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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Até ao Fim do Mundo

Autor: Maria Semple
Edição: 2013, agosto
Páginas: 360
ISBN: 9789724746494
Editora: Teorema

Sinopse:
A fama de Bernadette Fox precede-a.
No círculo restrito e elitista do design mundial, ela é uma arquiteta revolucionária.
Para o marido, um guru da Microsoft, ela é a prodigiosa e atormentada paixão da sua vida.
Segundo os vizinhos e conhecidos, ela representa uma afronta e uma ameaça.
Mas aos olhos da filha, Bee, ela é, simplesmente, a Mãe.
E um dia Bernadette desaparece.
Quando todos parecem reagir à sua ausência com diversos graus de alívio, Bee é a única disposta a tudo para a encontrar. Mas a instável e agorafóbica Bernadette não quer ser encontrada e tem meios e inteligência suficientes para se manter incógnita... mesmo que para tal tenha de encetar uma impossível viagem ao fim do mundo.
Neste retrato de uma mulher pouco convencional, a autora explora a fragilidade e a inadequação das mentes criativas face à voracidade uniformizadora do mundo moderno. A incómoda Bernadette e a sua família disfuncional são paradigmas das relações humanas do século XXI.

A minha opinião:
Esta é um romance peculiar. Primeiro estranha-se e depois entranha-se. No início não agrada. Uma confusão com vários tipos de texto, desde e-mails, cartas, relatórios, faxes, notas, posts de blogs e muito pouco de narrativa comum para contar uma estória com personagens extravagantes. Geniais intelectualmente mas desajustados na relação com os outros e no quotidiano mundano. 
As personagens são: Bernadette Fox, arquitecta notável que sofreu um desaire com a sua criação mais brilhante - A Casa das Vinte Milhas (uma construção com materiais recicláveis - tudo o que estava à mão numa área de vinte milhas e que demorou 3 anos), e agorafóbica; o marido, Elgie Branch, workholic; a Bee (filha adolescente com um nome impronuncíavel), narradora e personagem principal; Audrey Grifffinm, a vilã/anjo; e Soo-Lin, a secretária do marido.

Trama agitada e "confusa" que parece um tanto inconsistente, até captarmos a mensagem implícita. A genialidade incompreendida. Pessoas criativas e excetionalmente dotadas que quando impedidas de criar tornam-se uma ameaça para os demais. A dificuldade em ultrapassar as barreiras de comunicação e o quão longe estamos de conhecer os que estão próximos, bem como as causas subjacentes à sua conduta.

É realmente uma excelente leitura, quando conseguimos ultrapassar a nossa percepção inicial e nos deixamos envolver com a ação nos ambientes descritos, que vão desde Seattle à Antárctica. Humor e drama, aventura e intriga. Diversão garantida para absorver.

sábado, 26 de outubro de 2013

O impostor

Autor: Damon Galgut
Edição: 2013, maio
Páginas: 320
ISBN: 9789896721756
Editora: Alfaguara

Sinopse:
Na sociedade do pós-apartheid, Adam perde o emprego e vê-se forçado a deixar Joanesburgo e mudar-se para uma casa abandonada nos limites da cidade. Aí, no meio da savana, entre a depressão e a embriaguez, tenta encontrar na literatura um novo caminho. Mas, afinal, encontra Canning, um homem que diz que Adam lhe salvou a vida nos tempos de escola. Adam não se recorda de Canning mas decide entrar no jogo, seduzido por tudo o que Canning tem: uma grande fortuna herdada do pai e uma bela e enigmática mulher, por quem se sente perigosamente atraído.

Na extravagante mansão de Canning e Baby, um local mágico e fantástico, Adam é arrastado para uma estranha relação a três, que o transforma irremediavelmente.
Este magnífico romance evoca uma sociedade em permanente mudança pelas forças do dinheiro e do poder, um mundo cruel e claustrofóbico, carregado de dilemas morais, onde o sexo, a morte e a traição formam uma teia em perigo iminente de explosão.
Duas vezes finalista do Man Booker Prize, Damon Galgut é uma voz incontornável da literatura sul-africana.

A minha opinião:
Inquietante pelos pensamentos e sentimentos expressos numa linguagem límpida e objetiva mas polida. Um romance difícil de processar  pelo muito que contêm. Um retrato sobre África do Sul após o apartheid onde a supremacia (atualmente multiracial) dos mais fortes sobre os mais fracos se impõe, abstendo-se conscientemente de valores morais, com preponderância da ganância e corrupção em detrimento da vida e natureza. 

