Páginas

domingo, 17 de março de 2024

O Caminho do Burro


 A minha opinião:

O caminho do burro como o prólogo explica é desbravar caminho que em tempos idos o burro fazia e que um incio de escrita não deixa de ter paralelo. E desde logo adoro a ironia manifesta em tudo o que li de Paulo Moreiras. Não vi o burro mas um elegante e lindo corcel.

E se gosto da requintada e rica linguagem das narrativas de Paulo Moreiras em curtas seria imperdível, ademais quando são baseadas em histórias de tradição oral que muito boas são. Muitos mitos, crenças e superstições.

Para os que se queixam de tão pouco lerem deviam ter este livro à mão para deleite em pequenas doses que rápidamente adquiriam o hábito de ler.

Treze contos reunidos (como gosto de números impares achei perfeito) em que uns são mais longos e outros mais curtos mas todos primorosos.

Autor: Paulo Moreiras
Páginas: 187
Editora: Visgarolho Editora
ISBN: 9789895316717
Edição: novembro/2021

Sinopse:
O Caminho do Burro é uma antologia dos melhores contos escritos por Paulo Moreiras, entre 1996 e 2017, que andavam dispersos por diversas publicações, algumas hoje esquecidas ou de difícil acesso. Contos onde o picaresco e a malícia do povo português andam de braço dado com as invejas e as cobiças de gente ruim e sem escrúpulos. Uns à procura de uma vida melhor, do amor, da amizade e outros a engendrar estratagemas a fim de estragar os bons planos do vizinho. Um retrato irónico, mordaz e cheio de humor sobre as grandezas e misérias de ser português, com os seus toques de malandro, pinga-amor e desenrascado. Tudo embrulhado pela riqueza vocabular a que Paulo Moreiras já nos habituou. Contos para comer, beber e rir por mais, que assim se dizem as verdades.

Libertação

 

A minha opinião:


Sándor Márai. Quem já leu algum romance dele sabe ao que vai e não vai ao engano. E quem não, vai ficar perturbado. Sem ser exaustivo é um desassombrado que conhece o lado negro da natureza humana e o apresenta. Um analista do comportamento e relações humanas que neste romance avalia como grupo. O grupo que ataca. O grupo que se defende e protege. O grupo heterógeneo que se fecha numa cave à espera do fim da guerra e do cerco à cidade de Budapeste. 

O que conta é muito vivido e terrivel nos tempos que correm. Não gosto de ler estes temas mas se um desafio me leva a eles que seja com o sóbrio Sándor Márai.

Libertação é o título e uma palavra esmagadora como esta história.

Autor: Sándor Márai
Páginas: 200
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722079167
Edição: outubro/2023

Sinopse:
Cerco de Budapeste, dezembro de 1944. O Exército Vermelho encontra-se nas proximidades da cidade desde novembro e está prestes a conquistar a capital húngara.

Nos dias que antecedem o Natal, uma jovem mulher de vinte e cinco anos, Erzsébet, procura refúgio para o seu pai, um famoso cientista, astrónomo e matemático que é perseguido pela Gestapo e por militantes do Partido da Cruz Flechada devido às suas conhecidas simpatias liberais. Depois de o deixar em segurança num minúsculo esconderijo subterrâneo, Erzsébet refugia-se na cave do prédio em frente, juntamente com os habitantes desse e de outros prédios das redondezas. Aí permanece durante as quatro semanas que durará o cerco do Exército Vermelho a Budapeste.

Nesse submundo escuro, fétido e caótico, onde as pessoas se amontoam em colchões e as tensões estão ao rubro, Erzsébet nunca deixará de acreditar que a libertação há de vir, que os russos chegarão em breve e que tudo irá mudar. Finalmente, nas primeiras horas do dia 19 de janeiro, o primeiro soldado soviético aparece à porta do abrigo, mas nada será como Erzsébet tinha imaginado.

