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terça-feira, 31 de outubro de 2023

O Monte do Silêncio


A minha opinião:

É sempre uma surpresa quando um livro nos prende de imediato por uma escrita apurada e eloquente ainda que irónica numa história muito intrigante e bem contada.O narrador recua ao passado e retoma à atualidade para relembrar a tragédia de Norma e por arrasto a sua história e da sua familia alargada com muito dinheiro e poder em que as aparências significavam quase tudo mas havia muitos podres a esconder. 

Não parece muito original mas é brilhante pela forma veloz como é contada e a assertiva critíca social a um Portugal de contrastes. Sem esquecer a família em questão que não tem nada de banal. 

O pior é que gostei do Diogo e do seu corrosivo humor que arrisco uma monumental ressaca literária. Uma personagem censurável que se depreciava num romance com ambiente de thriller. Tão bom que Francisco Camacho ganhou destaque como um dos meus autores imperdíveis. Brutal!

 
Autor: Francisco Camacho
Páginas: 368
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722079020
Edição: setembro/2023

Sinopse:
Diogo vive atormentado por duas tragédias, uma na infância e outra na adolescência, numa família da alta burguesia reconstruída por um tio que cultiva o segredo e a mentira. Os traumas do passado empurram-no para uma existência desregrada e sem rumo, em que os problemas de memória e os sentimentos de culpa o afastam cada vez mais da verdade acerca de si próprio e daqueles que o rodeiam.

Até que, numa manhã de setembro em que o sol brilha intensamente mas um horizonte negro anuncia a tempestade, o cadáver de Norma, a afilhada do tio sobre a qual pouco se sabe, é encontrado no cenário majestoso da Praia do Eco. Ao ver-se envolvido na morte de Norma, depois de um telefonema inesperado que o faz recuar aos tempos da juventude, Diogo inicia uma jornada de descoberta que o levará a pôr em causa a sua própria história e a desfazer os equívocos de toda uma vida.

Passado entre a Lisboa dos anos oitenta e os dias de hoje, em ambientes que ilustram um país feito de desigualdades e satirizam uma certa elite portuguesa ciosa das aparências, O Monte do Silêncio é um romance profundamente visual, com uma atmosfera de thriller psicológico e um enredo sinuoso que prende o leitor até à última página.

Yerba Buena

 

A minha opinião:

Este livro atraiu-me pelo título. Parece parvo e se calhar é. Não li a sinopse, o que não é habitual. E não sabia que apesar da capa bonita era um livro sobre perda e superação na adolescência com eco na vida adulta. E que rapidamente sentíamos empatia pelas personagens. 

Não é um romance fofinho. A solidão destas personagens é tocante. Os segredos que guardam diminuí-as até reagirem e se dar o inevitável encontro. Ambas vinham do mesmo lugar, mas tinham vidas completamente diferentes. Apenas com base nas escolhas que fizeram.

Um primeiro romance honesto e competente que li. Curativa Yerba Buena com um raminho de hortelã.

Autor: Nina Lacour
Páginas: 304
Editora: FLATIRON BOOKS
ISBN: 9781250862174
Edição: maio/2023

Sinopse:
Duas mulheres à procura do seu lugar no mundo.

Quando Sara conhece Emilie no restaurante Yerba Buena, a ligação entre as duas é imediata. Mas a bagagem emocional que ambas carregam, bem como o peso das escolhas feitas no passado acabarão por afastá-las. Ao serem confrontadas com tudo aquilo que tentaram deixar para trás, terão de decidir se o amor que as une é ou não mais forte do que os seus passados. ​


Um livro poderoso e extremamente comovente sobre duas mulheres com um passado traumático que tiveram de ultrapassar vários obstáculos e aprender a conhecer-se a si próprias para encontrarem o seu lugar no mundo.


«Nina LaCour escreve com beleza e clareza sobre o facto de uma relação não substituir a necessidade mútua de estas personagens se amarem a si próprias.»

domingo, 29 de outubro de 2023

Os Anjos Não Morrem e Tu Morreste Duas Vezes

 A minha opinião:

Não é surpresa que gosto muito de ler contos e mais ainda se forem de autores portugueses. Não tenho qualquer critério de escolha e sequer tenho qualquer outra motivação senão o prazer da descoberta. Amiúde ouço comentar que os contos sabem a pouco, como uma história incompleta. Não partilho dessa opinião porque para mim sabem a muito e de tão concisas vão diretamente ao essencial. Este livro de Marta Duque Vaz é exemplar. Direto e incisivo, numa linguagem cuidada *e rica que me tocou particularmente. Próximo nas doze narrativas que inclui.Poucas páginas para tanto dizer. A sinopse é suficientemente esclarecedora. 
Em suma, li com imenso prazer esta antologia de contos femininos que me encheu completamente as medidas. Não tenho um conto preferido porque adorei todos.

