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sábado, 20 de junho de 2020

E de Repente, a Alegria

A minha opinião:
Não é fácil explicar porque gosto tanto dos romances de Manuel Vilas. Ele é atormentado pela escuridão mas busca a luz. O sofrimento de que tomou consciência quando escreveu um romance. Em E, de repente, a alegria há 107 capítulos de apego aos fantasmas do passado e à vida como ela era para abraçar o presente numa prosa delicada.
 
"Eu andava deprimido sempre com Arnold de roda de mim.
porque na altura vivia só para o Arnold Schönberg: repara que inventei um nome ilustre para as minhas angústias, talvez os livros sirvam para isso, para adornar as nossas dores."

"Uma esperança à qual umas vezes chama beleza, e outras, alegria,  e há que ter fé na alegria, porque sem ela a vida humana não prevalecerá." (pag.239)
 
O que torna este romance arrebatador é a proximidade com o leitor que, acaba por se identificar com um protagonista tão complexo mas verdadeiro, que dá nome a sentimentos e emoções que nem sempre conseguimos definir. A lucidez é inebriante. A busca da verdade e de si mesmo também.  O amor que se perpetua de pais para filhos, testemunho de vida é o tema circular que Manuel Vilas não deixa cair, com rasgos de brilhantismo quando expande a sua análise para os outros. Politica, sociedade, natureza humana são assuntos sobre o qual reflete.

Eventualmente, não agradará a todos mas é um romance muito bom para muitos. A sinopse não deixa margem para dúvidas.

Autor: Manuel Vilas
Páginas: 408
Editora: Alfaguara
ISBN: 9789896659745
Edição: 2020/ maio
 
Sinopse: 
Desde o coração das suas memórias, um homem que arrasta tantos anos de passado como ilusões de futuro, recorre às suas recordações para iluminar a sua história. A história de um filho que tem de aprender a viver sem os pais, e de um pai que precisa de aceitar a viver mais longe dos filhos. Uma história que por vezes dói, mas que sempre acompanha.

Neste romance, a meio caminho entre a ficção e a confissão, o protagonista viaja pelo mundo e pelas suas memórias. É uma viagem com duas faces: a face pública, em que o protagonista-autor encontra os seus leitores; e o lado íntimo, em que aproveita cada momento de solidão para procurar a sua verdade.

Uma verdade que começa a despontar - dolorosa e inesperadamente - depois da morte dos pais, do divórcio, do afastamento do vício. Uma verdade que ganha novos matizes à medida que toma forma uma nova vida ao lado de um novo amor, uma vida em que os filhos se transformam na pedra angular sobre a qual gira a necessidade inadiável de encontrar a felicidade. Ou a alegria.

Se Em tudo havia beleza procurava no passado o caminho para regressar ao presente, aqui Manuel Vilas escreve uma história que vai buscar ímpeto ao passado para se lançar para o futuro e tudo o que ele pode trazer de inesperado. Depois da dor do auto-conhecimento, esta é a história da busca esperançada da alegria, essa reivindicação de fé e coragem em tempos convulsos, essa força maior da vida, que, como a beleza, pode estar em qualquer lugar.

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