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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Viver depois de ti

Autor: Jojo Moyes
Edição: 2013, maio
Páginas: 424
ISBN: 9789720045775
Editora:  Porto Editora

Sinopse:
Lou Clark sabe muitas coisas. Sabe quantos passos deve dar entre a paragem do autocarro e a sua casa. Sabe que trabalha na casa de chá The Buttered Bun e sabe que não está apaixonada pelo namorado, Patrick. O que ela não sabe é que vai perder o emprego e que todas as suas certezas vão ser postas em causa.

Will Traynor sabe que o acidente de motociclo lhe tirou  o desejo de viver. Sabe que agora tudo lhe parece triste e inútil e sabe como pôr fim a este sofrimento. O que não sabe é que Lou vai irromper na sua vida com toda a energia e vontade de viver. E nenhum deles sabe que as suas vidas vão mudar para sempre.
Em Viver depois de ti, Jojo Moyes aborda um tema difícil e controverso com sensibilidade e realismo, obrigando-nos a refletir sobre o direito à liberdade de escolha e as suas consequências.
 
A minha opinião:
Gosto muito desta autora mas neste romance ficou muito áquem das minhas expetativas.
 
Um tema polémico e difícil se considerarmos a possibilidade de o encarar na perspetiva do Will, um indivíduo até ao estúpido acidente de que foi vitima, arrogante e cheio de vida que vivia intensamente com todos os meios que tinha ao seu alcance e se vê na impossibilidade de algo fazer sem a ajuda alheia e ainda sobreviver com muitas limitações e sofrimento. Will faz uma escolha e confronta a sua familia com esta e sem juízos de valor li o desenrolar da narrativa que se arrasou demasiado para um final previsível, mas não sei se desejável.
 
Lou Clark é uma personagem extravagante no seu modo de vestir e de estar, que se percebe que tem limitações mas não fisícas e inversamente a Will acomodou-se a uma existência contida e muito condicionada. A interação destas duas personagens será o resultado de toda a narrativa que pouco mais acrescenta em demasiadas páginas.
 
Apesar da delicadeza e sensibilidade com que a história foi contada e das personagens bem construídas não me senti tocada ou emocionada e por isso, ficou áquem das expetativas. Não deixa de ser um livro muito interessante e pertinente que nos faz reflectir sobre a fragilidade do que damos como certo e de como podemos aceitar ou encarar decisões como as que aqui são debatidas.

sábado, 18 de janeiro de 2014

O Rapaz do Caixote de Madeira

Autor: Leon Leyson, Marilyn J. Harran e Elizabeth B. Leyson
Edição: 2014, janeiro
Páginas: 188
ISBN: 9789722351843
Editora: Editorial Presença

Sinopse:
Leon Leyson tinha apenas dez anos quando os nazis invadiram a Polónia em 1939 e a sua família foi forçada a viver no gueto de Cracóvia. Neste seu livro de memórias, Leon começa por nos descrever uma infância feliz, na sua aldeia natal e felizmente para a família, o seu caminho cruzar-se-ia com o de Oskar Schindler que os incluiu na célebre lista dos trabalhadores da sua fábrica. Na altura com apenas 13 anos, Leon era tão pequeno que tinha de subir para cima de um caixote de madeira para chegar aos comandos das máquinas. Ao longo desta história, que reproduz com autenticidade o ponto de vista de uma criança, Leon Leyson deixa-nos entrever, no meio do horror que todos os dias enfrentavam, a coragem, a astúcia e o amor que foram necessários para poderem sobreviver.

A minha opinião:
Há livros que nos marcam. O tempo passa e ainda assim não desaparecem da nossa memória, ainda que alguns detalhes se desvaneçam, o essencial permanece. Este não é um livro qualquer, apesar do aspecto singelo e das reduzidas dimensões (fácilmente transportável), e poderia ser mais um dos muitos que entretanto já se publicaram sobre a crueldade e desumanidade infringida aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, mas não o é. Um extraordinário relato de que dificilmente nos distanciamos porque não se trata de fição, foi vivido por um jovem muito especial que não deve desparecer, bem como o herói que com a família dele se cruzou -  Oskar Schindler.

A coragem de uma família judia polaca em sobreviver e se manterem unidos. Como Leon afirmou, não tinham escolha, mas Schindler, um nazi influente tinha e poderia ter fugido e tê-los abandonado no termo da guerra e arriscou a vida para fazer a coisa certa. A coisa certa que nem os polacos gentios ousaram fazer quando os judeus tentaram regressar às suas casas e foram renegados.