Autor: Marta Duque Vaz
Páginas: 132
Editora: Kalandraka
ISBN: 9789895336791
Edição: agosto/2023

Sinopse:
Mulheres que sonham ser avós e outras que nem tanto. Um amor refém de um início. Uma menina-mulher de luto à espera de um sinal. Duas vidas cristalizadas numa famosa ópera de Wagner. Um vestido em suspenso para uma estreia...

O quotidiano serve de inspiração a esta antologia de contos em que nada acontece por acaso. Entre a denúncia do trabalho precário, a defesa do envelhecimento digno e da saúde mental, celebram-se as amizades cúmplices, a arte e a natureza; ao mesmo tempo que se desvelam sonhos interrompidos, encontros fortuitos ou as singelas peripécias do destino e da devoção.

A prosa visual e sensorial de Marta Duque Vaz dá corpo, ora com humor ora com melancolia, a toda uma mundividência de diferentes gerações de mulheres, cujas histórias, plenas de humanidade, prometem resgatar o leitor da indiferença e deixá-lo no limbo da inquietação.

O Segredo da Criada

 

A minha opinião:

Li A Criada e agora a sequela. Não me entusiama por aí além mas entretêm. A Millie é despachada mas alguma ingenuidade dela irrita-me. O deslumbramento dela com o luxo também me chateia. Os casos de violência doméstica nos ricos e poderosos em que se atravessa é o mais empolgante. Contudo... Não me convence porque deixa muitas pontas soltas. E outras antecipei, o que também não abona muito.

O ritmo em que a história se desenrola com alguns revés e a empatia com Millie ajudam a tornar este thriller muito fácil e rápido de ler mas é apenas isso. O resto é a consoladora vingança ou a devida desforra. Cumpre mas pouco. Comigo.

Autor: Freida McFadden
Páginas: 320
Editora: Alma dos Livros
ISBN: 9789895701551
Edição: setembro/2023

Sinopse:
Cinco anos após os acontecimentos de A Criada, Millie pensa que pode construir uma vida «normal», formando-se como assistente social e trabalhando para outra família rica... mas está muito enganada!

«Millie, nunca entre no quarto de hóspedes...» Uma sombra abate-se sobre o rosto de Douglas Garrick ao tocar na porta do quarto com a ponta dos dedos. «É que... a minha mulher... está muito doente». Enquanto me continua a mostrar o seu incrível apartamento penthouse num dos prédios mais vistosos da cidade, tenho um pressentimento terrível sobre a mulher fechada naquele quarto.

Mas não posso arriscar-me a perder este emprego - pelo menos se quiser continuar a manter o meu segredo. É difícil encontrar empregadores que não façam muitas perguntas, especialmente sobre o passado. Nesse aspeto, agradeço a sorte de os Garrick me terem contratado.

Posso trabalhar aqui durante algum tempo, ficar sossegada até conseguir o que quero. Arrumar e limpar a sua deslumbrante penthouse de vista panorâmica sobre a cidade e preparar-lhes refeições sofisticadas na sua cozinha reluzente. O emprego quase perfeito.

Só ainda não conheci a Sra. Garrick, nem espreitei o quarto de hóspedes.

Tenho a certeza que a ouço chorar às vezes. Também já reparei em manchas de sangue na gola das suas camisas de dormir quando estou a lavar a roupa. Um dia, não consigo evitar bater à porta. E, quando se abre suavemente, o que vejo lá dentro muda tudo..

Um Golpe no Céu

A minha opinião:

"Este livro é a história verdadeira de um crime violento. E é a história da minha familia. Pela sua natureza, é ao mesmo tempo um livro de "true crime" e um livro de memórias."
Rapidamente entramos na história depois deste prológo (que eu já conhecia). Contudo, é justamente por isso que eu retardei a leitura. Eu gosto de ler ficção. O distanciamento não é possível quando foi real e apesar de escrito na terceira pessoa há muito envolvimento emocional. O que não é coerente com o facto de ter adquirido o livro mas, depois de ler Terrra Americana, ainda antes da pandemia, aguardava há muito por um novo livro da Jeanine. E sendo um livro tão ou mais corajoso do que o anterior não podia deixar de o ler. 

