Páginas

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Paradaise

A minha opinião:

Fernanda Melchor é uma excelente contadora de histórias de suspense de que não se quer perder palavra.

"Paradaise" é justamente o que Polo nao conhece, principalmente depois da morte do avê e do desaparecimento do primo Milton. A frustação e a miséria fazem dele um jovem rancorosamente silencioso que, convive mal com a obsessão do "gordo" pela vizinha do condomínio "Paradaise" onde trabalha como jardineiro. E esta convivência é realmente uma descida aos infernos que, se acompanha com esta extraordinária personagem odiosa mas compreensível.

O alcoolismo e o abandono num crescendo que desagua em violência. E que, não é nada mais nem nada menos do que a alternativa possível num circuito fechado. Brilhante curta narrativa. 

Autor: Fernanda Melchor
Páginas: 136
Editora: Elsinore
ISBN: 9789897876639
Edição: fevereiro/2024

Sinopse:
Polo, um adolescente nascido no meio da pobreza e da violência, vê-se obrigado a servir os ricos e a ser explorado pelo seu odioso patrão como jardineiro num condomínio de luxo chamado Paradise - pronuncie-se Paradaise, situado na margem oposta do rio que divide a localidade mexicana de Progreso, onde vive. Aí conhece o obeso e solitário Franco, filho de um advogado influente, com quem estabelece uma amizade momentânea, regada a álcool, cigarros, baboseiras e fantasias.

Viciado em pornografia, Franco alimenta uma obsessão por uma vizinha, a atraente senhora Marián, casada com uma celebridade da televisão. Num dos seus encontros junto ao cais, longe dos olhares dos guardas e dos residentes do condomínio, Franco e Polo engendram um plano macabro para finalmente obter, sem olhar a meios, o que julgam merecer.

Descrito pela crítica como uma descida ao Inferno, Paradaise, a mais recente obra da autora de Temporada de Furacões, é um romance de leitura contagiante, escrito numa prosa certeira, sobre uma sociedade fraturada pela raça, a classe e a misoginia, à mercê da banalidade da violência e da complexidade do mal.

Teoria King Kong

 

A minha opinião:

Esta capa e este título não me chamariam a atenção se não fosse uma sugestão de Tânia Ganho para o clube de leitura da livraria Buchholz e assim que abri este livro... a primeira arrebatou-me. Os livros que me surpreendem são quase sempre os melhores.

Um livro que é um grito de alerta e que em cada frase, afirma uma posição que, foi refletida e que faz estremecer quem lê. Um poderoso testemunho sem temor. 

O que também me espanta é eu não conhecer este livro ou quem o escreveu. Um livro pequeno que é um portento. Impossível parar de o ler.

Autor: Virginie Despentes
Páginas: 180
Editora: Orfeu Negro
ISBN: 9789899071155
Edição: setembro/2021

Sinopse:
Teoria King Kong é um grito de guerra e uma interrogação feroz da sexualidade feminina. Virginie Despentes desafia os discursos bem-comportados sobre a violação, a prostituição e a pornografia a partir das suas próprias experiências, desconstruindo os modos de apropriação do corpo feminino que levam à subordinação social, económica e sexual.

Um manifesto iconoclasta e irreverente para um novo feminismo.

Amor Livre

 

A minha opinião:

A curiosidade levou a melhor com as notas de capa.

O que leio é uma narrativa rápida sobre uma traição no cenário dos anos sessenta em Londres com uma mulher de meia idade e um jovem, amigo da familia. Uma relação intempestiva em que nada importava. O desenlance promete.

Prometeu mas não cumpriu. O ritmo da história abrandou, o desenvolvimento demorou e o desfecho frustou. As notas de capa são enganadoras, ou pelo menos para mim foram.
O título é o mais adequado porque neste romance de época houve uma quebra do convencional num romance que tem muito de realista. Gostei mas não amei.

