-lhe cartas, faz-lhe inúmeros convites para viajar e acaba por visitá-la na casa de verão do marido, em Maiorca, onde a relação improvável entre os dois começa a florescer, embora apenas nos termos estipulados por ela. Mas à medida que a luta pelo poder entre eles se intensifica, questionamo-nos: É Beatriz que limita a paixão ao controlar as suas emoções? Ou é Witold, ao tentar por todos os meios dar vida ao seu sonho de amor?

Diferenças de gostos, diferenças culturais, diferenças de idades: é sobre estas tensões que se desenvolve esta variação moderna e irónica da lendária história de amor de Dante e Beatriz. Para isso, Coetzee faz uma mudança radical e conta-nos os sucessos e fracassos deste amor a partir da perspetiva precisa, sincera e incisiva da sua protagonista feminina.

A Ilha das Borboletas

A minha opinião:

Procurava um livro leve e tranquilo (sem crimes cometidos por psicopatas ou grandes maldades) que me deixasse zen.A capa e o título convenceram-me e é um romance que correspondeu às minhas expectativas.

Vou desvendar e espero que não considerem spoiler e provavelmente já o sabem mas eu não sabia. A Ilha das Borboletas é o nome que se dá ao Sri Lanka. Ceilão, nesta história, que remonta aos finais do sec. XIX onde o segredo de familia se iniciou. A história avança e recua enquanto a última descendente cumpre a incubência que a tia lhe deixou com algumas pistas.

Gostei mas é um pouco lento no desenvolvimento da trama para me entusiasmar. Mas... gosto de viajar para outros lugares e a Ilha das Borboletas está no meu imaginário.

Autor: Corina Bomann
Páginas: 400
Editora: Planeta
ISBN: 9789897777868
Edição: outubro/2023

Sinopse:
Uma história arrebatadora de uma mulher que, entre dois continentes e cem anos de história, procura desenterrar o segredo da sua família há muito escondido.

No dia em que Diana descobre que o seu marido lhe é infiel, a jovem advogada recebe a notícia de que a sua querida e adorada tia-avó está muito doente. Sem pensar duas vezes, apanha o primeiro avião para Inglaterra para se despedir.

Emmely tem uma última vontade: Diana tem de descobrir um antigo segredo de família há muito escondido. Para isso a sua tia-avó deixa-lhe uma série de pistas espalhadas pela grandiosa mansão, que deverá encontrar e interpretar com a ajuda do mordomo, o senhor Green.

Aos poucos, Diana vai descobrindo uma complexa história familiar, que remonta ao século XIX e a conduz até às irmãs Grace e Victoria Tremayne, proprietárias de uma plantação de chá em Ceilão. Pistas que a levam para longe de Berlim, do seu marido, até à exótica ilha no Sri Lanka, onde conhece Jonathan Singh, um historiador e escritor local.

À medida que o trágico passado de Grace e os pecados da família são revelados, Diana vive novas experiências e sensações, encontrando inspiração na coragem da sua antepassada, para compreender o seu próprio destino e repensar o valor da felicidade e do amor.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

À Espera do Dilúvio

 

A minha opinião:

Não sei se Dolores Redondo é suficientemente conhecida cá pelo burgo mas é uma escritora incrivel. Uma escritora de tempestades como se apresenta. Surpreende, empolga e mantém o suspense e a adrenalina em alta.

Implacável com os psicopatas dos seus enredos. Com Jonh Biblia perseguido durante uma tempestade por Noah até à detenção quando... Um romance de cortar a respiração. Um protagonista intuitivo e frágil como Noah Scott Sherrinngton e um antagonista como Jonh Biblia. As vitimas tinham todas um denominador comum, que não vou revelar mas que é o gatilho desta trama. Um livro de 520 páginas que se lê compulsivamente. E nesta perseguição deambulamos por Bilbau numa época político-social complicada. Um romance muito cinematográfico que vive muito da ligação que se estabelece com as personagens e em que não falta um lado místico ou gótico de que gosto muito.
Mesmo bom.

Autor: Dolores Redondo
Páginas: 520
Editora: Planeta
ISBN: 9789897777523
Edição: novembro/2023

Sinopse:
Entre 1968 e 1969, o assassino, que a imprensa batizou de John Biblia, matou três mulheres em Glasgow. Nunca foi identificado e o caso continua em aberto até hoje.