Inicialmente todas as personagens são apresentadas. Bem definidas e caracterizadas para compreendermos o seu papel. E depois... eu fui arrastada na voragem desta narrativa, muito visual, que não me deixou indiferente. E é melhor nada mais contar mas não deixem de o ler. Não se esquece.

Autor: Jeanine Cummins
Páginas: 320
Editora: Edições Asa
ISBN: 9789892358727
Edição: agosto/2023

Sinopse:
Numa noite de abril de 1991, Julie e Robin Kerry, primas da autora, bem como Tom, irmão dela, foram atacados numa ponte sobre o Mississípi. À violência que se seguiu, apenas Tom escapou com vida. Assim que se sentiu a salvo, Tom acreditou que o pesadelo tinha terminado. Não podia estar mais enganado. Para ele, para a sua irmã Jeanine, e para toda a família, começou nesse momento uma nova e angustiante etapa. Uma prova de fogo da qual ninguém saiu ileso.

Um Golpe no Céu é o relato de um crime, mas, ao dar voz a todas as pessoas atingidas pela tragédia, é um retrato da humanidade. Fala-nos do Mal e das suas consequências duradouras, das sentenças de dor e devastação às quais as vítimas e as suas famílias estão condenadas para sempre, independentemente das investigações policiais e do desfecho em tribunal.

O Diário do Meu Desaparecimento

 

A minha opinião:

Altamente recomendado avançou na minha lista mental de prioridades de leitura. Camila Greber. Adiei ler o livro anterior, também ele muito elogiado mas tinha muita curiosidade. Os thrillers policiais nórdicos frequentemente são tenebrosos. O frio não é apenas ambiental mas humano. O que se confirma porque é algo que o leitor sente neste thriller policial. E mais, muito mais porque é como assistir a um filme de suspens em que as personagens são bem conhecidas.

Um diário. É o fio condutor desta narrativa que, começa por uma investigação de um crime do passado e descamba com um desaparecimento. Algo maléfico oculto numa aldeia triste e desamparada que, tem refugiados em que estes têm a proteção do estado mas não da população. Atual perspectiva. 

O desfecho... Não me surpreendeu mas não diminuiu o impacto. Brutal! 
(Camila Grebe vive atualmente em Cascais - última frase que li).

Autor: Camilla Grebe
Páginas: 384
Editora: TopSeller
ISBN: 9789896238803
Edição: maio/2023

Sinopse:
Reunidos por um homicídio brutal, uma psicóloga comportamental sem memória e uma testemunha que não se pode dar a conhecer tornam-se parceiros involuntários numa corrida para deter um assassino.
Saída de uma floresta gelada na Suécia, uma mulher cambaleia até à estrada. Está descalça, tem os braços cobertos de sangue e não se lembra de quem é. Sem disso ter consciência, deixa para trás o seu diário, onde anota tudo o que faz e vê. A polícia identifica-a como sendo Hanne Lagerlind-Schön, psicóloga comportamental que, com o seu colega, Peter Lindgren, estava a investigar o assassínio de uma criança.

Ninguém sabe onde está Peter, e Hanne não consegue lembrar-se do que fizeram ou daquilo que haviam conseguido descobrir. A polícia tem apenas uma pista: alguém foi avistado nas proximidades na noite em que Hanne foi encontrada…

Esse alguém encontrou o diário de Hanne e percebeu que nele se encontra a chave para o caso — só que entregar o diário significaria admitir um segredo terrível.

As Palavras da Noite

A minha opinião:

Deslumbrada li As Palavras da Noite de Natalia Ginzburg. Admiro a beleza das palavras que sucitantemente tanto dizem sobre a natureza humana e padrões de conduta. Desprendida prosa que parece quase superfícial quando conta a história resumida de uma familia de uma pequena comunidade através da Elsa, que narra a sua ligação a um membro dessa familia.
Sem dúvida, Natalia é top.