Autor: Tessa Hadley
Páginas: 256
EditoraParticular Editora
ISBN: 9789895770458
Edição: fevereiro/2024

Sinopse:
Na culturalmente inquieta Londres dos anos 60, a família suburbana Fischer pertence a um mundo de segurança convencional: Phyllis é uma bonita dona de casa, apta a tudo, casada com Roger, um pai afeiçoado e senhor de uma esplêndida carreira política. Os seus filhos são Colette, uma adolescente estudiosa, e Hugh, o predestinado menino de ouro.

Mas, quando o filho de vinte e poucos anos de um velho amigo visita os Fischer para jantar e acaba a beijar Phyllis no escuro do jardim, algo nela se inflama. Phyllis fará uma escolha que desafia as expectativas que sobre ela incidem enquanto mulher e mãe. E, à medida que a agitação na família espelha a transformação dramática da sociedade londrina da época, descobrir-se-á que nada na vida dos Fischer era tão estável e resolvido quanto parecia.

Hadley explora de forma brilhante o amor românico, a liberdade sexual e o estímulo intelectual.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

A Estranha Sally Diamond

 

A minha opinião:

Grupos de leitores ou de leitura direcionam para livros que não seriam prioritários como A estranha Sally Diamond.

Não há muito que se possa desvendar sobre este thriller que não estrague a experiência de leitura para quem o vai iniciar. Sally é uma personagem fabulosa que, é notícia depois de cumprir o que o "pai" lhe tinha pedido se morresse. E o que se sucede depois são revelações de violência, ainda que atenuado no modo como é contado. O suspense e a intriga levam o leitor num carrocel de emoções que, não quer parar ou não fosse este um bom thriller.

O precoceito em muitas variantes, que descamba em violência fisíca e psicológica e a manipulação que, esta estranha personagem consegue desmitificar numa pequena comunidade é tocante e até diverte. 

Uma educação... O final não me chocou, e achei plausível, num enredo que tem algumas notas dissonantes que não permitem 5*

Autor: Liz Nugent
Páginas: 384
EditoraTopSeller
ISBN: 9789897871597
Edição: janeiro/2024

Sinopse:
Sally Diamond não consegue perceber porque é que aquilo que fez é assim tão estranho. Ela limitou-se a fazer o que o pai lhe pediu: pô-lo no lixo quando ele morresse.

Habituada a uma vida solitária, Sally vê-se agora no centro das atenções, tanto por parte dos vizinhos, como da polícia e da comunicação social. No meio da confusão gerada em torno do incidente, Sally começa a receber mensagens anónimas de alguém que conhece o seu passado, um passado do qual ela não tem qualquer memória.

Ao mesmo tempo que vai descobrindo os horrores da sua infância, Sally começa a explorar o mundo pela primeira vez, fazendo amigos, conquistando a sua independência e percebendo que as pessoas nem sempre dizem o que realmente estão a sentir.

Mas quem é o homem que a observa e lhe escreve do outro lado do mundo?

domingo, 11 de fevereiro de 2024

As Herdeiras

 

A minha opinião:

 Mais um livro no feminino e de uma autora espanhola. Coincidência ou talvez não porque é o tipo de romance que muito gosto de ler. No entanto, este livro não é nada fácil porque todo ele é emoção e sentimento.

Quatro personagens femininas, problemáticas e rivaism irmãs e primas, herdeiras. A dor que estas personagens expressam à vez tem uma razão que o leitor procura descortinar. A dor de um suícidio inexplicável, a dor do luto, a dor de um trauma, a dor da perturbação mental, a dor da solidão e do vazio, a dor da dependência química e até a dor fisíca. 

A escrita apurada humaniza estas quatro mulheres - Lis, Erica, Nora e Olívia, que têm tanto de nós. Ténue linha separa a sanidade da loucura quando a culpa, o medo, a insegurança e o desejo perturbam o espírito. Inquietante e vertiginoso. Muito bom.

Autor: Aixa de la Cruz
Páginas: 304
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722080828
Edição: janeiro/2024

Sinopse:
Passaram seis meses desde que Dona Carmen cortou os pulsos na banheira, e ainda ninguém percebeu porquê, pois tinha ao seu alcance comprimidos suficientes para acabar com a vida de outra maneira. Isto descobrem, intrigadas, as suas quatro netas - Lis, Erica, Olivia e Nora - quando se instalam na casa da aldeia onde a avó vivia e que lhes foi deixada em testamento.

