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domingo, 17 de janeiro de 2016

Um Castigo Exemplar

Autor: Júlia Pinheiro
Edição: 2015/ novembro
Páginas: 256
ISBN: 9789896265298
Editora: A Esfera dos Livros

Sinopse:
«Muito antes de amar o meu marido, odiei-o profundamente. Não tive alternativa, nem ninguém me ensinou outro caminho. Procurei conselho junto da minha família, entrei desesperada no confessionário para revelar a sombra que se apoderava do meu coração. Todos os esforços se revelaram em vão. Eu, como qualquer mulher do meu tempo e da minha classe, fui ensinada para fazer dos sentimentos a razão da minha existência. Não me posso sujeitar à indignidade do trabalho e não escondo que acho a caridade entediante. Só me restou o amor, o casamento e a maternidade. Como falhei estes desígnios, abracei o ódio com a ternura e o empenho com que qualquer marido gostaria de ter sido amado. Até o meu.»

Amélia Novaes não queria acreditar no que ouvia da boca do seu orgulhoso pai. Ela, uma jovem, tímida, sem berço, cortejada por Henrique Bettancourt Vasconcelos, jovem industrial de vinte e quatro anos, filho terceiro do visconde de Vila Fria! Só podia ser feio, ou ter algum defeito, senão porque é que a quereria a ela? A pergunta ressoava, sem piedade, na sua cabeça. Mas, para sua surpresa, Henrique era um homem bem aparentado e galante. E de pretendente passou a noivo e de noivo a marido. Amélia vivia um sonho. Mas o sonho estava prestes a transformar-se em pesadelo, no dia em que Henrique lhe anuncia, passando-lhe a mão pela cara, num gesto de carinho fugidio, que iria partir numa longa viagem pela Europa para dar asas aos seus negócios na indústria farmacêutica, cujo crescimento exponencial prometia riqueza e fama. Amélia ficaria em Portugal, como esposa exemplar que era, a aguardar o seu regresso. 
Depois do sucesso de "Não Sei Nada Sobre o Amor", Júlia Pinheiro regressa à escrita com "Castigo Exemplar", um romance passado nos finais do século XIX, entre Lisboa e o Porto, que retrata a vida de Amélia, uma mulher disposta a tudo, até mesmo a aplicar um castigo exemplar.

A minha opinião:
Este foi o primeiro romance que li na integra neste novo ano. E foi um começo auspicioso porque foi arrebatador desde as primeiras paginas. Tal qual eu gosto. 

Amélia, uma jovem burguesa conta a sua historia e enquanto lia sentia aquela personagem, e fiquei mais e mais interessada em conhecer e saber tudo sobre ela e sobre o desapaixonado e visionário marido nobre, Henrique de Vasconcelos. As peripécias e os atritos orientavam mais para a desgraça do que para o romance e com alguma emoção viajei na minha imaginação ao séc. XIX, onde passei mais tempo do que o designado `a leitura com esta mulher inteligente com falta de afecto que se transfigura quando se sente usada, porque para muitos o casamento era um contrato e o amor entre cônjuges uma fantasia da literatura. Por essa razão contactei uma boa amiga e afirmei peremptória - "Tens que ler este romance!". 

Escrita irrepreensível (para minha grande surpresa que reconheço a autora de outras lides) em contar uma historia com mestria, e onde os pormenores são apenas os necessários para explicar as circunstancias e conhecer as motivações e expectativas das personagens. Assim nada se perde nesta trama bem urdida que não se esquece facilmente ou não retratasse um Portugal de outro tempo. Mentalidade e usos e costumes em analise e algumas considerações curiosas e intemporais.

"A ociosidade nas mulheres é perigosa. Por isso, se inventaram os labores femininos, as artes domesticas complexas que nos ocupa as mãos e nos permitiu esvaziar a mente."               (pag. 225)

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