Páginas

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Véspera

 

A minha opinião:

Depois de ler "Tudo é Rio" não podia deixar de ler os outros livros de Carla Madeira. Em "Véspera" dá se o mesmo fenóimeno. Uma narrativa tão fluída e vertiginosa que nos arrasta em turbilhão com a respiração suspensa desde o primeiro capítulo. Vence qualquer fastio e é um verdadeiro desafio interromper a leitura. As personagens ganham uma dimensão humana e convivem connosco com as fraquezas e grandezas.

Mães que perdem as estribeiras em tortuosos casamentos em dois enredos que se cruzam e avançam em opostos sentidos e enquanto um é em contagem crescente o outro é em decrescente. Bem contado não quebra o ritmo porque se foca na ação sem desperdício de detalhes numa prosa quase poética mas objetiva que é empolgante e viciante porque a fórmula passa por iniciar com um episódio bombástico. Sem esquecer Caim e Abel. 
Uma extraordinária contadora de histórias.

Autor: Carla Madeira
Páginas: 280
Editora: Record
Edição: novembro/2021


Sinopse:


Carla Madeira cria personagens que parecem estar vivos diante de nós. As emoções que sentem são palpáveis e suas reações, autênticas. Temos a sensação de conhecê-los de perto, inclusive as contradições e os pontos cegos. Tal virtude é evidente em seu livro de estreia e grande sucesso, Tudo é rio (2014), mas também no livro seguinte, A natureza da mordida (2018).

Os personagens de Véspera, este seu novo romance, possuem a mesma incrível força vital. Mas se em Tudo é rio Carla os criou com poucas pinceladas e traços incisivos, aqui, para delinear suas personalidades, ela opta por uma superposição de camadas psicológicas. Se antes eles primavam por temperamentos drásticos ― capazes de extremos de paixão, ciúme, ódio e perdão ―, aqui a estratégia gradativa de composição confere-lhes uma dose maior de mistério, sugerindo ao leitor antecipações que só aos poucos se confirmam, ou não. A força emocional continua existindo, porém está menos visível, o que deixa a atmosfera ainda mais carregada de suspense e tensão.

A narrativa começa com a pergunta: como se chega ao extremo? Vedina, uma mulher destroçada por um casamento marcado pelo desamor, em um momento de descontrole abandona seu filho e, imediatamente arrependida, volta para o lugar onde o deixou e não encontra quaisquer vestígios de sua presença. Este é o acontecimento nuclear da trama que expõe as entranhas de uma família – pai alcóolatra, mãe controladora, irmãos gêmeos tensionados pelas diferenças – que, como tantas outras famílias, torna-se um lugar onde as singularidades de cada um não são acolhidas, criando rachaduras por onde a violência se infiltra.

Contada em dois tempos, o dia do abandono e os dias que vieram antes dele, o romance avança como duas ondas até que elas se chocam e se iluminam. O leitor se vê diante de um espantoso presente que expõe o quanto as palavras são capazes de inventar a verdade.

Sem comentários:

Enviar um comentário