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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Se Eu Fosse Chão

Autor: Nuno Camarneiro
Edição: 2015/ maio
Páginas: 128
ISBN: 9789722057493
Editora: Dom Quixote

Sinopse:
«Um hotel é um mundo pequeno feito à imagem do outro maior. Nós garantimos que a escala permaneça justa, sem nada aumentar ou reduzir. Não nos peçam para corrigir o que vai torto ou torcer o que anda certo. Servimos os nossos hóspedes e damos-lhes a importância que merecem, ou que podem pagar. O resto pertence à justiça ou à igreja, não somos juízes nem padres. Somos artífices do detalhe e da memória, e não nos peçam mais.»

Num grande hotel, as paredes têm ouvidos e os espelhos já viram muitos rostos ao longo dos anos: homens e mulheres de passagem, buscando ou fugindo de alguma coisa, que procuram um sentido para os dias. Num quarto pode começar uma história de amor ou terminar um casamento, pode inventar-se uma utopia ou lembrar-se a perna perdida numa guerra, pode investigar-se um caso de adultério ou cometer-se um crime de sangue. Em três épocas diferentes, entre guerras que passaram e outras que hão-de vir, as personagens de "Se Eu Fosse Chão" – diplomatas, políticos, viúvos, recém-casados, crianças, actores, prostitutas, assassinos e até alguns fantasmas – contam histórias a quem as queira escutar.


A minha opinião:
Em algum momento, quem pernoita em hotéis se interroga sobre as muitas histórias, fragmentos de vidas, que se encerram entre as paredes daqueles quartos.

Que memórias preservam, boas e más, de jubilo ou de dor, angústia ou exaltação, resignação ou coragem? Que poderiam contar sobre os protagonistas? E os que lá trabalham, silenciosas testemunhas, que guardam para si?

"Um quarto de hotel é também um repositório das vidas que por lá passaram."  

Foi esta a premissa para este livro, considerando 3 épocas distintas (1928, 1956 e 2015), e passando por 51 quartos de um qualquer Palace Hotel em Portugal. Tanto para contar, sentir e refletir sobre um vasto leque de personagens que nos fazem abrandar uma leitura que se crê breve.

Um pequeno núcleo representativo de um universo muito maior, porque um hotel é um mundo pequeno feito à imagem do outro maior", e a minha maior motivação para esta leitura. Como qualquer voyeur que espreita pela fechadura para vislumbrar nesgas vidas alheias e antever um filme que passa nas nossas cabeças. 

"Um quarto fechado é sempre uma história por contar, enquanto não o abrirem, cada um ha-de ter a sua".

domingo, 20 de setembro de 2015

Teoria dos Limites

Autor: Maria Manuel Viana
Edição: 2014/ março
Páginas: 164
ISBN: 9789898580191
Editora: Teodolito

Sinopse:
A realidade é muito mais inverosímil do que a ficção, diz, a certa altura, uma das personagens deste romance. 
O aqui narrado parte da concepção fantasmática de um génio, uma espécie de mundo de ficção científica, com dois universos paralelos habitados por mónadas, essas substâncias simples, esses pontos metafísicos, essas individualizações infinitamente pequenas, como quartos sem portas nem janelas dentro de uma pirâmide cuja base tenderia ao infinito, onde bastaria uma ínfima coisa para passar de uma realidade para outra, e onde cada um de nós vê o seu duplo e pode escolher entre ser herói ou banal, amar ou resignar-se, sentir prazer ou raiva com a felicidade alheia, lutar pela liberdade ou jogar as regras do jogo, viver com dignidade ou ser passivo, aceitar a ignomínia ou revoltar-se, julgar o outro pondo-se no lugar dele, adoptar muitas perspectivas para perceber o todo, perguntar-se em que é que a ficção supera a realidade, se na beleza ou na construção não tão utópica quanto poderia parecer do melhor dos mundos possíveis.

A minha opinião:
Fazendo uso das palavras da autora, "trata-se de uma historia de algumas pessoas que constituíam uma família, que se amavam e se zangavam, que eram felizes e tristes, que riam e choravam, que se abraçavam no cemitério quando um deles partiu." O que partiu era o Escritor, uma figura central e anónima, para o qual todos convergiam pelo seu carisma, inteligência e talento, admirador de Leibniz e da sua teoria dos limites. As diferentes perspetivas de algumas destas personagens, como a Mariana (filha), Ana Sofia e Ana Lúcia (sobrinhas), João Caetano (irmão) e a mãe, mais duas personagens estranhas à família (Ana B. e Maria João), serve para provar que o todo não é a soma das partes. 

