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domingo, 10 de março de 2024

Na Terra dos Outros

A minha opinião:

É realmente muito bom quando se começa um livro que nos entusiasma tanto que não se consegue parar de o ler porque aquelas personagens e as suas "cenas" ficam connosco e continuamos a pensar nelas e a querer saber mais. As minhas visitas recorrentes a livrarias tem esse efeito porque há sempre algum livro que me chama a atenção e que não descanso enquanto não o leio. E com isso, vou deambulando entre leituras mas... desta vez, não vou conseguir abandonar Maria do Carmo sem conhecer toda a sua história. 
Manuel Abrantes que excelente primeiro romance!

A empatia com a Maria do Carmo que aos onze anos foi trabalhar para Lisboa como empregada interna de uma familia burguesa sem filhos e o reconhecimento das circunstâncias de um Portugal empobrecido e embrutecido no ano não muito distante de 1971 foi decisivo para me apaixonar por esta extraordinária mulher comum.

Explorada, abusada, ignorada, traída e criticada, Maria do Carmo é uma mulher como tantas outras que Manuel Abrantes recriou com mestria. A sua escrita é simples mas muito eficaz, sem desperdício de palavras e muito realista.

Sei que Maria do Carmo vai ficar comigo. Um romance trandformador. Muito, muito bom.

Autor: Manuel Abrantes
Páginas: 288
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897876042
Edição: fevereiro/2024

Sinopse:
Diário involuntário, narrativa dos invisíveis, crónica de costumes, episódios da vida privada: eis a história de uma rapariga de aldeia que vai para a capital como criada de servir.

Na Terra dos Outros conta-nos a extraordinária vida de uma mulher comum: Maria do Carmo, uma de milhares de raparigas que deixaram a família e o quotidiano severo no campo e abalaram para as cidades, sozinhas, em busca de futuro.

Criadas para todo o serviço, ocupavam-se do que quer que conviesse aos patrões; muitas vezes, recebiam por paga somente cama (dura) e comida (escassa); não havia folgas, férias ou licença para sair. A Revolução de Abril, vivida dentro de portas e entre sussurros, traz grandes mudanças, embora pouco retorno, e Carmo vai reinventando os seus dias, década a década.

Com impressionante desenvoltura romanesca, este livro leva-nos do fim da ditadura às portas da atualidade, acompanhando uma emancipação ainda desigual, ainda por cumprir. A história de uma vida que se cruza com a história de um país em formação: planos adiados, desígnios perdidos, ilusões desfeitas.

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