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domingo, 25 de janeiro de 2015

O Despertar do Mundo

Autor: Rhidian Brook
Edição: 2014/ fevereiro
Páginas: 328
ISBN: 9789892325378
Editora: ASA

Sinopse: 
Em 1945, enquanto o mundo celebra a vitória sobre o exército nazi, a Alemanha derrotada é dividida. De um lado, a União Soviética. Do outro, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França. A Guerra Fria está prestes a começar.
Em Hamburgo, grupos de crianças esfomeadas vasculham os destroços em busca de alimentos, famílias desalojadas lutam por abrigos imundos. É nesta cidade arruinada que o coronel Lewis Morgan é encarregado de repor a paz. O governo inglês requisita uma casa para o acolher a ele e à família. Aos proprietários da mansão resta a indigência. É então que o coronel propõe uma solução inédita: a partilha do espaço.

Mas ao contrário do que coronel espera, este pacto vai ser explosivo. A sua mulher, Rachel, vive fechada em si própria. O filho de ambos, Edmund, debate-se com uma solidão extrema. A alemã Freda é a adolescente rebelde, filha de Herr Lubert, um homem de elite inconformado com a submissão que lhe é imposta. Entre segredos e traições, a vida na casa é uma bomba-relógio que uma paixão proibida ameaça ativar.
Baseado no extraordinário ato de bondade do avô do autor, O Despertar do Mundo pinta um retrato único da guerra vista do lado dos perdedores.

A minha opinião: 
Com uma capa enfadonha e sem graça, fui seduzida por uma sinopse nada engrandecedora mas suficientemente interessante para me chamar a atenção, e com alguma relutância iniciei a leitura, que me cativou nas primeiras paginas. 

É bom quando assim acontece. Poderia ser mais uma história da Historia, baseada em factos reais e nos deixa muito no que pensar, sobre tolerância e os princípios morais que devemos preservar, onde o ressentimento e o ódio não têm lugar. No mundo de então, como no de hoje há que abrandar, olhar e ponderar. 

O pós-guerra com a intervenção dos ingleses, franceses e russos numa Alemanha arrasada, em que as pessoas se encontravam numa situação desesperada e tinham de provar que nada as relacionava com o regime nazi para retomarem as suas vidas, um coronel inglês em luto pela morte de um filho jovem, requisita uma casa em Hamburgo para a família e faz algo sem precedentes, ao permitir que os donos permanecessem na sua propriedade e que uma família alemã e uma família britânica partilhassem uma casa durante cinco anos, um ano depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Dúvidas e mágoas sobre o mesmo tecto dão origem a um enredo singelo e simultaneamente rico em dados, esplendidamente bem contado e com personagens tão humanas e confusas como a realidade o permitiu.

Inspirada e tocante, esta historia acompanha-nos muito depois de terminada a leitura, possivelmente porque muito foi escrito sobre a guerra, mas menos sobre o que sucedeu depois. Uma leitura que se quer cadenciada como uma bela historia merece. 

sábado, 17 de janeiro de 2015

A Rapariga Inglesa

Autor: Daniel Silva
Edição: 2014/ maio
Páginas: 469
ISBN: 9789722528078
Editora: Bertrand Editora

Sinopse: 
Sete dias. Uma rapariga. Não há segundas oportunidades.
Madeline Hart é uma estrela ascendente no partido britânico no poder: bonita, inteligente, motivada para o sucesso por uma infância pobre. E agora está desaparecida...
Os seus raptores descobriram que ela tem um romance com o primeiro-ministro, Jonathan Lancaster e querem fazê-lo pagar por isso. Receoso de um escândalo que lhe destrua a carreira, ele decide lidar com o caso em privado, sem o envolvimento da polícia britânica. Trata-se de uma decisão arriscada, não só para si próprio, como para o agente que conduzirá as buscas.
Tem sete dias ou a rapariga morre.

Entra em cena Gabriel Allon — espião e restaurador de arte —, para quem as missões perigosas e a intriga política não são novidade. Com o relógio a contar, Gabriel tenta desesperadamente trazer Madeleine de volta a casa em segurança. A sua missão leva-o do mundo criminoso de Marselha a um vale isolado nas montanhas da Provença, depois aos bastidores do poder londrino e, finalmente, a um clímax em Moscovo, uma cidade de espiões e violência, onde há uma longa lista de homens que desejam ver Gabriel morto.
Desde as páginas de abertura até ao chocante final, em que se revelam os verdadeiros motivos por detrás do desaparecimento de Madeleine, A Rapariga Inglesa irá deixar os leitores completamente mergulhados na história.