Lis, que tem um filho pequeno, está ainda a recuperar de um trauma que sofreu ali dentro e só lhe interessa vender tudo e seguir em frente, enquanto a sua sonhadora irmã Erica planeia organizar no local retiros espirituais e passeios na natureza. Por sua vez, Olivia - a prima mais velha, que se formou em medicina por ter visto o pai morrer com um enfarte - não desiste de procurar em tudo o que é gaveta uma pista que explique o que realmente levou a avó a suicidar-se; e Nora, a sua desastrosa irmã, tem a ideia maluca de deixar o seu dealer usar o espaço como depósito de «mercadoria»; de resto, é ela quem a dada altura diz sem complacência: «Parece que um suicídio na família confirma a suspeita de sempre, de que a loucura corre nos genes, de que estamos biblicamente perdidas.»

Aixa de la Cruz constrói neste romance intenso e dramático - considerado um dos melhores livros de 2022 pelo jornal El País - a ideia da família como lugar de dissensão e calamidade, explorando a ténue fronteira que existe entre loucura e sanidade.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Histórias de Mulheres Casadas

 

A minha opinião:

Abri este livro e fiquei lá.

O primeiro livro da Cristina Campos li e gostei. Histórias de mulheres casadas um romance contemporâneo sobre o universo feminino não me podia passar ao lado. (Erradamente penso sempre que se trata de uma autora portuguesa até verificar que Cristina Campos é de Barcelona).

História de mulheres casadas é o título de um artigo bem sucedido da jornalista Gabi. Histórias de mulheres. Histórias simples da vida quotidiana. O título não é nada críptico mas estas mulheres são tão especiais como qualquer uma das leitoras que vai sentir que está num grupo de amigas. "Nós, as mulheres, somos muito rápidas a contar as nossas vidas."

Não se deixem intimidar pelo tamanho do livro porque se lê rápidamente. Um romance que entusiasma e vicia, e que não apetece parar de ler. Um romance que não transporta tensão ou drama mas que é muito vivido. Um romance que fala de amor, sexo, maternidade, infedilidade, amizade... de vida.

Autor: Cristina Campos
Páginas: 416
Editora: Planeta
ISBN: 9789897778247
Edição: janeiro/2024

Sinopse:
Maridos, amantes e amigas vão e vêm, mas o amor, o verdadeiro amor, permanece para sempre.

Gabriela é uma mulher casada com um homem que ama. Um homem que ela adora. Um homem que lhe implora por sexo uma vez por mês. E Gabriela, porque o ama, porque adora o seu marido, sem o querer, dá-lho. Mas, todas as manhãs, Gabriela cruza-se com um desconhecido, um homem que deseja incompreensivelmente.

Gabriela é jornalista e trabalha com as suas colegas de redação Silvia e Cósima, mulheres com quem criou uma amizade preciosa e sólida. Tal como Gabriela, também elas escondem dos seus maridos pequenos segredos. Histórias de Mulheres Casadas é um romance poderoso que mergulha na intimidade feminina e narra com naturalidade a realidade de muitas mulheres presas a vidas que nunca imaginaram.

Um romance honesto e atual sobre casamento, amizade, o desejo e o amor.

O Homem do Casaco Vermelho

 

A minha opinião:

"A arte sobrevive aos caprichos individuais, ao orgulho familiar, à ortodoxia da sociedade; a arte tem sempre o tempo do lado dela."

Nada como um bom desafio para fazer um livro adiado sair da prateleira onde repousa. O homem do casaco vermelho é uma personagem anónima maravilhosa, que viveu no espírito da Belle Époque nesta coloquial narrativa bem humorada e elegante. Para quem gosta. Eu vou marcando os muitos fragmentos que vale a pena reler nesta História prazerosa.