Neste romance, passado no início dos anos 80, Noah Scott Sherrington, investigador da polícia escocesa consegue localizar John Biblia, mas no momento de o prender sofre um ataque de coração. Apesar da sua saúde frágil, contra o conselho médico e a recusa dos seus superiores para que continue a perseguir o assassino em série, Noah segue um palpite que o levará a Bilbau, em 1983. Poucos dias antes de um dilúvio varrer a cidade.

Dolores Redondo define-se como «uma escritora de tempestades» e com este novo romance, baseado em factos reais, leva-nos ao epicentro de uma das maiores tempestades do século passado, ao mesmo tempo que retrata uma época de plena agitação política e social. É uma homenagem à cultura do trabalho, cheia de nostalgia de um tempo em que a rádio era uma das poucas janelas abertas para o mundo e, sobretudo, para a música. É também um hino à camaradagem e às histórias de amor que nascem de um capricho.

Uma obra deslumbrante com personagens que nos levam da mais terrível crueldade à esperança no ser humano.

Uma Solidão Demasiado Ruidosa

A minha opinião:

Não foi por acaso que decidi ler este livro. Mais uma sugestão de um grupo de leitura.

Não há muito tempo li Comboios rigorosamente vigiados e não é livro que se esqueça. Uma pequena obra prima. De pequenas dimensões é imenso no seu sentido. Uma solidão demasiado ruidosa (mais uma vez um título fabuloso) imaginava igualmente impactante. O poder dos livros e a memória. Um romance pequeno mas gigante no seu alcance. Um romance de leitura obrigatória. Excelente para se ler em voz alta em que tanto nos toca e até as situações mais absurdas, descritas entre o belo e o crú, nos remetem para um regime ditatorial em que vigora a censura.

Culto independentemente da sua vontade, resgata obras de serem destruídas de uma prensa de papel. Vale a pena conhecer esta trágica personagem.

Autor: Bohumil Hrabal
Páginas: 144
Editora: Antígona
ISBN: 9789726083405
Edição: setembro/2019

Sinopse:
Agora em tradução revista, Uma Solidão Demasiado Ruidosa (1976) é a história do velho Hanta, que, por ofício, prensa e destrói livros no subsolo de Praga, e que, por amor, salva dessa hecatombe os mais belos achados em pilhas de papel: textos de Kant, Hegel, Camus, Novalis e Lao-Tsé, todos eles condenados à destruição pelas autoridades.

Até que, um dia, o progresso quer aniquilar com mais eficácia as páginas que Hanta insiste em resgatar da sua obsoleta prensa. Censurada e publicada em samizdat, Uma Solidão Demasiado Ruidosa tornou-se uma obra de culto sobre a indestrutibilidade da memória e da palavra e o seu poder redentor em tempos bárbaros.

Bohumil Hrabal confessou ter vivido apenas para escrever este livro.

O Cultivo de Flores de Plástico

 

A minha opinião:

Um pequeno livro com ilustrações simples sobre duas personagens masculinas e duas femininas que tinham em comum a sua situação. Eram sem abrigo. As conversas decorriam quando se recolhiam debaixo de umas arcadas para dormir e apenas se tinham uns aos outros por companhia. Invisíveis aos olhos dos outros.
Pertinente história para recolocar as prioridades e perceber que a linha que nos separa é estreita.

O que não gostei e me transtornou foi o excerto de maldade com um cão. E não, não era nada com nenhuma das personagens.

Uma brevissima narrativa num elegante livro de capa dura que tem uma linguagem quase poética e muito sentida.
Uma prenda de natal.

P.s.- Uma peça de teatro, o que não tinha percebido que se tratava.

Autor: Afonso Cruz
Páginas: 112
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897849237
Edição: novembro/2023

Sinopse:
Lili ocupa o tempo de sobra a experimentar chaves em portas. O couraçado Korzhev dobra e desdobra mapas e carrega no bolso conchas que lhe devolvem a maresia. A senhora de fato suspira pelo tempo em que vivia uma vida alcatifada, com dois carros, um cão e um gato. Jorge sabe que bastou um passo em falso para ir parar ali. É o que separa as pessoas que vivem em casas das pessoas que vivem na rua: um passo mal dado.