Autor: Natalia Ginzburg
Páginas: 128
Editora: Relógio D'Água
ISBN: 9789897833557
Edição: agosto/2023

Sinopse:
As Palavras da Noite é um breve romance de 1961, escrito durante a estada londrina de Ginzburg e antes do seu regresso a Itália.
Com o estilo despojado, rigoroso e próximo dos factos, a escritora exprime o sentido da história familiar, a presença dos velhos, o doloroso crescimento dos jovens e as transformações do amor e da amizade.
Através da jovem que escreve na primeira pessoa, o leitor experimenta esperanças e ilusões, que não são acompanhadas de juízos de valor.

Pecados Passados

A minha opinião:

O primeiro caso da inspectora Kerstin Seeliger em Portugal em subtítulo não me passou despercebido. O que também me parece razoável depois de ler a biografia de Manfred Grebe que reside desde 2006, em permanência, na região de Sintra. Muitos são os escritores de diferentes latitudes que escolhem o nosso país para viver. Nada mais justo do que ler as suas obras.

Pragmáticos. Kirsten é e Burger também, ou não fossem eles inspectores alemães. Ainda que ela investigue o assassinato do avô mantêm o sangue frio numa narrativa que se debruça sobre o passado para justificar o crime no presente em que os indícios levam a Portugal. Os afetos não me convenceram mas é uma história fácil de acompanhar e muito fluída. Manu é o grande herói português desta história.

A gastronomia, a hospitalidade e simpatia do povo português estão em destaque. Provavelmente, o que o autor tanto preza neste pequeno país. E muita ação com vários participantes que nos levam para um ambiente de romance de espionagem em que o enquadramento não deixou de ser real. O resto é liberdade criativa do autor.

Autor: Manfred Grebe
Páginas: 320
Editora: Bertrand Editora
ISBN: 9789722545006
Edição: abril/2023

Sinopse:
Um crime do presente põe a nu segredos antigos, na sombra da Segunda Guerra Mundial…

Kerstin Seeliger é uma jovem e atraente aspirante a comissária da Polícia Judiciária de Hamburgo. Sobre a morte acidental do avô Ulrich, repentina e envolta em mistério, Kerstin tem a sensação de que há alguma coisa que não bate certo. Ulrich levava a cabo uma investigação em torno do pai que não chegara a conhecer, mas isso colocou-o na pista de um segredo de proporções inimagináveis. Agora, também Kerstin começa a fazer perguntas, o que trará consequências que colocam em risco a sua vida — não restam dúvidas de que há mais nesta história.

Nos documentos de arquivo do avô encontrará indícios sobre o submarino alemão U 193 desaparecido em 1944 e registos que apontam para uma vila na costa portuguesa. O próximo passo só pode ser partir para Portugal e, por sua própria conta e risco, continuar a investigação no nosso país. Contudo, ao regime nazi acrescentar-se-á o fantasma da PIDE, e ainda uma misteriosa quinta em Sintra, que parece guardar a chave para o enigma. As mortes não vão ficar por aqui… Quem poderá desejar, nos dias de hoje, que acontecimentos do período da Segunda Guerra Mundial permaneçam em segredo?

Num thriller imparável que entretece uma investigação emocionante do presente com crimes terríveis do passado, Manfred Grebe oferece-nos também uma homenagem a Portugal, à sua geografia e às suas pessoas.

Na Terra como no Céu

 

A minha opinião:

Não foi por falta de aviso.
A capa e as notas que a ilustram referem que é estranho e situam-no entre Fargo e Twin Peaks. E todos sabemos o quanto nos fascinavam.

História bem escrita com duas personagens que oscilam entre a normalidade e a bizararia. Uma velha metodista texana de seu nome Cloris Waldrip. Um misterioso mascarado que a ajuda. E uma agente sempre alcoolizada que acredita que Cloris sobreviveu ao acidente. Não é um thriller como eu o entendo mas um romance algo sórdido e um tanto intrigante que não se desenrola com a ligeireza de um thriller.

Dividido em oito partes é um livro invulgar com um desfecho interessante. Não deixa de ser um livro sobre resiliência e generosidade. Não é um livro consensual.

Autor: Rye Curtis
Páginas: 352
Editora: Quetzal Editores
ISBN: 9789897225444
Edição: agosto/2023

Sinopse:
Cloris Waldrip, uma texana de setenta e dois anos, é a única sobrevivente da queda de uma avioneta nas montanhas de Bitterroot, no Montana. É ela que conta a sua história. Enquanto luta para se manter viva no meio de uma natureza inacessível e implacável, Cloris receberá a ajuda de um homem, que foge de alguma coisa. Cloris conta a aventura já com noventa anos, e a forma como esta fez dela uma pessoa diferente.

