Páginas

domingo, 28 de abril de 2013

Fragmento

"- Homem, o que vi foi a injustiça dos homens que estão sempre a evocar o santo nome de Jesus em vão. E pude constatar que, de púlpito, muitos sacerdotes lançam ameaças contra os desgraçados dos fiéis desprotegidos e miseráveis, utilizando o Breviário como texto aterrador em nome do Santissimo! Porque pensas que tenho mulher e filhos dentro de casa? Eu respondo: em muitas paróquias do nosso amado Portugal, na Nação de tão ilustres varões lusitanos que deram novos mundos ao mundo, muitos daqueles que deveriam ser um exemplo de santidade, nobreza, honradez e despojamento, como nos ensinou S. Francisco, são, pelo contrário, protagonistas das mais vis práticas, servindo-se dos seus privilégios sociais para usurpar os bens alheios.(...) tudo lhes roubam: o pão, as mulheres e a dignidade.
Desonram moças e abandonam-nas à sua sorte, quando não as obrigam a casar-se, sob o manto das Sagradas Escrituras, com infelizes estarolas ou famintos e indigentes, tudo para dissimular as suas devassidões. Eu assumo que, em determinação de Sua Santidade Pontifícia, ando em pecado pelo facto de não cumprir com o celibato de Roma, mas tenho plena consciência de que procuro na Terra particar a justiça, como nos ensinou Jesus Cristo, no amor ao próximo. Desafio todos aqueles que afirmam não pecar a atirar-me uma pedra. Tenho em casa uma concubina porque o Direito Canónico não me concede o santo matrimónio. No entanto, para todos os efeitos, trato com respeito essa mulher que, pela graça de Deus, me deu três filhos, ao invés daqueles que partilham o leito com mulheres alheias e as deixam nos mais míseros limites humanos. A esses a nossa oligarquia sacerdotal tudo encobre, fazendo dos biltres pecadores anjinhos beatificáveis."
(pag. 115)

sábado, 27 de abril de 2013

O Legado de Nhô Filili


Autor: Luís Urgais
Edição: 2012, Junho
Páginas: 224
ISBN: 9789895559664
Editora: Oficina do Livro

Sinopse:

Filho de minhotos, João Bento Rodrigues - que ficaria conhecido por Filili - nasceu na ilha do Fogo no ano da abolição da escravatura. O decreto não bastou, porém, para que se extinguisse o tráfico, até porque os negreiros tinham a cumplicidade das autoridades; e foi assim que Maguika, capturada nas matas da Guiné, se tornou propriedade de Nhô Filili, trazida por um negociante desejoso de, com presentes, o conquistar para genro. Contudo, assim que pôs os olhos na negrinha, João Bento Rodrigues já não voltou a olhar para outra mulher, afrontando a elite da capital ao entrar na igreja de braço dado com a escrava e, mais tarde, unindo-se a ela pelo santo matrimónio, desafiando preconceitos e convenções. Mas, se é verdade que as pretendentes não gostaram de se saber preteridas, quem mais sofreu foi Leila, a concubina com quem Filili mantinha laços íntimos e que, de repente, se viu sozinha na Cidade Velha com um segredo. O passado tem, no entanto, maneiras de regressar quando menos se espera. E, às vezes, ainda bem. 

Tendo por cenário o arquipélago de Cabo Verde entre a segunda metade do século xix e a primeira do século xx, O Legado de Nhô Filili é o retrato de uma África bela e sedutora, mas também dura e miserável, e bem assim uma metáfora da história da mestiçagem biológica e cultural e da génese dos movimentos pela independência das Colónias.