O Vestido de Noiva

A minha opinião:

A hora do conto. Uma hora basta para este pequeniníssimo livro. E não dei essa hora por desperdiçada, ainda que esteja desconcertada com a narrativa que mais parece um guião com cenas de muito sarcasmo. 

Branca é quem tem um vestido de noiva que quer tingido de preto. O motivo... É inesperado. Como todo aquele grupo de amigos. O final é um sucesso. Uma festa!

Autor: Filipa Leal
Páginas: 88
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897834110
Edição: dezembro/2023

Sinopse:
«— O que é isto?!
A dona da lavandaria segurou-o com cuidado, pousou-o depois no balcão.
— É o teu vestido de noiva? Que lindo!
Olhou então a vizinha e perguntou, perplexa: — Branca! Porque é que estás nua?
Branca olhou por si abaixo como se também para ela fosse uma surpresa, mas mostrou-se absolutamente indiferente:
— Porque posso.»

domingo, 10 de março de 2024

Um Quarto Só Seu

 

A minha opinião:

Muitos me falaram deste pequeno livro (de bolso), sem nunca me ter puxado porque soava a uma narrativa batida e ultrapassada. A insistência de que estaria equivocada levaram a que o comprasse e lhe desse uma oportunidade. Woolf escreve de forma clara e simplifica o que temia rebuscado ou passional. Grata pela sugestão.

"Woolf demonstra que o sexo mais do que a classe ou a raça, é uma categoria transversal que se soma a todos os outros níveis de marginalização e violência." Infelizmente, ainda não está ultrapassado e ainda que batido não mudou, como a necessidade de emancipação de uma cultura e pensamentos patriarcais.

Mulheres e ficção foi o tema que deu origem a este ensaio em que tempo/ lugar (quarto) e dinheiro (500 libras ano) parecem condições ideiais. As emoções no peso dos julgamentos e a perspectiva de superioridade pelo espelho que o patriarcado procura no olhar feminino, sem deixar de referir o desencorajamento às mulheres de génio ou os usos e costumes que as censurava em comparação com a liberdade com que o mesmo talento se pode expressar nos escritores homens é algo digno de reflexão.

Uma pequena maravilha. O futuro sem gênero.

Autor: Virginia Woolf
Páginas: 200
Editora: Penguin Clássicos
ISBN: 9789897843327
Edição: agosto/2021

Sinopse:
Em 1928, Virginia Woolf foi convidada pela Universidade de Cambridge a dar uma palestra sobre mulheres e ficção nos colégios femininos da instituição. Com a frontalidade que o tema exige, Woolf resolve, sem subterfúgios, a equação: para escrever ficção, «uma mulher tem de ter dinheiro e um quarto só seu». Dito de outro modo, tem de ser livre.

Versando sobre as condições materiais e sociais necessárias para que uma mulher possa, se assim o desejar, escrever e criar, e explorando os efeitos da pobreza ou do constrangimento sexual na criatividade feminina, Virginia Woolf ofereceu ao seu auditório e a todas as gerações que se seguiram uma reflexão provocadora e estimulante sobre a condição da mulher e a alienação social a que foi, desde a Antiguidade, sujeita num mundo dominado por homens.

Considerado um dos textos mais importantes do século XX, Um Quarto Só Seu marca um momento fundador do feminismo moderno, que devolve à esfera política uma luta antiga e justa: a da igualdade.

Na Terra dos Outros

A minha opinião:

É realmente muito bom quando se começa um livro que nos entusiasma tanto que não se consegue parar de o ler porque aquelas personagens e as suas "cenas" ficam connosco e continuamos a pensar nelas e a querer saber mais. As minhas visitas recorrentes a livrarias tem esse efeito porque há sempre algum livro que me chama a atenção e que não descanso enquanto não o leio. E com isso, vou deambulando entre leituras mas... desta vez, não vou conseguir abandonar Maria do Carmo sem conhecer toda a sua história. 
Manuel Abrantes que excelente primeiro romance!

