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quinta-feira, 28 de março de 2024

Maus Hábitos

 

A minha opinião: 

Gosto mesmo muito quando um livro me surpreende.

A linguagem direta, específica, com metáforas incisivas é uma das características que define esta familia, este bairro e esta história. E esta é a história de uma pequena travesti incógnita num bairro operário. O crescimento num ambiente hostil em que procura formar a sua personalidade e identidade é assustadoramente real. ~

Um livro que vale a pena pela tremenda crítica social e pela mestria da estreante Alana S. Portero ao comer tanto e bem em tão pouco texto. Adoro ler um livro assim, que inquieta e transforma. Um livro em que que se sente a dor e onde também há lugar para a ternura, resiliência e superação. Um livro que nos afunda mas também nos ergue.

"Morre-se madrilena tal como se morre trans. Por mais que nos empenhemos em negá-lo."

"Antes de conseguirmos definir-nos, os outros desenham os nossos contornos com os seus preconceitos e as suas violências."

Autor: Alana S. Portero
Páginas: 248
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789897872365
Edição: fevereiro/2024

Sinopse:
Um desafio a corações empedernidos: assim é Maus Hábitos, a história lírica e feroz de uma menina presa num corpo de rapaz, desbravando o caminho rumo à sua identidade, à revelia de tudo e de si mesma.

«Eu, menina esperta, maricas encoberta, gaga, gorducha, com uma pala a cobrir-me o olho esquerdo e uns óculos maiores do que o desejável, era o oposto da imagem de uma pequena endiabrada […]. Quando os adultos olhavam para mim, achavam-me engraçada ou sentiam um pouco de pena, nada grave […]. Dava-me conta disso e aprendi a usá-lo a meu favor. Conseguia pensar em termos cruéis. A consciência de que necessitamos de um armário para nos escondermos torna-nos espertíssimos.»

Este romance leva-nos numa travessia pelo território mais íntimo da natureza humana — uma travessia da qual não saímos incólumes. Maus Hábitos é a história do encontro de uma pessoa consigo mesma, alguém que nasce no corpo errado, no lugar mais triste e sem futuro, num tempo desolado. Pela mão da protagonista, vamos até à sua infância em San Blas — um bairro operário suburbano e dizimado pela heroína nos anos oitenta —, passamos pela adolescência selvagem nas noites clandestinas de Madrid e chegamos ao raiar do milénio, quando a promessa de liberdade é soterrada por um episódio de insuportável violência. Contudo, das cicatrizes mais fundas há de emergir não a redenção, mas a esperança.

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