Numa segunda linha narrativa, a guarda-florestal Debra Lewis - uma mulher de trinta anos, solitária e alcoólica - acredita que Cloris terá sobrevivido ao acidente e insiste, contra tudo e contra todos, em procurá-la. A ela juntar-se-á o FBI - que procura o rasto de uma adolescente e do seu raptor - e um excêntrico profissional em buscas com a sua filha de dezoito anos.

Clássico, original e cheio de humor, Na Terra como no Céu é um romance magnético da primeira à última página.

Chuva de papel

A minha opinião:

Glória e Joel. Que dupla! 
Um jornalista da velha guarda desencantado com a vida e completamente falido tem que aceitar ajuda e adaptar-se a uma nova situação. Glória é a pessoa que o vai pôr na ordem e essa interação é deliciosa numa narrativa político-social perturbadora mas espelho da realidade. O humor para contrabalançar a dor. Um livro tocante. Glória é a consciência social de tudo o que está mal. Joel, o testemunho. E no susto lê-se esta história quando se chega na segunda parte com outra personagem forte como Aracy.

Martha Batalha é mais uma autora brasileira que não dispenso. E este romance... marca. É um romance de pandemia e de balanço em que habilmente recua ao passado e retoma a atualidade sem perder o interesse ou o foco. E o foco é o indíviduo, ainda que o próximo que se viveu pareça distante e irreal.
E mesmo noutro continente e noutro contexto convêm não perder de vista o essencial que este romance nos traz. Imperdível.

Autor: Martha Batalha
Páginas: 224
Editora: Companhia das Letras Brasil
Edição: março/2023

Sinopse:
Em Chuva de papel, acompanhamos a trajetória de um repórter policial decadente que precisa encontrar forças para lidar com o dia a dia depois de uma situação inesperada. Nesse percurso, ele descobrirá uma história memorável que o fará escrever novamente. Terceiro livro da autora de A vida invisível de Eurídice Gusmão, este é um romance tragicômico, intenso e sensível.

Joel Nascimento é repórter, arquivo vivo das transformações do Rio de Janeiro. Ele passou meio século nas redações noticiando o lado B da Cidade Maravilhosa, e agora enfrenta dificuldades financeiras, problemas familiares e alcoolismo. Após uma peculiar tentativa de suicídio, sua vida toma um rumo inesperado quando ele é obrigado a morar de favor com a tia de um amigo. Glória é uma senhora energética, que exige mais interações e boas maneiras do que ele está disposto a dar. A esse arranjo junta-se a falante vizinha Aracy e seus dois chiuauas grisalhos.
Da convivência inesperada e pontuada por atritos corriqueiros emerge um companheirismo que preencherá o vagar das horas. À medida que Joel se ambienta à nova rotina, ele se verá diante de uma última história formidável, e sabe que deve contá-la. Passado e presente se alternam neste romance entremeado da crueza da vida marginal e de dissabores afetivos.

A Guarda-Costas

 

A minha opinião:

A capa mais pirosa para um livro de sucesso no Tik Tok.
Não resisti julgando que rápidamente o iria descartar como um livro clichê. Não aconteceu. Um livro que fluí bem e que me diverte sem ser estúpido. Uma comédia romântica para esta altura do ano com bons diálogos num bom ritmo. Perfeito para contrabalançar leituras mais pesadas. Idílico, claro.

Hannah Brooks é a guarda-costas. Jack Stapleton é a estrela assediada por uma stalker. Hannah para se inserir sem levantar suspeitas finge ser a namorada.

"As pessoas que querem ser famosas pensam que é a mesma coisa que ser amado, mas não é. Os desconhecidos só gostam de uma versão de nós... E isso altera também a nossa perspectiva. As pessoas querem estar sempre connosco, ficam suspensas das nossas palavras, riem-se de tudo mesmo quando não têm graça e somos o centro de todas as situações onde nos encontramos... Toda a gente nos trata como se mais ninguém no mundo fosse importante... Tornamo-nos narcisistas insuportáveis."