Num texto belíssimo, pleno de dor e ironia, Afonso Cruz imagina as vidas de um grupo de pessoas que vive debaixo do mau tempo, abaixo da linha mínima da dignidade e conforto que deveria caber a cada pessoa. O Cultivo de Flores de Plástico é um apelo para que olhemos para os seres invisíveis das nossas cidades.

domingo, 17 de dezembro de 2023

O Nome que a Cidade Esqueceu

 

A minha opinião:

"Por vezes, relembrar é fazer também uma espécie de luto." 
Natasha é uma refugiada de Leste em Manhattan. Gaga devido a um trauma. E na sua solidão procura conforto numa lavandaria e com isso, consegue emprego com um acumulador.

Melanólica narrativa num outro tempo. Desesperançadas personagens que quase me aborrecem, se não fosse o controle que o autor tem sobre o ritmo da história, até que George B., o acumulador, entra como protagonista com a sua versão de vida. A rapidez com que a narrativa se desenrola é outra. Sombria quando recorda a Sida. E comovente quando se percebe o trabalho de Natasha para George.

Dividido em três partes é um romance que nos vai conquistando a pouco e pouco e enredando com personagens solitárias e inaptadas numa cidade como Nova Iorque, em que acabamos por nos apaixonar pelas personagens e pela cidade. Um romance que se termina com perplexidade. Um romance de João Tordo.

Autor: João Tordo
Páginas: 336
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897849275
Edição: novembro/2023

Sinopse:
Nova Iorque, 1991.

Ao aterrar na América, Natasha, refugiada de um país da ex-União Soviética, está longe de imaginar que o seu exílio se transformará numa aventura labiríntica pela grande cidade e pela alma humana. O caminho desta rapariga cheia de medos e sonhos cruza-se com o de George B., homem marcado por um passado misterioso, que vive em total isolamento em plena cidade, barricado num apartamento apinhado de objectos inúteis.

George oferece a Natasha um emprego bizarro: ler-lhe em voz alta a lista telefónica de Nova Iorque. Enquanto a rapariga aprende a suportar as saudades da sua família e do seu país, esboçando uma nova vida na metrópole vibrante e crua, George, por seu lado, procura obsessivamente um nome entre os milhões de nomes que a cidade esqueceu; um nome que poderá salvá-lo, ou ser a sua danação.

Tomando como inspiração uma história verdadeira publicada no New York Times, João Tordo constrói um romance enigmático, impulsionado pelo acaso e pela memória. O resultado é uma narrativa que disseca a solidão, grande doença dos nossos tempos, confrontando as suas personagens e os leitores com o passado com que todos tentamos reconciliar-nos.

O Nome que a Cidade Esqueceu marca o regresso de um dos escritores mais estimados do público a um lugar que lhe é familiar, numa história plena de imaginação, arrojo, candura e compaixão.

domingo, 10 de dezembro de 2023

Aqui Dentro Faz Muito Barulho

 


A minha opinião:

Rir é algo que gosto muito de fazer e não me coíbo de soltar uma ruidosa gargalhada sempre que me apraz. Não perco uma oportunidade. Não sei se é muito valorizado mas eu gosto que o humor esteja presente no que leio. Ademais, humor inteligente que mais do que divertir, questiona, leva à reflexão e até crítica. Devia mas não li as crónicas na Sabádo (que saí à quinta). E devia porque sei o que visa, e fico reativa quando há tantos absurdos que lhe servem de matéria em que até os simples desenhos que acompanham algumas crónicas são muito ilustrativos neste humor interventivo. Serviço público como "Já não chegamos para quem nos ouve". Incomoda alguns, o que não é surpresa, porque se sentem julgados. A ironia e o sarcasmo de Bruno são de uma pertinência que pasma por sintetizar em breves crónicas bem escritas tantas conversas soltas anónimas de escárnio e maldizer. E no entanto, há tanto amor em palavras sentidas.