A empatia com a Maria do Carmo que aos onze anos foi trabalhar para Lisboa como empregada interna de uma familia burguesa sem filhos e o reconhecimento das circunstâncias de um Portugal empobrecido e embrutecido no ano não muito distante de 1971 foi decisivo para me apaixonar por esta extraordinária mulher comum.

Explorada, abusada, ignorada, traída e criticada, Maria do Carmo é uma mulher como tantas outras que Manuel Abrantes recriou com mestria. A sua escrita é simples mas muito eficaz, sem desperdício de palavras e muito realista.

Sei que Maria do Carmo vai ficar comigo. Um romance trandformador. Muito, muito bom.

Autor: Manuel Abrantes
Páginas: 288
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897876042
Edição: fevereiro/2024

Sinopse:
Diário involuntário, narrativa dos invisíveis, crónica de costumes, episódios da vida privada: eis a história de uma rapariga de aldeia que vai para a capital como criada de servir.

Na Terra dos Outros conta-nos a extraordinária vida de uma mulher comum: Maria do Carmo, uma de milhares de raparigas que deixaram a família e o quotidiano severo no campo e abalaram para as cidades, sozinhas, em busca de futuro.

Criadas para todo o serviço, ocupavam-se do que quer que conviesse aos patrões; muitas vezes, recebiam por paga somente cama (dura) e comida (escassa); não havia folgas, férias ou licença para sair. A Revolução de Abril, vivida dentro de portas e entre sussurros, traz grandes mudanças, embora pouco retorno, e Carmo vai reinventando os seus dias, década a década.

Com impressionante desenvoltura romanesca, este livro leva-nos do fim da ditadura às portas da atualidade, acompanhando uma emancipação ainda desigual, ainda por cumprir. A história de uma vida que se cruza com a história de um país em formação: planos adiados, desígnios perdidos, ilusões desfeitas.

Caro Michele

 

A minha opinião:

Caro Michele é uma narrativa epistolar em que se conhece as personagens. E se de início se estranha porque o destinatário destas missivas, Michele, o filho que fugiu, é o resultado de uma familia disfuncional, por outro, estas personagens têm estreitos laços que os torna profundamente humanos e que torna esta narrativa muito apelativa. Personagens em que "há a impressão que todos temos uma arte subtil para criar situações desesperadas, que ninguém pode resolver e que não nos permitem prosseguir nem para a frente nem para trás." E é isso mesmo. Personagens solitárias, destrambelhadas e tontas mas em a " respirar nada mais do que a própria solidão, e então, nessa parte de nós, cada um pode pôr-se no" lugar e compreender.

Não é o livro que mais gostei da Natalia porque não é um livro luminoso e é um dos últimos que escreveu sobre relações familiares nos anos setenta. Um livro triste que nos remete para o luto.

Autor: Natalia Ginzburg
Páginas: 152
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897834219
Edição: fevereiro/2024

Sinopse:
Natalia Ginzburg conta-nos a história de um filho perdido, Michele, que deixou a família para se casar num país distante e que, após uma vida desordenada, haverá de morrer em circunstâncias pouco claras. O leitor conhece a vida de Michele através das cartas que este recebe da sua mãe, da irmã Angelica e de alguns amigos. O cenário da obra é a cidade de Roma no início dos tumultuosos anos 70.

Reatando com a narrativa epistolar, Natalia Ginzburg aborda a relação entre gerações e a proximidade e a distância do que é essencial em qualquer relação humana. A clareza e a ambiguidade da escrita de Natalia Ginzburg afirmam-se em Caro Michele, publicado originalmente em 1973.

sexta-feira, 8 de março de 2024

O Homem Que Era Quinta Feira

A minha opinião:

Eu estou a ficar velh... idosa, ou melhor, clássica. Este livro não era o meu gênero, se não fosse uma sugestão de um clube de leitura e se não me tentasse o fora da caixa/ de mim.

O primeiro problema é que não sei que gênero de livro é este. Distopia, comédia romance, fantasia. Pesadelo é o mais adequado. De realista é que nada tem. Também não podia porque o livro é de 1908 e remonta a uma época de cavalheiros e anarquistas.