A minha opinião:
Narrativa ao qual fiquei colada desde as primeiras páginas, espantada com a fluidez das palavras e a coerência dos pensamentos. Tal e qual como me sugeriram quando me colocaram este livro nas mãos. Da parte de alguém que ainda pouco sei mas que já admiro como leitor inveterado, e que agradeço por tão agradável e engrandecedora leitura
Ao contrário do que ele expressou sobre este singelo romance que busca nas nossas raízes a inspiração para esta fição que alguma polémica suscitou, eu conheço e tenho gratas memórias de Cabo Verde - de S. Vicente, Mindelo, onde passei algumas semanas e não numa qualquer estância de férias. Recordo belas praias de areias vulcânicas e outras paisagens áridas e despidas que o vento inclemente não poupa, sujeitas a chuvas esporádicas e não sazonais como estamos habituados. E a catcupa, ou o grogue.

 O povo e as ilhas que o autor bem caracteriza numa referência ao passado, em que a escravatura mesmo que abolida ainda vigorava até à decadência das colónias, por uma personagem integra e reta como Nhô Filili que enfrentou as convenções e a hipocrisia de uma sociedade racista por amor a uma escrava da Guiné.

Céptica com autores de expressão portuguesa, mais uma vez fui derrotada nas minhas convições por uma narrativa pujante que li absorta. 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Como Tudo Começou


Autor: Penelope Lively
Edição: 2013, fevereiro
Páginas: 264
ISBN: 9789722634595
Editora: Civilização

Sinopse:
Quando Charlotte é assaltada e fratura a anca, a sua filha Rose não pode acompanhar o patrão, Lord Peters, a Manchester, por isso a sobrinha dele, Marion, tem de ir no seu lugar; Marion envia ao amante uma mensagem escrita que é intercetada pela mulher… e isto é apenas o início de uma cadeia de acontecimentos que irão alterar várias vidas.

Neste romance sedutor, absorvente e escrito de forma brilhante, Penelope Lively mostra-nos como um simples acontecimento acidental pode significar a destruição e salvação de um casamento, uma oportunidade que aparece e depois desaparece, o encontro entre dois amantes que de outra forma nunca se teriam conhecido e a mudança irrevogável de várias vidas. Divertido, humano, comovente e astucioso, Como Tudo Começou é um trabalho brilhante de uma autora que está no seu melhor.

A minha opinião:
Não há melhor forma de abordar do que se trata senão com um fragmento, sobre o qual irei acrescentar algumas palavras minhas.

"E esta foi a história. Estas foram as histórias de Charlotte, Rose e Gerry, Anton, Jeremy e Stella, Marion, Henry, Mark, de todos eles. As histórias são caprichosamente desencadeadas porque, certo dia, algo aconteceu a Charlotte na rua. Porém, claro que este não é o final da história, das histórias. Um final é um dispositivo artificial; nós gostamos de finais, são satisfatórios, convenientes e têm um propósito. No entanto, o tempo não tem um final e as histórias sucedem-se ao ritmo do tempo. De igual forma, a teoria do caos não pressupõe um final; o efeito em cadeia continua, inquebrável. Estas histórias não tem um final; elas seguem em direções diferentes, cada uma no seu próprio caminho." 
(pag.256)

Histórias de vidas. De pessoas. Personagens que bem poderiam ser reais. Identifiquei-me com uma delas e essa empatia estabelece-se com o leitor. Uma proximidade e entendimento com as personagens que nos deixa estarrecidas. Não é aventura ou romance, mas consistência e autenticidade.

As palavras fluem, ágeis e rápidas e eloquentes. Sentimentos, pensamentos e ações. Muitíssimo bem escrito e caracterizado. Maturidade na escrita.

Quando escolhi este romance esperava uma narrativa leve e algo banal para entretenimento e lazer. Depois reconheci a autora de um outro romance que li - Consequências- e percebi que seria outro tipo de leitura. Mais contido e rico. Mais descritivo talvez. Mas, certamente um bom romance. 

Gostei muito e recomendo mas não para jovens. Foge dos padrões habituais. Mais próximo do real e mais distante do sonho e da fantasia ou da perfeição que tanto almejamos.