"Nunca é fácil contar o que vivi, por muitos anos ou muita distância que tenha colocado entre mim e o rapazinho que fui outrora. Cada vez que falo disto, sinto de novo a dor de ver os meus pais sofrerem, o frio e a fome de todas aquelas noites em Plazów, e a perda dos meus dois irmãos." (pag. 159)

Sofrimento inimaginável que por muito díficil que seja de processar, não devemos deixar que se repita. Uma lição a aprender.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A Lista dos Meus Desejos

Autor: Grégoire Delacourt
Edição: 2013, outubro
Páginas: 192
ISBN: 9789896721985
Editora: Suma de Letras

Sinopse:
Uma história tocante sobre a felicidade das coisas simples da vida.
O meu nome é Jocelyne. Quando era jovem, sonhava trabalhar no mundo da moda em Paris e conhecer um Príncipe Encantado. Mas a vida foi passando e, afinal, tenho uma retrosaria, o meu marido pouco ou nada me liga e os meus filhos já deixaram o ninho.
Mas a sorte mudou e, agora, posso ter tudo o que sempre desejei.

A lista dos meus desejos:
Ir de férias sozinha com o Jo
Cortar o cabelo
Mudar a decoração da sala
Comer foie gras com pão de especiarias
Passar uma semana em Londres com a Nadine
Fazer um tratamento num SPA
Comer melhor
Que me digam que sou linda
Estes são apenas alguns dos meus desejos. No fim de contas, agora posso ter tudo o que sempre desejei.
Mas começo a duvidar se, agora que posso ter tudo, não terei mais a perder do que a ganhar… O que quero é ser feliz.
Uma história luminosa, comovente e divertida que já inspirou mais de meio milhão de leitores em todo o mundo a procurar a verdadeira felicidade.

A minha opinião:
Não concordo com a última frase que surge na sinopse. Não é uma história luminosa ... e divertida. Tocante e profundamente humana, esta história leva-nos a refletir sobre os sonhos e desejos que nos fazem prosseguir contra todas as expetativas, bem como o que é realmente importante e o que se pode realizar quando se ganha um avultado prémio num súbito golpe de sorte. Uma conversa tão banal que faz parte do quotiano das pessoas e ainda assim tem consequências devastadoras na vida de tão afortunadas pessoas que podem, ou não, encontrar a felicidade. Afinal, quantas vezes percebemos que apesar de invejadas e poderosas se sentem solitárias e desprotegidas e sem saber como obter o que realmente desejam.

Jo, uma mulher generosa e afetuosa que partilha num blogue (dezdedosdeouro) o seu sentir entre linhas, tecidos e fitas consegue sem deslumbres um considerável número de admiradoras, que a consideram como amiga e ainda assim cala os seus reais sentimentos, ressentimentos e perdas.

Uma pequeno bonito livro numa linguagem crua/ desencantada, realista talvez, se lê em poucas horas mas não sem algum estremecimento pelo muito que se vai revelando numa escrita fluída. Gostaria que o epílogo fosse mais desenvolvido mas como toda a narrativa é credível e simplicísta.
Um livro a reter. 

Arroz de Palma

Autor: Francisco Azevedo 
Edição: 2013, outubro
Páginas: 304
ISBN: 9789720044976
Editora: Porto Editora

Sinopse: 
Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.
A imigração portuguesa no Brasil, no séc. XX, retratada num romance sobre a saga de uma família em busca de um futuro melhor. Ao longo de cem anos acompanhamos as alegrias e tristezas, as discussões e as pazes, as separações e os que são felizes para sempre.

"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema - principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida é azeitona verde no palito - sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares."

A minha opinião: 
Sublime! 
Este romance encheu-me realmente as medidas e não há realmente outra palavra para sintetizar o quanto gostei de o ler e o que pensei desta história. 

Uma leitura leve e divertida de um velho de 88 anos (dois infinitos na vertical) que vai recordando a vida da sua família, baseado inicialmente em relatos do pilar da família - a Tia Palma, e depois nas suas próprias memórias que preservam os afetos e a sabedoria de quem sabe como valorizar o que é importante. Uma leitura simples, enriquecedora e gratificante, pelo prazer de absorver e desfrutar de cada frase, assim como da incrível história que foi concebida com rara sensibilidade. Acho que nunca escrevi um comentário tão elogioso sobre um livro e, ainda assim, creio que não lhe faz justiça. Este romance é imperdível!

