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segunda-feira, 30 de maio de 2022

Três Mulheres no Beiral

 

A minha opinião: 

Três mulheres no Beiral são as que sobem as escadas, galgam o peitoral na mansarda e se sentam nas telhas, prestes a cair. Mulheres comuns, que reconheço e com quem me identifico, assim como outras que fazem parte da galeria de pessoas com quem convivo e que observo com uma nova luz e até por outro prisma. 

Romances contemporâneos sobre o comportamento humano são os que mais gosto de ler. E quando as primeiras páginas me conquistam é garantido que será uma leitura muito prazerosa. A beleza e o sentimento impresso nas palavras por Susana Piedade, num ambiente que reconheço e num tempo próximo que geraram empatia e um carinho imenso por Piedade, Madalena e Catarina. E todo o romance está impregnado de sentimento. A exploração e a ganância (os comedores de sonhos), a perda e o amor. A casa com um papel primordial. 

"Quem não tem saudades nunca foi feliz". 

O sofrimento, a indiferença, a solidão, a perda de sentido, de interesse, estar cá se estar, as saudades dos que foram primeiro, em suma, a velhice. Incontornável e obrigatório porque apesar de o esquecermos é para onde nos dirigimos e talvez este romance que tem algo de amargo mas inspirado nos leve a reflectir.

Autor: Susana Piedade
Páginas: 296
Editora: Oficina do Livro
ISBN: 9789896614157
Edição: 2022/ maio

Sinopse: 
Em plena Baixa do Porto há uma rua icónica com uma fiada de prédios, onde os modos tripeiros convivem com a música dos artistas, a sinfonia das obras, a vozearia dos bares e os bandos de turistas curiosos. É numa dessas casas que vive a octogenária Piedade desde que se lembra e onde tem amigas de longa data. Mas o terror instala-se quando - ofuscados pelo potencial deste Porto Antigo - os proprietários e investidores não olham a meios para se livrarem dos velhos inquilinos, que vão resistindo às suas ameaças como podem, mas começam a sentir na pele as represálias.

Neste cenário tenso e desumano desenrola-se a história de Três Mulheres no Beiral, que é também a de uma família reunida por força das circunstâncias, mas dividida por sentimentos e interesses: Piedade, que trata a casa como gente; José Maria, o filho incapaz de se impor e tomar decisões; Madalena, a neta que regressa com a filha ao lugar onde foi criada para reviver episódios marcantes do seu passado; e Eduardo, o neto egocêntrico e conflituoso que sonha ser rico desde criança e a quem a venda da casa só pode agradar.

Com personagens extremamente bem desenhadas num confronto familiar que trará ao de cima segredos que se pensavam esquecidos e enterrados, Susana Piedade mantém a expectativa até ao final neste romance notável e de rara humanidade que foi finalista do Prémio LeYa em 2021.

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