Mais do que retratar o homem, Julian Barnes retrata uma época, com a panóplia de personagens que deixaram memória. É uma viagem ao passado com um guia que, sabe o que faz e tudo isto a partir do verão de 1885 quando três cavalheiros franceses vão a Londres. O homem do casaco vermelho era Samuel Pozzi, carismático médico, ginecologista e um livre pensador.

"Podemos especular desde que também admitamos que as nossas especulações são romanescas e que o romance tem quase tantas formas como as que têm o amor e o sexo."

Autor: Julian Barnes
Páginas: 320
Editora: Quetzal Editores
ISBN: 9789897226618
Edição: maio/2021

Sinopse:
No verão de 1885, três cavalheiros franceses chegaram a Londres para alguns dias de «compras decorativas e intelectuais». Um era príncipe, outro era conde e o terceiro era um plebeu com apelido italiano que, alguns anos antes, fora retratado numa das extraordinárias telas de John Singer Sargent. Era ele Samuel Pozzi, médico da melhor sociedade, ginecologista pioneiro e livre-pensador - um homem racional, de espírito científico e com uma vida privada conturbada.

Em fundo, a Belle Époque parisiense, um período de muito glamour e prazer, mas com um lado negro também - de histeria, narcisismo, decadência e violência.

O Homem do Casaco Vermelho é, assim, em simultâneo, um original e vívido retrato da Belle Époque - e dos seus heróis, vilões, escritores, artistas e pensadores - e de um homem à frente do seu tempo. Um livro cheio de espírito e profundamente documentado, que mostra e defende a frutuosa e duradoura troca de ideias através do Canal da Mancha que fez a grandeza da Europa.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

O Dia da Coruja

 

A minha opinião:

Um clássico. De pequenas dimensões é uma escorreita história sobre a máfia nos anos pós-fascismo em Sícilia, Itália. Elegante e acutilante o capitão Bellodi representa a integridade e a justiça que, quer apurar quem são os culpados dos crimes. 
(Parece sinopse mas não é. Clássico não significa datado, apenas que de tão bom prevalece e se a máfia é um tema batido, não é esgotado quando bem contado).

A ironia na escrita, limpa, num quadro de época em que não deixa de tecer críticcas ao sistema político-social (não tão distante como seria desejável) e a intriga que nos deixa em suspense fazem deste romance uma preciosidade que se lê avidamente.

"A máfia não é mais do que uma burguesia parasitária, uma burguesia que não empreende, mas apenas desfruta.
O Dia da Coruja mais não é, com efeito, do que um "exemplo" desta definição... Mas talvez seja também uma boa novela."

Autor: Leonardo Sciascia
Páginas: 144
Editora: Editorial Presença
ISBN: 9789722372756
Edição: janeiro/2024

Sinopse:
Onde o medo domina, todos se calam. o mais importante romance de um dos maiores autores italianos do século XX.

Sicília, década de 1960. Numa pequena cidade, o capitão Bellodi, reto e honesto, republicano e antifascista, investiga uma série de crimes, em especial o assassínio de um homem dentro de um autocarro. As pistas são parcas, mas parecem todas apontar para uma única direção: a máfia.

Entre o silêncio dos que assistiram àquela morte, mas parecem nada ter visto, e a rede de ligações entre a cosa nostra e algumas das figuras mais poderosas da região, Bellodi, obstinado e temerário, insiste em tentar passar para o outro lado da enorme e densa cortina de fumo que envolve o crime. Porém, parece que nenhuma das suas estratégias consegue provar quem são os verdadeiros culpados.

Naquele que se tornou o romance mais lido do autor, Leonardo Sciascia parte de um caso real para nos dar um quadro vivo da máfia - e dos anos pós-fascismo em Itália -, mostrando-nos as suas verdadeiras consequências morais, afetivas e estruturais. O Dia da Coruja é hoje um clássico em que a ironia e a elegância da escrita não escondem a permanente busca do autor pela dignidade e liberdade humanas.

Três Mulheres na Cidade

 

A minha opinião:

Procurava um romance arrebatador e achei.