E pensar que estive a apreciá-lo nas livrarias, mas, por preconceito, não o escolhi. O preconceito por estar escrito em brasileiro (ou português do Brasil, será que é assim que se deve expor?). Mas lê-se naturalmente, porque nada me limitou o entendimento de qualquer expressão ou frase. E são memoráveis algumas delas.

Não vou adiantar nada sobre a história, porque não gosto de o fazer e sequer de o ler, mas a belíssima sinopse é elucidativa. Ao contrário de "Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.", este romance pode e deve ser repetido sempre e quando desejarmos. De qualquer modo, "Aproveite ao máximo. "

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A Segunda Morte de Anna Karenina

Autor: Ana Cristina Silva
Edição: 2013, setembro
Páginas: 224
ISBN: 9789897410963
Editora: Oficina do Livro

Sinopse:
Violante tinha, desde criança, um talento raro para a representação e, com a ajuda de Luis Henrique, um grande actor com quem acabou por se casar, tornou-se uma das mais aplaudidas actrizes portuguesas do princípio do século XX. Contudo, os que a vêem brilhar e afirmar o seu génio no palco dos maiores teatros nacionais desconhecem o terrível segredo que minou a sua vida e levou para longe o marido numa noite que podia ter acabado em tragédia. Agora, que Violante visita, longe da multidão, o jazigo de Rodrigo - um jovem oficial português caído na guerra das trincheiras em França -, espera finalmente sentir o desgosto da mãe que não chegou a ser, mas descobre que o filho que não criou carregava, afinal, no peito um peso tão grande ou maior do que o seu. E, com o espectro das recordações que essa revelação desencadeia, regressa também inesperadamente o próprio Luís Henrique, desejoso de obter, ao fim de tantos anos, a resposta que Violante não lhe pôde dar. O problema é que, numa conversa entre dois actores de excepção, nunca se sabe exactamente o que é verdade. A Segunda Morte de Anna Karénina é um romance sobre o amor sem limites, a traição e os custos da vingança - e também uma obra arrojada sobre as tensões homossexuais reprimidas, sobre as vidas desperdiçadas de tantos portugueses na Primeira Guerra Mundial e sobre as diferenças - se é que existem - entre o teatro e a vida real.

A minha opinião:
Procuro as palavras certas para definir o quanto este romance me surpreendeu e agradou. A sinopse é explícita sobre a estória mas não sobre o requinte e a eloquência das palavras que a autora consegue utilizar de forma sublime para revelar estados de alma. 
Não sou tão hábil no uso das palavras, mas não deixo de me maravilhar quando alguém consegue captar a natureza de sentimentos fortes capazes de mudar o rumo da vida e compor personagens credíveis e sofridas. Intemporais e imutáveis neste romance de época que aborda a questão da homossexualidade, bem como a capacidade de amar incondicionalmente para além de todas as interdições e ainda o cíume, o orgulho e o medo que tudo deita a perder.

"Como homossexuais, a nossa única liberdade é escolher entre a amargura da repressão dos sentidos e os prazeres clandestinos."
(pag. 220)

"É certo que é preciso rir e chorar, mas mais necessário é afastar toda a fuligem que escurece os sentimentos autênticos e genuínos."
(pag. 107)

"O amor, tal como a morte, segue um tempo que não se rege pelo calendário. "
(pag. 112)

Um drama com o muito que é exposto por Rodrigo nas cartas enviadas a Eduardo e que visualizamos os portugueses na 1ª Guerra Mundial.

Uma tragédia no reencontro de Violante com o marido Luis Henrique, 25 anos depois de uma dupla traição, infidelidade e tentativa de assassinato, que me recordou vagamente o confronto de dois amigos quarenta anos depois por uma paixão pela mesma mulher em "As velas ardem até ao fim" de Sándor Máraí, possívelmente pela intensidade das emoções sentidas e recalcadas e a tensão latente nesse reencontro.

O abandono de um filho foi devastador para Violante, uma mulher habituada a representar no palco e na vida.

Um bom romance de uma autora a reter. Um prazer de ler!

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Fragmento


"O amor, tal como a morte, segue um tempo que não se rege pelo calendário. Vais conseguir extrair um sentido de tudo isto que te escrevo. Se não for agora, talvez mais tarde. Farás por unir os fios frágeis da nossa ligação. Sem te dares conta, irás proteger a memória do nosso amor num longo álbum de recordações. A saudade abre-se com facilidade à nostalgia. Quando penso em ti, imagino um espaço de liberdade em que um dia, no futuro, cada um possa encontrar a felicidade à sua maneira. O tempo escoa-se, meu amor."

in "A Segunda Morte de Anna Karenina" de Ana Cristina Silva, pag. 112