Adam Napier, desencantado "branco" que se assume nesta fase difícil da sua vida como um potencial poeta, é aparentemente o Impostor desta trama que decorre em Karoo, uma pequena comunidade rural agreste, onde reencontra um antigo colega do colégio interno, Kenneth Canning e a sua estranha bela mulher negra, Baby. Estes personagens mantém uma perturbadora ligação onde prevalece solidão, tédio e ambivalencia.

"Escrever poesia é uma forma diferente de se purgar."
(pag.141)

O desfecho é tão duro e realista como todo o enredo e ambiente desta estória que é a antítese de romance, mas excecional pela escrita. Todas as personagens apresentam fragilidades e misérias. 

"Fachadas e rostos públicos; poder oculto nas sombras".  
(pag. 238)

Poder-se à dizer que todos poderão ser os Impostores. 

domingo, 20 de outubro de 2013

A minha pequena livraria

Autor: Wendy Welch
Edição: 2013, setembro
Páginas: 280
ISBN: 9789899788046
Editora: Noites Brancas

Sinopse:
Wendy e Jack sempre sonharam ter uma livraria, por isso, quando trocaram os exigentes empregos por uma vida mais simples numa cidade mineira no interior dos Estados Unidos, aproveitaram uma inesperada oportunidade de perseguir esse sonho. E conseguiram. Contra todas as probabilidades, mas com muita determinação, otimismo, perseverança e um amor incondicional pelos livros, mais do que estabelecer um negócio, o casal consegue criar uma comunidade em torno da sua livraria.

A minha opinião:
Quando vi este livro, não consegui resistir a comprá-lo. Uma daquelas tentações inexplicáveis e consumista. E apressei-me a lê-lo. Mas, apesar da escrita fluída, coloquial e bem disposta não me prendeu ... inicialmente! Era um relato verídico de um casal de bibliófilos que realizou um sonho antigo de ter uma livraria de livros usados e as dificuldades ao instalarem-se numa pequena comunidade, pelo qual se apaixonaram, mas que os considerava forasteiros. Muitos aspetos do negócio ocuparam várias páginas. Mas percebi entretanto que é realmente como apresenta a folha de rosto - Uma história sobre a amizade, o espírito de comunidade e o invulgar prazer de um bom livro. 

Uma pequena preciosidade à medida que foi sendo lido. Tem todos aqueles pormenores que me cativam. Os sentidos reagiram primeiro ao cheiro, toque e visão de letras bem distribuídas com as dimensões adequadas. Depois, a mente e o espírito captaram o resto do muito que este livro transmite a quem aprecia livros. 

"Os escritores intemporais perduram porque (...) "Os melhores momentos de leitura ocorrem quando nos deparamos com alguma coisa - um pensamento, um sentimento, uma forma de ver as coisas -que achamos especial, que nos diz algo. E ali está ela, escrita por outra pessoa, alguém que nunca conhecemos, talvez até à muito falecida. E é como se esse alguém nos tivesse estendido a mão." (...) "É uma lindíssima relação recíproca. É história. É poesia."" 
(pags. 240/1)

Tales of the Lonesome Pine Used Books, na pequena cidade de Big Stone Gap, na Virginia é certamente um lugar mágico. A concretização de um sonho. Abrangente a muitos bibliógrafos. A Wendy e Jack deu-lhes um sentimento de pertença numa comunidade que lhes granjeou amigos e diversão. E muito trabalho. Essa experiência e os seus gostos são aqui partilhados connosco.

"Quando se vende um livro a uma pessoa, não se vende apenas trezentos e cinquenta gramas de papel, tinta e cola - vende-se uma vida nova. Amor e amizade e humor e navios no mar à noite - um livro, um livro à séria, contêm todo o céu e a terra."
Christopher Morley, The Haunted Bookshop (no prefácio)

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A Travessia

Autor: Wm. Paul Young
Edição: 2013, setembro
Páginas: 304
ISBN: 9789720042354
Editora: Porto Editora

Sinopse:
Anthony Spencer é um empresário de sucesso, um homem orgulhoso e egocêntrico que não olha a meios para conseguir os seus objetivos. Um dia, o destino prega-lhe uma partida: um AVC deixa-o nos cuidados intensivos, em estado de coma.
Entre a vida e a morte, Anthony vê-se num mundo que espelha a dor e a tristeza que tem dentro de si.