O segundo problema é que este delirante livro é muito divertido e pertinente com algumas questões morais e filosóficas que dão que pensar. 

A narrativa começa com uma bizarra discussão entre duas personagens que se envolvem num fascinante duelo verbal. Lucien Gregory e Gabriel Syme representam o caos e a ordem. O anarquista e o polícia. 

E entretanto como leitora fiquei presa nesta burlesca e animada narrativa que mais parece uma banda desenhada, em que nada é o que parece mas faz todo o sentido.

A aventura conspirativa de uma organização anarquista em que cada membro de topo tinha o nome de código de um dia da semana. O temido presidente era o Domingo, e o vencedor do duelo... o quinta-feira.

O terceiro problema é decifrar o quebra cabeças deste jogo de equívocos e paradoxos. Um livro que parece simples e é complexo. Brilhante.

Autor: G.K. Chesterton
Páginas: 160
Editora: Publicações Europa-América
ISBN: 9789721058132
Edição: junho/2007

Sinopse:
Esta extravagância hilariante presume a existência de uma sociedade secreta de revolucionários que juraram destruir o mundo.

Existem sete membros do Concelho Central Anárquico que, por razões de segurança, se auto-intitulam com os nomes dos dias da semana. Mas o desenrolar dos acontecimentos lança a dúvida sobre a sua verdadeira identidade, pois Quinta-Feira não é o apaixonado poeta que dizia ser mas sim um detective da Scotland Yard.

Chesterton faz a acção avançar bem à sua maneira inventiva e exuberante e depois usa este pesadelo de paradoxo e surpresa para sondar os mistérios do comportamento e das crenças humanas.

Mais Cedo Secará a Terra

 

A minha opinião:

"Mais cedo secará a terra" é uma história de familias, de sangue, de honra, de amor à terra, ambição, liberdade e matriarcado. Personagens fortes e de têmpera numa grande história de época em que as inimizades eram duradouras. Um grande livro de quatrocentas páginas que se lê com entusiasmo e sem querer perder os acontecimentos que envolvem aquelas personagens, mesmo as mais odiosas ou fracas. E claro, um romance que tem ardentes paixões. Quintas é aquela personagem justiceira que nos mantêm em suspense e marca a viragem na história. A que mais gostei.

As personagens femininas desta narrativa são incríveis e escritas por um homem como Fernando J. Múñez que teve uma figura incomensurável como a sua avó. 

"Mais cedo secaria toda a terra do que permitiria a desolação dos seus e das estirpes que estavam para vir".

Autor: Fernando J. Múñez
Páginas: 404
Editora: Singular
ISBN: 978-989-789-033-8
Edição: fevereiro/2024

Sinopse:
Uma história perfeita para nos emocionarmos e refletirmos sobre a importância das nossas raízes e do amor ao lugar a que pertencemos.
Galiza, 1845
André de Castronavea está radiante por regressar para junto da sua família e à casa onde nasceu, mas o seu maior desejo é rever a sua tia Iria, pouco mais velha do que ele, meia-irmã do seu pai. O reencontro dos dois liberta sentimentos até então aprisionados, e a relação proibida torna-se cada vez mais difícil de conter.
Enquanto isso, Dom Isidro Ordás, um empresário implacável de Ponferrada, abriu minas nas terras dos Castronaveas, iniciando um conflito com o patriarca Dom Dositeu, que preside a uma família marcada pelo seus próprios conflitos e segredos.
A luta pelo controlo da terra, o legado de Dom Dositeu e o inevitável confronto com os Ordás revelam como os laços familiares podem ser uma bênção ou uma condenação, levando a traições dolorosas, corações dilacerados e sacrifícios que exigem sangue, coragem e um amor inabalável.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Paradaise

A minha opinião:

Fernanda Melchor é uma excelente contadora de histórias de suspense de que não se quer perder palavra.