Autor: Bruno Nogueira
Páginas: 200
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722080743
Edição: novembro/2023

Sinopse:
Escrever é o acto de pensamento mais justo. Obriga à escolha cuidadosa das palavras, a recuperar o pensamento que estava fixado e a fazê-lo voltar a mexer-se. Muitas vezes faz com que terminemos com o resultado contrário ao que tínhamos como certo antes de escrever a primeira palavra. Escrever crónicas obriga a um pensamento constante sobre o que nos rodeia, mas o que nos rodeia nem sempre é companhia aconselhável, e pensar sobre isso pode aumentar - para o bem e para o mal - o que antes não se via. Quando me convidaram para escrever crónicas semanais na revista Sábado (que sai à quinta, já agora), foi essa a minha dúvida: quais seriam as consequências de escolher mais uma maneira de ver de perto as coisas que me aleijam? Para me contrariar, aceitei. Enquanto escrevia dei por mim muitas vezes a pôr em causa o que pensava antes e a pensar sobre o que isso quereria dizer.

Não cheguei a conclusão nenhuma, mas ao preparar este livro percebi que as coisas dentro da minha cabeça fazem muito barulho. Ordená-las e escrevê-las é ainda o último reduto de sanidade contra esse ruído. Este livro é uma compilação dessas crónicas que escrevi e que agora vieram para aqui viver todas juntas.

Tasmânia


A minha opinião:

Relato ficcional na primeira pessoa, um tanto bizarra (como todos os cientistas nos parecem) mas indubitavelmente atual. As preocupações ambientais e o futuro da humanidade com todos os riscos a partir da perspectiva de um homem que não podia ter filhos e que contacta algumas outras personagens peculiares com idêntica consciência. Estranhamente viciante. Perturbador. E muito ilustrativo. Não esclarecedor porque a instabilidade emocional/ fisíco é o cerne da narrativa.

Acho que nunca tinha pensado nas nuvens ou na pior devastação que a humanidade alguma vez conhecera. E em tantas outras coisas que este livro me direcionou como a necessidade de contextualizar a sensibilidade. Contudo, ficou muito aquém das minhas expectativas, sendo um tanto maçador. 
"Escrevo sobre tudo o que me fez chorar."

Autor: Paolo Giordano
Páginas: 304
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722078979
Edição: novembro/2023

Sinopse:
A nova obra-prima de Paolo Giordano: um romance sobre o que acontece connosco e não conseguimos explicar. Em novembro de 2015, o narrador, um escritor e jornalista com formação científica, desloca-se a Paris para assistir à Cimeira do Clima (COP21), poucos dias depois dos atentados jihadistas. A crise que paira sobre a cidade parece espelhar uma crise mais íntima: aquela que atravessa a sua relação com Lorenza. Na procura de um sentido para tudo o que está a viver, para os seus medos e dúvidas, enquanto prepara um livro sobre os efeitos radioativos da bomba atómica, cruza-se com várias personagens atípicas, que serão mais relevantes do que imagina. Uma das coisas que casualmente irá descobrir é que, no caso de uma grande catástrofe mundial, a Tasmânia é um dos melhores lugares para procurar refúgio. Mas a sua crise não é, decididamente, só sua: é a crise de todos nós, das nossas vidas e do planeta.

Tasmânia é um romance sobre o futuro. O futuro que tememos e desejamos, aquele que não teremos, que podemos mudar, que estamos a construir. Um romance sensível e contemporâneo, que aborda o tema do apocalipse em todas as suas nuances: as alterações climáticas, o terrorismo religioso, a cultura do cancelamento, a fragilidade da amizade, os casamentos desfeitos e a paternidade falhada - e, por detrás de tudo, a ameaça da bomba atómica. O medo e a surpresa de perder o controlo são os sentimentos do nosso tempo, e a voz terna de Paolo Giordano consegue expressá-los como ninguém.

Depois de Morrer Aconteceram-me Muitas Coisas


A minha opinião:

Não é o que eu esperava.

Ricardo Adolfo é genial porque ele pega nas agruras da vida e constrói uma estória com humor e crítica social em que satiriza as personagens mas sem as desumanizar e antes pelo contrário, enaltece-as e dá relevo aos invisíveis e marginalizados que nos esquecemos de ver e compreender. Esta estória inquieta e por isso não é o que eu esperava porque a situação claustrofóbica em que um emigrante ilegal se perde num pequeno passeio de domingo com a companheira e o filho e ainda assim faz gala de macho e procura comunicar sem conhecer a língua e sem ter quaisquer referências geográficas é humor negro. Não deixa de ser muito pertinente que se pense nas circunstâncias que levam tantos por esta via e as condições que enfrentam. E seria bom que Ricardo Adolfo fosse reconhecido e valorizado como o bom escritor que é.