E o resto é ação e conversa com muita picardia num livro que se lê num instante. Adorei a Connie e o Glenn e detestei o Robbie. Não é um livro que se guarde na memória mas é um livro entretenimento que cumpre. Um livro que diverte mas também comove. E surpreende q.b.. Adorei, exceto a capa pirosa.

Autor: Katherine Center
Páginas: 328
Editora: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-03652-0
Edição: março/2023

Sinopse:
Hannah Brooks tem um ar absolutamente comum, de tal forma que mais depressa seria confundida com uma empregada de limpeza do que com alguém capaz de aplicar um golpe de jiu-jítsu. Mas a verdade é que trabalha como Agente de Proteção Executiva (vulgo «guarda-costas»). Quando a sua vida pessoal desaba de repente, e a profissional ameaça seguir o mesmo rumo, Hannah aceita a contragosto proteger uma superestrela de cinema dos avanços insistentes de uma peculiar perseguidora.
Jack Stapleton, um ator muito famoso e, literalmente, um homem de sonho, retirou-se da vida pública após uma tragédia pessoal; agora, um problema de saúde da mãe força-o a regressar ao Texas e a aceitar segurança privada. Temendo com isso aumentar a pressão sobre a frágil situação familiar, Jack cede, com uma condição: nenhum dos Stapletons pode saber que Hannah é paga para o proteger.
E é assim que a vulgar guarda-costas acaba a fingir ser a namorada do Homem mais Sexy do Mundo.
Embora supostamente seja uma farsa, quanto mais tempo passam juntos, mais verdadeiro o relacionamento parece a Hannah, que dá por si a apaixonar-se. Mas será que é correspondida? Ou não passará tudo de uma tremenda ilusão? No final, quem protegerá o seu próprio (e muito negligenciado) coração?

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Colchão de Pedra

 

A minha opinião:

Estreia absoluta.Nunca li nada de Margaret Atwood. Nesse sentido não ousei até nove contos ou "fábulas" em Colchão de Pedra me tentarem. "Fábulas" é o que a autora designa mas as personagens não são animais mas pessoas. Em certas ações não deixam de o ser.

As primeiras três narrativas têm um elo em comum. O poeta Gavin Putnam. A vida real está presente com as perdas e amarguras num registo lúcido e critíco, e bem visual sobre o envelhecimento e a perda. Usa e abusa do sarcasmo. Metafórico Alphinland. As figuras do imaginário não estão ausentes nestes contos negros (ou cinza, em consoladora vingança) bem contados. Todos são bons e difícil é escolher o preferido. O penúltimo é justamente o que dá título ao livro. 

Imperdível para quem aprecia contos. Perversos. Maquiavélicos. Esplendorosos. 

Autor: Margaret Atwood
Páginas: 256
Editora: Bertrand Editora
ISBN: 9789722539920
Edição: abril/2023

Sinopse:
Uma das vozes mais consagradas da literatura contemporânea, Margaret Atwood revela inteligência e humor em abundância nestas nove fábulas de ambiente gótico sobre as facetas mais absurdas e deliciosamente perversas do ser humano. A irrupção de vampiros, de criaturas possuídas ou de espíritos, que convivem com personagens e episódios íntimos da vida quotidiana, transformam estas peças literárias em caminhos de bifurcações altamente originais sobre as temáticas inesgotáveis da doença, da velhice e da morte, enquanto pressupõem uma argumentação tenaz em prol de valores como o direito à diferença e à liberdade individual, e uma defesa aguerrida das mulheres num ambiente hostil.

Assim, uma escritora de fantasia, agora viúva, é guiada durante uma noite de inverno pela voz do falecido marido. Uma idosa, vítima de alucinações, aprende aos poucos a aceitar a presença de pessoas miniatura ao seu lado. Uma jovem que nasceu com uma malformação genética passa por vampiro. Um estromatólito com 1,9 mil milhões de anos vinga um crime cometido há muito tempo — e o que é um estromatólito? «A palavra vem do grego stroma, que significa "colchão", a que se junta a raiz da palavra para "pedra". Colchão de pedra: uma almofada fossilizada composta por camada após camada de algas verde-azuladas que formaram um monte ou uma campânula. Foram estas mesmas algas verde-azuladas que criaram o oxigénio que hoje respiramos. Não é espantoso?»