"Paradaise" é justamente o que Polo nao conhece, principalmente depois da morte do avê e do desaparecimento do primo Milton. A frustação e a miséria fazem dele um jovem rancorosamente silencioso que, convive mal com a obsessão do "gordo" pela vizinha do condomínio "Paradaise" onde trabalha como jardineiro. E esta convivência é realmente uma descida aos infernos que, se acompanha com esta extraordinária personagem odiosa mas compreensível.

O alcoolismo e o abandono num crescendo que desagua em violência. E que, não é nada mais nem nada menos do que a alternativa possível num circuito fechado. Brilhante curta narrativa. 

Autor: Fernanda Melchor
Páginas: 136
Editora: Elsinore
ISBN: 9789897876639
Edição: fevereiro/2024

Sinopse:
Polo, um adolescente nascido no meio da pobreza e da violência, vê-se obrigado a servir os ricos e a ser explorado pelo seu odioso patrão como jardineiro num condomínio de luxo chamado Paradise - pronuncie-se Paradaise, situado na margem oposta do rio que divide a localidade mexicana de Progreso, onde vive. Aí conhece o obeso e solitário Franco, filho de um advogado influente, com quem estabelece uma amizade momentânea, regada a álcool, cigarros, baboseiras e fantasias.

Viciado em pornografia, Franco alimenta uma obsessão por uma vizinha, a atraente senhora Marián, casada com uma celebridade da televisão. Num dos seus encontros junto ao cais, longe dos olhares dos guardas e dos residentes do condomínio, Franco e Polo engendram um plano macabro para finalmente obter, sem olhar a meios, o que julgam merecer.

Descrito pela crítica como uma descida ao Inferno, Paradaise, a mais recente obra da autora de Temporada de Furacões, é um romance de leitura contagiante, escrito numa prosa certeira, sobre uma sociedade fraturada pela raça, a classe e a misoginia, à mercê da banalidade da violência e da complexidade do mal.

Teoria King Kong

 

A minha opinião:

Esta capa e este título não me chamariam a atenção se não fosse uma sugestão de Tânia Ganho para o clube de leitura da livraria Buchholz e assim que abri este livro... a primeira arrebatou-me. Os livros que me surpreendem são quase sempre os melhores.

Um livro que é um grito de alerta e que em cada frase, afirma uma posição que, foi refletida e que faz estremecer quem lê. Um poderoso testemunho sem temor. 

O que também me espanta é eu não conhecer este livro ou quem o escreveu. Um livro pequeno que é um portento. Impossível parar de o ler.

Autor: Virginie Despentes
Páginas: 180
Editora: Orfeu Negro
ISBN: 9789899071155
Edição: setembro/2021

Sinopse:
Teoria King Kong é um grito de guerra e uma interrogação feroz da sexualidade feminina. Virginie Despentes desafia os discursos bem-comportados sobre a violação, a prostituição e a pornografia a partir das suas próprias experiências, desconstruindo os modos de apropriação do corpo feminino que levam à subordinação social, económica e sexual.

Um manifesto iconoclasta e irreverente para um novo feminismo.

Amor Livre

 

A minha opinião:

A curiosidade levou a melhor com as notas de capa.

O que leio é uma narrativa rápida sobre uma traição no cenário dos anos sessenta em Londres com uma mulher de meia idade e um jovem, amigo da familia. Uma relação intempestiva em que nada importava. O desenlance promete.

Prometeu mas não cumpriu. O ritmo da história abrandou, o desenvolvimento demorou e o desfecho frustou. As notas de capa são enganadoras, ou pelo menos para mim foram.
O título é o mais adequado porque neste romance de época houve uma quebra do convencional num romance que tem muito de realista. Gostei mas não amei.

Autor: Tessa Hadley
Páginas: 256
EditoraParticular Editora
ISBN: 9789895770458
Edição: fevereiro/2024

Sinopse:
Na culturalmente inquieta Londres dos anos 60, a família suburbana Fischer pertence a um mundo de segurança convencional: Phyllis é uma bonita dona de casa, apta a tudo, casada com Roger, um pai afeiçoado e senhor de uma esplêndida carreira política. Os seus filhos são Colette, uma adolescente estudiosa, e Hugh, o predestinado menino de ouro.

