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domingo, 10 de dezembro de 2023

Revolução

A minha opinião:

A foto da capa do livro é a Maria Luísa, desde que o começamos a ler. E a experiência muda quando damos imagem a uma personagem e esta ganha vida através da escrita sóbria e de encantar de Hugo Gonçalves. Uma mulher de caráter ou como se comentava "com pelo na venta". Percebeu que "o regime conseguira que a miséria material fosse também existencial. Criara uma perversão em que os oprimidos eram gratos aos opressores. Qual degeneração genética, essa anemia da alma passava de pais para filhos." E "Malu Tormenta", a revolucionária, não é a única personagem porque os dois irmãos também fazem parte desta narrativa.

Com Frederico, o mirabolante e comezinho ocupavam o mesmo espaço como nesta época em que se regista a Revolução e o poder insurrecto do humor.

Pureza. O nome remete para uma mulher contida e burguesa. Uma mulher que valorizava costumes mas não se realizava no casamento ou na maternidade.

Uma familia que é um retrato de uma Era com tantas dissidências e divergências. Imenso no tanto que nos recorda de um passado recente em que as convulsões e as emoções andaram ao rubro. Admirável romance de Hugo Gonçalves.

Autor: Hugo Gonçalves
Páginas: 480
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9789897849251
Edição: outubro/2018

Sinopse:
Um disparo perfura a noite na serra de Sintra, durante um jantar da família Storm, e a matriarca sabe que perdeu um dos três filhos.

O epicentro do colapso tem origem muitos anos antes, entre o fim da ditadura e os primeiros tempos da revolução. Maria Luísa, a filha mais velha, opositora clandestina do regime, é perseguida pela PIDE. Frederico, o filho mais novo, está obcecado em perder a virgindade antes de ser mobilizado para a guerra colonial. E Pureza, a filha do meio, vê os seus sonhos de uma perfeita família tradicional despedaçados pelo processo revolucionário em curso.

Revolução acompanha a família Storm, do desmoronar do império ao despertar da democracia, ao longo dos rocambolescos, violentos e excessivos meses do PREC, quando a esperança e o medo dividem os portugueses e muitos acreditam que o país está a um triz da guerra civil.

Um romance tragicómico sobre a liberdade e as relações familiares, num período único de transformação, na História de Portugal, em que o caráter e o radicalismo medem forças, separando os filhos dos pais, colocando irmãos em lados opostos da barricada, criando terroristas fanáticos e heróis improváveis.

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