Confuso, sem compreender exatamente onde está e como foi ali parar, viaja pela sua consciência para compreender quem realmente é e descobrir tudo o que tem perdido ao longo da vida: a esperança, a amizade genuína e o amor verdadeiro, sentimentos que há muito o seu coração deixara de sentir.
Em busca de uma segunda oportunidade, Anthony fará uma jornada de redenção e encontro com o seu verdadeiro ser.

A minha opinião:
Não li o anterior romance deste autor, "A Cabana", porque me pareceu muito sentimental e banalizado. Contudo, este novo romance despertou-me alguma curiosidade. Pretendia conhecer o género que tantos apreciaram e comentaram e sem termo de comparação ou expetativas elevadas, arrisquei.

O título e a sinopse deixam antever do que se trata. Uma narrativa ficcional de um homem depois de uma vida desgarrada e solitária, até paranóica, que após uma partida do destino faz uma jornada espiritual e religiosa extraordinária. Algumas personagens peculiares com a aparência que a imaginação de (Antony) Tony cria nos momentos em que se cruzam no devastado ermo que fora a sua vida, e outras menos peculiares e mais plausíveis como Molly, Cabby, Clarence e Maaggie no mundo real que ele via através das janelas da alma (olhos) de qualquer um deles e com quem conseguia comunicar.

Narrativa inicialmente amarga e desagradável,  que provoca aversão por uma personagem tão odiosa e egocêntrica. Subitamente muda drasticamente e Tony é uma nova personagem que não reconheço. Apesar de a apreciar e esta me divertir com diálogos bem humorados, a travessia espiritual revelou uma personagem demasiado distinta desde a transição.

Nada de muito surpreendente ou emocional e por isso, não foi uma leitura tão satisfatória como gostaria. Fluída e acessível e talvez daí a fácil promoção. Contudo, as mensagens que transmite são louváveis e a ter em consideração. 

sábado, 12 de outubro de 2013

Amor Proibido

Autor: Santa Montefiore
Edição: 2013, julho
Páginas: 344
ISBN: 9789724249186
Editora: Círculo de Leitores

Sinopse:
Quando é que a atração se transforma em tentação? Quando é que a tentação se transforma em compulsão?
Com um casamento feliz, dois filhos pequenos e um círculo de amigas dedicadas, Angelica sabe que deve estar grata. Mas depois conhece um carismático sul-africano que a seduz e a faz sentir-se bela. O que começa por ser uma amizade a grande distância evolui para algo mais profundo e em breve ela espera ansiosamente pelos seus mails.

Das glamorosas ruas de Londres para os luxuriantes vinhedos da África do Sul, Angelica persegue um sonho que põe em risco tudo o que estima. Contudo, o sonho é maculado e um momento de violência selvática junta-se a Jack para logo os separar. Com a vida reduzida à sua mais pura essência, Angelica descobre que o que o destino rouba com uma mão dá com a outra...

A minha opinião:
Nunca antes li  nada de Santa Montefíore. Apesar disso, tenho alguns outros livros dela nas minhas estantes, (bem como de outros autores) que me pareceram promissores, mas aos quais ainda não consegui chegar. E agora percebo o que perdi e o porquê de ser uma reconhecida autora para quem aprecia romances com carisma e atualidade.

Este romance inicialmente recordou-me as quatro amigas de O Sexo e a Cidade, que neste caso são cinco. A personagem principal é Angelica, que dedica o seu tempo ao cuidado dos filhos, aos seus livros como escritora de livros infantis e ao convívio com quatro amigas - Letícia, Scarlet, Kate e Candace com quem se encontra regularmente. Parece fútil mas as esposas de "novos ricos"/ bem sucedidos homens de negócios são assim - privilegiadas! Movem-se num mundo que idealizamos, com disponibilidade para satisfazer caprichos, em que marcas elitistas de estilistas estão ao seu alcance - naturalmente, e ainda assim tem conflitos emocionais e afetivos como todas. Este pequeno grupo reside em Londres e está a entrar na faixa dos quarenta, com maridos, e filhos menores. 

Num jantar social, uma poderosa atração e empatia surge entre Angelica e Jack, reforçada quando se conhecem melhor e descobrem que partilham afinidades filosóficas e existenciais. Um amor proibido separado pela distância.

O enredo é simples mas plausível e consistente, contado com suavidade e segurança de quem sabe o que faz para prender e encantar o leitor que quer acompanhar o desenvolvimento e desfecho deste grupo de personagens. Foi fácil transportar-me nas asas do sonho e da fantasia para lugares fascinantes na companhia das personagens que consigo vislumbrar através das palavras.

Um romance maravilhoso que apesar da letra miudinha não me consegui apartar enquanto não conclui.