Amuleto


Autor: Roberto Bolaño
Edição: 2013, Março
Páginas: 144
ISBN: 9789897220883
Editora: Quetzal

Sinopse:
A voz arrebatadora de Auxilio Lacouture narra um crime atroz e longínquo, que só virá a ser desvelado nas últimas páginas deste romance – no qual, de resto, não escasseiam crimes, sejam eles os dos quotidiano, ou os da formação do gosto.
Uruguaia de meia-idade, alta e magra como Dom Quixote, Auxilio ficou escondida na casa de banho das mulheres, enquanto a polícia ocupava, de forma brutal, a Faculdade de Filosofia e Letras da Cidade do México, em 1968.

Durante os dias que aí permaneceu, os lavabos converteram-se num túnel do tempo, que lhe permitiu rememorar os anos vividos no México e antever os que estavam por vir.
Neste exercício evoca a poeta Lilian Serpas, que foi para a cama com Che, e o seu desafortunado filho; os poetas espanhóis León Filipe e Pedro Garfias, a quem Auxilio serviu voluntariamente como empregada doméstica; a pintora catalã Remedios Varo e a sua legião de gatos; o rei dos homossexuais da colónia Guerrero e o seu reino de terror; Arturo Belano, uma das personagens centrais de Os Detetives Selvagens; e a derradeira imagem de um assassínio esquecido.

A minha opinião:
Tal como a capa indicia, é um tanto dramático, nostálgico mas o que mais me dificultou a leitura foi por ser um tanto delirante com saltos temporais, apesar de uma escrita direta, frontal e vigorosa que perturba pela sua força.
Um romance de pequenas dimensões mas que não se lê de ânimo leve e compulsivamente. Para ser compreendido, assimilado, e refletido. 
No final, não sei se consegui atingir tudo o que tinha para me dar e numa outra fase irei relê-lo. Alegoria a uma geração de latino-americanos que caminharam para o abismo e cantaram o amor, o desejo e o prazer que tiveram? Não sei.

Auxilio Lacouture que conheceu e conviveu com grandes nomes da cultura mexicana, é Uruguaia de meia-idade, alta e desdentada, exilada na cidade do México sem documentos, sujeita à solidão e á fome mas generosa e corajosa - a mãe de todos os poetas. Uma mãe que nunca o foi, e que observa e admira os poetas precocemente desaparecidos da vida mas não da memória dos homens.

Não é o livro mais indicado para ler em pequenas pausas como eu fiz. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Fragmento

"Leu para descobrir como não ser Charlotte, como fugir da prisão da sua própria mente, como crescer e experienciar.
Assim, a leitura foi-se enredando com a vida, cada uma complementando a outra. 
Charlotte sabe que navega num imenso mar de palavras, linguagem, histórias, situações, informação e conhecimento, alguns dos quais ela consegue evocar, muitos dos quais estão meio perdidos, ainda que algures por aí, tendo tido efeito na pessoa que é e na sua forma de pensar. Ela é tanto um produto do que tem lido como da forma como tem vivido: é como milhões de outras pessoas formadas por livros, para quem os livros são um alimento essencial e, sem os quais, podem morrer à fome."
(pag. 44/5)

Os Anos Perdidos

Autor: Mary Higgins Clark
Edição: 2012, Outubro
Páginas: 280
ISBN: 9789722525107
Editora: Bertrand Editora

Sinopse:
Jonathan Lyons é um estudioso da Bíblia e julga ter encontrado uma relíquia inimaginável: uma carta em papiro que pode ter sido escrita pelo próprio Jesus Cristo. Roubada da Biblioteca do Vaticano no século XVI, pensava-se que estava perdida.
Agora, sempre com um pedido de sigilo, consegue confirmar a sua autenticidade junto de vários especialistas. Mas confidencia também a um amigo de família a suspeita de que uma pessoa que em tempos foi da sua confiança queira agora vender o artefacto para fazer muito dinheiro.
Passados poucos dias, Jonathan é encontrado morto no seu estúdio. Escondida no guarda-roupa, a balbuciar palavras sem sentido e segurando a arma do crime, encontra-se Kathleen, a sua mulher, que sofre de Alzheimer. Apesar da demência, Kathleen sabia que o marido tinha há muito tempo um caso com outra mulher. Terá ela matado o marido num acesso de ciúmes, como alega a polícia? Ou estará a morte dele relacionada com uma questão mais ampla: Quem tem na sua posse o pergaminho de valor incalculável agora desaparecido?
Caberá à filha de ambos, Mariah, ilibar a mãe das acusações de homicídio e desvendar o verdadeiro mistério que se esconde por detrás da morte do pai.