Palavras precisas, frases curtas, capítulos breves, que fazem deste um romance vibrante, pungente e cinematográfico. Até o título é exato. Três mulheres na cidade. As personagens são a história e a cidade de Madrid não é apenas cenário. Um edíficio antigo num ambiente cosmopolita, onde o bairrismo e espírito de comunidade se perdeu e a violência tomou lugar, a começar no apartamento de Olíva, que vive uma relação tóxica.
Damaris é emigrante como Horia. Sobrevivente. 
"Quem consegue esqucer a tristeza que a terra traz quando se abre sob os pés de uma cidade?"

Um romance chocante por tocar o leitor com relatos tão intímos e viscerais que a Lara parece captar e transmitir com naturalidade. Estas três mulheres são companhias próximas que se vão impondo à vez e que dificilmente se esquecem.

Autor: Lara Moreno
Páginas: 344
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789897876035
Edição: janeiro/2024

Sinopse:
Num edifício do bairro La Latina, no centro de Madrid, confluem as vidas de três mulheres. O pequeno apartamento interior do quarto andar é a casa de Oliva, que se encontra aprisionada num relacionamento perigoso e abusivo. No terceiro andar, luminoso, Damaris passa os dias a cuidar dos filhos dos patrões. Todas as noites, contudo, volta para a sua própria casa, atravessando o rio que divide social e economicamente a capital espanhola. Damaris aterrou em Espanha em busca de um futuro melhor, depois de um terramoto na Colômbia ter devastado a sua vida. Idêntica é a história de Horía, que chegou a Madrid em busca de uma existência mais benévola. Marroquina, Horía chegou primeiro à cidade de Huelva, para trabalhar na apanha da fruta. Agora, vive na pequena casa do porteiro, no mesmo prédio onde habita Oliva e onde trabalha Damaris.

Três Mulheres na Cidade pulsa com a vida de Oliva, Damaris e Horía, vida em que o presente é um cerco tão doloroso como o passado. Com uma voz literária terna, mas acutilante, Lara Moreno mapeia um território íntimo e um território político-social, compondo o retrato de uma grande capital europeia a partir das histórias de quem a habita. Um retrato quase sempre invisível e cheio de feridas, que transforma este livro num reduto de coragem e compaixão.

A Última Canção da Noite

 

A minha opinião:

Gosto. Gosto muito das personagens que Francisco Camacho cria nos seus romances. Cínicos, problemáticos e muito humanos. David Almodôvar é uma dessas peresonagens e Vera (a minha homônima), a personagem que o perturba e confronta, credível e empática.

O enredo é mais intrincado. Remonta à guerra dos Balcãs. A música é o elo de ligação de Jack Novak, um homem vulgar que fazia música extraordinária e David Almodôvar, antigo critíco músical. Não é uma história rápida mas não me aborreceu porque estava intrigada e muito envolvida com as personagens que sentia próximas. O mistério de Jack Novak pretendia desvendado.

Este romance é uma viagem. Uma maravilhosa viagem que também nos leva a Marrocos.

Autor: Francisco Camacho
Páginas: 24
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722052238
Edição: maio/2013

Sinopse:
Jack Novak - o conceituado guitarrista dos Bitters que há muito conquistou o respeito das elites e o coração das massas - desaparece misteriosamente durante uma digressão da banda pela Europa de Leste, numa madrugada pródiga em estranhos acontecimentos. O incidente dá, por isso, origem a uma onda de especulações e deixa uma multidão de fãs na expectativa de uma verdade que, todavia, tarda em chegar.

Um desses admiradores é o português David Almodôvar, crítico de música desempregado e caído em desgraça, que atravessa uma crise existencial e tem um desafio quase impossível pela frente: descobrir o paradeiro de Vera e dar-lhe a derradeira prova de amor que ela lhe exige.

Quando os destinos destes dois homens se cruzam, David vê-se confrontado com as motivações de dois desaparecimentos - o da mulher que ama e o do músico que idolatra - e empreenderá uma viagem que lhe permitirá conhecer um segredo que Jack já desistiu de guardar e, ao mesmo tempo, resolver o tremendo impasse em que se encontra.

