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domingo, 27 de dezembro de 2020

Sempre Estrangeira

 

A minha opinião:
"... a linguagem gestual é teatral e visível, expõe-nos continuamente. Torna-nos de repente defícientes. Na ausência de gestos, pode-se parecer apenas uma rapariga um pouco tímida e distraída. Ao ler os lábios dos outros para decifrar o que estavam a dizer até consumir os olhos e os nervos, ao falar com a voz alta e carregada e com os acentos irregulares, parecia simplesmente uma imigrante cheia de erros gramaticais, uma estrangeira." (pag.18)

No verão, comprei este romance e estava empolgada por o ler. Da sinopse sabia que os pais da protagonista eram surdos e imaginei erradamente que fosse um romance que apelava à compaixão. Devia o ter lido mais cedo porque logo nas primeiras páginas fiquei cativa de personagens reais que num discurso direto se apresentam. Uma romance incrível.

A crueza da narrativa lembrou-me as histórias de Lucia Berlin, se não vejamos;

"... qualquer coisa que os meus pais toquem ajusta-se à sua decadência, são um rei e uma rainha taumaturgos que, em vez de curarem os doentes ou de fazerem milagres, convencem qualquer criatura na sua presença a desarticular-se e a deixar-se levar para a possibilidade da própria loucura."  (pag. 55)
O núcleo familiar disfuncional e a marginalidade sentida numa viagem da memória.


Autor: Claudia Durastanti
Páginas: 272
Editora: Dom Quixote
ISBN: 9789722069878
Edição: 2020/ julho

Sinopse: 
Quando tudo cai, permanece, indomável, o amor.

A primeira pergunta que lhe fazem sempre é como aprendeu a falar e, logo a seguir, em que língua sonha. Filha de pai e mãe surdos que se separaram pouco depois de terem os filhos, a protagonista deste livro viveu uma infância verdadeiramente febril, sempre a andar de um lado para o outro - de Brooklyn, em Nova Iorque, para Basilicata, uma aldeiazinha em Itália - e da mãe para o pai; mas, tal como uma planta obstinada, foi capaz de criar raízes em todo o lado e, já adulta, acabou por replicar este comportamento migratório, fosse por causa dos estudos, da emancipação, do inescapável amor.

Sempre Estrangeira é a história de uma educação sentimental contemporânea, desorientada pelo passado e pela consciência das diferenças físicas, das distinções sociais, da pertença a um lugar. Parte memória, parte narrativa culta e romanesca, é uma viagem fascinante em busca da auto-afirmação, na qual a geografia, a arte e a linguagem são simultaneamente armas de revolta e de redenção.

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