A minha opinião:
Tenho andado a matutar no que comentar sobre este livro e a tarefa não me parece fácil. Se por um lado o meu cansaço não ajuda, por outro não me parece justo que um livro não seja devidamente reconhecido por motivos que lhe são alheios.
Assim, posso afirmar sem delongas que o li rapidamente  em escassos dois ou três dias nas breves pausas, o que abona a seu favor. Mas, há sempre um mas, rapidamente descortinei quem era o mau da trama e procurei confirmar as minhas suspeitas dos indícios que a autora lançava. Talvez seja porque de tanta leitura estou mais apta. Seja como for, é uma leitura fácil, algo empolgante e ritmada. Pequenos capítulos e suspense q.b para descobrir o mote e o autor do crime inicial e subsequente.
Personagens num contexto de intimidade e familiaridade, amigos chegados que partilhavam afinidades e interesses e a dificuldade de encarar que alguém seja diferente do que se espera e sabe.

Não fiquei apaixonada mas li com agrado e interesse sem interrupções. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O diabo e a gemada


Autor: Sveva Casati Modignani
Edição: 2013, Março
Páginas: 168
ISBN: 9789720045782
Editora: Porto Editora

Sinopse:
Em 1943, Milão está sob as bombas dos Aliados, e nas proximidades da via Padova, uma criança extraordinariamente curiosa, inicia a sua aprendizagem de vida. Chama-se Sveva e tem 5 anos. É este o contexto de O Diabo e a Gemada, um relato autobiográfico em que a autora percorre os anos da Segunda Guerra Mundial, que se desenrolam entre a casa de família em Milão e uma quinta, nos arrozais de Trezzano sul Naviglio, na Lombardia.

A comida é o fio condutor que atravessa os episódios deste relato, em que se entrelaçam memórias e emoções, sabores e receitas e cujos acontecimentos estão sempre ligados à elaboração de um prato ou a uma refeição partilhada.
Com uma descrição cuidada e rigorosa de pessoas, sabores e costumes, Sveva Casati Modignani devolve-nos um mundo, não tão longínquo, mas do qual estamos a perder a memória.

A minha opinião:
Sveva Casati Modignani é uma escritora que há algum tempo me cativou com a sua escrita fluída,  personagens carismáticas, determinadas e bem sucedidas,  em narrativas pautadas por muitos capítulos sempre que muda de assunto ou de personagens. Constatei que os escritores italianos, passionais e diretos, que constroem estórias com ritmo e efeito que, muitos desvalorizam como populares ou comerciais, até pelo elevado número de vendas, frequentemente me agradam. Eu que leio por prazer e que tanto procuro livros enriquecedores como de entretenimento, deleito-me entre páginas e esqueço tudo o resto que me envolve durante horas e Sveva é uma das minhas escolhas. 

Este é completamente distinto de tudo o que li e suponho que li todos os que foram publicados em português. Memórias da infância em que a guerra era um convidado indesejado e muito presente, mesmo para uma criança que limitada compreensão tinha e em que as referências são através da comida que criativamente era preparada pelas mulheres da família e perpetuado neste livro.

Um romance de uma criança rebelde e "niquenta" num tempo de escassez e limitações. Sem picos, é um relato de memórias da autora no seio da família.  

Singelo e agradável quanto baste, mas sem muito mais a acrescentar. 

domingo, 14 de abril de 2013

O mundo proibido de Daniel V.