Afirmar que compreendi bem a teoria, temática do grandioso livro ficcional do Escritor, seria pretensioso e falso, considerando a minha limitada aptidão. O romance que se divide em três partes:  “O que não pode ser dito”, “O que talvez seja dito” e “O que irá ser dito”, e em que as personagens fazem a sua introspeção algo angustiante, por não ser isenta de dor, medo, culpa e solidão, não possibilita uma leitura fácil mas profunda e desafiante, que quase impõe releitura.

Escrita que não me atrevo a qualificar, merece uma leitura atenta pela dimensão do sentir, sempre muito pessoal, para quem ambiciona mais do género literário a que esta obra pertence.

domingo, 13 de setembro de 2015

Mistério na Califórnia

Autor: Elizabeth Adler
Edição: 2015/ março
Páginas: 352
ISBN: 9789897261749
Editora: Quinta Essência

Sinopse:
A vida tranquila de Fen Dexter na costa idílica da Califórnia é interrompida numa noite de tempestade, quando um homem coberto de sangue aparece à sua porta, alegando ter tido um acidente de carro. Diz-lhe que vai a caminho de São Francisco para ajudar a polícia a resolver o homicídio da sua noiva. Incapaz de chegar ao hospital por causa da tempestade, ele passa a noite em casa de Fen, e a atração entre ambos é óbvia.

Na manhã seguinte, ele dirige-se ao hospital onde a sobrinha médica de Fen, Vivi, trabalha nas Urgências. Vivi está a tratar o mais recente alvo de um assassino em série cuja assinatura é deixar um bilhete a dizer «Por favor, não contes» colado sobre a boca das suas vítimas. Quando o desconhecido misterioso de Fen vai ter com Vivi para que as suas feridas sejam cosidas, ela concorda em pô-lo a falar com a polícia sobre a sua noiva. Quem é este homem, realmente? O que quer com Fen e a sobrinha? E irão elas viver o suficiente para descobrir a verdade?
Contada com o talento de Elizabeth Adler para personagens femininas incríveis e reviravoltas de tirar o fôlego, esta empolgante história irá mantê-lo em suspense... até ao fim.

A minha opinião:
Mais um romance de Elizabeth Adler que li. Uma expectável agradável leitura. Enredos cheios de acção, aventura e romance com personagens dinâmicas que nos cativam, em cenários deslumbrantes (usados como titulo) num escrita fluída e bem ritmada. As capas sobejamente conhecidas não me agradam muito, mas identificam os romances desta autora.  

Neste romance, os crimes acontecem, e a vertente policial sobressai, enquanto procuramos desvendar a identidade de um frio assassino com um determinado estereotipo feminino, qual puzzle que montamos, peça por peça, para compor o quadro final. Não foi difícil desvendar o mistério mas com personagens que cativam na sua normalidade e bom humor, segui o inspetor Brad Merlim e a sua irresistível Flyin no decorrer da investigação até que o amor consolidasse e a justiça fosse feita.

Um livro para entreter e desanuviar que cumpre o que se propõe. 

domingo, 6 de setembro de 2015

Doce Tortura

Autor: Rebecca James
Edição: 2015/ agosto
Páginas: 384
ISBN: 9789898775436
Editora: Suma de Letras

Sinopse:
Quando Tim Ellison encontra um quarto barato para alugar num dos melhores locais de Sydney, parece um golpe de sorte: estará perto do restaurante onde trabalha e ainda mais perto do seu lugar preferido para praticar surf. Mas há uma condição para que possa arrendar o quarto: Tim terá de fazer todos os recados à misteriosa dona do quarto, uma mulher muito reservada e pouco amistosa, que nunca abandona a casa.