Mas, quando o filho de vinte e poucos anos de um velho amigo visita os Fischer para jantar e acaba a beijar Phyllis no escuro do jardim, algo nela se inflama. Phyllis fará uma escolha que desafia as expectativas que sobre ela incidem enquanto mulher e mãe. E, à medida que a agitação na família espelha a transformação dramática da sociedade londrina da época, descobrir-se-á que nada na vida dos Fischer era tão estável e resolvido quanto parecia.

Hadley explora de forma brilhante o amor românico, a liberdade sexual e o estímulo intelectual.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

A Estranha Sally Diamond

 

A minha opinião:

Grupos de leitores ou de leitura direcionam para livros que não seriam prioritários como A estranha Sally Diamond.

Não há muito que se possa desvendar sobre este thriller que não estrague a experiência de leitura para quem o vai iniciar. Sally é uma personagem fabulosa que, é notícia depois de cumprir o que o "pai" lhe tinha pedido se morresse. E o que se sucede depois são revelações de violência, ainda que atenuado no modo como é contado. O suspense e a intriga levam o leitor num carrocel de emoções que, não quer parar ou não fosse este um bom thriller.

O precoceito em muitas variantes, que descamba em violência fisíca e psicológica e a manipulação que, esta estranha personagem consegue desmitificar numa pequena comunidade é tocante e até diverte. 

Uma educação... O final não me chocou, e achei plausível, num enredo que tem algumas notas dissonantes que não permitem 5*

Autor: Liz Nugent
Páginas: 384
EditoraTopSeller
ISBN: 9789897871597
Edição: janeiro/2024

Sinopse:
Sally Diamond não consegue perceber porque é que aquilo que fez é assim tão estranho. Ela limitou-se a fazer o que o pai lhe pediu: pô-lo no lixo quando ele morresse.

Habituada a uma vida solitária, Sally vê-se agora no centro das atenções, tanto por parte dos vizinhos, como da polícia e da comunicação social. No meio da confusão gerada em torno do incidente, Sally começa a receber mensagens anónimas de alguém que conhece o seu passado, um passado do qual ela não tem qualquer memória.

Ao mesmo tempo que vai descobrindo os horrores da sua infância, Sally começa a explorar o mundo pela primeira vez, fazendo amigos, conquistando a sua independência e percebendo que as pessoas nem sempre dizem o que realmente estão a sentir.

Mas quem é o homem que a observa e lhe escreve do outro lado do mundo?

domingo, 11 de fevereiro de 2024

As Herdeiras

 

A minha opinião:

 Mais um livro no feminino e de uma autora espanhola. Coincidência ou talvez não porque é o tipo de romance que muito gosto de ler. No entanto, este livro não é nada fácil porque todo ele é emoção e sentimento.

Quatro personagens femininas, problemáticas e rivaism irmãs e primas, herdeiras. A dor que estas personagens expressam à vez tem uma razão que o leitor procura descortinar. A dor de um suícidio inexplicável, a dor do luto, a dor de um trauma, a dor da perturbação mental, a dor da solidão e do vazio, a dor da dependência química e até a dor fisíca. 

A escrita apurada humaniza estas quatro mulheres - Lis, Erica, Nora e Olívia, que têm tanto de nós. Ténue linha separa a sanidade da loucura quando a culpa, o medo, a insegurança e o desejo perturbam o espírito. Inquietante e vertiginoso. Muito bom.

Autor: Aixa de la Cruz
Páginas: 304
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722080828
Edição: janeiro/2024

Sinopse:
Passaram seis meses desde que Dona Carmen cortou os pulsos na banheira, e ainda ninguém percebeu porquê, pois tinha ao seu alcance comprimidos suficientes para acabar com a vida de outra maneira. Isto descobrem, intrigadas, as suas quatro netas - Lis, Erica, Olivia e Nora - quando se instalam na casa da aldeia onde a avó vivia e que lhes foi deixada em testamento.