A minha opinião: 
Há livros que de tanto os ver não reparo neles. Ficam invisíveis. Os livros de Daniel Silva sempre me passaram despercebidos e um dia ainda muito próximo e não por sugestão de um amigo como é habitual, reparei, li ... e gostei. 
Gabriel Allon, o lendário espião e assassino israelita conquistou-me com a sua inteligência e carisma em perigosas aventuras na companhia de uma equipa forte e coesa do Departamento e da sua bela Chiara. Uma outra personagem relevante surgiu no enredo - Keller, o assassino contratado que não cumpriu, foi o aliado e o desafio de Gabriel que começou com o rapto da Rapariga Inglesa na Córsega. A velha profetiza, que tudo sabia encantou-me com as três gotas de azeite para libertar de todo o mal, um trabalho muito latino que parece magia. 

Intriga, espionagem, crime, muita ação e adrenalina em viagens arriscadas e bem sucedidas ou talvez não, com Gabriel  e os seus aliados e amigos em luta pelo seus valores contra inimigos traiçoeiros e perversos. Os meandros desta missão de resgate levaram Gabriel para um destino impensável onde a ganância e ambição não andam longe.

Parece banal mas são muitas páginas de uma intrincada trama internacional, que se lêem sofregamente, porque nos precipitamos para as páginas seguintes para desvendar rapidamente o desfecho em que se faça justiça. As personagens com a sua história pessoal, bem como o seu percurso por vários sítios, permanecem no nosso imaginário muito depois de terminada a leitura.

Uma boa história para ler em dias assim. Quando um dia cinzento ganha luminosidade.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

até que consigas voar

Autor: José Gameiro
Edição: 2014/ novembro
Páginas: 152
ISBN: 9789897690037
Editora: Matéria-Prima

Sinopse: 
Um livro pessoal e profundo, em que o psiquiatra é tão humano como os pacientes; em que todos somos muito parecidos no sofrimento e na esperança.

Quando as pessoas chegam ao consultório de um psiquiatra, já esgotaram todas as suas alternativas. Sentem-se perdidas, vazias ou profundamente tristes. Neste livro, José Gameiro, psiquiatra há 40 anos, dá-nos a oportunidade de sermos os seus olhos e os seus ouvidos. Em Até que consigas voar, encontramos relatos intimistas sobre o luto, os medos, a conjugalidade e todo um conjunto de feridas que não se vêem. Mostra-nos que podemos voltar a encontrar um rumo, mesmo quando enfrentamos o pior dos desgostos.

A minha opinião: 
Não sei porque hesito e protelo durante dias em expressar a minha opinião. Suponho que demoro a processar o que li.

Gostei muito de até que o amor nos separe.
É sempre uma revelação encontrar um autor que passa para o papel tanto do seu saber e da sua experiência sobre o comportamento humano sem que de ficção se trate, com uma simplicidade e autenticidade que satisfaz a minha curiosidade e interesse.  Pequenos episódios que se lêem rapidamente em que percebemos o peso da morte, do medo, da depressão e dos conflitos conjugais que tanta angústia e dor acarretam, levando sabiamente a procurar ajuda profissional.  Frequentemente, desvalorizamos e não compreendemos o sofrimento alheio. Sorri quando li:
"Julgo que uma das coisas que os depressivos nos agradecem é não lhes dizermos "olhe, deixe-se de pieguices e vá passear e gozar a vida". Só quem nunca passou por uma depressão é que não compreende que este é o conselho mais estúpido que se pode dar a um deprimido. É quase a mesma coisa que dizer a um impotente "Você precisa é de fazer sexo..."                                                                                                  (pag. 71)

Possivelmente, neste livro, alguns irão encontrar eco do seu sentir, que por temor não partilham e tentam a custo lidar e ocultar, sem reconhecer que:
"Nós somos uma espécie de cebola(...). As de fora correspondem aos comportamentos, as mais interiores à personalidade. Na relação com os outros podemos mudar a camada exterior, adaptar comportamentos de modo a que a interação seja mais clara e calma. Mas debaixo de maior pressão, esta mudança é mais difícil e funcionam as camadas interiores da cebola."                                                                    (pag. 141)
Um psiquiatra pode ajudar e através da terapia desatar um  nó, funcionando como um acelerador do tempo de sofrimento. Nada mau para um psiquiatra com horror à imutabilidade e crença na capacidade do ser humano de resistir e de superar, convicto de que as soluções estão em cada uma das pessoas que o procuram e que afinal dá um conselho que o próprio seguiu.  

