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quinta-feira, 19 de maio de 2022

As Pessoas Invisíveis

A minha opinião: 

Xavier Sarmiento. Cativa. E cura. Mas não cura gente que não tinha ninguém a seu lado, que deixara de existir por ninguém se aperceber dos seus gestos, que se sentia invísivel aos olhos dos outros. Cura os males do espírito que afetam o corpo dos que são visíveis. Um protagonista inserido num tempo e num lugar que a memória alcança, numa narrativa de capítulos curtos que parece extraída da oralidade.

Em Africa, Xavier percebe que nenhum homem ou mulher tem um rosto, que são todos iguais e que só é possível olhá-los quando estão em grupo. A ideia de poder provocar temor e respeito. E para controlar uma revolta de nativos que se recusam a trabalhar nas roças e nas obras públicas responderam com excesso de zelo.

É sempre sózinhos que caminhamos no meio da multidão. E quão libertador pode ser tirar a máscara que usamos sempre, seja uma farda ou de rotinas.

A invisibilidade que separa das coisas concretas e dos olhares das pessoas. Muitas pessoas afastadas do mundo e nenhuma delas sabe das outras. Até que um segredo guardado num caderno de um engenheiro alemão é revelado.

Prodigioso. Uma revelação. Adorei.

Autor: José Carlos Barros
Páginas: 328
Editora: Leya
ISBN: 9789896613723
Edição: 2022/  abril

Sinopse: 
Em 1980, é encontrado em Berlim um caderno que relata a descoberta, em terras portuguesas, de uma jazida de ouro, segredo que levará o leitor aos anos da Segunda Guerra Mundial, à exploração de volfrâmio e à improvável amizade de um engenheiro alemão com o jovem Xavier Sarmiento, que descobre ter o dom de curar e se fascina com a ideia de poder. É a sua história, de curandeiro e mágico a temido chefe das milícias, que acompanharemos ao longo do romance, assistindo às suas curas e milagres, bem como aos amores clandestinos e à fuga intempestiva para África.

Percorrendo episódios da vida portuguesa ao longo de cinco décadas - das movimentações na raia transmontana durante a Guerra Civil de Espanha à morte de Francisco Sá Carneiro -, As Pessoas Invisíveis é também a revisitação de um dos eventos mais trágicos e menos conhecidos da nossa História colonial: o massacre de um grande número de nativos forros, mostrando como o fim legal da escravatura precedeu, em muitas dezenas de anos, a sua efectiva abolição.

Entre realismo e magia, poder e invisibilidade, ignomínia e sobressalto, o presente romance, de uma maturidade literária exemplar, foi o vencedor do Prémio LeYa em 2021.

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