Lis, que tem um filho pequeno, está ainda a recuperar de um trauma que sofreu ali dentro e só lhe interessa vender tudo e seguir em frente, enquanto a sua sonhadora irmã Erica planeia organizar no local retiros espirituais e passeios na natureza. Por sua vez, Olivia - a prima mais velha, que se formou em medicina por ter visto o pai morrer com um enfarte - não desiste de procurar em tudo o que é gaveta uma pista que explique o que realmente levou a avó a suicidar-se; e Nora, a sua desastrosa irmã, tem a ideia maluca de deixar o seu dealer usar o espaço como depósito de «mercadoria»; de resto, é ela quem a dada altura diz sem complacência: «Parece que um suicídio na família confirma a suspeita de sempre, de que a loucura corre nos genes, de que estamos biblicamente perdidas.»

Aixa de la Cruz constrói neste romance intenso e dramático - considerado um dos melhores livros de 2022 pelo jornal El País - a ideia da família como lugar de dissensão e calamidade, explorando a ténue fronteira que existe entre loucura e sanidade.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Histórias de Mulheres Casadas

 

A minha opinião:

Abri este livro e fiquei lá.

O primeiro livro da Cristina Campos li e gostei. Histórias de mulheres casadas um romance contemporâneo sobre o universo feminino não me podia passar ao lado. (Erradamente penso sempre que se trata de uma autora portuguesa até verificar que Cristina Campos é de Barcelona).

História de mulheres casadas é o título de um artigo bem sucedido da jornalista Gabi. Histórias de mulheres. Histórias simples da vida quotidiana. O título não é nada críptico mas estas mulheres são tão especiais como qualquer uma das leitoras que vai sentir que está num grupo de amigas. "Nós, as mulheres, somos muito rápidas a contar as nossas vidas."

Não se deixem intimidar pelo tamanho do livro porque se lê rápidamente. Um romance que entusiasma e vicia, e que não apetece parar de ler. Um romance que não transporta tensão ou drama mas que é muito vivido. Um romance que fala de amor, sexo, maternidade, infedilidade, amizade... de vida.

Autor: Cristina Campos
Páginas: 416
Editora: Planeta
ISBN: 9789897778247
Edição: janeiro/2024

Sinopse:
Maridos, amantes e amigas vão e vêm, mas o amor, o verdadeiro amor, permanece para sempre.

Gabriela é uma mulher casada com um homem que ama. Um homem que ela adora. Um homem que lhe implora por sexo uma vez por mês. E Gabriela, porque o ama, porque adora o seu marido, sem o querer, dá-lho. Mas, todas as manhãs, Gabriela cruza-se com um desconhecido, um homem que deseja incompreensivelmente.

Gabriela é jornalista e trabalha com as suas colegas de redação Silvia e Cósima, mulheres com quem criou uma amizade preciosa e sólida. Tal como Gabriela, também elas escondem dos seus maridos pequenos segredos. Histórias de Mulheres Casadas é um romance poderoso que mergulha na intimidade feminina e narra com naturalidade a realidade de muitas mulheres presas a vidas que nunca imaginaram.

Um romance honesto e atual sobre casamento, amizade, o desejo e o amor.

O Homem do Casaco Vermelho

 

A minha opinião:

"A arte sobrevive aos caprichos individuais, ao orgulho familiar, à ortodoxia da sociedade; a arte tem sempre o tempo do lado dela."

Nada como um bom desafio para fazer um livro adiado sair da prateleira onde repousa. O homem do casaco vermelho é uma personagem anónima maravilhosa, que viveu no espírito da Belle Époque nesta coloquial narrativa bem humorada e elegante. Para quem gosta. Eu vou marcando os muitos fragmentos que vale a pena reler nesta História prazerosa.

