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sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Mãe, Doce Mar

A minha opinião:

João Pinto Coelho não desilude. Os seus romances superam as minhas expectativas e por isso apresso-me a ler o que escreve. O problema é a ressaca literária que se segue.

Três personagens centrais numa narrativa autoficcionada. Um míudo que inicia a sua história quando reencontra a mãe nos EUA aos 12 anos, a própria mãe que desertara e o abandonara sem explicação e o padre jesuíta O'Leary. Três personagens enigmáticas e muito vividas, baseadas na experiência pessoal do autor num primeiro romance que se distancia do Holocausto e das vitimas. Um romance que tem a força do mar como reflexo das tempestades que os assolam. E em belas palavras se constroi grandes imagens que leio e releio enquanto cada uma se expressa na sua vez.

O final, esse continua a ser surpreendente como todos os outros. Ainda que conte com essa possibilidade, não consigo imaginar semelhantes desfechos que tanto relevo dão aos seus romances. Algo sombrio mas magnético nestas curtas vidas não cumpridas que regressam ao que deixaram.

Autor: João Pinto Coelho
Páginas: 200
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722075886
Edição: Outubro/2022

Sinopse: 
Depois de passar a infância num orfanato, Noah conhece finalmente Patience, a mãe, aos doze anos. Mas, apesar de ela fazer tudo para o compensar, nunca se refere ao motivo do abandono; e, por isso, seja na casa de praia de Cape Cod, onde passam temporadas, seja no teatro do Connecticut onde acabam a trabalhar juntos, há um caminho de brasas que teima em separá-los mas que nenhum ousa atravessar.

Quando Noah encontra Frank O’Leary - um jesuíta excêntrico que guia um Rolls-Royce às cores -, descobre nele o amparo que procurava. Mesmo assim, há coisas que o padre prefere guardar para si: os anos de estudante; o bar irlandês de Boston onde ele e os amigos se encharcavam de cerveja e recitavam poemas; e ainda Catherine, a jovem ambiciosa que não temeu desviá-lo da sua vocação.

É, curiosamente, a terrível experiência de solidão num colégio religioso o primeiro segredo que Patience partilhará com Noah; contudo, quando essa confissão se encaixar no relato do padre Frank, ficará no ar o cheiro da tragédia e a revelação que se lhe segue só pode ser mentira

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