Com um ritmo imparável, diálogos sublimes e uma história surpreendente que decorre em geografias tão distintas como o deserto de Marrocos ou a cidade de Berlim, A Última Canção da Noite é um romance de contrastes sobre os dilemas e as paixões que moldam a nossa vida quando a noção de mortalidade nos atinge de forma inescapável.

Mr. Loverman

 

A minha opinião:

Mudança de planos. Acontece-me muito. Início um, espreito outro e às tantas, ainda leio uma ou outra boa sugestão, como a da Laura Perdigão e penso que é Mr. Loverman que finalmente vou ler para quebrar esta semi-ressaca literária.

E não me parece que tenha errado porque Mr. Barrington Walker é uma personagem que marca e basta um único capítulo para o descobrir. Sarcástico e com um jeitinho caribenho para tudo e todos é de rir. 
(Ó fe-li-ci-da-de.)

Li a sinopse e não me cativou mas nada nos prepara (exceto as boas opiniões) para esta personagem fora de série. Um vivaço com 74 anos que emigrou de Antígua quando casou nos anos 60 para Inglaterra e depois de cinquenta anos se questiona sobre uma mudança de vida ao assumir a sua homosexualidade. Bem escrito e com uma linguagem muito própria é uma espécie de sátira de costumes perante a perspectiva de Barry que tem um sentido critíco, irónico e sarcástico arrebatador na relação com tudo e todos, em que nem ele mesmo escapa a uma autocensura. Um livro que reflecte sobre velhice, familia, amor, mas também racismo homofobia e identidade, sem nos estar a dar nenhuma lição. É um gozo com muito ritmo e que não se quer largar. Qualquer preconceito ou pré julgamento desaparece nas primeiras páginas. O desfecho tinha que ser à altura de Mr. Loverman.

Autor: Bernardine Evaristo
Páginas: 336
Editora: Elsinore
ISBN: 9789896234621
Edição: junho/2022

Sinopse:
Natural da ilha de Antígua, Barrington Jedidiah Walker emigrou para o Reino Unido nos anos 1960, onde prosperou financeiramente. Bem cuidado e bem vestido, com citações de Shakespeare na ponta da língua e um observador astuto da condição humana, Barry é um gentleman das Caraíbas que aprecia uma boa pândega.

É casado há 50 anos com Carmel, tem duas filhas e um neto — e mantém, em segredo, uma relação amorosa com Morris de la Roux, seu companheiro e amigo desde os tempos de juventude. Aos 74 anos, enfrenta uma crise existencial, constatando ter chegado o momento de assumir a sua homossexualidade e pedir o divórcio. Porém, após uma vida de medos, perseguições e mentiras, a coragem fraqueja dia após dia e a sua última oportunidade para ser feliz parece fugir-lhe das mãos...

Mr. Loverman é um romance cheio de ritmo, humor e subversão, no qual a vencedora do Booker Prize, Bernardine Evaristo, lança um novo olhar sobre a sociedade multiétnica ocidental, destruindo mitos e falácias culturais e expondo preconceitos há muito enraizados.

A Boa Irmã

A minha opinião:

Que boa surpresa. Não estava nada à espera e foi um ótimo page-turner e um excelente thriller psicológico com personagens incríveis. Fern é aquela personagem especial que nos conquista desde as primeiras páginas e que tememos por ela. Queremos protegê-la. E o "Wally". Acho que é o não galã que todas adoraríamos ter. Leiam e vão perceber. Mais não conto para não retirar o prazer da descoberta.

Autor: Sally Hepworth
Páginas: 296
Editora: Editorial Presença
ISBN: 9789722371513
Edição: julho/2023

Sinopse:
Duas irmãs gémeas. Uma gravidez muito desejada.

Todos temos um lado negro. E há um dia em que ele aparece.

Fern Castle trabalha numa biblioteca e, três vezes por semana, janta com Rose, a sua irmã gémea, que é casada. Fern foge das multidões e de lugares barulhentos, tentando manter o seu dia a dia o mais tranquilo e estruturado possível. A verdade é que quebrar a rotina pode ser muito perigoso para ela…

Quando Rose descobre que não pode engravidar, Fern vê a oportunidade ideal para retribuir à irmã tudo o que tem feito por ela. Sim, Fern pode dar um bebé a Rose. Só precisa de encontrar um pai. Simples.