O Terceiro País

 

A minha opinião:

Um livro poderoso.
Talvez seja inesperado para quem nada leu de Karina Sainz Borgo mas após ler Caí a noite em Caracas tinha expectativas altas, e sabia que teria alguns abanões emocionais. Não errei. A sobrevivência em situações limite em que a fuga é a única saída possível numa distopia tão credível que não deixa o leitor indiferente. A violência, a exploração e a morte. As migrações desumanas. A crueldade. E a compaixaão e a esperança. Não é um livro para qualquer um. 

Capítulos muito curtos para uma história que rapidamente avança como um feitiço. Angustias apenas pretende sepultar os seus gemeos quando vai ao encontro de Visitación. E tudo gira em torno de um cemitério ilegal muito requisitado. Duas mulheres corajosas que afrontavam os poderosos interesses. Tremendo.

Autor: Karina Sainz Borgo
Páginas: 280
Editora: Alfaguara Portugal
ISBN: 9789897848735
Edição: junho/2023

Sinopse:
Depois de Cai a Noite em Caracas — romance que catapultou Karina Sainz Borgo para um lugar cimeiro da literatura contemporânea —, O Terceiro País confirma uma escritora em pleno domínio da arte narrativa e da imaginação.

Angustias Romero e o marido fogem da peste, a caminho das montanhas e da ansiada segurança no país vizinho; levam, atados às costas, os dois filhos ainda bebés. À sua volta, apenas miséria, calor e poeira. Os gémeos não sobrevivem à viagem, e Angustias é abandonada pelo marido. Na fronteira, Angustias chega ao Terceiro País, um cemitério ilegal vigiado pela mítica Visitación Salazar. Contra a oposição dos barões da droga e da violência, a coveira garante aos sem-terra um último local de descanso.

É aqui que Angustias encontra finalmente lugar para os filhos. Determinada a ficar sempre perto deles, junta-se a Visitación na sua luta, num lugar onde a lei é ditada por quem empunha as armas, e o tempo é marcado pelas festas e os misteriosos brinquedos que alguém deixa na campa das duas crianças. O perigo e a violência ameaçam implodir a qualquer momento, esbatendo os limites entre a vida e a morte.

N’O Terceiro País, história poderosa de fuga e esperança, Karina Sainz Borgo mistura com mestria o mistério e a realidade, a tragédia clássica e a narrativa contemporânea, confirmando a sua pertença à vibrante nova geração literária latino-americana.

domingo, 15 de outubro de 2023

A Obra-Prima Ignorada

 

A minha opinião:

Um bingo e um tema. Arte. Um conto. E eu que tanto gosto de ler contos não podia renegar. A obra-prima ignorada de Balzac. Um regresso ao passado com um pintor sublime que de tanto procurar a perfeição enlouquece de paixão pela sua obra.

Um mimo.

Autor: Honoré de Balzac


Sinopse:
Um Jovem Pintor Interiorano Em Paris. Em Uma Visita Ao Atelier Do Seu Mestre, Encontra Uma Figura Impres­Sio­Nan­­Te, Um Velho Pintor Com Um Extraordinário Discurso Sobre A “Obra Perfeita”. Mentor E Aluno “Bebem” Então Os Ensinamentos Do Velho Artista. “A Obra-Prima Ignorada” É Um Texto Que Serve Como Pretexto Para Balzac Discutir As Questões Da Arte E Mostrar Como A Paixão Pelo Belo Ideal Leva Um Pintor À Autodestruição. Um Clássico Sobre...

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Corações de Papel

 

A minha opinião: 

Com este título nem olhei. Até que... Hummm... Um thriller. De um autor português!? A sinopse agrada mas o que convence e compensa é ler e verificar que é um estupendo page-turner. As personagens empáticas num idílico programa para escritores entusiasma e intriga antes de descambar numa narrativa eficaz que prende o leitor mais resistente. Uma narrativa simples e despojada que surpreende pela naturalidade com que os diálogos se travam e faz com que o leitor se sinta espectador de um reality show em que as personagens surpreendem pela criatividade e resiliência.
Bem esgalhado. Não antecipei. Boa Fábio.

Autor: Fábio Miguel Ventura
Páginas: 400
Editora: Editora Minotauro
ISBN: 9789899124974
Edição: junho/2023

Sinopse:
Num futuro próximo, algures no período pós-pandemia e pós-guerra, as áreas ligadas à criatividade e entretenimento encontram-se estagnadas. Nesse contexto, o mundo da literatura é tomado de assalto e torna-se viral com o surgimento de Ash Falls, um programa residencial para escritores.

