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domingo, 5 de abril de 2015

Comédia em modo menor

Autor: Hans Keilson
Edição: 2015/ março
Páginas: 128
ISBN: 9789720071651
Editora: Sextante

Sinopse: 
Comédia negra em tempo de guerra, este notável pequeno romance de Hans Keilson, originalmente publicado em 1947, revela-nos um autor excecional: profundamente irónico, de escrita aguda, brilhante, moderna, da linhagem de Kafka ou de Joseph Roth.

É uma história de gente comum resistindo à ocupação nazi na Holanda: um casal, Wim e Marie, esconde em sua casa um judeu em fuga, Nico, e vai ter de livrar-se do seu corpo quando este morre de pneumonia.

A minha opinião: 
Um pequeno romance que esperava que fosse uma espécie de conto, mas que me pareceu o texto de uma peça de teatro, com o foco no agir e sentir das personagens, encurraladas em espaços fechados por serem perseguidas. Fechadas sobre si mesmas e o seu universo interior. Ironia e inquietação quando se percebe o conflito interior de cada uma das três personagens, primeiro enquanto hospedeiros e depois reclusos que esperam a libertação.   

"E Marie compreendeu que as palavras amar o próximo ou dever patriótico ou desobediência civil eram apenas um pálido reflexo do sentimento profundo que os havia levado, a ela e a Win a acolher em sua casa uma pessoa que era perseguida".                                  (pag. 43)

Narrativa crua e muito realista, numa linguagem acutilante e direta,  que nos deixa a nu com as nossas emoções, para nos confrontarmos com pequenos grandes atos de coragem num tempo de ódio que nunca iremos compreender. 

"Também havia problemas. Obviamente, quando as pessoas vivem umas com as outras, há problemas. Os problemas são como pequenas bombas-relógio, que alguém colocou em tempos sombrios. Em geral, rebentam precisamente quando se pensa que esta tudo a correr da melhor maneira. Pum! A coisa explode, começamos por ter uma surpresa, apanhamos um susto e sentimo-nos algo irritados. Os problemas são uma maçada porque acontecem de surpresa e porque nos obrigam a fazer um esforço. As pessoas que afirmam que veem "acontecer" um problema são como as pessoas que dizem que ouvem crescer a relva."                                   (pag.49)     

Um pequeno embaraço, uma pequena desilusão. Porque e´ que teve de morrer? Justamente ele que se escondia na sua casa, teve de morrer de uma morte perfeitamente vulgar, tal como costumam morrer as pessoas tanto em tempo de guerra como em tempo de paz? 

Leitura forte mas sem qualquer registo de violência, para agitar consciências. 

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