Porém, a missão de Fern vai abalar os pilares de uma vida que construiu com muito cuidado e esforço. E mais: há segredos obscuros que voltarão a ver a luz do dia, por mais que ela os julgasse enterrados para sempre.

Refúgio no Tempo

A minha opinião:

Não é de todo o meu tipo de leitura mas as críticas são tão boas que cedi à curiosidade. E se andei meio perdida no início, rápidamente me orientei e rendida fiquei ao enredo. É realmente um livro fascinante. Tanto diverte, como inquieta, numa espécie de distopia que, tem um tanto de preminitório. A velhice e a perda de memória que, atinge cada vez pessoas mais novas. E não, não é um livro lúgubre ou amargo porque o refúgio do tempo é de memórias felizes. Muitas delas da infância.

"... a primeira coisa que desaparece com a perda de memória é a própria noção de futuro."
Experimentem aplicar a um povo e a uma nação que esqueceu o que viveu no passado. O narrador não deixa de referir que é búlgaro. 
"Se o produto nacional bruto dependesse do ódio, a prosperidade em alguns países atingiria em pouco tempo as nuvens."

Não é fácil. Como se o alter-ego do autor estivesse a olhar para trás para uma projeção futura num exercício assustadoramente viável.

"Á medida que diminuí a memória, aumenta o passado."

(As chamadas de nota para o fim do livro é que não achei muita piada porque prefiro no fim de cada página).

Autor: Gueorgui Gospodinov
Páginas: 304
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897834059
Edição: novembro/2023

Sinopse:
O enigmático Gaustine, que o narrador conheceu num seminário de literatura à beira-mar, inaugura uma clínica para doentes de Alzheimer. De modo deliberado, as diferentes divisões reproduzem as várias décadas do século xx, do mobiliário aos pormenores, o que permite aos pacientes regressarem ao cenário dos seus anos de plenitude. Em breve, um número crescente de cidadãos procura inscrever-se na clínica para escapar ao beco sem saída em que se converteram as suas vidas na actualidade. A ideia espalha-se por toda a União Europeia. E então o passado invade o presente, conferindo à narrativa uma dimensão de premonição e distopia.

O Amante

 

A minha opinião:

Há muito tempo que pretendia ler este livro. Ou pelo menos, iniciar e hoje calhou... E fui.

"Muito cedo na minha vida foi tarde demais" é relmente uma frase genial para o terceiro parágrafo de abertura deste romance. A convição nestas palavras que, marca o tom desta narrativa. Amargura, melancolia numa reflexão que recua até aos seus quinze anos e meio em Saigão quando o conheceu. Ele é mais velho doze anos e meio e é chinês.

Uma escrita aprumada, mas não datada, para falar de desejo e fatalismo num romance que é muito cinematográfico.

Autor: Marguerite Duras
Páginas: 128
Editora: Edições Asa
ISBN: 9789892317564
Edição: junho/2012

Sinopse:
Saigão, anos 30. Uma bela jovem francesa conhece o elegante filho de um negociante chinês. Deste encontro nasce uma paixão. Ela tem quinze anos e é pobre. Ele tem vinte e sete e é rico. Os amantes, isolados num mundo privado de erotismo e autodescoberta, desafiam as convenções da sociedade.
Enquanto ela desperta para a possibilidade de traçar o seu próprio caminho no mundo, para o seu amante não há fuga possível. A separação é inevitável e tragicamente cadenciada pelos últimos acordes da presença colonial francesa a Oriente.
A jovem é a própria autora e este é o relato exacerbado de uma paixão inquieta e dilacerante. De tão etérea, a sua realidade gravar-lhe-ia no rosto marcas implacáveis de maturidade. Para o mundo, fica uma obra que contém toda a vida.
Obra intemporal, relato de um mundo perdido, O Amante foi vencedor do prestigiado Prémio Goncourt, em 1984, e confirmou o génio literário de Marguerite Duras, nome cimeiro da literatura mundial.