Autor: Maria Luísa Castro
Edição: 2012, Novembro
Páginas: 308
ISBN: 9789898461483
Editora: Matéria-Prima

Sinopse:
Uma história apaixonante. Um teste aos limites do amor e do prazer. Se procura mais, este é o livro.
Verónica é uma jornalista recém-divorciada na casa dos 30 anos. Para trás deixa um casamento, uma promessa de felicidade que nunca foi concretizada e um marido que nunca foi um amante ou companheiro. Tudo muda quando a fragilizada Verónica conhece o enigmático e sensual Daniel Vasconcelos. Bonito e dono de um olhar penetrante, Daniel envolve-se com ela levando-a ao limite do prazer, a uma vertigem de sentimentos que se julgava incapaz de sentir. A vida de Verónica nunca mais será a mesma: prazer, desejo, sexo e luxúria passarão a fazer parte do seu dia-a-dia. Mas estes não serão os únicos sentimentos que experimentará ao lado de Daniel: a insegurança e a dor serão também uma constante, levando-a a questionar se valerá a pena tentar entrar num mundo tão intenso e proibido no qual chega a correr perigo de vida. Será Verónica capaz de mudar este homem para quem o prazer pessoal não tem limites, que se diz incapaz de amar mas que, ao mesmo tempo, não consegue estar longe de si? Serão eles capazes de viver uma história de amor com final feliz?

A minha opinião:
Sou curiosa por natureza e depois de uns quantos elogios a este romance, tinha de o ler. Não fiquei desapontada porque correspondeu às minhas expectativas e é um bom romance para se ler vorazmente e sem pudor. Nada de extraordinário mas interessante ao focar a complexidade das relações afectivas e o sexo como componente importante por algumas personagens que caracteriza razoavelmente.  

Uma forte atração sexual que desencadeou uma relação conturbada e perturbadora em duas pessoas com um passado difícil e mal resolvido. A bagagem que cada um carrega para cada nova relação. Nesta situação, as expectativas eram também distintas. Enquanto o inteligente e carismático Daniel desdenhava do amor como ilusão, mito, influencia cultural e social, a insegura Verónica acreditava nele como fundamento de uma relação verdadeira. O peso do desejo e do prazer sexual era comum a ambos e levou-os a extremos normalmente inalcançaveis. Contudo, este romance não se limita à relação dos dois e aborda circunstâncias como o tráfico humano através da Rafaela ou a bissexualidade e libertação de preconceitos da Juliana, assim como o convencionalismo Eveline, numa narrativa bem desenvolvida e com um fim diferente do esperado mas compreensível.
O único dado que me pareceu fantasioso é que uma figura pública como seria a Verónica que entrava diariamente pela casa dos expectadores de um qualquer canal de televisão não se sujeitava a situações de arrojo sexual com alguma visibilidade sem um risco tremendo de divulgação e destruição da sua carreira. 

"Uma das vantagens de ter sido casada é essa: já não encaro os homens como se fossem moldáveis ou perfeitos. Não são. São como as mulheres. Tal e qual. Existem diferenças óbvias que nem vale a pena assinalar. No entanto mesmo que nos deixemos ficar pelos clichés mais básicos e que fazem as páginas das revistas femininas num ciclo infernal que me leva à exaustão, a verdade é que todos, apenas por sermos humanos, precisamos de amor. O amor significa que podemos ser o eco de outra pessoa. Temos alguém que partilha connosco o bom e o mau, que está nas horas mais complicadas, que nos dá a mão e nos aquece os pés."
(pag. 227)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Livreiro

Autor: Mark Pryor
Edição: 2013, Março
Páginas: 352
ISBN: 9789897240621
Editora: Clube do Autor

Sinopse:
Uma história perfeita para todos os que gostam de livros.Hugo Marston decide comprar um livro raro ao seu amigo Max, o idoso proprietário de uma banca de obras antigas. Poucos minutos depois, Max é raptado. Vivamente surpreendido com o ato, Marston, chefe de segurança da embaixada americana em Paris, nada consegue fazer para impedir o rapto. Marston inicia então uma investigação destinada a encontrar o livreiro, recrutando a ajuda do seu amigo Tom, um agente da CIA.