Mais do que retratar o homem, Julian Barnes retrata uma época, com a panóplia de personagens que deixaram memória. É uma viagem ao passado com um guia que, sabe o que faz e tudo isto a partir do verão de 1885 quando três cavalheiros franceses vão a Londres. O homem do casaco vermelho era Samuel Pozzi, carismático médico, ginecologista e um livre pensador.

"Podemos especular desde que também admitamos que as nossas especulações são romanescas e que o romance tem quase tantas formas como as que têm o amor e o sexo."

Autor: Julian Barnes
Páginas: 320
Editora: Quetzal Editores
ISBN: 9789897226618
Edição: maio/2021

Sinopse:
No verão de 1885, três cavalheiros franceses chegaram a Londres para alguns dias de «compras decorativas e intelectuais». Um era príncipe, outro era conde e o terceiro era um plebeu com apelido italiano que, alguns anos antes, fora retratado numa das extraordinárias telas de John Singer Sargent. Era ele Samuel Pozzi, médico da melhor sociedade, ginecologista pioneiro e livre-pensador - um homem racional, de espírito científico e com uma vida privada conturbada.

Em fundo, a Belle Époque parisiense, um período de muito glamour e prazer, mas com um lado negro também - de histeria, narcisismo, decadência e violência.

O Homem do Casaco Vermelho é, assim, em simultâneo, um original e vívido retrato da Belle Époque - e dos seus heróis, vilões, escritores, artistas e pensadores - e de um homem à frente do seu tempo. Um livro cheio de espírito e profundamente documentado, que mostra e defende a frutuosa e duradoura troca de ideias através do Canal da Mancha que fez a grandeza da Europa.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

O Dia da Coruja

 

A minha opinião:

Um clássico. De pequenas dimensões é uma escorreita história sobre a máfia nos anos pós-fascismo em Sícilia, Itália. Elegante e acutilante o capitão Bellodi representa a integridade e a justiça que, quer apurar quem são os culpados dos crimes. 
(Parece sinopse mas não é. Clássico não significa datado, apenas que de tão bom prevalece e se a máfia é um tema batido, não é esgotado quando bem contado).

A ironia na escrita, limpa, num quadro de época em que não deixa de tecer críticcas ao sistema político-social (não tão distante como seria desejável) e a intriga que nos deixa em suspense fazem deste romance uma preciosidade que se lê avidamente.

"A máfia não é mais do que uma burguesia parasitária, uma burguesia que não empreende, mas apenas desfruta.
O Dia da Coruja mais não é, com efeito, do que um "exemplo" desta definição... Mas talvez seja também uma boa novela."

Autor: Leonardo Sciascia
Páginas: 144
Editora: Editorial Presença
ISBN: 9789722372756
Edição: janeiro/2024

Sinopse:
Onde o medo domina, todos se calam. o mais importante romance de um dos maiores autores italianos do século XX.

Sicília, década de 1960. Numa pequena cidade, o capitão Bellodi, reto e honesto, republicano e antifascista, investiga uma série de crimes, em especial o assassínio de um homem dentro de um autocarro. As pistas são parcas, mas parecem todas apontar para uma única direção: a máfia.

Entre o silêncio dos que assistiram àquela morte, mas parecem nada ter visto, e a rede de ligações entre a cosa nostra e algumas das figuras mais poderosas da região, Bellodi, obstinado e temerário, insiste em tentar passar para o outro lado da enorme e densa cortina de fumo que envolve o crime. Porém, parece que nenhuma das suas estratégias consegue provar quem são os verdadeiros culpados.

Naquele que se tornou o romance mais lido do autor, Leonardo Sciascia parte de um caso real para nos dar um quadro vivo da máfia - e dos anos pós-fascismo em Itália -, mostrando-nos as suas verdadeiras consequências morais, afetivas e estruturais. O Dia da Coruja é hoje um clássico em que a ironia e a elegância da escrita não escondem a permanente busca do autor pela dignidade e liberdade humanas.