Autor: Ricardo Adolfo
Páginas: 200
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789896720056
Edição: setembro/2009

Sinopse:
Brito é imigrante ilegal numa cidade que não conhece e cuja língua não fala. Um domingo à tarde, depois da volta das montras, perde-se a caminho de casa com a mulher e o filho pequeno. E como acredita que para tomar uma decisão acertada tem de fazer o contrário daquilo que acha que está correcto, o regresso a casa revela-se impossível.
Depois de uma noite na rua, Brito percebe que se não pedir ajuda pode ficar perdido para sempre, mas se o fizer pode arruinar o sonho de uma vida nova.
Em pouco mais de vinte e quatro horas, Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas explora o que é viver imigrado dentro de si mesmo - mais difícil do que qualquer exílio.

Revolução

A minha opinião:

A foto da capa do livro é a Maria Luísa, desde que o começamos a ler. E a experiência muda quando damos imagem a uma personagem e esta ganha vida através da escrita sóbria e de encantar de Hugo Gonçalves. Uma mulher de caráter ou como se comentava "com pelo na venta". Percebeu que "o regime conseguira que a miséria material fosse também existencial. Criara uma perversão em que os oprimidos eram gratos aos opressores. Qual degeneração genética, essa anemia da alma passava de pais para filhos." E "Malu Tormenta", a revolucionária, não é a única personagem porque os dois irmãos também fazem parte desta narrativa.

Com Frederico, o mirabolante e comezinho ocupavam o mesmo espaço como nesta época em que se regista a Revolução e o poder insurrecto do humor.

Pureza. O nome remete para uma mulher contida e burguesa. Uma mulher que valorizava costumes mas não se realizava no casamento ou na maternidade.

Uma familia que é um retrato de uma Era com tantas dissidências e divergências. Imenso no tanto que nos recorda de um passado recente em que as convulsões e as emoções andaram ao rubro. Admirável romance de Hugo Gonçalves.

Autor: Hugo Gonçalves
Páginas: 480
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897849251
Edição: outubro/2018

Sinopse:
Um disparo perfura a noite na serra de Sintra, durante um jantar da família Storm, e a matriarca sabe que perdeu um dos três filhos.

O epicentro do colapso tem origem muitos anos antes, entre o fim da ditadura e os primeiros tempos da revolução. Maria Luísa, a filha mais velha, opositora clandestina do regime, é perseguida pela PIDE. Frederico, o filho mais novo, está obcecado em perder a virgindade antes de ser mobilizado para a guerra colonial. E Pureza, a filha do meio, vê os seus sonhos de uma perfeita família tradicional despedaçados pelo processo revolucionário em curso.

Revolução acompanha a família Storm, do desmoronar do império ao despertar da democracia, ao longo dos rocambolescos, violentos e excessivos meses do PREC, quando a esperança e o medo dividem os portugueses e muitos acreditam que o país está a um triz da guerra civil.

Um romance tragicómico sobre a liberdade e as relações familiares, num período único de transformação, na História de Portugal, em que o caráter e o radicalismo medem forças, separando os filhos dos pais, colocando irmãos em lados opostos da barricada, criando terroristas fanáticos e heróis improváveis.

No Jardim do Ogre

A minha opinião:

Há muito que queria ler este romance. Leïla Slimani é uma autora que não desilude mas este foi o seu primeiro romance.

Adéle é uma mulher ansiosa, muito ansiosa e como leitora fui logo arrastada para a vertigem que é a sua vida em que muitos são os adjectivos que a qualificam. Narrativa rápida e fluída que se lê à espera do descalabro iminente. Não senti empatia mas é uma personagem e uma trama muito bem construída que desassossega o leitor que não consegue parar de ler.
Uma boneca no Jardim do Ogre.

Autor: Leïla Slimani
Páginas: 184
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789896655600
Edição: maio/2018

Sinopse:
Adele tem tudo para ser feliz.
Mas falta-lhe tudo.
Vive sem prazer, numa solidão extrema.
Dentro dela, um fogo consome-a vorazmente, sem piedade: um desejo insaciável, uma necessidade imparável de somar conquistas e amantes.
No jardim do ogre é a história de um corpo escravo das suas pulsões.
Um romance de traições, mentiras e desilusões.
Mas é, ainda assim e sobretudo, um romance de amor.