A busca de Hugo revela que Max é, afinal, um sobrevivente do Holocausto que mais tarde se converteu num caçador de nazis. Estará o rapto ligado ao sombrio passado de Max ou aos misteriosos livros raros que vendia?
Nas ruas de Paris, a tensão aumenta à medida que gangues de droga rivais se envolvem em violentas disputas de território. E, estranhamente, começam a desaparecer mais alfarrabistas, sendo os seus corpos encontrados a boiar no rio Sena. Ao contrário da polícia, Marston acredita que há uma ligação entre os problemas com os traficantes e a morte dos bouquinistes.
As descobertas de Marston fazem com que ele se torne em mais um alvo dos misteriosos assassinos. Com a ajuda de Tom, Marston completa o quebra-cabeças, relacionando o passado do livreiro com o presente e conduzindo, literalmente, os dois homens ao covil do inimigo. Tal como o assassino pretendera desde o início...

A minha opinião:
"A sala cheirava a lareira e a charutos, mas Hugo conseguia sentir também o aroma a livros, aquele odor familiar e reconfortante a bafio. Se a paz tivesse cheiro, pensou, seria o perfume de uma biblioteca repleta de livros antigos e encadernados a carneira."
(pag. 253)
Tudo neste livro nos remete inicialmente para o gosto por livros mas é muito mais do que isso. Assim, como a ligação ao Holocausto é mais ténue do que o expectável  Aliás, este é um livro inesperado e realista que se lê com gosto. Não é vertiginoso ou alucinante como certos thrillers ou policiais.
A personagem principal  Hugo Marston, cordial e de humor refinado, mantêm uma relação tranquila e cuidadosa com as pessoas que preza e esse é o ponto de partida desta narrativa com o alfarrabista Max, que tanto oculta e tanto sabe e que com ele compartilha um inegável amor pelos livros. Depois de 20 anos como agente do FBI, profiler, enreda por uma carreira como chefe de segurança da embaixada americana em Paris. (Que cidade e que passeio que o narrador nos faz seguir ao longo das margens do Sena).

Intriga, crime, investigação policial, numa narrativa bem construída e com inesperados revés de personagens que estão longe dos estereótipos de duros e imbatíveis, como é o de Hugo e Tom, o seu melhor amigo, também ele agente da CIA. Ambos e uma decidida jornalista vão embrenhar-se a fundo na investigação, com a ajuda de uns quantos copos depois de tanta emoção.

Um prazer de ler!

sábado, 6 de abril de 2013

Predestinado

Autor: Philippa Gregory
Edição: 212
Páginas: 312
ISBN: 9789722635790
Editora: Civilização


Sinopse:

Estamos em 1453 e todos os sinais apontam para que o fim do mundo esteja iminente. Acusado de heresia e expulso do seu mosteiro, Luca Vero, um atraente jovem de 17 anos, é recrutado por um misterioso estranho para registar o fim dos tempos por toda a Europa. 
Obedecendo a ordens seladas, Luca é enviado a cartografar os medos da Cristandade e a viajar até à fronteira do bem e do mal. Isolde, de 17 anos, abadessa, está presa num convento para impedir que reclame a sua enorme herança. Quando as freiras ao seu cuidado enlouquecem com estranhas visões, sonambulismo e exibindo feridas que sangram, Luca é enviado para investigar e todas as provas incriminam Isolde. 
No pátio do convento constrói-se uma pira para a queimar por bruxaria. Forçados a enfrentar os maiores medos do mundo medieval – magia negra, lobisomens, loucura – Luca e Isolde embarcam numa busca pela verdade, pelo seu próprio destino e até pelo amor, enquanto percorrem os caminhos desconhecidos até à personagem histórica real que defende as fronteiras da Cristandade e detém os segredos da Ordem das Trevas.