O que à partida parecia ser uma aventura para se focarem somente nos seus livros acaba por se tornar num verdadeiro pesadelo quando são atirados para uma série de peculiares jogos de perspicácia, estratégia e sobrevivência.

Uma Casa Feita de Doces

 

A minha opinião: 

O título. Intriga. Pensei numa história infantil. A história confunde mas fascina. Uma espécie de projeção futura não muito distante das alterações tecnológicas que afetam o modo de viver e a maneira de pensar.

A vida é circular e várias são as narrativas interligadas com diferentes personagens. Retalhos de vidas que procuram a autencidade num mundo moldado por Mandala. Uma rede virtual em que se acede a memórias. Uma casa feita de doces mas que amargam.

Um romance complexo e inteligente que parece um puzzle mas em que me perdi para o fim sem obter a devida compensação. Admito como falha minha.

Autor: Jennifer Egan
Páginas: 416
Editora: Quetzal Editores
ISBN: 9789897228377
Edição: junho/2023

Sinopse:
Um romance sobre a procura da autenticidade e do sentido, num mundo em que a memória e a identidade deixaram de ser privadas.

O brilhante Bix Bouton, criador da milionária Mandala, uma empresa tecnológica, desenvolveu o programa «Sê Dono/a do teu Inconsciente», que permite o acesso de cada um a todas as suas memórias e às dos outros - ou a uma memória coletiva. A adesão a esta «rede» é grande, mas há detratores. Em narrativas interligadas, em diferentes estilos e registos, mostra-se o impacto desta tecnologia nas personagens cujos caminhos se cruzam ao longo de várias décadas.

Vamos rever figuras de A Visita do Brutamontes, como a cleptomaníaca Sasha (que, entretanto, devolveu tudo o que tinha roubado e se transformou numa artista), ou o empresário Lou Kline e o seu antigo protégé Benny Salazar, cujo filho, Chris, agora adulto, se encontra no lado oposto da barricada da Mandala; mas vamos conhecer muitas outras (as descendentes do livro inaugural). Uma Casa Feita de Doces proporciona uma leitura pop, tecnológica, musical, lúdica, estonteante, inteligente e imaginativa.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

A Mulher do Ditador

 

A minha opinião: 

Surpreeendente. 
Um thirller psicológico é suposto ter esse efeito mas a narrativa nem sempre prima por uma escrita apurada e descritiva sem ser exaustiva. Um país fictício refém de um regime de terror com um ditador morto mas em que a viúva vai a julgamento por conta dos crimes que pode ou não ser também responsável. Inquieta por ser capaz de passar uma tensão e temor que perdura. A demagogia de uma hábil manipuladora era expectável. Uma aranha. Uma viúva negra. Bela capa. Adequada e chamativa.

400 páginas que pode parecer muito mais dada a baixa granulometria do papel. Não é apenas um thriller mas um romance com duas mulheres que se confrontam e admiram, Um enigma tortuoso. Bem construido para estreia que uma longa pesquisa exigiu. Um livro que não se lê de animo leve.


Autor: Freya Berry
Páginas: 416
Editora: Presença
ISBN: 9789722371575
Edição: julho/2023

Sinopse:
Quando a bela e enigmática mulher de um dos mais temidos ditadores do mundo é julgada pelos crimes contra a humanidade cometidos pelo seu falecido marido, todos estão convencidos de que a culpa é dela. Mas será mesmo assim?

Laura, uma advogada de Londres, regressa à terra natal dos pais para o caso mais importante da sua vida. A cliente? Marija Popa, a viúva do ditador assassinado, o homem que aterrorizou e dividiu um povo inteiro, num país de Leste, obrigando as pessoas a viver na pobreza, enquanto ele e a sua família ficavam cada vez mais ricos.

Para Laura, este caso é a oportunidade ideal de tentar compreender a sua infância difícil e a relação ainda pior com a mãe, uma pessoa que se recusa a falar da vida que teve durante o regime daquele homem. Mas Marija Popa intriga Laura: enigmática, a viúva do ditador jura inocência e afirma nada saber sobre os esquemas maquiavélicos do marido.

À medida que Laura mergulha cada vez mais profundamente no passado e nas memórias, percebe que tem de se aproximar de Marija, porque não poderá descobrir a verdade sem ela. Mas quão inocente, culpada ou perigosa pode ser a mulher do ditador?