Tim esforça-se cada vez mais por conhecer melhor a figura inquietante de Anna. A princípio muito reservada, ela começa a revelar-se aos poucos: a sua história, a sua tristeza, os seus medos paralisantes.
É então que começam a acontecer coisas estranhas na casa: golpes a meio da noite, figuras inexplicáveis nas sombras, mensagens sinistras nas paredes. Tim assusta-se porque, ao mesmo tempo que o seu desconforto em relação àquela casa vai aumentando, crescem também os seus sentimentos pela bela e misteriosa dona da casa.
Que tipo de pessoa será Anna London: alguém que merece compaixão, alguém para amar ou alguém para temer?

A minha opinião:
Peguei neste livrinho recém chegado porque tinha um bom palpite. Que se revelou, mais um vez, acertado.

A capa agrada-me, mas o titulo nem tanto, por me parecer um tanto lamechas ou juvenil. Ao iniciar a leitura essa duvida dissipou-se, com um enredo e personagens convincentes numa tensão e suspense absolutamente inebriantes para um thriller psicológico com pequenos capítulos, que tornam a narrativa fluída e eloquente, confirmada com uma leitura frenética e absorvente.

Tim e Anna não são personagens carismáticas e interessadas mas comuns, focados nas suas limitações e problemas quotidianos. Anna é um enigma que procuramos desvendar. Agorafobia caracteriza-a mas quando e porque se desenvolveu essa patologia após o acidente de viação dos seus pais é algo que procuramos perceber nas palavras de Tim e da própria Anna.

Tim tem uma paixão não correspondida mas explorada por Lilla , personagem com matizes mais ricas pela sua vivacidade, agressividade e arrogância. Dois rígidos e emproados irmãos, únicos amigos de Anna confundem-nos no papel que desempenham na vida da jovem Anna. Uma casa impressionante e bem localizada é onde misteriosos acontecimentos tem lugar.

Enfim... Um enredo rico e bem desenvolvido que nos agarra com surpresa e onde procuramos descortinar o que sentimos no virar de cada pagina em que se percepciona dor, perda e inveja contrabalançada com a bondade e desprendimento.

Melhor do que outros do género mais promovidos. Vale muito a pena ler. 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

E É Assim Que Acaba...

Autor: Kathleen Macmahon
Edição: 2013
Páginas: 320
ISBN: 978-972-23-5121-8
Editora: Editorial Presença

Sinopse:
Quando começa
Outono, 2008.

Onde começa
Na costa irlandesa, perto de Dublin.

Como começa
Bruno é corretor da bolsa norte-americana que, depois de perder o seu posto de trabalho em plena crise financeira, chega a Irlanda em busca das suas raízes. Duas vezes divorciado, tem agora 50 anos. 
Addie é uma arquiteta irlandesa tambem desempregada, que esta a cuidar do pai enquanto este recupera de um acidente. Quando conhece Bruno, Addie tem 38 anos e luta por superar pesadas perdas familiares e uma experiência amorosa falhada. Nem ela nem o pai estão muito recetivos àquele americano que aparece nas suas vidas, nem se encontram particularmente motivados pela pesquisa genealógica ou o património histórico irlandês. No entanto, apesar destas divergências, Addie e Bruno descobrem juntos as alegrias de um improvável amor. E em breve vão ter a oportunidade de verificar a força redentora de um sentimento que a vida vai por a prova de forma que eles nunca teriam imaginado. 

E é que acaba...
Uma historia de amor que não vai conseguir esquecer!

A minha opinião:
E agora sei como acaba... depois de algum tempo em espera por ler porque a oportunidade não surgia. E foi uma leitura diferente, como o são todas as que aguardam o momento certo. 
Aparentemente, um pequeno livro que se lê rapidamente, mas não é bem assim. Não quando a baixa granulometria do papel nos induz em erro e viramos página atrás de página sem avançar muito na serena narrativa.

E o que temos são personagens conformadas com uma existência em que se sente e fala em recessão e crise financeira. Um americano que se distancia para encontrar as suas raízes, numa fuga a um período pré-eleitoral. Uma mulher desencantada com a vida que acompanha temporariamente o pai em contencioso com o hospital e uma família enlutada. Uma família feliz com quatro crianças. E todos estes elementos vão conviver e surpreender-se com a plenitude de sentimentos e emoções que não esperavam viver. 
Addie e Bruno vivem um improvável romance que abala a estrutura de toda a sua família.

E é assim que acontece… insidioso e definitivo sem ser idílico. Uma história que intencionalmente nos dá que pensar no que é  realmente importante e como escolhemos viver as nossas vidas.