A minha opinião:
Aprecio q.b. um romance histórico. E esta é uma autora considerada neste género literário que eu não conhecia. Creio que também não foi a escolha adequada porque é uma obra ficcional com quatro personagens que reflete a realidade histórica daquele período - obscuro e de superstições alimentadas pelo medo, mas vocacionada para um público jovem e inocente

Sob esse prisma, é sem dúvida, uma narrativa muito interessante porque a demanda que os levou em tais aventuras é empolgante e divertida, além de pedagógica. Afinal, esta é uma época com muito para explorar, como seja, o forte domínio da Igreja Católica no quotidiano, a Inquisição, os modos de vida limitativos de pessoas de vários estratos sociais. 

As mulheres estavam vinculadas à autoridade paternal e parental masculina enquanto jovens e depois quando casadas eram "propriedade", sem direitos próprios do marido. Daí, a opção ou imposição da vida religiosa.
Os homens de condição humilde não tinham grandes oportunidades de se instruir exceto na vida eclesiástica. Por vezes, nem de sobreviver, em famílias muito numerosas e com terríveis carências. Alguma qualidade especial ou aptidão, ou mesmo o senso comum poderia fazer toda a diferença. Poderiam ser inclusive "propriedade" de um qualquer senhor de terras.

A personagem mais fascinante é Ishraq, muçulmana, que tinha educação e cultura distinta e sobressai nesta narrativa. Exótica, inteligente e preparada para resistir a todas as vicissitudes de tempos tão perigosos. Mitos difíceis de desmistificar que estes jovens argutos deslindam em trabalho de equipa. 

Entretenimento. 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Nas Asas do Amanhã


Autor: Sarah Sundin
Edição: 2013, março
Páginas: 472
ISBN: 9789897260438
Editora: Quinta Essência

Sinopse:
Conseguirão encontrar a coragem de que precisam para enfrentar os seus desafios? 
Quando o marido morre na guerra do Pacífico, Helen Carlisle oferece-se como voluntária para o esforço de guerra, a fim de ocultar os seus sentimentos. No entanto, manter a aparência de viúva inconsolável de um herói local está a deixar a sua marca. Em breve algo irá ceder. 
O tenente Raymond Novak prefere o púlpito ao cockpit. O seu trabalho a treinar pilotos de B-17 permite-lhe ter uma vida pessoal… e dá-lhe uma desculpa conveniente para ignorar o seu maior medo. Quando a bela Helen conquista o seu coração, ele mostra-se decidido a merecê-la e a desposá-la.
Ray e Helen veem-se então forçados a arriscar as suas reputações e as suas vidas; irão eles enfrentar e conquistar os desafios que têm pela frente? E poderá o seu jovem amor sobreviver até ao regresso da paz?
Rodeados de perigo, irão eles encontrar a coragem para confrontar os seus medos e entregarem-se a um amor duradouro?
Cheio de drama, coragem e romance, Nas Asas do Amanhã encerra de forma magistral a popular série «Asas de Glória».

A minha opinião:
Este último romance da trilogia "Asas de Gloria" reconciliou-me com esta saga familiar dos irmãos Novak, pilotos da Força Aérea dos Aliados durante a 2ª Guerra Mundial e com a autora. A narrativa pareceu-me mais credível com descrições razoáveis do ambiente vivido nas bases e combates em pleno ar, assim como as dúvidas como objetor de consciência do Ray, e o drama muito real (infelizmente) da violência doméstica com todos os fatores paralisantes inerentes, como o medo, a culpa, a vergonha e a proteção maternal. 

Um romance que apesar das suas dimensões se lê velozmente, tal a fluidez da escrita e o impacto que causa no leitor que, com emoção e suspense acompanha o desenvolvimento das situações e a evolução das carismáticas personagens. Personagens essas que o leitor "torce" para que resistem e sobrevivam a tão duras provas para terminarem felizes e juntos. 

Histórias distintas em que cada um dos volumes se foca num dos irmãos Novak e podem ser lidos separadamente. Este último agradou-me particularmente por não ser excessivamente abordada a religião. Mais verossímil portanto, mesmo considerando a época e às circunstâncias de guerra.

Recomendo!