"A seguir a um grande susto no ar do qual pensavam não sair vivos, voltem a meter-se num avião e voem, voem, voem."                                            (pag. 178)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A Trégua

Autor: Mario Benedetti
Edição: 2007/ abril
Páginas: 168
ISBN: 9789896230487
Editora: Cavalo de Ferro

Sinopse: 
Em Buenos Aires, dois amantes vivem um amor que transgride todas as convenções sociais. Martín Santomé é viúvo há mais de vinte anos e praticamente criou os filhos sozinho. Confidencia ao seu diário que se sente cansado de um quotidiano sedentário no escritório e que de dia para dia agravam-se os conflitos geracionais com os seus filhos. O seu único alento é a reforma, para a qual faltam seis meses e vinte e oito dias.
Tudo muda quando surge uma nova colega, Laura Avellaneda, num escritório contíguo ao seu – “o seu corpo, a sua boca grande, as suas pernas lindas” – e só assim se atenua a obsessão de Martín centrada nos vinte e oito dias. Martín descobre pela primeira vez o amor com a jovem e vigorosa Laura.

Superando todos os convencionalismos e transgredindo as circunstâncias impostas pela diferença de idades, os dois amantes revitalizam sentimentos e enfrentam os riscos dessa relação amorosa: Martín e Laura vivem profundamente o seu momento no qual se inscreve o sentido da eternidade.

A minha opinião: 
Estive algum tempo na posse deste romance que um bom amigo me emprestou, sem o ler. Depois que o fiz, estive algum tempo sem expressar a minha opinião. Não é fácil ou simples e não o vou conseguir condignamente. Um justo merecedor dos prémios que recebeu é quanto baste para promover esta leitura.

Um homem maduro que faz um diário não me parece uma coisa corriqueira. Um solitário que à beira da reforma descobre nos seus últimos dias de trabalho uma jovem mulher que o encanta, e mais tarde lhe corresponde, e no papel conta tudo o que ocultou por incredulidade e medo que esse amor se perdesse, já me parece verossímil. Este homem, tem profundos sentimentos e alguma amargura que importa conhecer ou não fossem eles transversais a todos nós em determinados momentos da vida. Também permite um outro olhar, sobre amores que nos parecem desiguais. Até na relação parental com filhos adultos. 

Que seja eterno enquanto dure. Os momentos felizes e apaixonados revelam-se melhor através de expressões corporais do que por palavras. 

E nada o vento levou

Subtítulo: O essencial permanece sempre
Autor: Helena Sacadura Caral
Edição: 2014/ outubro
Páginas: 216
ISBN: 9789897241826
Editora: Clube do Autor

Sinopse: 
Numa época em que os balanços já são possíveis, Helena Sacadura Cabral relembra neste livro que não há brisa ou vendaval que arranque o que verdadeiramente importa na nossa vida. São, aliás, as adversidades que nos fortalecem. Aquilo por que se luta e em que se acredita faz parte da nossa existência e marca-nos tanto como os genes que transportamos.

A minha opinião: 
Várias, foram as vezes que peguei neste livro para o comprar. Mas são tantos os que tenho por ler, e alguns com prazos que acordei cumprir, que protelei sempre. Até um dia. Nunca consegui explicar o apelo que sinto quando desejo conhecer o muito que um livro encerra. 

Helena Sacadura Cabral partilha o que pensa e sente no decorrer do seu dia-a-dia através deste pequeno livro. Claro, que se expõe, com muita segurança e descontracção, sobre quem é e quais as suas responsabilidades e afectos.  As suas palavras, testemunho do que lhe parece lógico e óbvio, e tantas vezes negligenciado e esquecido. Recuperar os valores e princípios pelos quais nos deveríamos reger, nesta sociedade actualmente tão influenciada pelos media. O essencial que permanece sempre connosco, enquanto o vento leva ... tudo o que o tempo, ou a nossa consciência não permite reter. 

Dividido em 5 capítulos com títulos como, Nunca Desistir, Aprender a Ser Feliz, Apreciar os Pequenos Prazeres, Defender as Convicções e Honrar a Memória, dá-nos material suficiente para reflectir sobre a importância de escutar, sentir e olhar - essa visão onde entra o coração, a inteligência e a emoção, e se construiu em Helena através das artes, dos livros e do silêncio. Viver, mais do que sonhar ou idealizar.

Gostei e concretizou-se a minha imensa vontade de ler este livro, possivelmente porque sinto alguma afinidade com a autora, não respeitando nesta opinião o Acordo Ortográfico. 
Muito mais haveria a referir, mas não sei como o fazer por palavras minhas. Cabe a cada um que o ler, descobrir.